Sophia escrita por znestria


Capítulo 14
Complicações




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No sábado daquela semana, havia uma visita programada a Hogsmeade. Sophia e os amigos saíram da aula de Aparatação - que desta vez havia sido ao ar livre, visto que a neve já não cobria mais os terrenos -, e foram direto para o vilarejo, passando pelos jardins gelados e ansiando pelo calor do Três Vassouras e de suas cervejas amanteigadas.

“Fleur não pode vir?” perguntou Georgie enquanto caminhavam.

Rogério só balançou a cabeça negativamente, sem olhar para a amiga. Georgie levantou as sobrancelhas, mas não insistiu. “E Viktor?” disse, virando-se para Sophia.

“Também não. Ele disse que precisava se preparar para a Segunda Tarefa.”

“Ah, é verdade, já está chegando!” exclamou Georgie, alegrando-se. “Sabe como vai ser?”

“Não, não quis me intrometer.”

Assim que falou, aproximaram-se o suficiente do navio de Durmstrang para avistarem Viktor, trajando apenas calções de banho, no convés. Antes que pudessem reagir, ele pulou da borda, mergulhando diretamente no lago. Sophia abafou um arquejo.

“Qual é a dele? Está congelando!” protestou Sean.

“Talvez ele esteja acostumado com o frio?” sugeriu Georgie, virando-se para a amiga.

Sophia balançou a cabeça. “Não sei. Mas imagino que a Segunda Tarefa tenha algo a ver com água… Ou talvez resistência. Honestamente, não faço a menor ideia.” 

Lançou um último olhar a Viktor, que tinha emergido no meio do lago, e estremeceu levemente antes de continuarem o caminho.

Hogsmeade estava convidativa como sempre, apesar de gelada e sem as decorações de Natal. Chegaram ao Três Vassouras e conseguiram, por sorte, uma mesa perto da entrada. Pegaram as bebidas e sentaram-se, e logo estavam aquecidos e contentes.

Ludo Bagman passou, de repente, seguido de um pequeno grupo de duendes.

“O que é que ele está fazendo?” perguntou Sophia.

“Estranho, não é?” concordou Georgie. “E ainda mais com duendes, que, inclusive, não pareciam nada satisfeitos.” Sean parecia estar pensando em alguma explicação, mas não devia ter encontrado nenhuma plausível, pois não disse nada.

Fred e Jorge também passaram, mas cumprimentaram Sophia desanimadamente.

Será que se arrependeram de ter levado a culpa por mim? ela pensou. Estava ainda remoendo por causa do comportamento dos gêmeos que nem tinha percebido a discussão na qual os amigos haviam entrado.

“Tele-o quê?” dizia Sean.

“Teletransporte!” corrigia Georgie.

“Do que vocês estão falando?” interveio Sophia.

“Eu estava contando a Sean sobre como trouxas imaginam Aparatação, ou seja, teletransporte”, Georgie explicou. “Mas está impossível.”

“Ele ainda não aprendeu a falar ‘videocassete’”, lembrou Sophia, rindo.

“Vi-o quê?”

Georgie girava os olhos. “Você nem está tentando, Sean.”

O namorado jogou as mãos para cima. “Não é minha culpa se os trouxas têm palavras estranhas!”

“Porque bruxos não têm?” disse Sophia, levantando uma sobrancelha. “‘Testrálios’? É sério?”

Georgie riu. “Azkaban?” completou.

“Basilisco!”

“Penseira!”

“Estuporar!”

“Quadribol!”

Na menção da última palavra, Rogério, que estivera alienado da conversa, pareceu despertar de um transe e fez uma cara confusa ao ver as duas meninas gargalhando e Sean fazendo uma careta.

“Me dá uma ajuda aqui, Rogério”, disse Sean. “Essas meninas estão se juntando contra mim com cultura trouxa.”

“Goles!”

“Acromântula!”

“Rogério, fala alguma palavra trouxa difícil!” suplicou Sean.

“Hã… Tem aquela que eles usam como penas… Como é? Cometa ou algo assim…”

Caneta!” guinchou Georgie, mal cabendo em si de alegria.

Sophia e Georgie não conseguiam parar de rir, enquanto Sean começava a ficar carrancudo, e Rogério continuava parecendo confuso. No entanto, ouviram um grito do fundo do bar que fez todos se calarem:

“Quem se importa que ele seja meio-gigante? Não há nada de errado com ele!”

Harry Potter se encontrava em pé, com uma expressão lívida, de frente a Rita Skeeter.

O bar inteiro parou para acompanhar a cena em silêncio. Rita Skeeter, cujo rosto Sophia não conseguia enxergar tão bem à distância, sorriu e tirou uma pena e um pergaminho da bolsa.

“Que tal me dar uma entrevista sobre o Hagrid que você conhece, Harry? O homem por trás dos músculos? A improvável amizade que tem por ele e as razões para tê-la? Você o chamaria de um pai-substituto?”

O peito de Sophia se contraiu em desgosto. Que tipo de pessoa desprezível…? pensou, mas Hermione Granger se levantou antes que pudesse terminar a frase em sua cabeça.

“Sua mulher horrorosa”, ela disse. “A senhora não se importa, não é, qualquer coisa vira artigo, e qualquer pessoa serve, não é? Até Ludo Bagman…”

“Sente-se, menininha boba, e não fale do que não entende”, a repórter retrucou. “Sei de coisas sobre Ludo Bagman que deixariam você de cabelos de pé… Não que eles precisem de ajuda.”

“Como ela se atreve?” sussurrou Georgie.

Hermione, Harry e o Ronald Weasley se levantaram e saíram do bar, a maioria acompanhando seus passos até a porta. Sophia pode ver que Rita Skeeter manteve uma expressão decidida no rosto enquanto supervisionava a pena-de-repetição-rápida que agora escrevia no pergaminho sobre a mesa.

O bar foi lentamente voltando a suas conversas animadas, embora algumas ainda fossem em cochichos.

“Qual é o problema dessa mulher?” disse Sophia, balançando a cabeça. “Não entendo como ela pode gostar tanto de causar conflito.”

“O que será que ela quis dizer sobre Ludo Bagman?” perguntou Sean.

Sophia deu os ombros.

“Será que é sobre ele gostar de apostar?” sugeriu Rogério. “Ele conversou um pouco com os meus pais na Copa, lembram? Perguntou se queriam entrar na aposta. Meus pais recusaram, e minha mãe me disse depois para não jogar com ele.”

Sophia balançou a cabeça. “Não me parece algo que ‘nos deixaria com os cabelos de pé’.”

“Ah, qual é, gente”, interveio Georgie. “Ela deve estar blefando, isso sim. Vocês acham, sinceramente, que ela guardaria para si se tivesse uma fofoca tão espantosa?”

Os meninos murmuraram em concordância.

“Mas… Não significa necessariamente que é uma fofoca nova”, começou Sophia, falando devagar. “Quero dizer, lembra que Elena disse que Crouch mandava matar Comensais da Morte? Foi inacreditável para nós, que somos jovens e ainda nascidas trouxas, enquanto para um bruxo adulto não é nenhuma novidade.”

Georgie assentiu. “Faz sentido.”

“Mas não poderia ter sido nada tão grave, não é?” disse Rogério. “Quero dizer, ele é Chefe dos Esportes Mágicos no Ministério!”

“E todos ainda o adoram por sua carreira como jogador de quadribol”, acrescentou Sean.

Sophia mordeu um lábio. “Talvez seja exatamente por isso… Os bruxos talvez estavam dispostos a deixar passar o que quer que ele tenha feito porque gostavam dele como atleta.”

Sean parecia um pouco incomodado, mas Sophia insistiu: “Sabemos que os bruxos não têm exatamente muita ética em suas leis.”

“Elfos domésticos”, Georgie fingiu tossir e lançou um olhar significativo para o namorado, que bufou e não disse nada.

Sophia e Rogério se entreolharam. Sabiam que Georgie e Sean haviam brigado fazia algumas poucas semanas porque este não queria usar o distintivo do F.A.L.E., e, mesmo Sean aceitando finalmente prender o distintivo em sua mochila - em um canto muito pouco visível, Sophia notou -, o assunto ainda era sensível para os dois, que se comportavam de maneira passiva-agressiva sempre que ele surgia.

“Vamos para a Dedosdemel?” sugeriu Sophia subitamente, depois de um tempo de silêncio constrangedor. “Precisava comprar mais feijõezinhos, já que Filch pegou os meus.”

“Vamos”, concordou Rogério prontamente, levantando-se.

Georgie e Sean seguiram, ainda sem falar nada. Depois de entrarem na loja de doces, entretanto, foi difícil continuarem com a cara amarrada, então voltaram à descontração de antes e os quatro puderam aproveitar o resto do dia passeando pelo povoado.

Quando voltaram ao castelo, no final da tarde, Sophia se separou dos amigos e perambulou sozinha à procura de Fred e Jorge. Ainda estava se sentindo mal pelo jeito como a haviam cumprimentado no Três Vassouras, pois nunca os tinha visto desanimados daquele jeito. Esperava, ainda, encontrar Viktor no caminho, mas não parecia haver sinal dele.

Chegou à Torre da Grifinória e a identificou vazia. Andou até o retrato da Mulher Gorda, que guardava a entrada da Sala Comunal, e perguntou, o mais educadamente possível:

“Com licença, a senhora por acaso sabe se Fred e Jorge Weasley já voltaram de Hogsmeade?”

Mas, em vez de responder, a mulher no quadro girou para frente, revelando uma passagem e uma garota alta e morena.

“Alicia!” exclamou Sophia, aliviada.

“Sophia?” disse Alicia Spinnet, confusa. “O que está fazendo aqui?”

“Procurando Fred e Jorge. Você por acaso não os viu lá dentro, viu?”

A colega balançou a cabeça. “Não. Acho que ainda estão em Hogsmeade.”

“Ah, ok. Acho que não adianta ficar esperando aqui. Obrigada, de qualquer jeito.”

Alicia sorriu e então as duas começaram a descer juntas.

“Ei, você esteve no Três Vassouras mais cedo?” inquiriu Alicia, enquanto esperavam a escada em que estavam se juntar ao lance seguinte. “Ouvi dizer que Harry e Hermione discutiram feio com Rita Skeeter lá. Eles e Rony voltaram agora há pouco, acho que estavam com Hagrid.”

“Ah, sim”, concordou Sophia, acenando. “Foi bem tenso. Não sei o que Skeeter fez para irritá-los - embora, honestamente, só a presença dela seria suficiente -, mas Harry gritou algo do tipo ‘Qual é o problema de Hagrid ser meio-gigante? Não há nada de errado com ele!’, e o bar inteiro ficou quieto. E depois Hermione entrou no bate-boca, e Skeeter falou algo sobre Ludo Bagman e ainda insultou o cabelo da menina.”

Alicia fez uma careta. “Essa Skeeter é uma nojenta, isso sim. Até parece que não há nada mais relevante acontecendo para ela ficar escrevendo essas asnices.”

“Pois é. Mas obviamente ela nunca esteve interessada no Torneio Tribruxo, que é a desculpa dela para estar por aqui. A primeira reportagem que publicou era basicamente uma entrevista com Harry, e repleta de bobagens. Mal mencionou Cedrico, e ainda escreveu o nome de Viktor errado. E Fleur.”

Alicia lhe deu um olhar engraçado, mas rapidamente disfarçou. “Ah, é”, ela pigarreou. “Ela também usou Creevey como uma fonte próxima de Harry, o que não faz nenhum sentido.”

“Creevey é o garoto que foi petrificado, não é?” perguntou, e Alicia fez que sim. “Bom, isso mostra que realmente não faz sentido. Quero dizer, dois anos atrás, as pessoas estavam dispostas a acreditar que Harry odiava Creevey o suficiente para petrificá-lo, e agora eles são melhores amigos.”

Alicia assentiu e ficaram um pouco em silêncio, até que a menina recomeçou: “Ah! Mas o que eu queria dizer, na verdade, sobre assuntos mais relevantes, é de Berta Jorkins.”

“Berta Jorkins?”

“Sim. Ah, acho que você não ouviu falar porque seus pais são trouxas, mas Berta Jorkins é uma bruxa do Ministério que desapareceu alguns meses atrás. O Profeta Diário ainda não publicou nada a respeito dela, nem sei se estão realmente a procurando.”

Sophia franziu a testa. “Nem estão procurando? Mas e a família dela?”

“Não sei. Falam que ela era meio esquecida, perdida, e por isso não estão levando a sério. Mas já faz tanto tempo… E era de se esperar que ela fizesse alguma falta, sabe, já que o Departamento dela está sobrecarregado este ano, por causa do Torneio.”

“Ela era do Departamento de Jogos ou de Cooperação Internacional?”

“Jogos.”

“Então Bagman é chefe dela?” concluiu Sophia. “Será que é isso que Rita Skeeter quis dizer?” Ao ver a expressão confusa de Alicia, Sophia explicou: “Lá no Três Vassouras, Skeeter disse que sabia algumas sujeiras de Bagman. Será que ele tem algo a ver com o desaparecimento dela?”

Alicia fez uma careta. “Não. Ludo Bagman pode ser um idiota, ou um babaca, não sei, mas não é maligno.”

“Quem está chamando Ludo Bagman de babaca?” uma voz disse às suas costas.

Viraram-se e depararam com os gêmeos Weasley.

“Ei!” comemorou Sophia. “Eu estava procurando por vocês!”

“Vou continuar para o corujal”, despediu-se Alicia, deixando os três a sós.

“Então, Sophia”, disse Fred. “Por que é que estava nos procurando?”

“Ah, certo. Bom, eu queria me desculpar por vocês terem levado a culpa pela Madame Norra, não foi justo que vocês tivessem que-”

“Já conversamos sobre isso, está ok”, interrompeu Fred.

“O incidente da Madame Norra foi uma bela publicidade, já temos uma lista de pessoas interessadas nos feijõezinhos”, acrescentou o irmão.

Sophia piscou, confusa. “Vocês não estão bravos comigo?”

“Por que estaríamos?”

“Hã, eu…  Pensei que estivessem, lá no Três Vassouras vocês me pareceram meio distantes.”

“Ah, isso”, disse Jorge, mudando o peso do seu corpo para uma perna. “Não tem a ver com você, não se preocupe.”

Os dois gêmeos rapidamente trocaram um olhar, fazendo Sophia semicerrar os olhos. “Certeza?” ela perguntou.

Fred suspirou. “Acho melhor contarmos.”

“Contar o quê?” Sophia indagou, mas eles pareciam estar travando alguma competição de olhares entre si. Finalmente, Jorge pareceu ceder, pois fez um breve aceno com a cabeça.

“Bom”, começou Fred. “É sobre Ludo Bagman.”

De novo?, pensou Sophia. Esse cara fica voltando toda hora. “O que tem ele?”

“Nós apostamos com ele na Copa. Apostamos que a Irlanda ganharia, mas que Krum capturaria o pomo. Só que ele nos pagou com ouro de Leprechaun, que desapareceu, e agora está nos evitando.”

“O quê? Mas não tem como, sei lá, processá-lo ou algo? Procurar algum meio de fazê-lo pagar de algum modo legal, pelo Ministério?” acrescentou, ao ver os olhares confusos dos gêmeos. 

“Queríamos não precisar chegar a esse ponto”, respondeu Jorge, olhando duro para o irmão.

Sophia balançava a cabeça. “Quanto exatamente ele deve a vocês?”

“Trinta e sete galeões, quinze sicles, três nuques e uma varinha falsa”, recitou Fred.

Antes que Sophia pudesse falar algo a mais, ele continuou: “E planejávamos usar esse dinheiro para investir na nossa loja.”

Sophia entendeu. “Era a isso que vocês estavam se referindo quando falaram que estavam providenciando o dinheiro.”

Eles concordaram. Ficaram um tempo sem dizer nada, enquanto Sophia absorvia as novas informações, mas ela mesma não sabia como ajudar. Quando voltou à Sala Comunal, à noite, contou o que descobrira para os amigos, que não pareceram tão surpresos:

“Deve ser por isso que minha mãe disse para não apostar com ele”, concluiu Rogério.

“Você pensaria que uma figura pública como ele seria mais confiável, não é”, disse Sean. “Fico até admirado que ele tenha conseguido evitar os Weasleys, ainda mais com o Torneio acontecendo.”

“Essa foi a parte que chamou a atenção de vocês?” exasperou-se Georgie. “Tem uma bruxa sumindo faz meses e Bagman não está nem aí!”

Rogério fez um aceno com a mão. “Berta Jorkins não era tão boa de cabeça, ouvi meus pais falando. Eles acham que ela deve ter se perdido.”

“Se perdido por meses?” Sophia levantou uma sobrancelha. “Não me parece muito provável.”

O amigo comprimiu os lábios e assumiu uma expressão pensativa.

“Só não diga que foi Ludo Bagman que fez alguma coisa com ela”, advertiu Sean, olhando para a namorada.

Georgie pareceu ofendida por um momento, mas então respondeu secamente: “Não ia.”

Sophia estranhou e ficou calada. Estava acostumada com Georgie e Sean se desentendendo em certos assuntos, visto que Georgie era muito racional e até cética por vezes, mas eles sempre se acertavam, afinal, eram amigos fazia tanto tempo que já haviam se habituado com o comportamento um do outro. No entanto, esta já era a segunda vez no mesmo dia que se inimizavam.

Quando subiram ao dormitório, pensou em perguntar a Georgie se estava tudo bem, mas a amiga foi direto para a cama sem falar nada. Sophia também se deitou em silêncio, mas ficou acordada por um bom tempo, refletindo sobre todas as novas informações que tinha descoberto naquele dia. Ao perceber a ausência da respiração compassada da amiga, entretanto, percebeu que ela também demorara a cair no sono.


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