Hermione, A Diva escrita por Kyriê Snow


Capítulo 7
Capítulo 7 – A Santa e O Roda do Tempo


Notas iniciais do capítulo

O custo do passado e as fontes do poder mágico do sangue do Harry.
Uma Santa ou uma Deusa precisam de fiéis para não morrerem.



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Capítulo 7 – A Santa e O Roda do Tempo

Parou de rir e encarou o Harry.

— Desculpe, querido, mais tarde te falo sobre eles, é um assunto sem interesse para meus pais – sentiu que tanto o pai quanto a mãe registraram o “querido”.

Com a anuência do Harry, ela prosseguiu.  

— Papai, toda esta mudança foi causada pela sequência de associação de eventos mágicos que deveriam ser utilizados separadamente. Juntei um feitiço de tempo para viajar ao passado, com um de era, “o tempo da cruz”, refere-se à era cristã, quando a cruz deixou de ser instrumento de tortura e passou a ser um símbolo sagrado. Fui, observei e resolvi explorar o local, mas para isto entendi que precisava me equipar. Um mapa, as runas, um vira-tempo e minha varinha.

Quando usei o mesmo feitiço, estando de posse do vira-tempo, fui lançada fisicamente ao passado. Estava tão perdida que consultei o mapa e sobre o mapa, as runas. Isto me colocou diante de Freya. Cumpri a missão recebida, fiz por merecer minha espada e em seguida Freya me arrastou pelo tempo novamente. Deixamos o fausto e a alegria da festa em minha homenagem para ir a uma outra festa. O aniversário de sete anos de um Piast. Éramos duas mendigas pedindo ao pai dele, Piast Kolodziej, “o forja rodas,” para participar da festa. Aquele coração leve nos levou ao filho e nos fez convidadas de honra. Saímos de lá deixando as nossas bênçãos. Isto foi próximo à virada do primeiro milênio de nossa era. Depois o visitei, sozinha, vezes suficiente para ele começar a repetir minhas histórias e consequentemente ganhar a alcunha de Kolodziejów “Roda do Tempo”. Estas foram as duas vezes que Odin me conduziu ao passado. Fui muitas outras, por iniciativa própria, mas nunca me atrevi a sair da era cristã, então, papai, não posso testemunhar sobre Noé, Adão, Eva ou sobre os dinossauros.

Acompanhei os Piast por dois séculos – continuou – até que apareceu um descendente de nome Henrique, tinha um coração tão puro e tão leve que me prendeu a atenção. Nesta época a família já havia assumido o ducado. Ele me elevou à condição de Duquesa. Mostrei a ele a necessidade de se construir hospitais, conventos e igrejas, e, sobretudo não tirar a vida daqueles vencidos em guerra e dos devedores. Era mais humano fazê-los escravos que defuntos. Pela primeira vez vi uma pessoa leprosa, algo doloroso de se ver. Doença e discriminação simultâneos, uns mortos-vivos. Em um tempo em que ninguém zelava pelo povo. Construímos um abrigo para elas, que acabou por se tornar um hospital. Era ali, naquele hospital que minha pequenez se mostrava. Minhas ervas, cogumelos e meus recursos mágicos eram paliativos. Estava proibida de introduzir o antibiótico ou algo industrializado como o bicarbonato de sódio. Os livros da época não ajudavam muito, eram escassos, mas foram úteis para ensinar muitas monjas a ler e escrever. Passei dias de joelhos ensinado aquelas almas rudes a orar, suplicando ao Espírito Santo e à Santa Mãe de Jesus que se apiedassem daqueles sofredores. Alguns se salvaram, não sei se pelo poder das ervas ou pelas orações, mas a ascese que eu fazia virou moda. Ganhou adeptos nos abrigos, nos monastérios e nas igrejas. Em pouco tempo ganhei status de milagreira. Aquela que socorria os desvalidos, os vencidos, os devedores. A santa dos livros e das causas impossíveis...

— Você, você... ­– começou a senhora Hedwiges, que tentava não cochilar ouvindo a filha.

— Desculpem, rapazes, vou colocar a mamãe na cama e já volto. Ela está sentindo o cansaço da semana que passou fora.

Alçou a mãe da cadeira, como se fosse um bebê e a levou no colo para a cama. Os dois ficaram a admirá-las até que Hermione saiu do quarto. Porém antes de voltar ela teve que responder umas perguntas da mãe.

— Ok, minha filha, pode me colocar no chão que eu consigo me despir sozinha.

— Ora, mamãe, sempre foi um sonho dar um colinho para a senhora.

— Foi um sonho meu ou você realmente se travestiu de santa?

— Nem um nem outro, mamãe, eu realmente vivi a santa. Quando fiz aquela viagem e me deparei com o Henrique meu coração disparou. Eu estava apaixonada pelo Harry mas ele não tinha olhos para mim, mesmo me salvando do trasgo e de outras enrascadas em que me meti, ou mesmo me apoiando quando dos desvarios do Rony, ele nunca demonstrou um sentimento a mais por mim que não fosse amizade, então todo o amor que eu sentia foi transferido para o Henrique. Ele era um bruto, o mais tosco entre os irmãos, um dos mais violentos guerreiros do ducado, mas comigo era de uma gentileza extrema. Casei-me com ele. Quando sentia a barba dele no meu pescoço, eu perdia o senso. O calor da nossa cama aquecia aquele castelo. Dei-lhe filhos e filhas, conduzi-o pelos caminhos de Cristo. Fiz dele um duque. Todas as obras físicas a mim atribuídas, foram construídas com o coração e os recursos dele. Emponderei as mulheres o mais que pude mas eram tão ignaras e medrosas que nem sabiam ler, por isso eu tinha um livro sempre à mão. Ontem tive que falar com o Harry sobre meus sentimentos e fui surpreendida com a correspondência...

— Santo Deus, filha, explique isto direito, como você pode ter tido filhos?!

— O tempo que passo lá não me afeta. A senhora está sentindo este cansaço porque envelheceu uma semana em poucos segundos. Eu posso passar um século e voltar ao hoje ainda com dezesseis anos.

— E porque eu envelheço e você não, se eu fosse uma bruxa...?

— Se eu ficar trinta anos no passado, com o Harry, ele voltará mais velho que a senhora. Eu ganhei a bênção de Odin e o poder do sangue de Cristo. Fiquei imune aos poderes de Cronos. Só envelheço o tempo que passo aqui neste tempo da minha família. Ainda falta um ano para eu ser considerada  uma bruxa adulta, enquanto lá no passado, já fui avó muitas vezes.

— Então eu já tive um genro, netos...?

— Seu primeiro genro será o Harry, porém eu já tive muitos homens. A santinha tinha um marido, a Helga tinha um marido, o mais jovem Peverell tinha um filho casado com uma Potter, que era eu. Fui avisar a ele que a melhor saída era preservar a vida e acabei me apaixonando pelo filho. O tempo passa, eles morrem e eu fico.

— Minha filha, você acha que pode interferir no futuro?! Você vai acabar gerando um desastre...

— Talvez sim, mas eu conheço a história e só contribuí para que ela chegasse assim até nós. O idiota viu os irmãos exigindo poder e ia pedir ouro, acreditava que sendo o mais rico do condado, suplantaria a todos. Seria o primeiro a morrer porque ia afundar naquele rio com o peso do ouro. A Santa e a Helga nada mais foi que produto da necessidade humana. O povo precisava e eu também. Me apaixonei pelos filhos das pessoas a quem eu deveria orientar. Quando encontrei o Angus, filho do Ignotus, senti a mesma corrente elétrica que me envolveu no encontro com o Henrique. Casei-me com ele e vivi uma vida plena e feliz.

— Posso concluir que o Harry, além do sangue Peverell tem o nosso?

— Pode sim, mamãe, a situação do Ignotus era altamente constrangedora. Permaneceu vivo mas virou motivo de chacota. Eram tempos em que morrer lutando era glorioso. Os irmãos mortos gozavam de mais respeito que ele. Afetou tanto o filho dele que se eu não interferisse o Harry não existiria. Teria se suicidado ou morreria solteirão. Assim como os irmãos faziam com o Ignotus, os primos faziam com o Angus, com a agravante de que ficaram órfãos então tinham um peso a mais para argumentar. Era um garoto maravilhoso mas por vezes tive que retirá-lo de debaixo da capa do pai. Perto de mim ele era luz e vida, junto aos primos ou estranhos ele se apagava. Me apaixonei pois via a grandeza da alma dele. Quando os primos ganharam autonomia, convenci o Angus a nos mudarmos para Londinium, o pai dele, já viúvo, nos seguiu.

— Esta ligação de sangue...?

— Ela existe, mamãe, porém tem quase um milênio nos separando. Não será problema, muito pelo contrário. Os inimigos dele não sabem com quem estão lidando!

— Mas como você vai explicar a ele que já esteve grávida, que já passou pelas dores...?

— Tudo isso faz parte do passado, não tenho estrias e nem rugas. As cicatrizes que marcaram minha passagem por lá, ficaram por lá. Pode dormir tranquila, mamãe, eu fui muito feliz com o Henrique, com o Angus e serei feliz com ele também. O Harry foi o primeiro menino a despertar meu coração. Talvez um dia eu chore por ele tudo que chorei pelos outros e acrescido de um pouco mais.

Enquanto pronunciava a última frase, Hermione impôs as mãos sobre o rosto da mãe e com uma benção a fez dormir. De volta à sala encontrou os dois meninos ainda olhando para o corredor.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, a versão do Conto dos Três Irmãos, que deu origem às Relíquia da Morte, versão que meu pai contava trinta anos antes que o HP nascesse.



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