Noite Vermelha escrita por MicheleBran


Capítulo 3
Capítulo 3




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3

Uma Busca Infrutífera

 

A tarde já ia quase no fim quando, finalmente, conseguiram informações suficientes para montar um quadro que tivesse algum sentido. As primeiras respostas já começavam a surgir, embora as perguntas ainda se acumulassem.

Com muito jeito, Sara conversou com a suposta vítima e conseguiu arrancar dela alguns fragmentos de memórias.

Anália tinha em torno de trinta e dois anos e era uma mulher simples. Não fazia ideia do que poderia ter acontecido e suas recordações ainda eram muito confusas. Lembrava-se apenas de olhos a espreitando no escuro e, depois, de entrar em um estado de transe, como se sentisse muito sono. Todo o resto, porém, era um borrão e, a partir daí, sua declaração não servia de muita coisa.

Depois, Sara interrogou as crianças. Primeiro as duas juntas, então as separou e fez perguntas mais detalhadas, na tentativa de descobrir se alguma estava fantasiando ou exagerando nos pormenores.

Mas não estavam mentindo. Mário, de dez anos, jurava de pés juntos ter visto um homem muito perto da mãe. Carina, de sete, disse que Anália desmaiou e uma figura com roupas estranhas e meio esfarrapadas deu meia volta e fugiu para dentro das árvores. Todos os pontos batiam nos relatos dos dois irmãos e eles estavam tão assustados que ela acreditou piamente neles.

Além disso, as evidências se encaixavam nas informações que tinham e confirmavam alguns dos boatos. As crianças mencionaram olhos vermelhos, uma proximidade estranha da vítima e uma fuga não muito preocupada por parte do atacante. Para completar, os dois asseguraram ser um homem alto com um sotaque esquisito.

Não se encaixava no que já ouvira sobre nenhuma criatura. Os vampiros conhecidos na cidade não costumavam atacar daquela maneira. Teriantropos normalmente não investiam contra pessoas, a menos que fossem ameaçados de alguma forma, o que Anália não tinha feito.

Uma nova criatura? Um híbrido? Um vampiro recém-chegado? Ainda era cedo para dizer.

Para terem um registro mais completo do caso, Thiago seguira com o marido de Anália, Márcio, para tirar fotos e registrar o estado da caverna, além de tentar colher mais relatos com ele e os vizinhos no caminho. Enquanto o esperava voltar, Sara anotou tudo o que conseguiu reunir, aproveitando para adiantar o relatório.

Levantou os olhos ao perceber que a pequena Carina acendera a luz do casebre cercado pela imensidão das árvores. Só lhe restava esperar que Thiago voltasse antes que a noite já estivesse alta.

Caso contrário, talvez tivessem um problema nas mãos.

.

.

— Ainda bem que você conseguiu algumas informações com as entrevistas. — Thiago levantou os olhos do relatório. — Não tinha novidade nenhuma na caverna. Sinto que fui até lá pra nada.

— Pelo menos fez uns exercícios — ela brincou, tentando afastar o sentimento ruim que ameaçava tomá-la.

— Engraçadinha! — ralhou Thiago, fingindo estar bravo. O sorriso no rosto entregou que não era verdade. Então ficou sério de novo e voltou ao trabalho. — Bem, os pesquisadores tiveram aqui logo quando o caso se espalhou e levaram apenas material para análise. Liguei pra sede e os resultados ainda não saíram, então precisamos esperar um pouco.

Thiago contou, com o máximo de detalhes que conseguia se lembrar, como analisara cada centímetro da caverna com o cuidado de um perito, mas desistira ao perceber que a noite já estava caindo e ele, apenas perdendo tempo.

— Então temos animais mortos de forma estranha, uma mulher atacada, olhos vermelhos e um homem alto, com fala estranha e garras nas mãos. Um híbrido de vampiro e teriantropo, talvez?

— Será que isso existe mesmo?

Sara não perdeu a piada:

— Caso ninguém tenha te avisado, vampiros existem. Lobisomens existem. Bruxas também. E sereias, fantasmas, espíritos... Talvez até fadas e duendes, vai saber o que mais?

Thiago entrou no clima:

— De repente, conseguimos encontrar políticos honestos.

Os dois riram, enquanto guardavam o material de pesquisa e se preparavam para dormir.

Haviam decidido, após uma conversa com os donos da casa, passar a noite na pequena vila na esperança de manter o local seguro ou, caso algo desse errado, pelo menos flagrarem um novo ataque e conseguirem maiores informações.

Acomodaram-se na pequena sala — o que não era um problema, estavam acostumados a dormir em locais ainda menos confortáveis — e Sara fechou os olhos na tentativa de pegar no sono.

Lembrou-se do que sentira mais cedo, enquanto olhava pela janela na esperança de ver o retorno do irmão. Havia visto, no horizonte, o sol começar a desaparecer. O céu foi banhado por um tom laranja forte e depois vermelho-sangue. Então viera aquele mal pressentimento que já estava quase familiar, de tanto que sentira nos últimos dias.

 Antes que pudesse evitar, e sem ser capaz de descobrir o porquê, Sara sentiu um arrepio percorrer seu corpo da cabeça aos pés.


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