Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 147
MAGNUS - O Duelo na Névoa


Notas iniciais do capítulo

demorou mas saiu. desculpe a demora.

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Indo para o Peru: Meg e Apolo
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)
no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime
no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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MAGNUS

A tensão de Iara e Angra me deixou tenso também. Nós escondemos André junto com o Boitatá para proteção, e também porque o Boitatá estava evitando que o Chullachaqui escapasse, e nos amontoamos na beirada do morro que estávamos. À essa altura, eu tinha aprendido que era vantagem estar em terreno elevado, mas como aquele terreno não tinha muitas árvores e afins, ao contrário da Amazônia, ficamos agachados atrás de moitas e das poucas árvores ou tentando se misturar à paisagem. Sem espaço para Festus ficar ali escondido, ele ficou com Boitatá.

Com o canto do olho, olhei para Alex ao meu lado e ela olhou para mim também. Mais além, Leo nem piscava. Eu entendia ele. Não sei como eu iria ficar se fosse Alex no lugar de Calipso, a caminho de virar jantar de monstros sul-americanos (porque a essa altura eu já estava perdido em quem era brasileiro ou peruano). 

— Lá vem eles. - sussurrou Iara do meu outro lado, preparando o arco e flecha dela. 

No horizonte, onde mais árvores se acumulavam para mostrar que ali começava a transição de bioma para Amazônia, uma quantidade estranhamente condensada num único ponto de névoa começou a lentamente surgir. A névoa cinzenta e branca ia escapando das árvores, engolindo elas e vindo na nossa direção. 

Quando essa névoa estava mais em campo aberto, eu comecei a distinguir figuras ali. Não via mais do que as silhuetas, mas só isso já era preocupante, pois uma delas era bem grande. Parecia um homem grande e corpulento, só que a cabeça tinha um formato estranho que terminava em um par de longos e grandes chifres. E pra completar o conjunto, ele parecia estar montado em algo que não era fácil identificar. O final da montaria parecia de cobra, mas o começo nem tanto. E eu nem sabia como descrever o começo. Ao lado dele, meia dúzia de seres de formatos estranhos demais para julgar algo se amontoavam. Uns tinham uma forma mais humanóide, mas nem tanto, outros pareciam algum bicho, mas nem tanto. 

Mas no meio daquelas formas, eu não identificava Calipso. Só podia torcer para ela estar fazendo parte de alguma das silhuetas. 

— Quando ele alcançar aquela árvore com o galho quebrado. - sussurrou Angra, ao lado de Iara. 

Eu olhei para a árvore que marcava o início de seu ataque surpresa. 

— Temos que tomar cuidado para não acertar Calipso. - lembrou Léo. 

— Mirem na cabeça chifruda. - disse Iara - Aquele é com certeza Supay e não Calipso. 

— E se eles tiverem colocado ela ali justamente para pensarmos isso? - perguntou Leo. 

— Acho que está pensando demais. - respondeu Alex. 

— Pois bem, eu lanço uma chama por perto para abrir espaço na névoa e iluminar o rosto dele. - ofereceu-se Angra - Mas vocês tem que imediatamente atacar em seguida sem pensar duas vezes, senão perderemos o elemento surpresa.

— Já vamos perder um pouco do elemento surpresa com isso. - falei preocupado, mas entendia a preocupação de Leo.

— Prefiro assim. - disse Leo. 

Quando o grupo estranho escondido na névoa alcançou a árvore de galho quebrado que Iara havia mencionado, Angra rapidamente preparou duas bolas de fogo e atirou cada uma de um lado da cabeça do provável Supay. 

As bolas de fogo chegaram tão perto do rosto dele, que me surpreendi de não ter queimado as orelhas. Mas, o importante foi que momentaneamente elas afastaram a névoa daquelas regiões revelando um rosto que com certeza não era de Calipso. 

O rosto de Supay era tão caricato que bem poderia ser uma máscara, mas quando ele mexeu a bocarra de dentes gordos e pontudos, tive certeza que não era o caso. A pele do Supay era vermelha, seu nariz era bem grande e redondo, como uma batata, seus olhos também eram grandes e bem amarelos e desconfortáveis de se olhar. 

Não tivemos tempo de processar a aparência dele, se é que tem algo a processar. À essa altura, o que é mais um deus de pele colorida e alguma outra característica diferente? Seja olhos amarelos, chifres ou nariz de batata.

Eu, Jacques e Alex éramos os excluídos ali que não tinham um ataque que chegasse tão longe sem sair do lugar. Por mais que Alex tivesse o garrote dela, o grupo ainda estava mais longe do que o alcance dele. Então ficou para Iara, Angra e Leo atirarem contra a cabeça do Supay. 

Os fogos e as flechas o atingiram em cheio, realmente aproveitando o elemento surpresa. Ele foi empurrado para trás e, segurando na rédeas de sua montaria que acabou levantando o corpo quando o deus foi empurrado para trás mas se recusou a cair, vi algumas coisas importantes. 

A primeira era que a montaria dele era um misto de dragão e serpente alada difícil de explicar. A segunda era que Calipso estava deitada na frente de Supay, amarrada, de barriga pra baixo, e, esperava eu, desacordada ao invés de morta. Ou talvez até acordada. Realmente não dava para ter certeza daquele ângulo. 

— Ela está no colo dele. - sussurrei.

— CAL- - começou a gritar Leo ao mesmo tempo, mas Alex imediatamente colocou a mão na boca dele.

— Não sabemos se o monstrengo já nos viu aqui. - lembrou ela - Grite menos e ataque mais. 

Ao meu lado, Angra e Iara já atiravam diversas flechas e bolas de fogo, tentando dar o máximo de dano para Supay. Enquanto isso, Leo, que apesar de não ter podido gritar pelo nome de Calipso, fez um sinal para Festus, que estava de olho fixo em nós. Festus ficou preparado e, quando Supay apontou na direção de onde vinham os ataques, e seus monstros olharam na nossa direção, Leo fez um segundo sinal para Festus.

Agora que fomos revelados, não tinha porque esconder Festus, então nosso plano de resgate começou. Ao ver o sinal, o dragão pulou ao lado de Leo, que subiu rapidamente nele e ambos saíram voando rapidamente para os céus. Iara e Angra aumentaram a quantidade de ataques, sempre tomando cuidado com Calipso, que aposto que Leo nem ousava tirar os olhos.

Olhando para Leo e Festus, Supay, montado em seu bicho, e carregando Calipso junto, voou nos céus, provando que sua montaria tinha asas. Um dos monstros dele também voou. O Supay ia para Festus, os monstros ao redor dele iam na nossa direção. Foi nessa hora que eu vi que a montaria de Supay parecia um dragão também. Era como se fosse uma longa cobra gigante e gorda com asas de penas e patas com garras grandes mas que pareciam pequenas demais para o tamanho do resto do corpo.

— Achei que ele ia querer vir pra gente se visse eu e a Iara. - disse Angra.

— Vai ver acha que é demais para os bichinhos dele lutarem contra um dragão de metal? - completou Iara.

— Estou me sentindo subestimada. - admitiu Angra.

— Pensa assim… o Supay pode ter ficado com medo da gente e decidiu começar pelo Leo. - sugeriu Iara dando de ombros.

— Então vamos mostrar que ele tomou a decisão errada. - respondeu Alex preparando seu garrote.

— Acho que vou ajudar o moleque. - disse Angra olhando para Leo.

Mesmo com o Supay indo em direção a Festus, a névoa dele continuava avançando em nossa direção, o que impediu que a gente conseguisse identificar direito o que eram os monstros contra os quais estávamos prestes a lutar.

— Preparado? - perguntou Jacques.

— Espero que sim. - respondi bem enquanto fitava a névoa expandindo-se rapidamente impedindo-nos de ter uma visão melhor dos monstros que iam em nossa direção.

Respirei fundo e preparei Jacques em minha mão enquanto ouvi que Festus e o bicho que Supay montava começaram a lutar entre si. Estava preocupado com Leo, mas não ousaria tirar os olhos dos monstros que, nas mais diversas formas escondidas na densa névoa, se aproximavam de nós. Angra se decidiu e saiu voando como um foguete em direção à Leo, enquanto isso, eu, Alex e Iara corremos na direção dos monstros disformes.

A névoa avançava cada vez mais e nos engoliu antes que alcançassemos os monstros. Nessa hora, meu coração se apertou sem explicação e fiquei arrepiado. Ela era sinistra e avançava como uma tempestade. A tensão no ar era tão forte que era difícil respirar. Senti até frio percorrendo o meu corpo.

Eu olhei com o canto do olho para Alex, ela olhava para frente, focada, mas também parecia tensa. Então, os monstros nos alcançaram e começou a confusão. Eu tinha que tomar cuidado para não ficar no meio do caminho do garrote dela e também para não cortá-la com Jacques.

Com aquela névoa dificultando ver as coisas, era melhor que não ficássemos muito longe, ou então poderíamos confundir os monstros com um de nós. E que monstros… eram de todos os tipos. Alguns eram baixos e corpulentos, com olhos grandes e esbugalhados como bolas de tênis e pele azulada. Outros já pareciam versões demoníacas de raposas. Outro era um bicho feio que doía, de cabelo longo, baixinho, com um barrigão, braços e pernas longos e finos de um jeito que parecia que sua cabeça e barriga eram meros ovos um em cima do outro e os membros eram gravetos. E ainda tinham uns que pareciam até fazer parte da névoa e mudaram de forma constantemente.

Eu, Alex e Iara lutamos contra eles o mais rápido e ágil que conseguíamos considerando que estávamos com desvantagem numérica. Eu dava meu melhor, cortando monstros que estavam ao meu alcance e lutando contra meu próprio cansaço, mas Iara e Alex eram guerreiras lindas de se observar lutando. Lutavam com uma ferocidade e agilidade que eu fiquei até com dó dos monstros.

— Abaixe a cabeça! - exclamou Iara repentinamente apontando seu arco e flecha na minha direção.

Eu abaixei e ela atirou em algo atrás de mim. Uma espécie de macaco demoníaco foi atingido pela flecha dela bem no meio da testa e caiu no chão. Ela nem esperava ver o alvo caindo e já ia para seu próximo alvo, eu logo tratei de fazer o mesmo e me vi trocando golpes de espada com um bicho feioso que tinha sua própria espada cinzenta. Ele tinha braços mais longos que o normal que quase rastejavam pelo chão e o rosto dele parecia um pouco aquele peixe feioso da parte escura e profunda do mar que tem uma antena que parece uma lanterna, mas se ele tivesse sido fundido com um macaco.

— Quantos monstros são? - perguntou Alex repentinamente, meio ofegante por sua própria batalha - Alguém sabe?

— Não. - respondi apressadamente tentando não desviar minha atenção do homem-peixe, que acho que estava me xingando numa língua desconhecida - Iara?

— Não tem como saber. - respondeu ela - Supay pode muito bem estar trazendo mais monstros do Uku Pacha nesse momento.

— Uku o que? - perguntei enquanto conseguia derrubar o meu rival macaco-peixoso, que logo se levantava para mais.

— Uku Pacha! - disse ela elevando sua voz enquanto o monstro com quem lutava rugia - O submundo inca.

Eu queria invocar a Paz de Frei para acabar com tudo aquilo logo, mas aquela névoa toda dava uma sensação estranha e incômoda no coração. Era terrível. Eu me sentia ao mesmo tempo prestes a ter um ataque de ansiedade e de depressão. Era muito difícil se concentrar na luta em si, imagina em coisas como sentimento.

Além do mais, o braço do meu adversário fazia juz ao tamanho. Era bem forte. Mesmo que eu conseguisse parar a maioria dos golpes e contra-atacasse, cada defesa estava exigindo demais da minha energia. Repentinamente então, o monstro que parecia dois ovos com quatro gravetos pulou da névoa em direção às minhas costas enquanto soltava um grito agudo que doeu no fundo dos meus ouvidos.

Eu quase caí pra frente, totalmente desprevenido como estava para um ataque nas costas. O que significou que eu quase caí pra cima do macaco-peixoso, que certamente aproveitou a chance para me atacar. Ele rapidamente levantou a espada  ela teria me cortado dolorosamente na base do pescoço, se não fosse o fato que o garrote de Alex se apertou no pescoço dele antes. Para completar tudo, ao mesmo tempo, Iara deu um poderoso chute no bicho nas minhas costas, derrubando-o no chão. O que foi impressionante considerando que ela usa chinelo.

— Maldito Kurupi… - resmungou Iara enquanto o bicho rapidamente subia nas árvores e sumia na névoa.

— Kurupi… não é o bicho que pegou a Calipso? - perguntei.

— Ele mesmo. - respondeu Iara - Asqueroso que só. Só sabe atormentar… ou pior.

— Achei ágil demais pro meu gosto. - comentou Alex forçando o olhar tentando achar o Kurupi novamente no meio da névoa.

— Pior que um macaco. - comentou Iara atirando sua flecha novamente em um monstro que começa a ficar visível no meio da névoa - Espero que Leo e Angra estejam tendo sorte em resgatar Calipso ao menos.

Nós três nos concentramos em nossos próximos rivais, o cansaço já me derrubando bastante e os olhos ardendo em sono. Então, repentinamente, o Kurupi rapidamente surgiu da névoa e pulou na cara da Alex, derrubando-a no chão.

— ALEX! - gritei.

Foi nesse momento que o chão em que pisava se abriu. Iara rolou para longe mas eu, obviamente, caí. Ela até tentou esticar a mão para me pegar, mas por alguns poucos segundos não deu certo. Mas ao menos estava perto da borda. Meu corpo bateu contra as pedras e a terra do precipício que se abriu. 

Cai batendo nas quinas pela parede que havia depois dele, ralando as partes do corpo que passavam pelas pedras pequenas da superfície, deslizando de qualquer jeito e me agarrando onde podia. Não era fácil, mas pelo menos a superfície era um pouco irregular, então eventualmente eu consegui segurar numa parte mais sobressalente e plana com uma mão, enquanto outra segurava Jacques ainda. 

Nunca achei que minha mão fosse ser tão forte, mas imagino que o medo de morrer de novo crie algumas forças. Enquanto isso, Jacques tentava me puxar. Afinal se ele conseguia voar por ali, eu bem podia ser um peso que ele puxava. Mas parecia que eu era demais para ele.

— Segura! - gritou Jacques claramente tentando ajudar, acho que só por isso eu não caí nas profundezas escuras daquele buraco.

— Magnus! Alex! - ouvi Iara gritar não muito longe dali, mas algum rugido e gritos vindos lá de cima me fizeram imaginar que ela estava ocupada novamente.

Ofegante, com a mão ralada e o joelho dolorido depois de bater na quina do precipício quando ele se abriu, eu olhei para aquele mesmo buraco depois que ouvi um rugido vindo do fundo. A névoa se contorcia lá no fundo e eu vi outras mãos se agarrando às paredes como eu. Só que elas subiam na minha direção e eram dos mais diversos formatos, tamanhos e cores, com garras ou não. Eu engoli em seco e, repentinamente, uma enorme quantidade de monstros voadores saiu do fundo. 

E claro, minha sorte estava muito em dia, porque eles batiam em mim com suas asas de morcego, águia, inseto e todas mais, com espinhos na ponta e até pegando fogo. Minha percepção, que depois entendi que estava certa, era como se os demônios estivessem escapando do inferno. E esses demônios escapando estavam me derrubando ao bater em mim e em Jacques. Meu sangue gelou quando deixei de sentir a terra sob meus dedos.

— SE SEGURA, DROGA! - gritava Jacques.

— EM QUE? - gritei - SÓ TEM VOCÊ! 

Eu continuei a cair, mas não tão rapidamente quanto era esperado, pois Jacques tentava me puxar pra cima. Os monstros continuavam subindo pelas laterais do buraco ou simplesmente voando, e esses estavam me rendendo machucados, pois eles paravam para tentar me bicar e arranhar, ou simplesmente bater em mim no meio do voo, e eu não tinha muito como me defender. Com a parede de pedra não tão longe, eu tentava me agarrar como dava e Jacques tentava me levar para mais perto da parede.

Talvez notando que uma hora ou outra eu ia conseguir me agarrar novamente, como se para ter certeza que eu ia cair mesmo, a névoa me agarrou. Sim, a névoa me agarrou. Nem achei muito extraordinário na minha lista de coisas malucas da minha vida, uma névoa viva. Mas ela me agarrou, e começou a me puxar ainda mais para o fundo. Jacques começou a tentar me soltar, eu tentei me soltar do jeito que fosse, mas era claramente irrelevante. 

Tudo que eu tentava fazer na névoa não dava em nada enquanto ela conseguia me trazer uma sensação terrível de morte e desesperança, o que estava dificultando muito minhas tentativas de tentar usar a Paz de Frei como uma medida desesperada.

— MAGNUS! - ouvi Alex gritando e achei ter visto ela aparecendo na beirada.

Não foquei muito tempo nela, pois ainda estava tentando usar minha energia para tentar sair dali. Então, decidi apostar tudo na minha tentativa desesperada de fazer a névoa me soltar. Fechei os olhos e tentei lutar contra aquela sensação ruim que a névoa trazia.

Pensei na minha mãe. Lembrei dela preparando um pequeno bolo para comemorarmos juntos meu aniversário. Então ela se virou pra mim, com um sorriso quentinho e passou um pouco da massa do bolo no meu nariz, soltando uma risada logo depois.

Tentei deixar as sensações que tinha durante aquelas memórias me envolverem e lutarem contra o frio e desespero que a névoa trazia. Mas a névoa também trazia memórias dolorosas, como a morte da minha mãe. Tentei fugir delas, lembrei desesperadamente da primeira vez que eu e Alex nos beijamos. Acho que minha mãe ia gostar da Alex.

Respirei fundo, pensando em Alex e em minha mãe, e então a névoa me soltou. Foi o máximo da Paz de Frei que consegui invocar, já que os monstros continuaram escalando as paredes ao meu redor e gritando e a sensação que a névoa trazia era terrível. 

— Antes que ela volte! - falou Jacques apressadamente.

Eu abri os olhos a tempo de ver um pássaro gigante se aproximando de mim. Eu dei um pequeno grito num tom que não era nenhum motivo de orgulho, mas logo lembrei de ter visto aquele pássaro antes. Alex tinha me explicado que era uma Harpia e era o maior pássaro que tinha conseguido encontrar quando quis ver alguns animais úteis diferentes para se transformar nas batalhas.

— Alex? - perguntei enquanto ela agarrava a minha camiseta e, junto com Jacques, tentava me puxar para fora. 

Eu não conseguia ver ela já que estava me agarrando pelas costas da camiseta, mas ela parecia estar sofrendo para me carregar para cima, pois ofegava e Jacques ficava gritando palavras de incentivo.

— Vamos! A gente consegue! - incentivava Jacques.

Não tendo muito o que fazer pra ficar magicamente mais leve, eu olhei para baixo e vi a névoa tentando nos alcançar com vários tentáculos. Preocupado, olhei para cima e vi que a saída estava cada vez mais perto. Mas eu não via o sol, só mais névoa.

— Sei que parece legal dizer isso mas… se conseguirem ir mais rápido… - falei - A névoa tá bem perto.

— Estamos tentando, tá? - reclamou Jacques.

Eu respirei fundo e resolvi tentar de novo, mas a névoa nessa mesma hora nos envolveu completamente num redemoinho que nos manteve bem no centro, mostrando que conseguia facilmente ser mais rápida que nós. Ela estava tão densa que o cinza dela mais parecia preto, mas a pior parte foi a sensação de desamparo, tristeza e desespero que tomou conta do nosso coração como mágica quando rostos começaram a aparecer na superfície da névoa.

Eram rostos esqueléticos, tristes e desesperados com mera escuridão no lugar dos olhos e da boca. Gritaram, imploraram e choravam num idioma que eu não conhecia, e logo esses rostos tinham braços também. Esqueléticos, pouco mais do que pele e ossos, mas claramente humanos, e tentavam nos agarrar.

O redemoinho foi fechando ao nosso redor, o ar foi ficando difícil de se puxar e rasgava na garganta quando passava. Alex começou a perder as forças, fomos perdendo altitude, as unhas longas e quebradas das forças que saíam da névoa de fato arranharam apesar de não terem aparência sólida. Fui acumulando cortes cada vez mais profundos enquanto eles nos agarravam. Senti que eles queriam que nós nos juntássemos à eles.

Logo não havia mais espaço vazio no meio desse redemoinho, agora ele nos sufocava sem espaço para fugir. Tudo que eu via era névoa, não conseguia nem ver minhas próprias mãos tentando afastar a névoa de mim. Só sabia que Alex e Jacques ainda estavam lá pois sentia eles me puxando e se debatendo também. Mas aqueles rostos ainda estavam ali, em toda parte, gritando no meu ouvido, se forçando a ficar na minha frente, gritando, chorando, implorando. 

Eu tossi, o que foi muito doloroso. Minha garganta estava acabada com aquela névoa entrando por ela. Alex e Jacques gritaram algo mas não consegui ouvir. Os gritos das coisas… pessoas… no meio da névoa me arranhando e puxando era muito pior. Seus dedos arranharam minha pele e até minha roupa e, com Alex me segurando pela camiseta, logo o óbvio aconteceu e eu caí. E dessa vez, bem mais rápido.

Mesmo assim, aquelas pessoas de névoa me acompanharam. Se agarram à mim, me enforcaram, se agarravam dolorosamente a minha pele para a gravidade as puxar também, se abraçavam ao meus braços e pernas, me rodeavam mesmo em queda livre.

— JACQUES! ALEX! - gritei, mas não consegui ouvir nada no meio daquilo tudo. 

De repente, senti Jacques tentando me puxar. A velocidade da queda diminuiu. Eu não conseguia ver nada além de pessoas de névoa, secas, ressecadas e desesperadas, em todo o meu campo de visão. Segurei em Jacques como se minha vida dependesse disso, e dependia. Os cortes feitos pelas pessoas de névoa e pelos monstros alados de antes doíam e, de repente, eu senti por um milésimo de segundo o chão se bater contra mim. Ou melhor, eu bater contra o chão, quando cheguei ao fundo. Ouvi um baque alto de algo caindo, ouvi algo se quebrando. Ambos os algos eram “eu”. E então, desmaiei.

Não sei quanto tempo passei desacordado. Mas quando abri os olhos, estava num lugar completamente escuro e a única coisa que ouvia era o som de mãos brotando da terra e puxando enquanto Jacques tentava as cortar.

— FINALMENTE ACORDOU! TÁ INTEIRO? - perguntou ele desesperado - TEMOS QUE SAIR DAQUI LOGO! ESSE LUGAR ME DÁ ARREPIO.

— Acho que não… - respondi fracamente sentindo dor em várias partes, incluindo na garganta ao falar. 

Eu claramente tinha me machucado na queda. E feio. Não tinha certeza se eu sentia minhas pernas, minha garganta ardia. Eu nem tinha forças para me mexer e tentar me livrar das mãos que puxavam, dessa vez para debaixo da terra. A única vontade que eu tinha era de chorar de dor, mas mesmo isso era esforço demais. Então torci para Jacques conseguir lidar com as mãos sozinho, enquanto eu tentava curar a mim mesmo.

Eu não sabia onde estava Alex, isso me preocupava muito. Mas eu não podia pensar nisso no momento. Tinha que conseguir sair dali, mas a terra já estava me engolindo demais. Minhas pernas já estavam todas soterradas e meu peito lentamente ia junto enquanto mãos esqueléticas me puxavam até pela cabeça ou cabelo.

Jacques tentava cortar as mãos, mas novas logo surgiam. Cheguei a conclusão que era ali então que eu morreria (de novo). No fundo de buraco sendo puxado pelas mãos de figurantes de The Walking Dead. 

— Jacques… - falei fracamente.

Minha cura até ia indo bem… mais ou menos, mas não suficiente para eu mover mais alguma parte do corpo. Eu sentia que ia desmaiar a qualquer momento novamente. Meu peito sendo soterrado e também meus braços dificultava ainda mais não só minha tentativa de cura, mas também minha respiração, pois a terra apertava meu peito desconfortavelmente e também uma provável costela ou algo mais quebrado ali perto.

— Tô quase! Tenha calma! - disse Jacques, mas sabia que era mentira.

Eu estava cada vez mais fundo, os braços não davam sinais de parar de surgirem. Jacques era só um.

— Diz pra Alex… - eu falei fracamente - que… eu amo ela… e

— Diga você pra ela! - reclamou Jacques.

— Eu também… gosto muito de você Jacques… - completei, ignorando ele - Você me ajudou muito em… muitas coisas… é meu amigo…

— PARA COM ISSO! - gritou Jacques com a voz alterada.

De repente, uma bola de fogo pousou intensamente perto de mim, fazendo o chão tremer. Eu torci para ser Angra, mas quando o fogo baixou, era um homem. Ele tinha cabelo intensamente laranja, de um jeito cegante, como se o cabelo fosse feito de fogo, mas sem de fato ver nenhuma chama. O olhar dele era sério, a pele dele era de um tom marrom-dourado que devia ser o sonho de muita gente aí tentando o bronzeado perfeito. Ele tinha várias pinturas pelo corpo com padrões tribais mas com uma tinta amarela que brilhava intensamente como se tudo nele fosse feito para cegar ao olhar. 

Para completar o visual, ele usava uma coroa de penas vermelhas e douradas que rodeava a sua cabeça e que do topo saía uma chama como se ele carregasse sua própria fogueira portátil ali. Tirando alguns acessórios no pescoço e orelhas, a única coisa que ele vestia era uma saia feita de várias penas vermelhas com a ponta branca com uma pequena chama em cada.

— Não se aproxime! - disse Jacques, apesar de ter continuado a cortar os braços ao invés de encarar nosso recém chegado.

— Quer ajudar seu amigo ou não? - perguntou o homem sem parar de andar e indo até mim, tive até que fechar os olhos de tanto que doía olhar para ele - Desculpe, vou ter que ser um pouco bruto.

A terra já estava no meu pescoço, e foi lá que ele tentou abrir espaço com os dedos. Eu ousei olhar com os olhos entreabertos, mas logo provou ser uma péssima ideia. Fechei de novo os olhos então. Era muito difícil olhar para o cara. Senti então ele tentando abrir espaço com os dedos, Jacques continuava cortando os braços, e dessa vez eu de fato tive a sensação que a quantidade de braços me puxando ia diminuindo. 

Lembrei então que o homem falou que iria ser bruto, mas não vi nada de bruto até então. Mas claramente era só questão de esperar ele ter espaço para colocar a mão na terra, pois logo começou a puxar a terra para fora com muita força, tirando blocos inteiros de pedra de cima de mim, como cimento quebrado com uma britadeira.

Por mais maravilhoso que fosse estar livre da terra, não foi um processo tão agradável pois a terra queria me levar junto com esses puxões dele e eu ainda estava machucado. A súbita lufada de ar que eu consegui puxar quando meu peito ficou livre foi bem dolorosa (e o ar dali estar repleto de sei lá o que que fazia minha garganta arder não ajudava em nada).

— Alex… - resmunguei quando ele começou a me tirar do chão com cuidado e senti muita dor nesse processo todo, cada movimento doía em vários lugares diferentes.

— Se for a metamorfa, já tirei ela daqui. - respondeu ele simplesmente saindo voando para fora do buraco - Temos que ir, o buraco está fechando.

— Quanto tempo fiquei desmaiado? - perguntei.

— Não sei. Acabei de chegar. - disse o homem.

— Mais tempo do que eu gostaria. - resmungou Jacques.

— Ganho uma apresentação ao menos? - perguntei fracamente depois de fechar os olhos apressadamente ao sentir incômodo com tanto brilho.

— Guaraci. - respondeu o homem.

— O amigo da amiga da Iara… - conclui.

— Jaci é minha esposa. - corrigiu ele.

— Hm… Faz sentido… - falei, e desmaiei.

 


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Notas finais do capítulo

até o prox cap :) vou tentar n demorar muito ele... mas tbm to a 2 meses tentando n demorar mto os caps... mas a vida tá dando umas rasteiras... enfim... até



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