Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 35
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

menos marvel e mais the boys...



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Katherine desabou para trás. Na próxima vez em que abriu os olhos, tudo doía e chacoalhava tanto que ela teve que voltar a fechá-los. E quando abriu os olhos novamente, estava tudo gelado demais. Como ela.

Sentiu a consciência retornar ao corpo lentamente.

Olhou para baixo e vislumbrou o próprio corpo, nu em uma banheira de gelo. Levou a mão ao rosto, em busca de queimaduras, e os dedos voltaram pegajosos.

— Será que a minha pele derreteu? – ela murmurou para si mesma. A voz saiu rouca, como se não fosse usada havia muito tempo.

— Sua pele está ótima.

Katherine pulou de susto, e então Melanie colocou a cabeça para dentro do banheiro.

— Tudo certo aí?

Katherine encolheu os ombros.

— Acho que sim. Por quê?

— Tirando esses olhos de coelho albino – Melanie falou, e deu risada. Katherine soltou um risinho também. – Eles acharam que você ia morrer. Dessa vez para sempre. Mas eu vi a sua pele se recuperando e botei fé em você.

— Obrigada. E o que está acontecendo lá fora? Há quanto tempo estou aqui?

Melanie suspirou.

— Quer sair daí? Tem muita coisa para conversar.

Katherine assentiu, e Melanie pegou uma toalha e jogou para ela.

Depois de se enxugar e vestir algumas roupas que Melanie separara para ela, Katherine mal saiu do banheiro e foi imediatamente atacada por abraços e lágrimas. Os gêmeos começaram a falar ao mesmo tempo e Katherine os abraçou de volta.

— Vocês dois salvaram a minha vida – ela disse, com um braço em volta de cada um deles. – Eu que deveria estar chorando e agradecendo. Se eu ainda produzisse lágrimas.

Felizmente, o choque da coisa toda de morta-viva já havia passado, e eles riram. Ela sorriu de volta.

— E agora vamos embora desse apartamento antes que a polícia ou os manifestantes ou os vampiros ou toda a lista de pessoas que te consideram o diabo na terra descubram onde nós estamos – Melanie falou, e entregou a ela fotos impressas de má qualidade.

Parecia um depósito, mas com paredes de metal. Katherine assentiu e fechou os olhos.

Quando voltou a abri-los, a pele dela estava arrepiada com a sensação de eletricidade e o ar frio. Havia um cheiro leve de terra. Ela imaginou que estivessem no subterrâneo.

Parecia uma garagem de metal gigantesca. Havia portas, carros e pessoas apressadas vestidas com ternos. Katherine viu Jack de longe, coberto de fuligem, manchas de sangue e com aspecto de quem não dormia havia dias – o que provavelmente era verdade. Mas ele estava bem. Pelo menos parecia fisicamente íntegro, que era o mais importante. Ela correu na direção dele.

— Jack! – Katherine exclamou, esperando que ele olhasse para ela para poder abraçá-lo. Quando chegou mais perto, viu que a pessoa com quem ele conversava, de costas para ela, era o irmão. – E David! Meu Deus, estou tão feliz de ver que estão bem!

Jack arregalou os olhos com a surpresa e abriu um sorriso caloroso para ela, porém David desviou os olhos e se afastou a passos largos. Katherine ainda olhava para ele enquanto Jack a abraçava apertado.

Porém, ao abraça-lo, Katherine percebeu as marcas vermelhas e arroxeadas que ele escondera por baixo da gola alta do suéter. Calafrios percorreram a espinha dela ao relembrar a visão de Jack sendo estrangulado.

— ELA ESTÁ AQUI! – Jack anunciou ao se soltar do abraço. – Katherine Flores está aqui!

A voz dele ecoou por todo o subterrâneo, e todos aqueles desconhecidos se viraram na direção dela. Começaram a abrir sorrisos, aplaudir e assoviar. Katherine não entendeu nada, mas deu de ombros e dirigiu a eles um sorriso amarelo.

Ela gostava da relativa paz que estava sentindo, da sensação de estar tudo acabado. De saber que estavam todos bem. Mas acabara de matar o próprio pai. Na frente de David. Carla havia morrido nos braços dela poucas horas atrás.

Ela não se sentia exatamente orgulhosa.

— É tudo para você – Jack falou, balançando os ombros dela. – Essa é uma instalação do governo vampiro. Você conseguiu! Impediu o golpe!

Katherine deu a ele um sorriso sem graça e fez um meneio de cabeça para as pessoas que a aplaudiam. Lentamente, os aplausos foram morrendo e as pessoas voltaram aos afazeres de antes.

— E onde está a minha mãe?

Foi a vez de Jack dar a ela um olhar vazio e sem emoção.

— Um dos Agentes a localizou no meio da multidão e a trouxe até aqui em segurança. Ela está em uma das salas.

— Fazendo o quê?

— Até ser liberada – ele respondeu, claramente desconfortável. – Estamos lidando com alguns problemas agora. Felizmente, como você já sabe, o governo vampiro e o governo humano já possuem laços e leis referentes um ao outro. Isso facilita alguns trâmites em relação a você. Mas até organizarmos testemunhas, documentação e advogados…

— Minha mãe é cúmplice do golpe de Estado – Katherine concluiu. – E eu…

Ela começou a listar os próprios crimes na cabeça, mas achou melhor parar quando pensou “assassinato” mais de uma vez.

— Sabe, o governo humano entende a sua situação agora que nós estamos esclarecendo que você estava trabalhando para ele sob ameaça, e não como cúmplice. Olivia está entrando em acordo para testemunhar a seu favor a fim de reduzir a pena dela.

Katherine assentiu, embora tudo aquilo parecesse distante demais para ela. Quando as coisas eram questão de vida ou morte, parecia não haver consequências legais. A única coisa que importava era sobreviver e garantir que as pessoas que ela amava sobrevivessem, e agora ela precisava provar essas coisas no tribunal?

— O governo humano precisa condenar você de alguma maneira para prevenir outra revolta popular, até que consigam convencer as grandes massas de que era tudo uma armação. Também temos uma equipe de marketing trabalhando nisso.

— E eu posso ver a minha mãe?

Jack novamente se mexeu daquele jeito estranho, desconfortável.

— Pode, mas…

— Qual é o problema, Jack?

— Não sei se é uma boa ideia você… não sei se ela vai reagir bem.

Katherine deixou os ombros caírem. Sentiu-se sozinha no mundo ao pensar que a mãe e o irmão a odiavam. Ela sempre considerara a família uma instituição meio indissolúvel, por mais que se quisesse desfazê-la. Você pode brigar o quanto quiser com o seu irmão, que no fim do dia ele tem que continuar sendo seu irmão. Mas quando se deparou com Jack pisando em ovos para dar a notícia de que a própria mãe dela não gostaria de vê-la, Katherine se sentiu destacada daquela instituição. Sem volta. Sem conserto.

— E com você? – ela perguntou, tentando disfarçar o tremor na voz. – Como ela foi com você?

Jack deu de ombros. Pareceu tão derrotado quanto ela.

— Ela me deixou enquanto ele ainda estava vivo. E me acusou de ter sido uma influência para você. Mas ainda está chocada com a parte dos vampiros.

— Eu falei que você deveria ter contado a ela que éramos todos vampiros.

Quando Jack abriu a boca para argumentar, Katherine revirou os olhos e sorriu, e ele percebeu que era uma piada.

— Não consigo reunir entonação suficiente para fazer uma piada soar como uma piada – Katherine murmurou, escorando-se na parede. Sentia-se exausta com as novas informações. – Sinto muito pela minha mãe.

— Também sinto muito – ele respondeu. – Por tudo.

Ela encolheu os ombros e assentiu, desanimada. Teve medo do que encontraria quando abrisse a página de Ellen no Instagram.

— E os últimos tiros? O que acertou Carla e Serpente? Estão averiguando isso também?

Jack baixou os olhos.

— Isso nós não precisamos averiguar. Veio do nosso governo.

— Como assim? – Katherine perguntou, a voz se reduzindo a um sussurro.

— Tínhamos ordens de matar Serpente – Jack explicou, evitando o contato visual com ela. – E aquela era a sede do governo vampiro, então sempre há franco-atiradores nos prédios ao redor. E ele sabia disso, porque manteve Carla à frente dele o tempo todo. Ela não era uma refém somente para atingir você. Era para protegê-lo dos snipers.

Katherine sentiu a raiva subir até envolvê-la por completo. Precisou respirar algumas vezes antes de conseguir falar.

— Atiraram nela apenas para que… para que a atravessasse? – ela perguntou. Parecia um desrespeito meramente dizer aquilo. Até Serpente presumira que eles iriam protegê-la. — Vocês não podiam…

— Eu realmente sinto muito, Kate – Jack parecia não saber o que dizer. – Estava na mão dos atiradores naquele momento. Pode ter sido a única oportunidade deles. Quando eles estiveram mais perto de matá-lo, e resolveram ir em frente.

Novamente, Katherine quis chorar. Apenas agora que ela não podia chorar é que ela estava percebendo que chorava o tempo todo. E sentia falta de poder chorar. Não conhecia outra maneira melhor de expressar tristeza além de chorar. Desenhar não era suficiente. Gritar não era longo o suficiente. Passar dias sozinha no escuro poderia ser suficiente, mas talvez não tão satisfatório.

Ela queria ir para casa, mas nem sabia que casa seria essa.

— E atiraram em mim porque eu era o segundo inimigo público do momento – ela concluiu, com sarcasmo.

Katherine podia pegar fragmentos dos pensamentos de Jack que escapavam da blindagem da mente dele. Ela interpretava culpa, e podia ver que ele queria se explicar, mas eram decisões que nem cabiam a ele. E Jack estava certo, e Katherine sabia que ele não tinha culpa. Ela só queria alguém em quem descontar todo o ódio e tristeza que sentia.

— Não precisa falar nada – disse ela, cansada. – Eu entendo. O que acontece agora?

— Vai haver um processo do Estado da Flórida contra você nos próximos dias. E então você vai a julgamento, como na televisão. Já temos um advogado para você. Pretendemos provar que Serpente produziu documentos falsos e a manipulou para cometer crimes em favor dele. Temos os Agentes infiltrados para testemunhar sobre o golpe de Estado. Isso deve absolvê-la de alguns crimes, e entraremos em algum acordo para tratar dos outros.

— Acordo – Katherine ecoou, pensando no que aquilo significava.

— Você não é mais uma pessoa normal. Ainda tem os seus direitos todos, mas agora você tem algumas obrigações a mais, porque é dotada de certas… certos poderes que a colocam acima da lei em algumas situações.

— Tipo canibalismo?

Jack arregalou os olhos para ela.

— Eu preciso beber sangue, isso não é canibalismo? – ela explicou, dando de ombros.

— Não era disso que eu estava falando – Jack retrucou. – É sobre você servir ao Estado. Talvez como compensação, como cumprimento de pena, como dever, não importa como eles colocarem. Mas eles a veem como propriedade do governo agora. Você é uma arma para eles.

Katherine ergueu as sobrancelhas com indignação.

— E se eu me recusar? E se eu fugir?

— Você pode fazer isso. Eu previ que essa fosse ser a sua reação…

— A reação de qualquer ser humano normal que não quer ser uma coisa – Katherine o interrompeu.

— Ninguém quer ser coisa de ninguém – Jack concordou com ela. – E você pode fugir. Eles nunca a pegariam. Mas já viu o que essas pessoas são capazes de fazer. Já viu o que elas podem fazer com as pessoas que você ama.

— Não posso viver com o medo constante de que machuquem outras pessoas por minha causa – Katherine sussurrou, sentindo o coração palpitar. O pânico queria novamente vencê-la.

— Eu sei. Só preciso que você colabore, e vamos passar por isso juntos.

Katherine era oficialmente uma criminosa, até que se provasse o contrário.


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Notas finais do capítulo

katherine vai presa? nao parece possivel pra mim, mas até aí... beber sangue também nao



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