Clipe musical: "Imaginar" por Janete.

***

Era sexta-feira de manhã e aniversário de Janete. Os passarinhos cantavam e a magia já começava agir.

PARABÉNS PRA VOCÊ

NESTA DATA QUERIDA

MUITAS FELICIDADES

MUITOS ANOS DE VIDA!!!

Sandy e Eleanora acordaram-na, cantando. Porém Janete ainda não estava feliz, então só deu um sorriso (ou uma tentativa de sorriso), disse "obrigada" e foi tomar seu banho.

Ao chegar na escola, foi surpreendida pelos Cuecas (como eles sabiam que hoje era o aniversário dela???), que também cantaram parabéns. Ela agradeceu, tentando parecer o mais feliz possível (apesar de o fato de eles saberem do aniversário dela tê-la deixado realmente, nem que fosse só um pouquinho, feliz de verdade) e foi para a sala.

— É impressão minha ou ela tava só fingindo estar feliz? — Perguntou Téo.

— Não é impressão sua — Sandy respondeu.

— Mas com a nossa festa ela com certeza vai ficar feliz de verdade! — Afirmou Samuca.

— Ah, eu tenho certeza disso! — Concordou Eleanora. — Ainda mais com o bolo que eu e o Téo fizemos ontem hummmm!

Joaquim, que estava meio calado até então, resolveu falar uma coisa que o incomodava, por mais que achasse que os outros o achariam insensível depois que dissesse:

— Só eu tô achando meio estranho a Janete estar desse jeito porque vai passar o aniversário sem os pais? Eu lembro que vocês duas — ele falou, voltando-se para Sandy e Eleanora — tavam bem de boa nos aniversários de vocês, mesmo sem os pais. Tá, que perder os pais é muito ruim e tal, mas...

Samuca e Téo já iam protestar, mas viram que as duas irmãs estavam se olhando, com cara de quem escondia alguma coisa.

— Talvez não seja só pelos nossos pais que a Janete esteja assim... — Disse Eleanora

Sandy, ao invés de repreender a irmã, também achava que era melhor contar aos Cuecas, então continuou:

— A gente não disse nada pro Davi porque ele adulto. Mas acho que dá pra contar pra vocês: a Tia Flora voltou a ser chata.

— Como assim?! — Perguntou Téo.

— Pois é — disse Eleanora. — Ela tá agindo mais como ela é de verdade mesmo. Aquela época que ela tava boazinha deve ter sido só uma fase.

— É, e o pior é que eu e a Eleanora não ficamos tão acostumadas com a tia Flora boazinha, sabe? A gente sempre soube que uma hora ou outra podia ser que ela voltasse a ser que nem antes...

— Só que, mesmo eu sendo mais nova, a Janete mais inocente, e ela achava que a gente ia viver feliz pra sempre, e, agora, logo que tá chegando o aniversário dela, ela percebe que as coisas não são do jeito que ela pensava e...

— Quebra a cara — completou Joaquim.

— Tipo isso.

— Ela deve ter tido uma epifania — disse Samuca, preocupado com a amiga.

— O que é isso? — Os outros perguntaram.

Porém a definição de "epifania" teria que ficar pra depois porque o sinal tocou e eles tinham que voltar pra sala. Os meninos não contariam nada a Davi, entendiam o problema de adultos saberem desse tipo de coisa, já tinham lidado com isso antes; apenas se preocupariam com a festa, que era o que mais importava no momento.

***

Quando as Chiquititas chegaram ao prédio delas depois da aula, Eleanora sugeriu que olhassem a caixa de correio de seu apartamento:

— Vai que tem algum comunicado importante do condomínio e a Tia Flora esqueceu de olhar, né?

— Verdade — concordou Janete. — Que nem naquele dia que avisaram que ia faltar água e ela não sabia.

Porém, para a surpresa de Janete, quando Eleanora olhou a correspondência, não havia nenhum aviso do condomínio, mas, sim, uma carta. Não uma carta qualquer, uma carta pra Hogwarts! Como aquilo havia ido parar ali? Bom, na verdade Sandy havia colocado, sem que Janete percebesse, quando elas estavam indo para a escola naquela manhã.

— Tá endereçada a você, Janete — disse Eleanora.

A aniversariante arregalou os olhos e pegou a carta na hora, Sandy e Eleanora podiam ver seu entusiasmo. Tinha selo e tudo! (As irmãs haviam imprimido da internet). Janete sabia que não era coincidência ela ter chegado justamente no seu aniversário de 11 anos, será que...?

A menina, então, abriu a carta. Viu que tinha o brasão da escola e começou a ler em voz alta, mais feliz do que pinto no lixo:

— Presada Sra. Janete Miller, temos o prazer de informar que V.Sa tem uma vaga na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. — Ela parou um pouquinho e disse: — Espera! Aqui tem o endereço da casa dos meninos...

— Não, não — disse Sandy —, se a carta tá dizendo que esse é o endereço de Hogwarts, é porque é. Vamos pra lá agora mesmo!

— Mas a gente ainda nem almoçou!

— Você quer trocar uma oportunidade única por um almoço??? — Perguntou Eleanora.

As três meninas, então, saíram do prédio, correndo, e pegaram o ônibus (que fizeram de conta que era um trem) para Hogwarts. Ao chegarem na casa dos Cuecas, viram que tinha um banco com um chapéu na frente da porta. Samuca apareceu e chamou:

— Janete Miller.

Ela sabia o que significava. Animada e curiosa, sentou-se banco, e Samuca colocou o chapéu na cabeça dela.

— Lupa-Lupa! — Disse o chapéu (na verdade, era Joaquim, que estava escondido na lateral da casa).

Janete estranhou, então Samuca foi até o irmão e falou alguma coisa no ouvido dele.

— Ah, tá. — Joaquim respondeu, e então corrigiu: — Você vai para a Lufa-Lufa!

— É, EU SABIA!!! — Gritou a aniversariante.

Agora foi a vez de Téo aparecer: ele chegou na porta, segurando uma gravatinha de feltro amarela com listrinhas pretas. Janete tirou a gravata de verdade que estava usando (a do uniforme da escola Dom João do Nascimento) e colocou a da Lufa-Lufa, que tinha um alfinete pra pregar na roupa. Téo, então, pediu pra que ela entrasse em casa, e foi aí que ela viu: estava tudo lindo! Havia pôsteres de bruxos como Cedrico Diggry, Nymphadora Tonks e Newt Scamander, balões de corujas, um cálice de fogo e animais fantásticos de papel (inclusive tronquilho, o favorito de Janete)... Até varinhas! Sem contar com o monte feijõezinhos de todos os sabores, os sapos de chocolate e o bolo que tinha uma gravatinha como a que Janete usava agora.

A menina ficou tão emocionada que começou a chorar! Davi apareceu para lhe dar os parabéns e já ficou preocupado, achando que a festa não tinha funcionado para deixá-la feliz.

— Não, Davi! Eu tô chorando de alegria! — Ela falou, abraçando o pai dos meninos. — O que vocês fizeram é muito lindo!!! Eu nem imaginava, obrigada, obrigada, OBRIGADA!

Em seguida, os sete foram almoçar (Davi havia pedido almoço num aplicativo) e Janete ficou sabendo de cada detalhe dos preparativos para a sua festa mágica.

***

A festa durou a tarde inteira. Janete ficava o tempo todo brincando de fazer feitiços com uma das varinhas de mentirinha e eles se divertiram muito comendo os doces e dançando as músicas das Chiquititas. Lá pelas 15h começou a chegar um monte de gente da escola e da gravadora. O que era aquilo? Até onde sabiam, eles não haviam convidado aquele povo todo (apesar da comida suficiente pra um batalhão). Acontece que Joaquim estava começando a achar a festa um pouco monótona e decidiu chamar mais gente. Davi já ia reclamar com ele, mas percebeu que Janete não se importava, pelo contrário, ela estava ainda mais feliz agora. Como os convites haviam sido de última hora, ninguém trazia presentes, mas ela não achava que precisasse, aquela festa e a companhia de pessoas que ela gostava já eram o suficiente.

Mas havia uma pessoa que não estava na festa: Flora. Joaquim nem tinha pensado em convidá-la, ainda mais depois do que Sandy e Eleanora haviam dito de manhã. Mas enfim, vamos voltar a falar de coisas felizes: todos cantaram parabéns pra Janete (Joaquim ficava falando aquelas coisas idiotas, como "é big, é big, eu quero um big big, é hora, é hora, eu tô com catapora"), cantaram o Com Quem Será? (foi com Samuca, óbvio, e ela e Janete ficaram morrendo de vergonha), a aniversariante fez um pedido (provavelmente relacionado a Tia Flora) para apagar as velinhas, e, na hora de cortar o primeiro pedaço, ela não conseguiu se decidir e acabou escolhendo seis primeiros pedaços: para Sandy, Eleanora, Davi, Samuca, Joaquim e Téo.

Em determinado momento da festa, Sandy e Eleanora pararam a música e anunciaram que tinham uma apresentação especial pra Janete.

— Não fique com raiva! — Eleanora falou. Por que elas fariam uma apresentação que deixaria a aniversariante com raiva? Ela continuou: — Mas você inventou uma coreografia pra essa música uns dias atrás e, como tá combinando com o tema da festa, a gente achou que seria legal fazer uma surpresa.

Sandy, então, colocou uma música pra tocar no computador e elas começaram a cantar e dançar:

Aprenda a brincadeira que eu vou te ensinar

Com sinais você descobre o que eu quero te falar...

Janete imediatamente entendeu por que ela poderia ficar com raiva e se acabou de rir. Era por causa disso:

Bruxa! Fedida!

Tomara que te dê dor de barriga!

Mas ela não se importou de ser indiretamente chamada de "bruxa fedida" pelas irmãs, ao invés disso dançou com elas e no final da música ainda disse:

— É provável que eu fique com dor de barriga mesmo depois de tudo que eu comi nessa festa! Hahahahah — e abraçou as meninas.

Após voltarem para casa, Janete não parava de dizer o quanto a festa tinha sido incrível e como a magia dos aniversários ainda existia. Ela também disse que havia pensado em crianças que não tinham tanta sorte quanto ela e teve a ideia de conhecer orfanatos como o que os Cuecas viviam, descobrir o aniversário das crianças e fazer apresentações surpresa pra elas.

— Afinal, nós somos uma banda.

— Até que é uma boa ideia... — disse Eleanora.

— É, a gente só não pode cantar Sinais pra elas, né? — Sandy falou e as outras riram. — Ah, não, já tá quase de noite!

— Claro que não, tá no horário de verão, doida! Ainda vai demorar pra anoitecer.

— Eu não tô falando sobre ter ou não sol, Eleanora, tô falando de horário. A Tia Flora nem sabe que a gente saiu...

— Verdade!!! — Exclamou Janete. — E se ela tiver chegado mais cedo, que nem no dia do show de talentos???

Porém, ela não tinha chegado mais cedo. As meninas, ao entrarem no apartamento, não viram ninguém, a não ser uma carta em cima da mesa. Curiosas e apreensivas, elas abriram para ler. Era uma carta de despedida. Tia Flora havia ido embora.