Unguarded, In Silence — Reimagined New Moon escrita por Azrael Araújo


Capítulo 2
One


Notas iniciais do capítulo

Preparados pra mais tretas?
Antes que leiam esse capítulo, eu pelo que releiam o prólogo. Basicamente, eu havia postado e decidi mudar, o que altera o enredo que a fic seguirá. Eu sou louca, eu sei, perdão.

Música do livro dois ~> https://www.youtube.com/watch?v=bcGMrp2vrCk



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Como se pudesse escolher no amor. Como se não fosse um raio, que te parte os ossos e te deixa impotente no meio do pátio...

 

— Você parece radiante, meu bem. — ela fala. Sua voz doce soava como música para mim, uma melodia da qual eu poderia passar a vida inteira admirando.

Suas grandes mãos deslizam pelo meu rosto, conhecendo, com facilidade e o frio que ela emite já é tão familiar para mim, mas não consigo controlar os espasmos prazerosos quando a corrente elétrica sai de seu corpo e percorre o meu. As pontas de seus dedos poderiam me queimar tão facilmente.

— Eu estou feliz. — digo de maneira simples, ainda sem conseguir desviar o olhar de seu rosto.

Os raios de sol que faziam minha pele suar não eram nada. Não quando ela estava aqui, refletindo o sol e transformando-o em algo tão caloroso e familiar que eu sinto que mergulharia nele, sem pensar duas vezes.

Oh, mas eu também mergulharia nela.

— No que está pensando? — eu sussurro, observando enquanto suas mãos abandonam meu rosto e voltam a repousar pacificamente sob as pequenas flores coloridas da campina.

Sinto seu corpo balançar levemente enquanto ela ri, os lábios brincando sob seu rosto.

— Meu amor, essa fala é minha.

Dou de ombros. — Você diz que é estranho não me ler, eu apenas fiquei curiosa. Além do mais, eu já disse, você me fascina.

Ficamos em silêncio por incontáveis segundos.

Comecei uma carícia leve em seus fios claros que repousavam despreocupadamente em minha barriga.

— Nada em específico. Só... aproveitando o momento de paz. — ela sussurrou e fechou os olhos.

As pálpebras pálidas tremeram sob a luz do pôr do sol.

Prendi a respiração, desejando que de alguma forma pudesse eternizar aquele momento. Queria tê-la para sempre ali, próxima, com o corpo pressionando sob o meu. Sua expressão pacífica, seu sorriso leve, sua alma despreocupada.

Era tão fácil me perder nela em momentos como estes. Em que tudo que eu respirava era ela.

Tudo o que acontecia a minha volta envolvia ela.

As flores nela. O cheiro dela. Os lábios dela. O sorriso dela. Os olhos dela. A respiração dela.

Eu já havia lido sobre isso em diversos livros, visto várias obras, filmes e peças. Mas, sinceramente, Shakespeare jamais poderia me fazer entender o que realmente é o amor, não antes de conhecê-la.

Era muito mais do que apenas as sensações. O coração disparado, a respiração entrecortada, os olhos brilhantes e pupilas dilatadas, as mãos trêmulas. Isso era o que eu sentia, fisicamente, e era o que ela captava de meu corpo.

Mas não acabava aí.

Eu podia sentir como se cada partícula do seu corpo me obrigasse a caminhar em sua direção. Meu coração dava solavancos, meu peito se aquecia a cada sorriso seu. Minha mente tinha uma espécie de curto-circuito e tudo o que eu conseguia registrar eram os movimentos dela.

Eu poderia me ajoelhar para admira-la pela eternidade, sem nunca me cansar disso.

— Sou apenas humana, Edythe. Minha mente é como a de qualquer adolescente hormonizada que você encontre por aí. – eu complementei.

Ela reprimiu um suspiro.

— Eu discordo disso, mas não estou disposta a discutir essa questão. — a vampira encerrou e eu sorri, mordendo os lábios.

— Você apenas sabe que estou certa.

Ela franziu a testa, encarando minha expressão travessa por um segundo.

— O que eu faria sem essa sua boca inteligente, hã?

 

Acordei assustada e ofegante. Uma escura luz cinza, a familiar luz de uma manhã nublada, tomou o lugar do ofuscante sol de meu sonho. O pequeno calendário no canto do relógio me informou que hoje era treze de setembro.

Era o dia de meu aniversário. Olá, dezessete anos. Eu já podia sentir: estava mais velha.

Quando fui escovar os dentes, me surpreendeu que o rosto do espelho não tivesse mudado. Olhei para mim mesma à procura de algum sinal de, sei lá, rugas na minha pele. Contudo, não havia outras rugas além das em minha testa, e soube que seu relaxasse, elas desapareceriam.

Eu dispensei o café da manhã, querendo sair de casa o mais rápido possível, sabendo que minha deusa de ouro me esperava.

Fiz um esforço para não me distrair enquanto dirigia para a escola. Eu não podia sentir nada além do familiar desespero quando entrei no estacionamento que se estendia por detrás do colégio secundário de Forks e encontrei Edythe imóvel, recostada em seu lustrado Volvo prateado como um monumento de mármore dedicado a alguma esquecida deusa pagã da beleza. 

O desespero se intensificou. Mesmo depois de ter passado quase a metade do ano com ela, não podia crer que merecia tanta sorte.

Archie estava ao seu lado, me esperando também.

A visão de Archie me esperando ali  seus olhos de cor amarelo escuro brilhavam de excitação, e uma pequena caixa quadrada embrulhada em papel prateado em suas mãos  me fez franzir as sobrancelhas. Eu havia lhe dito que não queria nada, nada mesmo, de presente. Evidentemente, meus pedidos foram ignorados.

Bati a porta do Tracker e caminhei lentamente para onde eles me aguardavam. Archie veio ao meu encontro; seu rosto travesso resplandecia abaixo do pontiagudo cabelo negro.

— Feliz aniversário, Bella! Quando quer abrir seu presente? Agora ou mais tarde? — ele me perguntou entusiasmado enquanto caminhavamos para onde Edythe nos esperava.

— Sem presentes — protestei em um murmúrio.

— Certo... Mais tarde, então. Gostou do álbum de fotografias que sua mãe lhe mandou? E a câmera fotográfica de Charlie?

Eu suspirei. É claro que ele saberia quais seriam os meus presentes. 

— É. Eles são ótimos.

— Eu acho que essa é uma boa ideia. Só se vive o último ano escolar uma vez. Seria bom documentar a experiência.

— Quantas vezes você cursou o último ano? perguntei, divertida.

— Isso é diferente.

Nós nos aproximamos de Edythe nessa hora, — Archie sutilmente sai de fininho, enquanto eu admiro sua irmã — e ela levanta sua mão pra mim. Eu a segurei ansiosamente. A pele estava, como sempre, macia, dura, e muito fria. Ela apertou meus dedos gentilmente. Eu olhei nos seus olhos de topázio liquido, e meu coração se apertou de forma não tão gentil. Escutando as batidas do meu coração, ela sorriu de novo.

E então ela me beijou carinhosamente.

Eu a beijo de volta, de forma lenta e despreocupada até ela se afastar. Como sempre, nós duas somos deixadas querendo mais. Edythe movimenta a cabeça em direção ao prédio da escola.

— Aula. 

— Certo. Aula. — balanço a cabeça.

Recuperando o fôlego, eu me viro em direção à escola, mas Edythe para, a expressão subitamente irritada.

— Espera. Alguém que falar com você. 

— Bella! — a voz rouca grita de forma ofegante, e eu estremeço levemente enquanto me viro em sua direção.

Riley Biers se movimenta de forma que faz balançar um longo e brilhoso rabo de cavalo se castanho-claro. De alguma forma, seu corpo alto parece mais musculoso, mas ela ainda parece um pouco desastrada.

Ela acena para Edythe, que se move para ficar ao lado.

— Olá, Riley. — sorrio timidamente, sentindo uma certa tensão no ar.

Edythe parecia ter se transformado em pedra, a mão segurando a minha de forma firme como se tentasse reafirmar sua presença ali. Ela não pareceu tentar esconder o fato de que a presença de Riley a incomodava.

Biers, por outro lado, ignorou a presença da ruiva e focou sua atenção em mim, as bochechas ganhando um leve tom rosado — malditamente adorável.

— Oi, Bella.

Eu suspirei, me sentindo culpada por vê-la tão desconfortável.

— Como vai, Riley?

Ela coçou a nuca.

— Eu só queria... Ah, sabe... Feliz aniversário. Erica me contou. — ela disse, sorrindo.

— Obrigada. — eu retribuí, me sentindo mal por tê-la negligenciado durante o perfeito verão que passei com minha namorada.

Riley pigarreou, parecendo insegura.

— Na verdade, eu queria te dar isso. — Ela tira da frente de seu casaco um pacotinho de papel branco, enrolado desajeitadamente, e me entrega. Quando eu o abro, meu coração erra uma batida.

Um longo colar de prata desenrolava-se até um brilhante pingente de uma árvore Birthstones de cristal.

Era brilhante e adorável e... Droga, eu havia amado. Era a coisa mais linda e delicada que eu já havia visto.

— Oh meu Deus, Riley. — eu comecei a pular em torno de mim mesma, esquecendo-me momentaneamente que a mão de Edythe ainda me segurava firme, e admirei o pequeno colar em minha mão. — Eu simplesmente amei! Isso é incrível.

Ela abriu um sorriso tão grande que achei que rasgaria seu rosto ao meio, enquanto estufava o peito e afirmava de forma orgulhosa. — Fui eu mesma que fiz. Que bom que gostou.

Eu ainda me sentia emocionada pelo singelo presente, mas senti Edythe ficar rígida novamente e olhei-a. Ela franzia a testa para Riley, mas se dirigiu a mim de forma gentil.

— Vamos nos atrasar.

Eu apenas assenti, guardando o colar em um bolso interno da minha jaqueta e olhando Riley novamente.

— Obrigada de novo, Biers. — dei um soquinho em seu ombro e ela apenas suspirou enquanto se virava e voltava pela direção em que veio.

 

Ninguém se incomodou em olhar pra nós enquanto sentávamos nos nossos lugares de sempre no fundo da sala (nós tínhamos quase todas as aulas juntas agora — é incrível os favores que Edythe pode conseguir com a administração feminina da escola). Edythe e eu estavámos juntas havia bastante tempo pra não sermos mais motivo de fofoca. Nem Mike Newton se incomoda em continuar me dando aqueles olhares mal-humorados que me faziam sentir um pouco culpada. Ele sorria agora, e eu estava feliz por ele finalmente parecer estar percebendo que nós só poderíamos ser amigos.

Mike havia mudado durante o verão — o rosto dele estava menos arredondado, fazendo as maçãs do seu rosto mais proeminentes, e ele estava usando o seu cabelo loiro de outro jeito; ao invés de arrepiado, ele estava mais longo e com gel pra causar um efeito casualmente bagunçado.

Enquanto o dia passava, Archie nada falou sobre a festa de aniversário de novo — ele havia insistido nessa ideia por três meses seguidos e, apesar de adorá-lo, isso começou a me irritar. Depois de uma pequena discussão entre ele e Edythe — e alguns móveis da sala de Esme que foram jogados fora — Archie parecia ter desencanado. De qualquer forma, eu não queria uma festa. Nunca comemorei antes e não sentia vontade de começar agora.

Nós sentamos na nossa mesa de almoço de costume.

Um estranho tipo de trégua existia naquela mesa. Nós três — Edythe, Archie e eu — nos sentávamos no cantinho no sul da mesa. Agora que os irmãos Cullen  mais velhos e — assustadores — (no caso de Eleanor, certamente) tinham se formado, Archie e Edythe não pareciam tão intimidantes, e não nos sentávamos mais sozinhos.

Meus outros amigos, Mike e Jeremy (que estavam passando pela estranha fase pós-término de namoro na amizade), Angela e Ben (cujo relacionamento sobreviveu ao verão), Erica, Taylor e Logan (apesar desse último não contar na categoria da amizade) todos nos sentávamos na mesma mesa, no outro lado da linha invisível. Riley se juntava a nós, vez ou outra (depois que o constrangimento todo pareceu ter baixado).

Essa linha se dissolvia nos dias de sol, quando Edythe e Archie sempre faltavam à escola, e aí a conversa se estendia sem muito esforço pra me incluir também.

Edythe e Archie não achavam esse pequeno ostracismo estranho ou ferino, como eu teria achado. Eles praticamente nem reparavam.

As pessoas sempre se sentiam estranhamente doentes de tão á vontade que ficavam perto dos Cullen, quase com medo por alguma razão que ele não podiam explicar.

Eu era rara exceção a essa regra. Ás vezes Edythe se incomodava por eu me sentir tão confortável ao lado dela. Ela achava que era um risco á minha saúde — uma opinião que eu rejeitava veementemente toda vez que ela tocava nela.

A tarde passou rapidamente. A aula acabou e Edythe me acompanhou até o Tracker como sempre fazia. Mas dessa vez, ela segurou a porta do passageiro aberta pra mim.

Eu cruzei meus braços e não me movi pra sair da chuva.

— É meu aniversário, eu não posso dirigir?

Ela sorriu e fechou a porta do passageiro e passou por mim para ir para o lado do motorista. Eu entrei pela porta aberta.

Edythe mexia no rádio enquanto eu dirigia, balançando a cabeça em desaprovação.

— Seu rádio tem uma recepção horrível.

Eu fiz uma careta. Eu odiava quando ela mexia com o Tracker.

O carro era ótimo — tinha personalidade.

— Você quer um som legal? Dirija o seu próprio carro. — Minhas palavras fizeram ela apertar os lábios pra não sorrir.

Quando eu parei na frente da casa de Charlie, ela se inclinou pra pegar meu rosto com as duas mãos. Ela me segurou muito cuidadosamente, pressionando só a ponta dos dedos levemente nas minhas têmporas, nas maçãs do meu rosto, minha mandíbula. Como se eu estivesse especialmente quebrável. Que era exatamente o caso — comparada com ela, pelo menos.

— Você deveria estar de bom humor, hoje entre todos os outros dias — ela sussurrou. O doce hálito dela varreu o meu rosto.

— Deve ser TPM — eu disse, minha respiração desigual.

Seus olhos dourados queimaram.

— Que pena.

Minha cabeça já estava girando quando ela chegou mais pra perto e pressionou seus lábios gelados nos meus.

Como ela pretendia, sem dúvida, eu me esqueci das minhas preocupações, e me concentrei em lembrar de como respirar.

A boca dela permaneceu na minha, fria e suave e gentil, até que eu joguei meus braços no pescoço dela e me joguei no beijo com um pouco de entusiasmo demais. Eu podia sentir os seus lábios se curvando pra cima enquanto ela soltava meu rosto e se inclinava pra trás pra se livrar do meu abraço.

Droga, eu esperava mais.

— Seja boazinha, por favor — ela respirou na minha bochecha.

Ela pressionou seus lábios gentilmente nos meus mais uma vez e então se afastou, e eu coloquei uma mão no meu coração. Ele batia hiperativamente na minha palma.

— Você acha que um dia eu vou melhorar nisso? — eu imaginei, mais pra mim mesma. — Será que um dia meu coração vai parar de querer sair do meu peito toda vez que você me toca?

— Eu realmente espero que não — ela disse, um pouco presunçosa.

Eu rolei meus olhos.

— Vamos assistir os Capuleto e os Montéquio acabando uns com os outros, certo?

— Seu desejo é uma ordem, apesar de que eu acho que você já conhece Romeu e Julieta de trás pra frente.

Edythe se espalhou no sofá enquanto eu começava o filme, avançando nos créditos iniciais.

Quando eu me sentei no canto do sofá na frente dela, ela passou os braços pela minha cintura e me puxou pro peito dela. Não era exatamente confortável como um sofá, já que o peito dele era frio e duro — ignore os seios, ignore os seios — como uma escultura de gelo, mas era definitivamente preferível. Ela puxou seu casaco que estava jogado no encosto do sofá e jogou por cima de mim pra que eu não congelasse ao lado do corpo dela.

— Sabe, eu nunca tive muita paciência com Romeu — ela comentou enquanto o filme começava.

— Qual é o problema com Romeu? — eu perguntei, um pouco ofendida. Romeu era um dos meus personagens de ficção favoritos. Antes de conhecer Edythe eu meio que tinha uma quedinha por ele.

— Bem, pra começar, ele está apaixonado por essa tal de Rosalina... Não acha que isso o torna um pouco inconstante? E depois, alguns minutos depois do casamento, ele mata o primo de Julieta. Isso não é muito inteligente. Erro depois de erro. Será que ele poderia ter acabado com a sua felicidade mais completamente?

Eu suspirei.

— Você quer que eu assista isso sozinha?

— Não, na maior parte do tempo eu vou estar olhando você, de qualquer jeito — Os dedos dela traçaram linhas no meus braço, me deixando arrepiada. — Você vai chorar?

— Provavelmente — eu admiti. — Se eu estiver prestando atenção.

— Então eu não vou te distrair.

Mas eu senti os lábios dela no meu cabelo, e esta era uma distração e tanto.

O filme finalmente capturou meu interesse, em grande parte isso se deveu ao fato de Edythe estar citando as falas de Romeu no meu ouvido — a sua voz irresistível e aveludada fez a voz do ator parecer fraca e rouca em comparação. E eu chorei, pra diversão dela, quando Julieta acordou e viu seu novo marido morto.

— Eu admito, eu meio que invejo ele nessa parte. — Edythe disse, enxugando as minhas lágrimas com uma mecha de cabelo.

— Ela é linda.

Ela fez um som de nojo.

— Não o invejo por causa da garota... Só pela facilidade do suicídio. — ela esclareceu num tom de zombaria — Vocês humanos morrem tão fácil! Tudo o que vocês têm que fazer é só engolir um extrato de ervas...

— Como é? — eu ofeguei.

— Foi uma coisa na qual eu tive que pensar uma vez, e eu sabia pela experiência de Carine que não seria fácil. Eu nem tenho certeza de quantas vezes Carine tentou se matar no início... Depois que ela viu no que tinha se transformado... — A voz dela que havia ficado séria, ficou suave de novo. — E ela claramente ainda está em perfeita saúde.

Eu me virei pra poder ler o rosto dela.

— Do que é que você pensa que está falando? — eu quis saber. — O que é que você quer dizer com, “isso é uma coisa na qual eu tive que pensar uma vez”?

— Primavera passada, quando você foi... Quase morta...— Ela parou pra respirar fundo, lutando pra voltar ao seu tom de zombaria. — É claro que eu estava focada em te encontrar viva, mas parte da minha mente estava fazendo planos alternativos. Como eu disse, não é tão fácil pra mim quanto é pra um humano.

Por um segundo, a memória da minha viagem a Phoenix passou pela minha cabeça e me deixou tonta. Eu podia ver tudo tão claramente — o sol que me deixava cega, as ondas de calor que saiam do concreto enquanto eu corria com pressa desesperada para encontrar a vampira sádico que queria me torturar até a morte. Sem pensar, eu passei o dedo na grande cicatriz na minha mão que estava sempre um pouco mais fria que o resto da minha pele.

Eu balancei minha cabeça — como se isso pudesse levar pra longe todas as memórias ruins — e tentei entender o que Edythe estava dizendo. Meu estômago revirou desconfortavelmente.

— Planos alternativos? — repeti.

— Bem, eu não ia continuar vivendo sem você. — Ela rolou os olhos como se o fato fosse óbvio até para uma criança. — Mas eu não tinha certeza de como fazer... Eu sabia que Eleanor e Jessamine nunca iam me ajudar... Então eu pensei que poderia ir para a Itália e fazer alguma coisa pra provocar os Volturi.

Eu não queria acreditar que ela estava falando sério, mas seus olhos dourados estavam distantes, focados em algum lugar longínquo como se ele estivesse contemplando o fim da sua vida. De repente eu estava furiosa.

— O que é Volturi? — perguntei.

— Os Volturi são uma família — ela explicou, seus olhos ainda distantes. — Uma família muito velha e muito poderosa, da nossa espécie. São a coisa mais próxima no nosso mundo da família real, eu acho. Carine viveu brevemente com eles. De qualquer forma, você não deve irritar os Volturi — Edythe continuou  — Não a não ser que você queira morrer, ou o que quer que seja o que nós fazemos.

A voz dela estava tão calma, que ela quase parecia entediada com o pensamento.

Minha raiva se transformou em horror. Eu peguei seu rosto de mármore entre minhas mãos e segurei com muita força.

— Você não deve mais pensar nisso nunca, nunca, nunca mais! — eu disse. — Não importa o que possa acontecer comigo, você não tem permissão pra se machucar!

— Eu nunca vou te colocar em risco de novo, então essa discussão é inútil.

— Me colocar em risco! Eu pensei que já tínhamos estabelecido que a má sorte é minha culpa! — eu estava ficando com mais raiva — Como é que você ousa pensar em uma coisa dessas? — A ideia de Edythe deixando de existir, mesmo eu estando morta, era impossivelmente dolorosa.

— O que você faria se a situação fosse contrária? — ela perguntou.

— Não é a mesma coisa.

Ela não pareceu ver a diferença. Ela gargalhou.

— E se alguma coisa acontecesse com você? — Empalideci com o pensamento. — Gostaria que eu acabasse comigo mesma?

Um traço de dor tocou seu rosto perfeito.

— Eu acho que entendo seu ponto de vista... Um pouco. — ela admitiu. — Mas o que é que eu faria sem você?

— O que quer que você fazia antes de eu aparecer e complicar a sua existência.

Ela suspirou.

— Você faz parecer tão fácil.

— Devia ser.

De repente ela se sentou ficando numa postura mais formal, me colocando de lado até que não estávamos mais nos tocando.

— Charlie? — eu adivinhei.

Edythe sorriu. Depois de um momento, eu ouvi o som da viatura policial entrando na garagem. Eu me inclinei e segurei a mão dela firmemente. Meu pai podia lidar com isso.

Charlie entrou com uma caixa de pizza nas mãos.

— Oi, crianças — ela sorriu pra mim. — Eu achei que você gostaria de uma folga da cozinha e dos pratos e pelo seu aniversário. Com fome?

— Claro. Obrigada, pai.

Charlie não comentou a aparente falta de apetite de Edythe. Ele já estava acostumado em ver Edythe pulando o jantar.

— Você se incomoda se eu pegar Bella emprestada hoje à noite? — Edythe perguntou quando Charlie e eu havíamos terminado.

Eu olhei pra Charlie meio pesarosa. Talvez ele tivesse algum conceito sobre aniversários em casa, coisas de família — esse era o meu primeiro aniversário com ele, meu primeiro aniversário desde que minha mãe, Renée, casou de novo e foi pra Flórida, por isso eu não sabia o que esperar.

— Tudo bem, os Mariners vão jogar com os Sox hoje. — Charlie explicou  — Então eu não vou ser uma boa companhia... Toma — Ele levantou a câmera que me deu por sugestão de Renée (porque eu precisaria de fotos pra encher meu livro de recordações), e jogou pra mim.

Ele já devia saber — eu sempre tive problemas de coordenação. A câmera escorregou da ponta dos meus dedos, e foi caindo no chão.

Edythe a agarrou antes que ela se espatifasse na madeira.

— Bela pegada — Charlie reparou. — Se eles vão fazer alguma coisa divertida essa noite na casa dos Cullen, Bella, você devia fotografar. Você sabe como sua mãe fica... Ela vai querer ver as fotos antes que você possa tirá-las.

— Boa ideia, Charlie — Edythe disse, me passando a câmera — Mas não vamos pra minha casa. Vamos jantar fora.

Eu virei a câmera pra Edythe, e tirei a primeira foto.

— Funciona.

— OK. Divirtam-se crianças — Obviamente estávamos sendo dispensadas.

Charlie já estava indo em direção à sala e à TV.

Edythe sorriu, triunfante, e pegou minha mão, me puxando pra fora da cozinha.


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Notas finais do capítulo

TT: @el.diablexx



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