Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

finalmente algumas explicações



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751654/chapter/11

— Kat? Katherine?

Katherine abriu os olhos, e sentiu que eles ardiam. Sentiu dor no pescoço também. Havia dormido.

— Nós chegamos.

Ela se virou para olhar para Evan, um pouco surpresa por ele realmente estar ali. Nada parecia real naquele breu completo. A noite engolira o carro, a rua e a ela e Evan, e o brilho suave dos olhos dele na escuridão tornava o ambiente ainda mais fantasmagórico.

Katherine esfregou os braços. Além dos arrepios, sentia frio. Checou o horário no celular, que marcava três horas.

— Acho que chegamos – Evan continuou falando. – Pelo menos estamos no endereço que você me entregou. Vai me dizer o que estamos fazendo aqui?

Ele estava com medo, ela podia perceber. Mas ela também estava. Eles se encararam por alguns segundos antes de Katherine baixar os olhos.

— Ainda não – murmurou.

A rua estava completamente deserta, como era de se esperar. Os postes de iluminação não funcionavam, e os carros refletiam a luz fraca do luar. Era assustador, mas Katherine abriu a porta do carro e desceu, deixando que o vento frio da madrugada beijasse sua pele.

Ouviu a outra porta se abrir, mas não se virou para ver Evan descer e trancar o carro. Encarava a casa que supostamente pertencia ao contato de Chris. Alguém que poderia ajudá-la.

— Quem é Alex?

Katherine imediatamente olhou para trás, esquecendo-se momentaneamente da casa. O coração dela disparou.

— Onde ouviu esse nome? – perguntou ela, afiada, mais rápido do que gostaria. Tentava disfarçar o choque momentâneo, mas sem sucesso, porque Evan a encarava com as sobrancelhas erguidas.

— Você falou enquanto dormia – respondeu ele, dando de ombros.

Ela sentiu o rosto esquentar. Virou-se novamente para ficar de costas para ele, escondendo o rubor.

— Não falo sobre isso – respondeu, na defensiva. Evan não insistiu.

Aos poucos, os olhos de Katherine se acostumaram com a pouca iluminação, e ela conseguiu ver mais da casa. Tinha uma varanda simples, com duas cadeiras ao lado da porta. Poucas janelas, embora houvesse uma com a luz acesa no que poderia ser um sótão. Sem carro na garagem.

— Você vai bater? – Evan perguntou. Ela se deu conta de que estava parada por tempo demais.

Katherine não conseguia se mexer. Não saberia o que dizer.

— Deve estar sendo esperada – continuou ele. – Tem uma luz acesa. Vai bater na porta?

Mais silêncio da parte dela. O corpo a traía. A respiração acelerada, o coração martelando, as mãos tremendo, mas as pernas imóveis. Katherine sentiu a boca seca.

— Não consigo – sussurrou, odiando a si mesma. Odiando mostrar-se vulnerável daquela forma.

Evan olhou para ela com medo nos olhos, mas começou a andar na direção da casa. Katherine o observou suar quando subiu os degraus da varanda. Ele parecia uma mera silhueta na noite. Quando ele ergueu a mão e bateu à porta, Katherine soltou a respiração que nem percebeu que prendia e andou apressadamente até ele.

A porta se abriu, deixando os dois sobressaltados. A figura que os recebeu fez um gesto apressado com a mão para que entrassem, e então fechou a porta atrás deles. Ficaram no escuro completo.

Katherine tateou e apertou o braço de Evan com a mão trêmula, e sentiu o braço dele tremer também. De repente, surgiu um clarão que a fez prender a respiração, mas a luz se reduziu e se mostrou uma vela. E finalmente pôde ver a mulher.

— Sinto muito se os assustei – disse ela. Fez outro gesto com a mão, chamando-os. – Venham, venham.

Começaram a segui-la escada acima. Katherine soltou o braço de Evan, constrangida. Ele olhou para trás, para poder vê-la, e parecia confuso e aflito. Completamente acuado.

— Estou tentando ser discreta – a mulher falou, quando chegaram ao último andar, que Katherine pensara ser um sótão. E era, com o teto baixo e somente uma janela, mas era um cômodo mobiliado e aparentemente confortável. – Se está aqui, já sabe sobre o governo. Acredito que ainda não suspeitam de mim, mas não posso me acomodar.

A voz dela era baixa e doce, e combinava com a aparência. Era uma mulher baixa e gorda, com cabelos crespos encaracolados que chegavam aos ombros. Os olhos castanhos eram enormes e contrastavam com a pele negra. Parecia uma figura materna. Diante do silêncio dos dois, continuou falando:

— Meu nome é Dionora – sorriu, e olhava de um para outro. – Mas eu só esperava por você, Katherine Flores. Que bom que veio rápido.

Katherine franziu o cenho para ela ao usar o sobrenome com que não estava acostumada.

— Sinto muito – apressou-se em dizer. – Prazer em conhecê-la. Esse é Evan, e ele… bom, ele me trouxe até aqui. Prefere que ele espere lá fora?

Dionora olhou para Evan, a compreensão brilhando em seus olhos amendoados. Katherine tinha a impressão de que a mulher sabia mais do que ela acabara de contar. Parecia que ela sabia de tudo, pela forma como olhava fascinada para Evan.

Evan olhou para Katherine sobressaltado.

— Ele pode ficar. Sentem-se – disse ela, indicando os sofás. – Aceitam chá ou café?

— Café – disseram Katherine e Evan ao mesmo tempo.

Katherine lançou um olhar irritado para ele, que olhou de volta e se limitou a encolher os ombros.

— Volto já – Dionora falou, e desapareceu no lugar em que estava.

Evan se sentou em um dos sofás, e Katherine se sentou no outro. Percebeu um cheiro característico e forte, e procurou pelas flores negras que encontrara no quarto, na sua primeira noite em Broken Hill. Não as encontrou.

— Pode me explicar como viemos parar na casa de uma mulher que pode estar sendo vigiada pelo governo? – Evan sussurrou, olhando para ela com urgência.

Katherine suspirou.

— Eu avisei você para não vir, e você veio mesmo assim – respondeu secamente.

— Isso não é perigoso?

— É claro que é perigoso – Katherine falou, com a voz baixa como a dele. – Tentei protegê-lo, mesmo você sendo um babaca.

— Proteger de quê? – perguntou ele, alarmado.

Ela não tivera tempo para pensar nas consequências de levar Evan consigo, mas o peso delas agora parecia esmagá-la. Se o governo pudesse ir atrás dela para apagar evidências, então Evan também estava em risco. Por culpa dela. O rancor e a mágoa que sentia por ele agora a faziam se sentir ridícula ao vê-lo com medo. Aquilo era muito maior.

Katherine suspirou, preparando-se para começar a explicar, mas Dionora reapareceu de repente. Teletransportou-se da cozinha segurando uma bandeja com uma garrafa térmica e xícaras, que tremeram e tilintaram quando ela surgiu na sala. Colocou-a na mesa de centro, em frente aos sofás, e se sentou ao lado de Evan.

Evan a olhou de soslaio, com desconfiança.

— Evan, querido – disse Dionora, surpreendendo-o. – Eu sei que não escolheu conscientemente estar aqui, mas agora que está, quero que entenda a gravidade da situação. A confidencialidade.

— É claro que sim – Evan se apressou a dizer. – Pode confiar em mim.

Katherine revirou os olhos. Resistiu à vontade de fazer um comentário irônico sobre o quanto Evan era confiável. Dionora não tinha nada a ver com aquilo.

— Que bom – disse ela, com gentileza. – Nós descobrimos que Katherine recebeu duas doses da Substância. Não sei o que você sabe sobre isso, mas na literatura não temos muito mais que hipóteses advindas de experiências clandestinas. Elas nos contam que o excesso da Substância no corpo de um vampiro somente pode levar a dois caminhos: ao aprimoramento das habilidades, ou… à morte. Por intoxicação.

Evan arregalou os olhos e se voltou para Katherine, chocado. Katherine somente deu de ombros para ele, conformada.

— Puta que pariu, Katherine. Achei que você tinha vindo fazer um aborto numa clínica clandestina!

— Você o quê? — ela quase gritou.

— É, fazia todo sentindo. Está dizendo que ela pode morrer e vocês não podem fazer nada? – perguntou a Dionora, indignado. – Por que nunca fizeram testes? A Substância é a base da nossa espécie, pelo amor de Deus!

Katherine o observou com curiosidade, ainda chocada com a história do aborto.

— Temos um código de ética, como os humanos têm – Dionora explicou. Katherine pensou ter visto desprezo no rosto dela, mas sumiu rapidamente e ela deixou para lá. Ela não culparia a mulher por achar Evan um burro agora. – Não podemos fazer experiências de vida ou morte com vampiros. Está na lei.

— Mas alguém está fazendo – Evan respondeu com rispidez.

Dessa vez, Katherine ficou realmente surpresa por Evan defendê-la. Grata, talvez, e se incomodou com os sentimentos conflitantes. Pensou na possibilidade de serem efeitos do pacto, para os dois, e odiou a ideia. Queria poder odiar Evan com todas as células do seu corpo, mas aquele sentimento agora a deixava desconfortável. Ela cruzou os braços, enfurecida consigo mesma.

— O que quer dizer com aprimoramento de habilidades? – Evan perguntou. Parecia curioso, embora a voz ainda tivesse traços de ressentimento.

— Chris me falou que os vampiros antigos possuíam muito mais da Substância do que nós, hoje – Katherine contou, recebendo um olhar de surpresa de Evan. – E eram muito mais poderosos também. Se eu sobreviver, pode ser que eu fique mais próxima deles do que… acho que dos vampiros normais, de hoje em dia.

— Chris, o professor da academia – Evan falou, incrédulo. – Mas faz sentido. Ela ficou superforte uma vez. Eu sabia que aquilo não era normal. Ela tinha acabado de chegar em Broken Hill. Quer dizer que Katherine vai ter mais poder em vez de morrer, não quer?

Katherine olhou para ele, irritada por ele ainda se lembrar daquilo. E irritada por ele parecer preocupado com ela. E irritada consigo mesma por gostar um pouco daquela preocupação. Será que ela não conseguiria aprender nunca? Alex mostrara a ela, desde o começo, traços da natureza agressiva. E Katherine ignorou aquilo, tentando enxergar o melhor dele. E então ignorou o empurrão. E depois o primeiro tapa. E ficou com medo demais para se manifestar depois do primeiro murro, e tudo já estava perdido.

Os olhos dela se encheram de lágrimas ao pensar naquilo. Viu que Dionora a observava, e passou as costas das mãos nos olhos rapidamente.

— Chris tem razão – disse Dionora, desviando os olhos de Katherine. – Os vampiros nem precisavam ser despertados com a Substância, como fazemos hoje porque somos enfraquecidos. E não, o fato de ela estar se fortalecendo não é uma garantia para nós, Evan. Provavelmente é, sim, um efeito colateral da Substância, mas Katherine ainda pode rejeitá-la mesmo assim.

Os ombros de Evan caíram e ele olhou para Katherine com pesar.

— Credo, Evan – ela resmungou. – Você com essa cara, parece que eu já morri.

— Não foi isso que eu…

Ela ergueu a mão e ele silenciou, sem insistir.

Uma onda de raiva passou por Katherine ao pensar que Evan era cínico a ponto de ter feito aquela aposta ridícula pensando somente nele mesmo, e agora tinha coragem de olhar para ela com aqueles olhos de pena. Ela não precisava que ele sentisse dó dela. Aquilo a enfurecia.

Ela trincou os maxilares, obrigando-se a encarar a xícara, porque não aguentava olhar para Evan.

— E aí? – Evan continuou. – O governo deu duas doses a ela por quê? Foi um erro? Não podem cometer um erro assim.

Katherine olhou para Dionora, tão ansiosa quanto Evan para saber a resposta. A mulher estava quase completamente mergulhada nas sombras, com exceção do rosto, onde o brilho de algumas velas bruxuleava e brincava com as suas expressões.

— Estamos vivendo o início de uma crise política. O presidente, Staham, está perdendo seus apoiadores e se isolando ao passo que um dos membros do Conselho junta seguidores para confrontá-lo. Usa o nome de Serpente.

— Serpente? – perguntou Katherine, com a testa franzida.

— É comum entre os membros do Conselho usar nomes falsos e máscaras para proteger sua identidade, como os Agentes. Para que possam preservar a vida normal em vez de se tornarem celebridades, como Staham fez.

— Ou alvos. É um idiota – Evan resmungou. – E acho que já ouvi falar desse Serpente. Pior ainda.

— Serpente é conhecido pelas opiniões radicais contra os humanos – Dionora continuou, assentindo para Evan. – Ele propõe uma mudança nas leis há anos, para descriminalizar o assassinato de humanos e claro, acabar com o pacto entre os governos. E isso não é nem a ponta do iceberg.

Vendo a expressão confusa de Katherine, Dionora explicou:

— Os governos humano e vampiro possuem um acordo firmado há muitos anos, que mantém em segredo a existência dos vampiros em troca da garantia de proteção dos humanos. Recebemos benefícios como suprimentos de sangue, e implementamos leis que proíbem ataques a humanos, bem como a revelação do nosso segredo a eles.

— E esse Serpente quer acabar com tudo isso – disse Katherine, pensativa.

— Ele provavelmente vai concorrer nas próximas eleições – Evan falou. – Se o Staham está isolado, o Serpente vai querer aproveitar a oportunidade.

Dionora respirou fundo e negou com a cabeça.

— Ele não é forte o suficiente e ainda não tem apelo popular para as eleições. Acreditamos que Serpente está reunindo apoiadores, não só na política, mas entre os Agentes, para dar um golpe de Estado.

Katherine arregalou os olhos.

— Se ele está juntando os Agentes… - disse Evan, também com os olhos arregalados. – Não vai ser só usando pressão política. Ele vai fazer isso à força. Os Agentes são o mais próximo de um exército que nós temos.

Dionora assentiu com a cabeça.

— E não é só isso. Se ele tiver o apoio dos Agentes para desviar a Substância, ele poderia estar fazendo experiências com vampiros.

Nesse momento, Katherine subitamente entendeu.

— Ele quer criar soldados – disse ela solenemente, sentindo arrepios pelo corpo todo. – Soldados que são muito mais fortes que os vampiros como nós os conhecemos.

Um silêncio denso pairou sobre o sótão. Havia uma fina fumaça de incenso, e Katherine pensou que quase podia sentir o toque suave da fumaça na pele.

— Bem, é a nossa maior aposta – Dionora falou de repente. – Estamos de olho nas outras escolas e centros para jovens vampiros que existem no país em busca de algum relato parecido com o seu. O plano é ensiná-la a se proteger com as suas habilidades para ganhar tempo enquanto nos mobilizamos para enfrentar Serpente.

— Eu não entendo – disse Evan, franzindo a sobrancelha. – Como isso poderia ser útil se eles vierem atrás dela?

— Se Katherine for pega, não poderão manipulá-la tão facilmente se ela estiver preparada. Se Serpente estiver tentando ser silencioso, serão poucos os soldados que ele vai criar, então ele vai precisar de cada um deles. Vamos ensiná-la a se blindar contra manipulações e ilusões que possam ser criadas na mente dela para que ela e os outros possam resistir e ganhar tempo. Para que não possam forçá-la a agir contra a sua vontade.

Como Chris dissera. Katherine pensou que aquele parecia o pior cenário possível. Sempre dizem para não reagir a um assalto, porque eles matam as pessoas que reagem. Era uma situação bem parecida para ela: ser sequestrada, se recusar a obedecer e ser ameaçada de morte até ceder. E entre esses outros vampiros que estariam na mesma posição dela, quantos não poderiam ser mortos para servir de exemplo enquanto eles “ganhavam tempo”?

Ela não gostou da ideia, mas sabia que não havia mais nada a ser feito caso ela fosse pega.

— E qual será que é o critério que ele usa para escolher as vítimas? Qual critério usou para me escolher?

Dionora encolheu os ombros.

— Você não estava com medo do governo, então – Evan observou sombriamente. – Você e Chris temem que Serpente descubra o que estão fazendo.

Dionora assentiu.

— Ele pode ser qualquer pessoa, e os apoiadores dele também podem ser qualquer um, como Chris, que é um agente duplo. Vou hipnotizá-los para que a mente de vocês não possa ser lida, mas é temporário. Não há tempo, hoje, para ensiná-los a bloquear a mente, então preciso que voltem aqui. Não podemos arriscar que um deles leia a mente de vocês e descubra nossos planos enquanto ainda não estamos preparados.

Katherine engoliu em seco. Notou que Evan parecia nervoso também. Novamente, ela se arrependeu por tê-lo trazido consigo, mas tentou se confortar pensando que Evan não era um alvo em potencial, pelo menos por enquanto.

— Vou começar por você, Evan – disse Dionora, levantando-se para ficar de frente para ele. – Não se preocupe. É simples.

Katherine se mexeu, sentindo uma onda de desconforto atravessar seu corpo. Imediatamente, soube que aquilo estava vindo de Evan. Olhou para ele, chocada, sem entender como era possível. Evan tinha a testa franzida e manteve os olhos fechados.

Dionora fez um gesto leve com a mão no ar, e em dois segundos estava feito.

— Pode abrir os olhos, querido, não foi nada demais. Katherine, está pronta?

Evan abriu os olhos, mas a sensação de desconforto em Katherine não passou. Ela se preparou e também fechou os olhos. Sentiu quando Dionora se aproximou, aquele aroma das flores negras e incenso penetrando nas narinas dela como se estivesse impregnado em Dionora.

— Acabou – falou ela.

Katherine abriu os olhos, confusa. Tentou entender de onde vinha o desconforto de Evan, já que a hipnose havia sido simples e nada desagradável.

— Vou pedir para que vocês voltem para Broken Hill agora – disse Dionora. – Para que possam chegar e passar despercebidos, antes da manhã despontar. Voltem o mais rápido possível, e agora podem se teletransportar para cá. Não precisam me avisar quando estiverem vindo.

Katherine notou que Dionora estava com medo de manter contato com eles, e novamente a gravidade da situação a atingiu. Assentiu para Dionora.

— Muito obrigada pela sua ajuda. Não tenho como agradecer o suficiente – disse ela, com sinceridade.

— Eu é que devo agradecê-la – Dionora respondeu. – Como eu disse, você pode ganhar tempo para nós. Muitas pessoas dependem de você agora, Katherine.

Katherine engoliu em seco, e seu olhar cruzou com o de Evan. Ele parecia tão impactado quanto ela.

— Obrigado, Dionora. Prazer em conhecê-la.

— Obrigada por trazê-la até aqui em segurança, Evan – disse Dionora, sorrindo para ele. – Cuide-se, e cuide bem dela também.

Foi a vez de Evan engolir em seco e dirigir um sorriso amarelo para Dionora. Ela os conduziu até a porta, com a casa e a rua ainda mergulhadas na escuridão. Acenou e fechou a porta de casa sem colocar os pés na varanda.

Eles entraram no carro e Katherine sentiu o incômodo do silêncio entre eles após tanta informação. Ela não sabia mais como reagir a Evan. Tudo ficara confuso após vê-lo pela primeira vez depois do pacto. Havia rancor e muita raiva, mas Katherine sentia algum tipo de simpatia ou afeição por ele, principalmente pela forma como ele reagiu a tudo que Dionora disse. E a conexão era quase palpável. Como se houvesse uma ponte invisível. Como se ela pudesse notar a presença dele com os olhos fechados.

— O que aconteceu quando ela te hipnotizou? – perguntou ela, sem suportar mais o silêncio e a própria mente indo a mil pensamentos por segundo. – Você parecia muito incomodado.

Evan olhou para ela com um pouco de desconfiança e surpresa, como se não esperasse que Katherine fosse falar com ele tão cedo.

— Eu não… - começou ele, mas se interrompeu. Pensou um pouco antes de continuar. – É a hipnose. Não gosto disso. Não quero mais estar vulnerável a isso.

Katherine comprimiu os lábios. Imaginou que ele estivesse falando sobre Melanie, e se arrependeu de perguntar.

— Eu só não aguento mais estar em um pacto com alguém – disse Evan, de repente. – Quero ficar sozinho na minha própria cabeça.

— Não vou me intrometer com a sua cabeça – Katherine disse, um pouco na defensiva. – Quero isso tanto quanto você.

— Mas você já está – rebateu ele, soando defensivo também. – Consigo sentir a sua ansiedade quando estamos próximos. Está me deixando maluco.

— Não é minha culpa nós estarmos nessa situação – acusou ela.

— Não é minha culpa também – Evan retrucou.

— É totalmente sua culpa – ela resmungou, cruzando os braços. – Torça para eu morrer, então, e daí você fica livre do pacto e tem sua cabeça todinha só para você.

Evan apertou o volante com força e respirou fundo. Parou o carro no acostamento da estrada e olhou para ela com a cara séria. Katherine o encarou com os olhos arregalados.

— Me desculpa, Katherine. Eu sinto muito por ter feito aquela aposta. Se eu pudesse voltar no tempo, eu… eu me arrependo muito do que eu fiz.

A surpresa de Katherine deu lugar à raiva.

— Agora você está se sentindo mal por causa dessa história toda do Serpente e vem com esse papinho de voltar no tempo? – acusou ela. – Está com dó de mim e a sua consciência pesou porque você chutou um cachorro morto?

Ela pensou em acrescentar a palavra “literalmente” no fim, mas não teve coragem.

Evan revirou os olhos e voltou para a estrada.

— Eu sinto muito – disse ele, depois de um longo suspiro. – Não precisa acreditar em mim se não quiser. Só quero dizer que eu reconheço o que eu fiz. Que eu errei.

Katherine deu de ombros e ficou olhando para frente sem dizer nada. Havia um enorme nó na garganta dela, mas ela engoliu o choro e se forçou a manter a expressão séria. Viu, pelo canto do olho, que Evan estava com o maxilar trincado.

— Que bom que reconhece – disse ela secamente, depois de conseguir estabilizar a voz.

— Ótimo, Katherine. Realmente ótimo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

o ship ta morto? não sei mas eu ia xingar o evan com tanta alegria se eu fosse a kate



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sede de Poder" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.