“Reina em todo céu e se faz servir por todo inferno.”

— Eliphas Levi

— PARA DE REZAR! LARGUE ESSE MALDITO TERÇO E RESPONDA MINHAS PERGUNTAS! — Arrancava-lhe da mão o adereço religioso talhado em madeira, aquele no qual se orgulhava dizer que o Papa em pessoa o abençoou. Arregalava os olhos e engolia o choro.

— Senhor, por Deus, não blasfeme!

O homem cogitou acender um cigarro, cogitou apagá-lo nas mãos trêmulas da freira que, apesar de chorosa e desesperada, aparentava saber mais do que demonstrava em seu falso sentimentalismo.

— A culpa não foi minha! O senhor não compreende!  

O homem riu irônico.

— Talvez a culpa seja minha, senhorita Bongard — ali ele cochichou debochado, tão debochado, que parecia cuspir sua soberba na mulher que encolhia-se. — Melhor: talvez a culpa seja do demônio debaixo da sua cama — não pôde conter o riso e um soco na mesa, que fez a freira rezar qualquer coisa em latim. — FALE LEONORA! FALE! Você está envolvida até o pescoço! Queria tomar o lugar da Madre Strauss, você veio do Vaticano com esse intuito e como não o conseguiu, matou a todos de forma vil e cruel! ADMITA BONGARD, ADMITA!

A mulher levantou-se furiosa, tomada de um repentino ódio, o terço caiu-lhe das mãos que tremiam como se tivessem vida própria.

— NÃO! STRAUSS É UM MONSTRO! — Os olhos fecharam-se e a mulher deixou o corpo cair novamente sobre a cadeira — Lei è il diavolo, lei è il diavolo , lei è il diavolo — dizia repetidamente enquanto balançava o corpo para frente e para trás. O delegado arqueou a sobrancelha e suspirou, a noite seria mais longa do que ele supunha.

— A Madre Strauss está morta, Leonora. Sabe disso, pois foi você quem desapareceu com o corpo dela.