Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 148
MEG - De deus do Sol para deus do Sol


Notas iniciais do capítulo

antes tarde do q nunca, aproveitem o cap novo :)



no momento, estão nas AMERICAS os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Indo para o Peru: Meg e Apolo
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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MEG

Sei lá quanto tempo a gente já estava voando. Só sei que eu estava deitada no banco de trás tirando uma boa soneca junto com Pêssego por puro tédio. Tínhamos deixado a Jamaica para trás a pouco tempo, nossa última parada para banheiro e comida e a próxima seria sei lá onde. Talvez Equador ou o próprio Peru já.

Já tinha cansado de ver mar e ilhotas quando olhava pra baixo, assim como já tinha cansado de Apolo murmurando alguma música que eu não conhecia (o que ele achou um crime, pois aparentemente era da Beyoncé). Também já tinha cansado de perguntar pra ele se estávamos chegando. 

—Tá tudo bem aí? - perguntou ele - Você tá quieta a tempo demais. 

— Eu to dormindo. - respondi sem abrir os olhos. 

— Desde quando quem tá dormindo responde? - perguntou ele, abri os olhos e vi ele olhando para mim do retrovisor - E também, dá pra ver você irritada e abrindo os olhos às vezes. 

— Detalhes. - respondi - Falta muito? 

— Mais um pouco e não estamos mais sobrevoando o mar. - respondeu ele - Ao menos isso.  

— Pêssego. - resmungou Pêssego. 

— Pêssego tem razão. - falei - Você já disse isso. 

— Antes eu disse isso para as ilhas do Caribe. - defendeu-se Apolo - Agora é continente de fato. Logo logo estamos sobrevoando a Colômbia. 

— Que deduzo que fique num continente finalmente. - respondi enquanto me sentava de braços cruzados.  

— Quantas aulas de Geografia você matou? - perguntou ele. 

— Todas. - respondi dando língua pra ele. 

Ele bufou e revirou os olhos, e eu me larguei no banco e fiquei fitando a janela da frente, torcendo para finalmente ver algum traço de continente ou qualquer coisa diferente. Depois de alguns segundos, eu de fato vi, mas nada do que esperava. 

Uma pequena folha de árvore bateu no vidro da frente do carro, o que já era estranho considerando a altura em que estávamos. Mas ficou mais estranho ainda quando a folha pareceu ter sua própria vontade e a vontade dela era de ir até a janela fechada do lado de Apolo. O carro estava rápido, a folha foi carregada pelo vento ou simplesmente perdeu a corrida e ia bem para trás, ou os dois juntos. Mas logo tentava recuperar a distância perdida. E esse processo se repetiu, provando que não havia nada de normal naquela folha. A coitada folha parecia sofrer pra lutar contra o vento e acompanhar o carro de Apolo. Dava quase pra ver ela ofegante com o esforço. Apolo não parecia ter notado. 

— Ah… Apolo… - falei. 

— Se quiser ir ao banheiro de novo, vai ter que aguentar mais uns minutos. - respondeu ele - Só tem água lá embaixo ainda. O que até dá um banheiro, mas imagino que não ache tão confortável. 

— Não é isso … - respondi abrindo a minha janela para a folhinha entrar - Tem uma folha seguindo a gente. 

— Que? Uma folha? - perguntou ele tentando olhar para trás para ver a folha. 

— Será que dá pra olhar pra frente? - reclamei. 

— Pra não sair da pista? - zombou ele e eu revirei com o olhar.

A pequena folha nos seguia, batalhadora e claramente cansada. Não parecia um comportamento esperado de uma folha normal voando perdida por aí. 

— Vai diminuir pra ajudar ela? - perguntei.

— Não sei. Será que devo? - questionou ele - Não sabemos o que é isso e você já até abriu a janela.

De repente, a pequena folha pareceu usar todo o esforço e força dela para "correr" atrás do carro. Nós dois não fizemos nada, apenas acompanhamos atentos até que a pequena folha alcançou a minha janela e caiu no banco do carro ao meu lado e quase visivelmente ofegava de cansaço.  

— Tudo bem aí folhinha? - perguntei.

A folha não parecia falar. Acho que aí já seria pedir demais. Mas ela se levantou, a pontinha do caule dela tocando o banco, e se ela tivesse rosto, eu poderia jurar que estava olhando para mim. Ela então se virou para Apolo e então para Pêssego. Parecendo satisfeita, ela repentinamente começou a girar ao redor do seu caule cada vez mais rápido, até nem ser mais possível distinguir que aquilo era uma folha. 

Logo acima dela então, uma luz começou a surgir. Primeiro pequena, do tamanho de um vagalume, e então foi crescendo até ter o tamanho de uma bola de basquete e, dentro dessa luz, havia um homem com roupas bem extravagantes e luminosas, mas também elegantes, como se falasse "eu que mando aqui". 

— Guaraci… - resmungou Apolo.

— Quem? - perguntei. 

— O deus do sol Tupi. - respondeu Apolo - Às vezes eu divido o trabalho com ele. 

— Apolo. - disse Guaraci - Espero que essa mensagem chegue até você. 

— Chegou. - respondeu Apolo. 

— A Cuca está bloqueando muitas formas de contato… mas consegui fazer essa pequena folha escapulir até você. - disse Guaraci - Ou assim espero. 

— Chegou sim. - respondeu Apolo mais uma vez - Mas pera… isso é ao vivo ou gravado? 

— Recebi um pedido de ajuda vindo desde do que acho serem seus amigos mortais que estão cruzando a Amazônia até o Peru. - continuou Guaraci. 

— Tô achando que é gravado. - respondi. 

— Pêssego. - disse Pêssego.

— Sim, também acho. - completou Apolo.

— Espero que essa mensagem não chegue tarde demais. - continuou Guaraci - Estou indo em instantes ajudar seus amigos. Mas parece que lidaremos com deuses como Supay e sua legião de demônios, Pishtaco, e com a Cuca tão por perto, pode ser só uma questão de tempo até ela vir também. 

— O que é essa Cuca? - perguntou Meg.

— É tipo uma bruxa…. Acho… - respondeu Apolo meio incerto - Não sei muito sobre ela. Só lembro que um tempo atrás li numa revista de fofoca que ela tem uma queda por Sobek.  

— Pera .. revista de fofoca? Sobek? - perguntei perdida. 

— É. O deus egipcio com cabeça de crocodilo. - respondeu ele como se estivesse falando de algo totalmente normal - Acho que a Cuca é um jacaré. 

— Os deuses tem uma revista de fofoca? - perguntei. 

— Claro. - respondeu ele - A eternidade seria um porre sem algumas coisas, como fofocas. 

— Aham… - respondi, incerta, julgando ele.

— Então se puder vir o mais rápido possível para Gorgor. A folha vai te ajudar a chegar até mim. - continuava Guaraci - Será de grande ajuda. Especialmente porque não posso ficar aqui o dia inteiro. 

— Já estou vendo terra. - disse Apolo - Vamos desafiar esse motor?

— A magia não estava falhando? - perguntei preocupada. 

— Sim. - respondeu ele - Mas dessa vez, se algo acontecer, não é só água que tem embaixo da gente. 

— Não vejo como isso é tão melhor assim! - respondi com minha fala se tornando um grito no final quando o carro começou a ir repentinamente bem mais rápido. 

— Relaxa. - disse ele - Essa é a carruagem do sol. Tá que ela não tá muito acostumada a viajar de norte a sul como estamos fazendo agora… mas confia em mim um pouco tá?

— Tá… - resmunguei a contra gosto.

Ainda bem que ele tinha fechado o teto algumas horas antes, porque viajar daquele jeito num conversível parecia no mínimo burrice ao meu ver. A imagem de Guaraci tinha sumido, a paisagem lá embaixo se movia mais rápido e, tal como Apolo prometeu, logo eu estava vendo a terra chegando.

— Vem cá… pergunta… - falei.

— O quê? - perguntou ele.

— Você disse que o Guaraci é um deus do sol né? - perguntei - Então porque ele tem um visual todo luminoso, chamativo, bem claramente… sol… e você não?

— Ei! - reclamou Apolo, olhando para mim com toda sua cara de Lester - Eu consigo ficar todo chamativo assim também! Eu tenho qualquer aparência que eu quiser.

Ele começou a mudar na mesma hora pra forma de Apolo egocêntrico do cabelo de propaganda de shampoo, mas quando eu vi que não iria parar ali, pois começou a ficar luminoso demais pra uma pessoa normal, eu falei desesperada.

— Tá tá tá! Não, por favor! - exclamei - Eu acredito! Mas volta ao normal que seu ego já é irritante o suficiente assim.

— Nem parece que me conheceu antes de ele ter diminuído consideravelmente. - reclamou ele, permanecendo como o normal Apolo, não Lester - Mas vou ficar assim porque tenho uma reputação a manter quando alcançarmos Guaraci.

Ao meu lado, a folhinha parecia cansada apesar da promessa de Guaraci de que ela nos guiaria até onde ele estava. Talvez Apolo estivesse ainda no caminho certo considerando que Guaraci mencionou uma tal de Gorgor. De toda forma, por enquanto tudo que eu podia fazer era me preparar e tentar não ficar enjoada com a velocidade que estávamos voando.

— O que é esse Supay? - perguntei para Apolo.

— Sinceramente, não sei muito. - admitiu ele - Deve ser algum deus de algum lugar daqui. 

— Não queria dizer, mas acho que você é meio mal informado. - reclamei.

— Ei! - rebateu ele - Eu não vejo você tendo contatos úteis!

— Pêssego! - exclamou Pêssego, me defendendo.

— Tá. Tá… - reclamou Apolo.

Eu me sentei de braços cruzados no banco de trás, doida para que o caminho até o nosso destino terminasse logo. Olhei para a folhinha, que estava muito bem obrigada no banco do meu lado como se nada tivesse acontecendo. Continuamos desse jeito, em silêncio, por mais vários minutos, sei lá quantos. O suficiente para eu ficar entediada. Talvez até pelo menos uma hora. Ou quem sabe mais. Num momento então, a folhinha começou a voar indo até o volante.

— Vai me guiar agora? - perguntou Apolo enquanto abria a janela do lado dele - Já estamos quase no Peru mesmo.

O carro fazia um barulho não muito animador, mas ignorando isso, Apolo abriu a janela. O vento entrou intensamente no carro, carregando a folhinha por alguns segundos, mas ela claramente era guerreira e foi contra ele até a frente do carro. Apolo diminuiu a velocidade e então a folhinha conseguiu voar na frente, guiando o caminho. Continuamos assim por mais alguns minutos e então uma névoa estava no nosso caminho.

— Vamos entrar na névoa, né? - perguntei.

— É o que parece. - respondeu Apolo.

De fato, logo entramos na névoa. No começo, ela era até de boa, mas logo ficou bem densa, e paramos de ver a folhinha, que parece ter deduzido isso, pois voltou para dentro do carro e pousou na cabeça de Apolo.

— E agora? Só espero o barulho da bagunça chegar? - perguntou ele. 

— Acho que sim. - respondi incerta tentando enxergar algo naquele nevoeiro todo. 

Bem que eu queria que tivesse sido o simples barulho de combate que nos fez achar o resto do pessoal. Ao invés disso, o que aconteceu foi que algo bateu embaixo do carro. Não recomendo a experiência de capotar no ar. Não é nada agradável. Eu gritei, Apolo gritou, Pêssego gritou e o carro chacoalhou e girou como um liquidificador enquanto perdia altitude. Algo bateu na lateral do carro de novo e fomos jogados pra sei lá que lado. Por um segundo, no meio da confusão do pouco que eu conseguia fazer sentido com os olhos, achei ter visto algo que parecia um dragão e tive certeza de ter visto fogo.

Apolo eventualmente conseguiu arrumar o carro, meus cabelos estavam pra todo lado e os dele também. Meu óculos estava torto em minha cara e o arrumei a tempo de ver uma moça pegando fogo passando voando na nossa frente como um super-herói, não consegui ver o rosto dela. 

— Como raios vamos enxergar alguma coisa nessa névoa toda? - perguntei, tentando me situar.

— Dá pra ver algo luminoso ali! - disse Apolo apontando para o céu enquanto a folhinha se grudava na bochecha dele parecendo até o abraçar, se tivesse braços.

— Vamos ver se tem alguma coisa no chão. Acho que tem alguma briga acontecendo lá! - falei.

— Também acho. - disse ele descendo com o carro - Tá ouvindo também sons de tambores vindo de lá né?

— Tô. - respondi - Você pode ir ver lá em cima o que tá rolando e eu vejo o chão.

— Combinado. - respondeu ele.

Quanto mais ele abaixava o carro, mais eu ouvia os tambores. Eram irritantes demais e parecia que cada batida estourava meus ouvidos e aumentava o estresse. Os pneus do carro nem tinham tocado no chão quando um bicho esquisito, com orelhas grandes e corpo todo pintado em azul e vermelho pulou no capô do carro e forçou-o a pousar de vez de forma meio brusca, ao invés do pouso suave que estava planejado antes.

— EI! NÃO TOQUE NO CARRO! - gritou Apolo irritado saindo do carro logo sendo recebido por rugidos e xingamentos do monstro numa língua que eu não conhecia.

Corri para sair do carro também, enquanto Apolo rapidamente já puxava uma flecha e atirava na testa do monstro. O monstro caiu para trás, não ainda morto, mas resmungando o suficiente para estar claro que estava nos últimos segundos de vida. A folhinha, antes grudada na bochecha de Apolo, pareceu até nos dar tchau e logo saiu voando apressadamente, não querendo fazer parte da confusão que estava prestes a nos engolir.

Nem deu tempo de eu prestar atenção no monstro que pulou no carro, vários já nos cercavam enquanto, em algum lugar na névoa, eu ouvia os gritos do resto do pessoal se sobrepondo minimamente aos sons irritantes dos tambores, mas eram fáceis de identificar por serem os únicos em algum idioma que eu falava.

Eu transformei meus anéis nas minhas fiéis espadas e fui logo pra cima do bicho feioso que estava mais perto. Eu não tinha a menor ideia do que eram aqueles monstros, mas não precisava… isso é, até talvez eles inventarem um ataque novo maluco e diferente que eu precisasse lidar. Mas por enquanto era uma competição de quem batia melhor e mais forte. 

— Vai lá ajudar seja lá o que estiver acontecendo lá em cima! - falei para Apolo enquanto ele se preocupava por alguns segundos no que acontecia ali embaixo.

— Eu sei… mas tô preocupado com aqui embaixo também… - disse ele - Não tá vendo o tanto de bicho que tá vindo da névoa? Leo e os outros não estavam num número nem um pouco grande pra lidar com tudo isso de monstro. Vamos seguir as vozes deles para ver se achamos alguém!

— Tudo bem então. Mas depois você vai entender o que tá acontecendo lá em cima. - falei.

— Talvez eles até possam explicar… porque ver alguma coisa aqui tá impossível. - respondeu ele.

Assim, eu, Pêssego e Apolo começamos a abrir caminho no meio da confusão até as vozes do pessoal. E olha, acho que eu tenho que admitir que a gente era um trio bom.  Pêssego pulava em cima dos monstros, rasgando-os depois de alguns segundos com seus dentinhos. Eu usava as minhas espadas. Até me arranhava um pouco com alguns monstros mais cheios de espinhos e com garras exageradas, mas eventualmente conseguia derrubar meu adversário. E enquanto isso, à distância, Apolo atirava suas flechas impedindo que outros monstros chegassem muito perto de nós.

A quantidade de monstros era absurda. Eu já sentia meus braços ficando cansados quando reconheci Alex, suada, ofegante, descabelada e repleta dos mais diversos machucados, surgindo da névoa lidando com os monstros também. Mas o segundo que eu usei para identificar ela na névoa foi muito importante, pois por causa dele não notei o monstro de pernas de lava ao meu lado, que quando pisava queimava a grama ao redor, e meu pé que estava logo perto.

— AI! SEU…! - gritei e Apolo e Pêssego imediatamente atacaram o monstro.

— Meg? - perguntou Alex ao ouvir meu grito e olhar pra mim.

— Os reforços chegaram! - exclamou Apolo atirando no monstro de pernas de lava enquanto eu, com muita dor, tentava pisar no chão e sentia o solado do meu tênis furado.

A flecha de Apolo foi engolida, ilesa, pelo corpo do monstro, que agora revelava que não eram só as pernas que eram feitas de lava. E pior, ele também estava engolindo Pêssego, que gritava de dor. 

— Droga! Pêssego! - gritou Apolo.

Nada mais importava, guardei minhas espadas e corri para o monstro e agarrei Pêssego, puxando para longe enquanto ele gritava de dor. Admito que não foi minha ideia mais genial, pois os braços do monstro estavam livres demais, então ele me agarrou, uma mão no pescoço e outra no braço e agora eu também gritava de dor pois sentia minha pele queimando.

Um jato d’água então acertou o monstro com força, ele cambaleou e o aperto dele afrouxou por um milésimo de segundo, e foi nesse milésimo de segundo que Apolo se meteu entre nós, me empurrou pra longe, e puxou Pêssego pela fraldinha dele. Eu caí no chão e olhei para onde veio o jato d’água, estranhando pois, por um segundo achei que era Percy, mas na verdade eu vi uma mulher de longos cabelos negros, camiseta, shorte e chinelo.

— APOLO! - gritou Alex desesperada correndo até nós enquanto Apolo curava Pêssego, que se debatia de dor e atacava o próprio Apolo no processo, e a moça de cabelo longo lidava com o monstro de lava.

— Eu. - respondeu Apolo.

— Magnus! - disse Alex - Tem como ir ver o Magnus? Ele… ele caiu feio num buraco… tá desacordado desde então! Está respirando tão fraco.

— Me leve até ele. - disse Apolo olhando para mim por um segundo, claramente avaliando qual paciente precisava mais dele - Aguenta um pouco?

— Aguento sim. - respondi enquanto Pêssego pulava dos braços de Apolo e ia até mim - São só algumas queimaduras.

 Apolo saiu correndo com Alex e eu fiquei lá com Pêssego e a moça que eu não sabia o nome que lutava contra o bicho de lava numa ferocidade que eu fiquei surpresa. Ela não parecia ter tanta água como Percy, mas o que tinha havia envolvido os seus punhos e pernas como se fossem luvas e meias e dava cada soco e chute no monstro que partes do corpo dele, que agora parando pra ver, parecia até massinha, começavam a cair no chão, e ainda bem que ele não era daquele tipo de monstro que tentava se remontar.

Invoquei minhas espadas de novo e tentei me sincronizar com a moça para conseguir cortar fora os braços do monstro ou qualquer coisa do tipo. Não era fácil, especialmente considerando que ainda éramos atacadas por todos os lados. Os tambores tocando, vindo de sei lá onde, num ritmo cada vez mais rápido e irritante eram de estressar. Num dado momento, a moça assobiou e por uns segundos nada aconteceu, mas de repente uma cobra gigante pegando fogo e com algo se debatendo na boca surgiu.

— MAS O QUE…? - gritei, pronta para lutar com a cobra mas não gostando das minhas chances.

— Não. Ele está do nosso lado. - respondeu ela.

Logo depois disso, a cobra bateu com a calda em vários dos monstros que nos cercavam, diminuindo bastante o problema, e logo bateu também no monstro de lava, que gritou de dor e se desfez em vários pedaços. A cabeça, o tronco e os braços ainda estavam praticamente inteiros, então ela começou a bater em cima do monstro com a calda, até ele não passar de uma poça gosmenta no chão.

— Quem é você e onde você arrumou essa cobra? - perguntei, ofegante e cansada enquanto a cobra fazia um círculo ao nosso redor e os monstros perdiam a coragem de nos atacar.

— Eu sou Iara. - respondeu a moça - E esse é o Boi-tatá. O cara na boca dele é o Chullachaqui, um ser inca que consegue se transformar em qualquer um. No caso, ele se passou por Calipso e ela acabou sendo sequestrada.

— Ok… obrigada pela atualização. - respondi - Onde está Calipso?

— Lá. - respondeu Iara apontando para o céu - Leo, Angra e Guaraci estão lutando contra Supay e seus monstros voadores para tentar resgatar Calipso.

— Tá… legal… entendi. - respondi - Valeu. 

— Quem é você? - perguntou Iara - Pelo que entendi o outro cara é Apolo.

— Eu sou Meg. E esse é o Pêssego. - expliquei.

— Pêssego. - se apresentou Pêssego.

— Muito prazer. - respondeu Iara.

— É isso então? - perguntou o Chullachaqui preso na boca do Boi-tatá e aparentando estar bem acabado por ter que participar da luta daquele jeito - Vão continuar conversando e lutando normalmente como se eu não estivesse aqui?

— Se não gosta, o Boi-tatá pode te devorar de uma vez. - sugeriu Iara.

— Não, obrigado. - respondeu o Chullachaqui com a voz ficando aguda e fraca - Pensando bem, até que tá confortável aqui.

— Foi o que pensei. - respondeu Iara - Vamos voltar pro Magnus e pro André. Não é bom deixar os dois assim sem muita proteção.

— Ok. - respondi.

Abrir caminho no meio dos monstros com uma cobra gigante era bem mais fácil, mesmo considerando que eu estava mancando e com muita dor no pé, no braço e no pescoço. Não sei se era por medo da nossa cobra gigante ou por estarem diminuindo de quantidade depois de matarmos muitos, só sei que parecia ter menos no nosso caminho. Mas também sei que o constante esforço para abrir caminho ali estava me deixando exausta, não queria nem imaginar como estava os outros.

Chegamos até rápido onde Magnus estava e eu já estava cansada. O tal do André devia ser o cara sentado ao lado dele com uma cara de tão acabado que parece que tinha acabado de fugir da cova. Alex estava logo ao lado, com cara de preocupada e claramente completamente exausta, descabelada e precisando também passar pelas curas de Apolo, mas atenção toda de Apolo estava em Magnus. A luz de cura brilhava e atraia atenção dos monstros, que eram repelidos por Jacques. Parecia ser demais para Jacques sozinho, ainda bem que Iara e Boi-tatá chegaram para ajudar.

Ficamos vendo Magnus sendo curado por no máximo 1 ou 2 minutos, (e por ‘vendo’ entenda revezar ‘ver’ com ‘lutar’) quando a fila do hospital aumentou.

— MAGNUS! - gritou repentinamente Leo, atrás de nós - TEM COMO CURAR A CAL?

Eu me virei e dei de cara com ele e Festus pousando, ambos bem machucados. Leo tinha um corte longo e feio no braço direito que estava da cor errada, todo roxo e cinza, e a cor aumentando. Nos braços dele, Calipso estava desacordada, com vários hematoma e um buraco feio e sangrento no alto do braço.

Festus pousou no chão e Leo ficou de olhos arregalados ao ver Magnus largado lá no chão, desacordado, mas logo ficou aliviado ao notar que era Apolo quem estava cuidando de Magnus. Já Apolo, ao ver todo mundo chegando ao redor dele, cada um pior que o outro, incorporou o próprio médico chefe e começou a dar ordem pra todo mundo. 

— Eu quero Leo e Calipso aqui do meu lado na fila! - exigiu Apolo deixando Magnus por dois segundos, espero que ele tenha julgado que Magnus aguentava de boa esses dois segundos.

— Eu também? - perguntou Leo.

— É! Esse corte no braço não é nada normal e é muito preocupante. - continuou Apolo logo apontando para Jacques, Iara e Boitatá - Vocês três, protejam essa área. Agora aqui é nosso hospital.

— Mas eu… - começou a falar Leo, mas Apolo o interrompeu.

— Tá querendo perder o braço? - perguntou Apolo - Se não quiser, você vai ficar aqui sim.

— Pode deixar. - disse Iara, que já estava fazendo o que foi pedido e simplesmente continuou.

— Vocês três…. Façam o que quiserem, mas manerem e tomem cuidado! - disse Apolo apontando para mim, Pêssego e Alex - Manerem e tomem cuidado, eim?! O hospital já tá bem cheio. Mas vocês estão na lista de próximos.

— Festus, vai ver e ajudar Angra e Guaraci. - disse Leo e Festus rugiu por um segundo e logo saiu voando, claramente num estado bem melhor do que os demais ali.

Achei ter visto Magnus começando a abrir os olhos quando me virei para ajudar Iara e os demais a impedir os monstros de irem pra cima da gente praticamente no ritmo das batucadas dos tambores. Meu pé direito, acertado pela lava do bicho de antes, doía a cada passo que eu dava e tocava o chão. 

Sentia até lágrimas se acumulando nos meus olhos por causa da ardência das queimaduras não só dele, mas também no meu braço e pescoço. Mal podia esperar pela cura de Apolo. Acho que eu não passava para categoria emergencial de seu hospital, que parecia no momento ter estar desacordado como pré-requisito ou com o braço quase caindo.

— Pêssego… - disse Pêssego bem sério, pronto para umas porradas.

— Tome cuidado para não se machucar de novo. - falei.

Um monstro pulou da névoa repentinamente quando terminei de falar. Eu desviei e antes que ele pudesse pular em mim de novo, eu chutei a cara dele. Pêssego logo pulou em cima do monstro para se livrar dele, enquanto eu me virava para outros que vinham. Nessa hora, tive certeza que os monstros estavam diminuindo de quantidade mesmo. Antes era difícil achar espaço sem monstro para andar, agora já dava com facilidade.

Por alguns minutos, tudo que eu fazia era derrotar monstros, um atrás do outro. Sem contar, sem pensar demais, sem pensar em como eu já estava cansada, ofegante e com os braços pesados. Dava chutes, usava as espadas e até plantas, quando possível.

Um bicho corpulento, baixinho, cabeludo e com braços e pernas longas e finas pulou nas minhas costas e fincou as garras dolorosamente no meu ombro enquanto gritava no meu ouvido. Travei por um segundo, sentindo o sangue dos meus ombros escorrer, mas Jacques logo veio ao meu resgate e decapitou o bicho. Me livrei do corpo do monstro com nojo enquanto ele se desfazia em pó. Toquei levemente meus ombros doloridos sentindo a camiseta ensopada de sangue e rasgada em três furos para cada ombro. Pela cara o monstro não tinha 5 dedos. Certamente aquilo me renderia uma bronca de Apolo sobre a parte do “maneirar e tomar cuidado”. 

— Tudo bem aí? - perguntou Jacques vendo que eu tinha parado por uns segundos.

— Tudo. - respondi, ignorando as dores no corpo que se acumulavam e voltando para a batalha.

Não sei quantos mais eu derrotei, só sei que eu não aguentava mais. Estava ficando desleixada, a dor me distraía mais que o cansaço e o desleixo e a distração geravam novos ferimentos. De repente, ouvi um baque pesado vindo de mais além e a névoa toda foi repentinamente engolida pela fonte desse baque e os sons irritantes de tambor pararam.

Agora eu conseguia ver muito melhor e não só vi que os monstros tinham diminuindo muito, como também vi o que causou o baque. Era um homem grande, bem alto e musculoso, com um rosto bem esquisito que se eu não tivesse visto mechendo, teria certeza que era uma máscara. Sua pele era vermelha, os olhos grandes e bem amarelos, os chifres eram tão grandes e grossos que eu podia ter certeza que ele passou a vida inteira com dor no pescoço. Ele havia caído no chão junto com um tipo de dragão mas que não era muito parecido com os dragões tipo de Game Of Thrones ou sei lá, era literalmente uma cobra com pequenas patinhas e asas de águia ou qualquer bicho com penas que eu não saberia classificar direito.

Ambos estavam bem feridos. A maioria dos ferimentos eram queimaduras e logo os prováveis causadores dessas queimaduras pousaram. Um homem, que reconheci como sendo Guaraci, e uma mulher, que era que eu tinha visto passando rapidamente pelos céus antes. Eles também tinham seus ferimentos, mas era óbvio que eram os vencedores do dia.

Os dois estavam aparentemente prontos para dar o golpe final, ou assim parecia já que o adversário já mal conseguia levantar. Imaginei que seria o tal Supay que Guaraci avisou na mensagem. Mas então, repentinamente, o chão se abriu embaixo de Supay e o engoliu. A mulher e Guaraci foram para cima, mas o chão se fechou novamente deixando-os sozinhos ali com a gente e os poucos monstros que ficaram para trás.

— COVARDE! - gritou a mulher.

— Não se preocupe. - disse Guaraci - Imagino que vai vê-lo novamente mais cedo do que quer.

— Se estiver pensando no que eu estou pensando… - disse a mulher enquanto os dois iam na nossa direção casualmente acabando com os monstros que sobraram - Isso significa encarar ele e a Cuca juntos. E ainda tem o Pishtaco que o Chullachaqui mencionou mas que não vi nessa confusão. E os mortais já estão acabados o suficiente. Ou seja, estamos ferrados.

— Falando assim não sei nem como responder. - admitiu Guaraci.

De fato, estávamos ferrados. Eu mal tinha chegado e estava exausta e doida por um banho e uma boa soneca quando me livrei do último monstro dentre os que tinham mais perto de mim. Não queria nem imaginar como estava o resto do pessoal, que pelo o que parecia, teve um dia bem cansativo.

Com Guaraci e a mulher que ainda não sabia o nome, acabamos com os monstros que faltavam até rapidamente. Especialmente considerando que uns saíram voando ou correndo para longe, já que o líder deles também tinha ido embora. Guardei minhas espadas como anéis de novo e deixei meus braços caírem, cansados. Fui então me arrastando até o “hospital”.

Magnus estava acordado, mas no mesmo estado meio zumbi que o outro rapaz estava antes, e estava deitado no colo de Alex. E agora, apesar de Calipso desacordada, Apolo tinha aparentemente julgado que o braço de Leo era uma preocupação maior.

— Conseguiram? - perguntou Apolo sem tirar os olhos da cura do braço de Leo.

— Supay escapou. - respondeu a mulher - Provavelmente foi se juntar com os outros amiguinhos dele para ter vantagem não só nos números, mas também no poder.

— Esses monstros que ele chamou do Uku Pacha eram realmente mais irritantes do que muito fortes. - respondeu Iara.

— Menos o Amaru. Ele era bem forte também. - disse a mulher.

— Quem era o Amaru? - perguntei.

— O dragão que o Supay estava montando. - explicou a mulher.

— E quem é você mesmo? - perguntou Apolo.

— Não disse? - perguntou a mulher olhando para Guaraci - Esses europeus não tão nem aí pro o que está fora de lá.

— Ei! - reclamou Apolo.

— Eu sou Angra. Deusa do fogo. - respondeu a mulher.

— Eu sabia… - respondeu Apolo, sem enganar ninguém - Só não tinha 100% de certeza aí não quis arriscar.

— Então… como fazemos agora? - perguntou Alex - Precisamos de um tempo para descansar.

— Vocês podem se recuperar aqui por um tempo… Apolo pode curar os machucados. - disse Angra - Mas não acho que podemos demorar mais. Não sabemos o quão rápido Supay chega em caral indo pelo submundo.

— Ao menos salvamos Calipso. - disse Leo olhando para ela desacordada ao seu lado e para Apolo, provavelmente procurando indícios de que Apolo iria curar ela em seguida - Agora só precisamos nos preocupar com Caral, né?

— Bem… não diria assim “só” se preocupar com Caral… - disse Iara - Parece pouco. Temos que lembrar de tudo que está lá. E a Cuca vai ser um problema grande, na minha opinião.

— Irem nesse estado é suicidio. - disse Apolo - Estão bem acabados. Até tenho umas ambrosias mas…

— Tenho açaí também… - disse Guaraci.

— Vai poder ir conosco até Caral? - perguntou Angra olhando para Guaraci.

— Não. - respondeu Guaraci - Por isso pedi para Apolo se apressar. Tenho muitos assuntos para tratar. Mas tem os semi deuses incas no caminho então… só passarem lá.

— Iremos… - disse Angra - Mas vamos concordar que ajudas divinas são mais úteis.

— Bem, vamos focar em descansar então. - disse Iara.

— Algo pra comer seria interessante… - disse Leo, cansado, sem tirar os olhos de Calipso enquanto Apolo começava a curá-la.

— Tem comida no carro… - respondi logo indo até o carro pegar.

Mas Apolo me agarrou rapidamente pelo braço, deixando de curar Calipso.

— Ele vai. Já não vai mais perder um braço que estava ficando necrosado. - apontou para Leo - Você fica aqui na fila do hospital. 

Eu bufei e revirei o olhar, mas Leo foi no carro pegar nossa sacola de comida.




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Notas finais do capítulo

ATÉ O PROX CAP. POR FAVOR COMENTEM.



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