Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 2
Não tá fácil pra ninguém


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui estou eu com mais um capítulo. Como o anterior foi uma introdução, eu queria avisar que os capítulos vão ser diferentes de agora em diante, com diálogos e tudo mais... E, para honrar as novelinhas do SBT, um clipe musical em cada capítulo (eu não vou colocar todas as letras das músicas, apenas vou dizer o nome e os personagens da história que vão interpretá-la).
Boa leitura!



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Clipe musical: "Palco" por Joaquim, Samuca e Téo.

***

Era uma noite de domingo quando os Cuecas estavam andando pelas ruas de São Paulo. A vida não estava sendo nada fácil pra eles desde que fugiram do orfanato. Era uma luta para conseguir comida, mas, por sorte, podiam contar com seu talento: às vezes, faziam uma performance de alguma música famosa e ganhavam dinheiro rapidinho. Às vezes, não era tão simples assim, as pessoas passavam direto como se eles nem existissem. E sabem o pior de tudo? Eles estavam andando sem rumo, não sabiam onde queriam chegar ou se queriam chegar a algum lugar. O que eles estavam fazendo, afinal? Tentando sobreviver com moedinhas deixadas na touca de Joaquim? Bom, pelos menos eles estavam juntos, era isso o que importava.

Bom, voltando à noite de domingo, os meninos estavam passando por uma rua qualquer,  quando ouviram uma melodia vindo de uma casa.

— Que lindo! — Exclamou Téo.

— É música! — Disse Samuca feliz por estar ouvindo o som de um teclado.

— E o sabichão disse mais uma coisa que ninguém sabia... — disse Joaquim.

— Ei, não é hora de brigar! — Téo ficava muito triste ao ver os irmãos mais velhos brigando.

— Tem razão. Desculpa, Samuca. — Mesmo Joaquim sendo, às vezes, um pouco (muito) insensível, entendia que, na situação em que se encontravam, brigar era a última coisa de que precisavam. — Então, vamos conhecer o músico? — O menino perguntou já levando a mão em direção à campainha da casa.

— Você ficou maluco? — Repreendeu Samuca puxando a mão do irmão.

— Calma, eu não vou tocar e sair correndo que nem naquela casa de ontem. Só quero conversar com o morador, afinal, a gente precisa de um lugar para dormir.

— Você acha mesmo que uma pessoa vai deixar três estranhos dormirem em sua casa só porque gostaram da música que vinha dela?

— Samuca, quando você vai entender que eu consigo tudo o que eu quero? Mas, se não quiserem participar, não tem problema. Eu falo com ele sozinho enquanto vocês se escondem.

Então Samuca e Téo se esconderam atrás do muro lateral da casa e viram que tinha uma enorme e linda árvore no quintal. Enquanto isso, Joaquim tocou a campainha e um homem que ele não sabia quem era, mas que vocês sabem muito bem, atendeu: Davi Civil.

***

Davi havia tido uma semana difícil. As coisas andavam bastante complicadas na gravadora e Ian estava mais chato do que nunca. Eles não conseguiam encontrar as crianças para a nova banda de jeito nenhum e as outras bandas deles não estavam fazendo muito sucesso. Além disso, Davi começou a suspeitar que alguém andava desviando o dinheiro da Dó Ré Music, mas não sabia quem. Já havia conversado com Arthur e Ian a respeito e eles também não faziam ideia nenhuma de quem fosse.

Enfim, naquela noite de domingo, Davi estava tocando um clássico de Beethoven em seu teclado para tentar enganar a tristeza, quando ouviu a campainha tocar. "Quem será a essa hora?" pensou. Ao abrir o portão, se deparou com um garoto que aparentava aproximadamente 11 anos e usava uma touca vermelha na cabeça.

— Quem é você? — Davi perguntou.

— Meu nome é Joaquim. Era você que tava tocando teclado?

— Sim.

— Foi muito bonito, você toca muito bem!

— Obrigado. Eu não sabia que tava tocando tão alto...

— Tenho certeza de que ninguém se incomodou.

— Tomara... Posso perguntar o que uma criança faz sozinha na rua durante a noite?

— É que... meus pais tavam muito chatos ultimamente, aí eu acabei fugindo de casa...

— Seus pais tavam chatos ou você desobedeceu?

— Tá, eu posso ter passado um pouco dos limites... Acontece que eu fugi hoje de manhã e acabei me perdendo... e agora, não tenho onde dormir...

Era sério aquilo? Um menino estranho e desobediente estava pedindo para dormir na casa dele? Davi poderia até ter pensado isso, mas ele era muito bonzinho e ficou com pena do menino.

— Você comeu alguma coisa hoje?

— Um pouco, eu dei o meu jeito. Mas confesso que, neste exato momento, eu tô morrendo de fome!

Joaquim abaixou a cabeça e tirou o gorro. Dentro dele, havia cinco moedinhas de, no máximo, 50 centavos.

— Acho que dá pra comprar algumas balinhas com isso.

— Já chega, você pode ficar!

— Sério? — Perguntou o menino colocando a touca de volta na cabeça. — Muito obrigado mesmo! Vou chamar os meus irmãos.

Irmãos? Ele não tinha dito nada sobre irmãos... Quantos irmãos será que ele tinha??? Dois. Davi recebeu TRÊS meninos perdidos em sua casa! Mas tudo bem, ele podia ligar para os pais deles e tudo estaria resolvido. Durante a refeição, Davi perguntou:

— Quais são os nomes dos pais de vocês?

— Hummmm essa sopa tá deliciosa!!! — Exclamou Téo, ele adorava comer (ainda mais agora, que tinha tanta dificuldade para achar comida).

— Que bom que você gostou! Mas é sério, eu preciso entrar em contato com os seus pais para avisar que estão aqui.

— Posso ver seu teclado? Você também toca algum outro instrumento? Você sabe cantar? Nós adoramos cantar! — Disse Joaquim.

— Joaquim!

— Olha, sinceramente, eu não acho que seja uma boa ideia falar com nossos pais agora... — disse Samuca.

— Por quê? — perguntou Davi.

— É que... já está tarde, ia demorar para eles chegarem aqui...

— Mas os pais de vocês não vão conseguir dormir com vocês desaparecidos!

— É, mas...

— Olhem! — Joaquim apontou para o sofá. Téo havia ido para lá assim que terminou de tomar a sopa, enquanto os outros conversavam. Ele estava dormindo. Davi o olhou com compaixão.

— Vocês tão cansados mesmo, né?

Joaquim e Samuca bocejaram como resposta.

— Amanhã de manhã, vamos ligar para eles assim que acordarmos, nós prometemos! — Disse Samuca

— Tudo bem. Eu ligo pro trabalho avisando que vou chegar mais tarde. Vou buscar uns colchões para vocês.

Após Davi sair, Samuca perguntou a Joaquim sussurrando:

— Qual é o plano agora? Fugir amanhã de manhã antes que ele acorde?

— Eu ainda não tinha pensado em nada, mas é uma ótima idéia! — Respondeu Joaquim, também sussurrando.

— É claro que não! Temos que contar a verdade a ele.

— Já sei. Agora, a gente dorme. Amanhã, decidimos o que fazer.

— Tá bom.

***

Sandy e Cris: (...) Não, não fuja, não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Cris: Eu era o seu pião

Sandy: O seu bicho preferido

Sandy e Cris: Vem, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo (...)

Sandy acordou com o barulho do despertador.

— Oba! A gente vai voltar pra escola! — Exclamou Janete, pulando da cama.

— Não sei por que tá comemorando... — disse Eleanora enquanto se espreguiçava.

— Ah eu tava morrendo de saudade de ir à escola! Além disso, sabe... Isso pode nos distrair...

— Eu sonhei com a mamãe... — disse Sandy.

— Como foi? — As outras Chiquititas perguntaram.

— Eu tava num palco com ela e a gente tava cantando "João e Maria". O meu vestido era tão lindo! Rosa e brilhante.

— Só podia ser, né? — Disse Eleanora, revirando os olhos. — Mas enfim, a mamãe adorava essa música!

— Sim... — concordou Janete.

As Chiquititas sentiam muita saudade dos pais. Às vezes, nem parecia verdade que eles não estavam lá. Mas era verdade. E, agora, elas só tinham lembranças deles. Como aquela música...

As meninas não estavam gostando muito de morar com a Tia Flora. Parecia que ela não gostava delas e elas não sabiam por quê. Para dizer a verdade, ela passava maior parte do tempo fora de casa (sem as meninas) e, quando estava em casa, só dormia ou reclamava de alguma coisa que elas faziam. As Chiquititas achavam que a Tia Flora seria como uma nova mãe para elas, mas estavam completamente erradas.

As meninas já estavam vestidas com seus uniformes caros e seus acessórios e penteados de sempre: Sandy com luvinhas cor-de-rosa, tiara cor-de-rosa e um broche cor-de-rosa no colete do uniforme, e Eleanora com sua maria chiquinha. Janete não costumava usar penteados nem nada. Quando prendia o cabelo, era com um pregador de roupa. Além do uniforme, ela só usava seus óculos de grau roxos mesmo.

Elas viram que Tia Flora ainda não estava acordada e resolveram tomar café da manhã sozinhas, acordariam ela depois do café. As meninas estavam fazendo quase tudo sozinhas depois da morte dos pais e cozinhar não era problema, já que Eleanora era uma ótima cozinheira. Mas elas não precisariam da habilidade dela no momento, já que cada uma comeu um sanduíche simples com alface, tomate, queijo e presunto (mas o de Janete não tinha presunto porque ela era vegetariana) e um copo de suco de caixinha.

Depois de escovarem os dentes, Sandy foi chamar Tia Flora.

— Tia Flora, acorda! — A menina sussurrou. — Tia Floraaa! — Ela falou um pouco mais alto, cutucando a tia.

— Que é, menina? Deixa eu dormir!

— Mas você tem que levar a gente pra escola!

— Que escola, o quê? Eu não vou gastar dinheiro com aquela escola cara de vocês.

— Mas a gente precisa estudar!

— Hoje eu consegui tirar folga do trabalho, você pode não me perturbar, por favor? — Ela se cobriu com o lençol.

Sandy voltou para a sala confusa e sem a Tia Flora.

— Cadê a Tia Flora? — Perguntou Eleanora.

— Parece que a gente não vai mais pra escola...

— Como assim? — Janete arregalou os olhos.

— Ah, vai que a Tia Flora só tá cansada e não quer levar a gente hoje...

— Acho que não, Eleanora. Ela me falou alguma coisa sobre não pagar aquela escola cara e não sei o quê...

— Mas isso é um absurdo! — Disse Janete. — Ela ficou com todo o dinheiro da herança dos nossos pais, será possível que não tem nada que possa ser investido na nossa educação??? — Geralmente, Janete era muito calma, mas, naquele dia, suas irmãs perceberam que ela estava irritada de verdade.

— Bom, do jeito que ela é, eu não duvido que já tenha gastado tudo! — Disse Eleanora, que também estava irritada, porém isso não era incomum nem para ela nem para Sandy. — Vocês já perceberam que ela sai de casa o tempo todo e que quase sempre chega aqui cheia de sacolas?

— É um absurdo! — Concordou Sandy. — Por que ela compra tanta roupa se nem se veste bem?

— A gente tem que ter uma conversa séria com a Tia Flora! Vamos só esperar ela acordar.


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Notas finais do capítulo

Foi isso, pessoal. Espero que tenham gostado :)



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