Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 136
HEARTHSTONE - O Preço da Biblioteca


Notas iniciais do capítulo

olá olá! bem vindos a mais um cap e feliz ano novo atrasado!
desculpa pela demora, mas vamos lá nos divertir!

no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão no Brasil, os grupinhos:
— Brasil : Leo, Calipso, Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (brasileiro que não joga futebol kk)

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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HEARTHSTONE

Alexandre ainda segurava a mão de Anúbis, mas Anúbis claramente estava a puxando, apesar de não se mexer tanto assim, enquanto os dois se encaravam intensamente. Alexandre olhou preocupado para a mão dele e achei ter visto uma pequena rachadura aparecendo no pulso de Alexandre segundos antes de notar Anúbis aparentemente falando algo como:

"Recomendo soltar enquanto ainda estou pegando leve."

Alexandre de fato o soltou e segurou o próprio pulso, ainda encarando Anúbis. A cena da memória se desfez e uma bolinha brilhante caiu no chão, guardando a memória tal como tinha feito antes para a memória de Sam. Com evidente receio, Hipátia se aproximou e pegou a bolinha para si. Agora sem a memória mais ali, passando como um filme, a névoa de Anúbis que estava concentrada principalmente onde estava a moça, que eu imaginava ser alguma ex-namorada, se dispersou lentamente.

Todos estavam claramente bem tensos. A atenção de todos ia de Anúbis para Hipátia. Ele estava com uma cara terrível, mais pálido que o normal e pronto para brigar com Hipátia e Alexandre. Ela, por outro lado, apenas levantou um pouco os braços, em sinal de rendição.

Vi os lábios dela se moverem formando o que era claramente a palavra “desculpa”. Ela olhou rapidamente para mim, provavelmente notando minha curiosidade, e decidiu então que iria falar e sinalizar ao mesmo tempo, e imagino que ajudava Alexandre também.

"Não escolhemos o que aparece, já disse." sinalizou ela, falando ao mesmo tempo "Mas não tem nada aí que pareça “segredo divino” ou algo assim."

"E o foco é a música, dança e arquitetura." sinalizou Alexandre também, ajudando a justificar.

Anúbis falava algo, do qual eu só peguei os lábios formando “não quero dividir ela”. Eu troquei então um olhar rápido com Blitzen e eu nem precisei que ele sinalizasse, o olhar dele já dizia “aí tem história boa”. Mas mesmo assim, ele sinalizou:

"Aí tem história boa."

"Sadie disse algo?" perguntei em sinais para ele, olhando dele, para Sam, em busca de uma resposta.

"Tá perguntando se isso é suficiente e se podemos ir para o Nico e pronto." explicou Blitzen em sinais apenas "Ela não parece muito surpresa com o que tudo indica ser uma ex."

Hipátia então olhou para Alexandre e perguntou por sinais se, apesar de tudo, aquele pedaço de memória tinha sido o suficiente. Ele afirmou com a cabeça e completou:

"Não é como se a fumaça dele atrapalhasse o armazenamento em si da memória." sinalizou Alexandre e então olhou para mim "Por favor, não conte para ele."

"Cuidado…" alertou Sam apenas com sinais.

"Eu não sou estúpido de tentar guardar um segredo de um deus que tá aqui do lado enquanto você me pede para guardar esse segredo." respondi "Ele não é burro."

Alexandre bufou, e obviamente Anúbis notou que ali acontecia mais do que uma simples confirmação de se estava tudo certo com o pagamento do preço de entrada dele.

"O que?" perguntou Anúbis em sinais mesmo provando que tinha prestado atenção na nossa aula de ESL a jato no caminho até aqui, mas o resto da conversa ainda estava muito fora do vocabulário novo dele.

"Alexandre disse que apesar de ter escondido pra gente ver a moça," explicou Blitzen com sinais e com a voz mesmo "a memória ainda vai ser guardada com ela."

"Não tem como tirar? Ou trocar?" consegui ler os lábios de Anúbis perguntando.

"Não." sinalizou Alexandre.

E acho que essa pequena palavra já fazia parte do vocabulário de Anúbis, ao menos eu lembro de ter explicado e claramente ele lembrou porque, por um segundo, achei que ele ia acabar com a raça de Alexandre ali mesmo. Mas aparentemente ele era mais civilizado que isso, só ficou extremamente emburrado, de braços cruzados, ao lado de Sadie com um olhar que, sinceramente… eu não queria ser Alexandre e nem Hipátia agora.

Do lado de Anúbis, Sadie se aproximou aos poucos, desfazendo os braços cruzados dele com cuidado. Ela não estava falando nada como “calma”, ou “respire”, mas os olhos dela estavam. Ele já tinha trocado o ponto de visão para Sadie, então o olhar não era mais um olhar de dar medo, tava mais para um olhar cansado, mas agradecido. Especialmente quando ela ficou do lado dele e o abraçou com um braço e ele retribuiu o gesto acrescentando até apoiar a bochecha na cabeça dela.

Mas o clima ainda estava meio estranho, e foi provavelmente notando isso que Nico deu uns passos para frente mudando o foco para ele e o seu pagamento da entrada da biblioteca. Ele estendeu a mão para Alexandre, esperando que começasse logo sua vez de rever alguma memória, mas a cara dele não parecia nem um pouco afim de rever memória alguma.

Alexandre testou a mão um pouco, movendo-a de um lado para o outro, testando principalmente o pulso antes de pegar a mão de Nico. Nessa hora, consegui ver a rachadura no pulso mais claramente. O lado bom era que ela não dava a volta completamente no pulso de Alexandre, e ele não parecia tão preocupado assim, então devia ter concerto. Assim, depois de uns segundos ele estendeu a mão para Nico.

Nico, por outro lado, parecia que tinha visto um fantasma quando pegou na mão de Alexandre e lentamente a memória de Nico foi se formando também. Nunca estive no lugar que se formou, mas Veneza era inconfundível. Um grande canal separava duas metades de pequenos prédios de época de no máximo três andares com água ameaçando alcançar a calçada que contornava parte do canal. Na parte que não havia calçada, a água batia na base de portas de madeira que talvez serviam como portos particulares dos residentes… ou talvez só tinham subestimado a água mesmo. Não sabia dizer.

Várias pessoas, com roupas dos anos 30, andavam pelas calçadas com lojas, restaurantes e senhoras conversando na janela. Meia dúzia de gôndolas passava pelo canal, mas o nosso foco era um mini-Nico, com talvez uns quatro anos, agarrado na mão da mãe. A outra mão da mãe estava ocupada com a filha mais velha, uma menina que devia ter seis anos.

O Nico atual ficou branco como papel, travado olhando para a memória, e principalmente para a mãe e a irmã. Tive a impressão até de que seus olhos ficaram meio marejados, mas ele logo fechou a cara, e tentou puxar a mão da de Alexandre, mas Alexandre segurou bem firme e ficou encarando ele. O Nico atual gritou algo que, pela leitura labial, entendi como:

"ME SOLTA! "

Mas a frase foi seguida de algo que não entendi. Olhei para Blitzen e ele deu de ombros.

"O que ele disse?" sinalizei ao perguntar. 

"Acho que acabei de aprender um xingamento em italiano." sinalizou ele ao responder.

Deixando xingamentos novos de lado, na memória, Nico e sua pequena família, guiados pela sua mãe, se juntavam numa pequena aglomeração de italianos que estavam bastante atentos às imagens de uma TV, em preto e branco, à venda numa loja. A comoção toda parecia vir do que parecia um programa de jornal, o jornalista dizia algo (com certeza em italiano, pois olhei para Blitzen na expectativa de uma tradução e ele só deu de ombros).

"Acho que estamos precisando aprender alguns idiomas novos."  sinalizou Sam ao lado de Blitzen.

Will tentou ajudar Nico a sair da mão de Alexandre, claramente não gostando do que aquela memória implicava para Nico. Eu fiquei desconfortável, sem saber muito o que fazer, e o resto do pessoal também. 

De volta para a imagem da televisão, eu tive uma ideia melhor do que poderia se tratar quando a imagem mudou para dois homens usando versões diferentes de roupas militares cheias de insígnias, cada um com um quepe pomposo. O que mais chamou atenção, no entanto, foi o entre eles que tinha um bigode quadrado inconfundível. Contudo, era o sem bigode que falava.

"Ele está dizendo “Não há dúvida de que neste momento o eixo da história europeia passa por Berlim.”" traduziu Hipátia para mim e imagino que para Alexandre também, pois ele olhava para ela " “Já é algo que eu havia dito e hoje, após nossa expulsão da Liga das Nações, uma nova história começa para a Itália. Hoje, anuncio a criação do eixo Roma-Berlim, alavancando o poder italiano na Europa e contra nossos inimigos.”"

As pessoas na memória conversavam entre si num misto de reações que iam desde preocupação, até alegria. A mãe de Nico parecia estar na primeira opção. A mulher estava preocupada enquanto as duas crianças olhavam para ela sem entender muito o que isso significava.

Ao meu lado, Sam pareceu se arrepiar, pois passou a mão esfregando o próprio braço. Do outro lado, Sadie e Anúbis também pareciam sérios, mas era evidente que pelo menos metade da mente de Anúbis não estava na Segunda Guerra Mundial, e sim no Antigo Egito.

Alexandre então abriu a mão de uma vez e Nico quase caiu no chão, pois ainda estava tentando puxá-la. A rachadura na mão de Alexandre não aumentou, e a bolinha que guardava a memória de Nico caiu no chão. Depois dessa cena toda, consequentemente, Nico foi outro que olhou para Hipátia e Alexandre pronto para comprar briga. A diferença era que ele estava com os olhos meio vermelhos, consegui ver isso num relance antes de Will abraçar ele, enterrando o rosto de Nico no peito.

"Me desculpe." sinalizou e falou Hipátia indo até a bolinha de memória de Nico e continuando a falar após pegá-la "Reconheço que a experiência aqui nem sempre é muito boa. "

" Mas podem entrar agora." completou Alexandre enquanto a enorme porta de madeira atrás dele se abria lentamente " Suas memórias vão ficar guardadas na biblioteca para guardar os conhecimentos e lembranças históricas delas para toda a posteridade, relaxem."

"Não acho que todos ficam relaxados com essa promessa." opinei para Alexandre, indicando Nico e Anúbis "Muito pelo contrário."

Hipátia indicou a entrada da biblioteca e Alexandre começou a andar em direção a mesma, provavelmente era o nosso guia do dia. Com tudo que aconteceu, apesar de termos conseguido autorização para entrar na biblioteca sem precisar lutar para isso, o clima do nosso grupo estava bem pra baixo e tenso.

Esse clima tenso conseguiu pelo menos diminuir 1% quando entramos de vez e vimos a grandiosidade da biblioteca. Ela ainda seguia essa mistura de arquitetura grega e egípcia, com colunas alternando entre gregas com aquele formato branco padrão de tantas construções gregas com detalhes vermelhos no topo e egípcias bem coloridas por toda a extensão, com vários hieróglifos e o topo parecendo uma flor.

Quando entramos, demos de cara com uma área central da biblioteca, bem espaçosa com várias mesas e cadeiras bonitas. Ao redor dela, havia várias prateleiras, com principalmente rolos de papiros, que continuavam até onde eu conseguia ver para a direita, para a esquerda, e também para cima, pois havia outro andar que rodeava aquela área central.

O chão era composto de pequenas pedras, que juntas formavam um mosaico com traços pretos sobre o fundo branco. Os desenhos formados pelos traços pretos eram de vários ramos de alguma planta que se espalhavam aleatoriamente por todo o chão.

Alexandre então se virou para nós e começou a explicar:

"Bem vindos à biblioteca. " sinalizou Alexandre e, finalmente, eu não era o que mais precisaria de tradução ali "Ela é dividida por seções, como toda biblioteca. Podem ficar à vontade."

Com o canto do olho, vi Blitzen traduzindo para os outros o que Alexandre tinha dito, para variar um pouco.

"Só falar que a biblioteca vai indicar onde pode ter o que precisam." continuou Alexandre.

" Como assim?" perguntei.

"Assim… “Ó grande e renascida biblioteca de Alexandria…”" continuou Alexandre " “Gostaria de aprender mais sobre golfinhos.”"

"Golfinhos? Eu entendi certo?" quis checar Sam, olhando para mim, mas quem Blitzen confirmou primeiro.

No meio da pergunta de Sam, os ramos das plantas desenhadas no chão começaram a brilhar a partir da que estava mais perto do pé de Alexandre. O brilho foi se espalhando então por outras plantas formando um caminho. Alexandre começou a andar e nós o seguimos. Conforme ele andava, o caminho que ficava para trás ia voltando ao normal. 

Nós os seguimos até um corredor com vários papiros enrolados e alguns livros de idades extremamente variadas. Agora de perto, eu pude ver que a madeira da estante era encravada aqui e ali com pássaros com bicos bem longos. Um desses pássaros, completando a indicação dos ramos de folhas, voava, totalmente grudado na madeira, ao redor de uma pequena sessão de livro, do qual Alexandre pegou um, de aparência antiga mas incrivelmente sem poeira alguma, e abriu-o exatamente numa página marcada com uma ilustração, feita a mão, de um golfinho.

Eu achei muito legal e prático, os outros, pela expressão do rosto, com certeza deram algum comentário que ia na mesma ideia. Alexandre ficou visivelmente orgulhoso quando guardou o livro sobre golfinhos e continuou a explicação.

"A biblioteca entende qualquer idioma existente." sinalizou ele com um sorriso " Os ramos de oliveira e os pássaros de Ibis os guiarão para o que precisarem. Só cuidado para não serem confusos demais ou falarem algo que pode estar dividido em duas sessões."

Notei então a atenção de Alexandre indo para Sadie, e decidi a seguir e foi aí que notei que ela estava dizendo algo. Prestando atenção nos lábios dela, o que eu consegui identificar foi:

"… aí eu só preciso falar “Ó grande e renascida biblioteca de Alexandria…Gostaria de aprender mais sobre magia no Antigo Egito”, ela vai fazer o mesmo?"

Respondendo a pergunta dela, o chão da biblioteca começou a iluminar-se, mostrando o caminho em direção a uma parte ainda mais profunda de seus intermináveis corredores.

"Boa sorte." sinalizou Alexandre brevemente "Mas antes...."

Alexandre foi então até o começo da estante e notei que lá havia uma caixa na altura de minha cintura, presa na lateral da estante. Ele abriu a tampa e mostrou que lá dentro havia vários quadrados finos de vidro emoldurados com madeira pintada de preto.

"Usem isso se precisarem ler livros em outros idiomas." sinalizou ele ao explicar, com Blitzen constantemente traduzindo pro pessoal o que era dito "Conhecimento aqui não pode ser limitado por algo tão besta como não falar o idioma que está escrito o texto. Cada estante tem uma caixa igual."

"Obrigado. " eu, Blitzen e Sam respondemos com sinais, e logo os outros responderam diante da oportunidade de aprender o sinal em ESL depois de uma rápida explicação.

Alexandre afirmou com a cabeça, mas logo chamou minha atenção.

"Tenho algo para você." sinalizou ele " Um presente."

"Pra mim?" sinalizei estranhando "Assim do nada?"

Blitzen e Sam também estranharam, mas quando Alexandre pediu para nós os seguirmos, todos foram atrás. O caminho que havia se formado para a pergunta de Sadie foi se estendendo, nos seguindo para que não perdêssemos a parte da biblioteca que tinha o que queríamos, mas quando chegamos num quartinho escondido do lado da entrada da biblioteca, esse caminho desistiu de nós.

O quartinho onde chegamos parecia o quarto de Alexandre. Não sei se estátuas dormiam, mas havia uma cama de casal ali. Alexandre foi então até uma escrivaninha e, do topo dela, pegou um óculos de aparência antiga e rústica, e estendeu para mim. O peguei em dúvida, e então ele explicou.

"Eu fiz esse óculos com o mesmo vidro que mostrei para vocês antes." sinalizou ele "Pode ser útil para você. Experimente."

"Não posso pegar assim seu óculos!" rebati.

"Pegue. Pode ficar." insistiu ele "Depois eu faço outro. É bom para matar o tédio daqui, ter alguma coisa para eu fazer."

Olhei para Blitzen, que olhava para o óculos claramente pensando “depois eu faço uma armação mais estilosa para você e que combine mais com seu rosto e sei lá mais o que”. Sem entender direito como o óculos podia ser útil pra mim se já tínhamos aquele vidro, talvez no máximo mais prático para segurar, eu ergui ele diante do meu rosto bem quando Will estava falando.

"Acho que podemos começar a busca de novo né?" perguntou ele… de um jeito estranho.

Na parte dele que passava pela lente do óculos, ele falava em ESL com perfeição, o que não fazia sentido já que ele não tinha tudo isso de vocabulário ainda. Mas, nas partes dele que não passavam pela lente do óculos, era fácil ver que os braços não faziam os mesmos movimentos.

Minha surpresa deve ter ficado evidente, pois Alexandre comentou logo ao lado:

"Legal né?" sinalizou ele e eu afirmei com a cabeça "Como disse, o idioma não pode ser o motivo besta que limita as coisas por aqui."

"Obrigado." sinalizei de volta para ele e então coloquei os óculos de volta no rosto, ao mesmo tempo que Sadie pareceu ter refeito a pergunta para a biblioteca, que acendeu o caminho mais uma vez "E sua mão rachada?"

"Consigo resolver isso também. Não se preocupe." respondeu Alexandre "Boa sorte nas buscas."

Alexandre logo voltou para onde estava antes, junto com Hipátia, e para nós, sobrou seguir o caminho traçado pelo chão mágico. O pessoal começou a andar seguindo o traçado, e eu fiquei atrás acompanhando o pessoal com Blitzen, que logo me cutucou e perguntou enquanto andávamos:

"O clima ainda está estranho né?" perguntou Blitzen apenas com sinais.

"Achei que tinha sido só impressão minha." admiti. 

"Nico e Anúbis não falaram nada, absolutamente nada, até agora." explicou Blitzen, felizmente os dois assuntos estavam na nossa frente, ignorando nossa conversa silenciosa completamente.

"Não sei se isso é um parâmetro, eles não são muito falantes." sinalizou Sam, se juntando na conversa.

 "O Nico especialmente pareceu ter ficado muito abalado com aquela memória." comentei "Será que… a mãe e a irmã dele…"

"Bem, aquilo lá era claramente Segunda Guerra Mundial." opinou Sam olhando preocupada para os dois casais na nossa frente como se eles conseguissem ouvir uma conversa que não tinha som algum "Teoricamente não faz nem sentido ele estar aqui assim novo. Ele não é imortal e nem está morto, ao menos até onde eu sei . Já deu pra entender depois de tudo que aconteceu, principalmente lá no México, que tem algo de estranho na idade dele, mas ninguém entrou muito em detalhes ainda."

" Aquela irmã dele também.. H-A-Z-E-L, né?" lembrou Blitzen olhando logo para mim "Podia dar um sinal para todo mundo logo. Dá preguiça ficar soletrando toda hora."

A conversa foi interrompida completamente quando os dois casais que iam a frente pararam. Nossa caminhada pela biblioteca tinha acabado, os ramos de oliveira e os pássaros de Ibis estavam indicando toda uma estante bem longa. O tamanho da estante foi desanimador, e esse desânimo estava no rosto de todos.

"Talvez se formos mais específicos?" sugeriu Sam falando e sinalizando ao mesmo tempo.

" Ó grande e renascida biblioteca de Alexandria," sinalizei olhando para o teto da biblioteca, que agora notei ser pintado de forma a simular o céu "Gostaria de aprender magias para… desfazer magias… em obeliscos egípcios?"

O processo do chão e da estante tentando nos ajudar se repetiu nos indicando uma prateleira no que parecia ser a sessão de magia egípcia que nos foi indicada antes. Notei que os demais começaram a discutir algo. O óculos traduziu tudo para ESL com perfeição, mas ao ver que a discussão era sobre qual tema pesquisar, dentre o que eu tinha feito, ou as magias das pirâmides ou onde encontrar um gênio, acabei não tendo muito interesse na discussão que todos participavam. Ou melhor, todos com exceção de Nico e Anúbis, que estavam evidentemente mais calados, carrancudos e afastados que o normal. 

O pessoal fazia perguntas para a biblioteca que, confusa, começava a mostrar algum caminho e desistia ou ia logo mostrando caminhos que iam para várias direções. Isso me fez ter certeza que iríamos demorar ali de qualquer jeito, então peguei o mais grosso dos papiros da prateleira que havia sido indicada para mim.

O material tinha uma sensação de ser extremamente velho e delicado, então peguei-o com cuidado. Olhei ao redor e notei que mesas estavam postas no fim daquela estante. Coloquei o papiro lá com delicadeza, com medo de ele se desfazer em minhas mãos. Eu desenrolava o papiro com cuidado quando Blitzen me alcançou com mais um papiro.

"Acho que vamos ficar muito tempo por aqui." sinalizou ele "Ainda bem que trouxemos comida."

"Não parece um lugar de todo ruim para dormir também, caso precise." respondi.

"Não sei… esses mosaicos parecem muito ruins para dormir em cima." respondeu ele e dei de ombros "De toda forma, depois faço uma armação nova para você, quando tivermos tempo para isso."

"Obrigado… mas será que Alexandre quer os óculos de volta?" perguntei.

"Acho que não." disse Blitzen "Entendi que era um presente permanente. Não um empréstimo."

Desviei minha atenção dele então, abri o papiro, fiquei surpreso ao ver os hieróglifos se transformarem em inglês quando os via pelo óculos também. Blitzen também pareceu ter ficado curioso para ver o mesmo, pois logo foi pegar algum papiro e um pedaço de vidro para me imitar.

Só demoraram alguns minutos para todos pegarem algum papiro de partes diferentes da biblioteca, claramente tentando resolver problemas diferentes, e fazerem o mesmo que eu. Uns focavam nos obeliscos, outros nas magias das pirâmides, e até sem focar só em magia egípcia. Com o passar do tempo, o que era apenas um papiro na frente de cada um, logo viraram vários papiros e até alguns livros, e o trabalho empenhado e motivado, logo ficou cansativo. E com o cansaço, as pessoas começaram a focar um pouco em outras coisas também.

Eu dividia uma mesa com Blitzen e Sam, na mesa do lado esquerdo, Nico parecia fingir ler qualquer coisa, pois estava todo esparramado na mesa e seus olhos não se moviam pelo papiro que havia em sua frente. Will parecia tentar conversar com ele disfarçadamente, mas só vez ou outra a boca de Nico se movia minimamente. 

Na mesa à nossa direita, a situação não era muito diferente com Sadie e Anúbis. As dezenas de papiros na mesa estavam sendo ignorados aparentemente de forma momentânea, enquanto Sadie dizia alguma coisa que, pela posição em que estava, eu não conseguia ver e o óculos não traduzia para mim. Ao invés de esparramado na mesa, como Nico, Anúbis simplesmente fitava pensativo e meio apático o papiro a sua frente, com a cabeça apoiada na mão. Isso é, até que ele pegou uma das mãos de Sadie e deu um beijo nas costas da mão dela.

Aparentemente os óculos não conseguiam traduzir pra mim se o áudio estivesse fora de alcance. Movido pela curiosidade, tirei-o um pouco do rosto a tempo de ver Anúbis dizer:

"Eu estou bem…"

Foi então que Blitzen me cutucou, chamando a atenção para si, e sinalizou:

"Sabe sobre o que estão falando? Não dá pra ouvir daqui."

"Não vou ficar tentando decifrar a conversa dos outros…" respondi, voltando os óculos para o lugar deles.

" Você já tá encarando…" bateu Blitzen juntando os sinais com um dar de ombros.

Reconheci que estava mesmo fazendo isso e voltei a focar no papiro na minha frente. Eu já tinha percorrido os olhos por tantos feitiços, que as linhas traduzidas se embaralhavam na minha cabeça e às vezes me via lendo a mesma linha repetidas vezes. Ainda bem que eles eram bem específicos no que faziam, assim eu conseguia entender. Mas não havia descoberto nada ainda que pudesse nos ajudar ou que fosse novidade, mas sentia que estava perto… se bem que eu sentia isso a cada papiro que tentava começar. 

Não era nada animador também que vários papiros tinham pedaços faltando tanto nas pontas, como no meio. Mas acho que já era pedir demais considerando o tanto de tempo que eles existiam.

Eu estava já sentindo minhas pálpebras ficarem pesadas, quando Will levantou-se de seu canto e foi até Sadie. Admito que minha curiosidade por qualquer coisa que não fosse ler um texto, fez com que eu acompanhasse esse percurso dele. Ele sussurrou para Sadie algo que ninguém provavelmente conseguiu ouvir, e os dois foram para um lugar depois das estantes por perto, para conversarem em segredo. Todos acompanharam o movimento, mas ninguém levantou-se para ir atrás deles apesar de todos estarem claramente curiosos.

Olhei para Blitzen e para Sam, intrigado, mas eles só deram de ombros. Mas, para deixar tudo ainda mais intrigante, Sadie e Will apareceram de novo, só que na estante mais próxima de Nico. Se eles achavam que estavam sendo discretos, alguém tinha que contar para eles que não.

" VAI!" vi Will dizer para Nico, que só revirou os olhos "VAI!"

Super emburrado, Nico se levantou da mesa, sob o olhar de todos, e foi praticamente se arrastando até onde Anúbis estava. Óbvio que com todas essas coisas nada naturais acontecendo, Anúbis também era um dos que tentava entender qual o motivo daquilo. 

Vi Nico bufando e revirando o olhar, mas também recebi pelos óculos a tradução para ESL do que ele disse:

"Meu namorado chato tá me obrigando a vir aqui falar com você… " disse Nico.

" Sobre…?" perguntou Anúbis, embora acho que ele já tinha uma ideia e só queria a confirmação.

"Talvez sobre nada." respondeu Nico "Podemos ir ali conversar ou fingir que conversamos?"

Anúbis deu de ombros sem ver nada demais, Nico apontou com a cabeça para um lugar, e os dois foram para lá, em busca de um lugar onde pudessem ser menos centro das atenções, para conversarem em paz.

"O que foi isso?" sinalizou Blitzen, me cutucando para chamar minha atenção para a mudança de foco da conversa pra poder acompanhar melhor.

"É por causa da memória com a mãe e a irmã, né? Eram a mãe e a irmã dele mesmo, certo?" perguntou Sam, que falou e sinalizou mesmo se eu tirasse o óculos, mas eu estava adorando essa de tudo virar ESL para mim.

Conseguia me imaginar ficando viciado nesse óculos. A única parte ruim era ter que ficar olhando de um lado para o outro. Acho que nunca estive numa conversa com tantas pessoas falando ESL fluentemente. Acho que até deixei um sorriso escapar por conta disso. Sempre foi no máximo Magnus e Blitzen, e depois Sam e os demais foram lentamente aprendendo. 

"Sim…" confirmou Will "Elas morreram… e… ele provavelmente nunca viu nem uma foto nem nada delas depois de tudo isso, então não deve ter sido nada fácil ver elas assim."

"Que triste…" comentou Sam.

"Tentei  conversar com ele…" continuou Will "Mas não pareceu que estava dando muito certo, Nico estava dando a entender que eu não entendia, achei que outro velho pudesse entender então. "

Will então virou para Sadie e falou:

"Desculpa… Não parece ter sido fácil pra ele também aquela memória que apareceu."

" Diz ele que está bem…" comentou Sadie passando também pela minha tradução automática de ESL e então dando de ombros "Ao menos acho que a cara dele no mínimo está melhor do que a de Nico."

"Mas acha que deveria ter ‘forçado’ ele a ir falar com Anúbis?" perguntou Sam.

"Eu não obriguei…" disse Will revirando os olhos e parecendo cansado "Ele que é dramático. "

"Só foi convincente?" perguntou Sam, achando graça.

"Melhor do que deixar ele acumulando tudo como uma caixinha cheia de depressão, como ele tem mania de fazer, mas tem melhorado bastante." disse Will.

"Qual a explicação de porquê ele parece ter nascido na época da Segunda Guerra?" perguntei e Blitzen ele teve que repassar minha pergunta já que meu óculos funcionava apenas para mim.

" Longa história…" respondeu Will.

Era uma longa história de fato, mas estávamos cansados de pesquisar, então Will compartilhou conosco sobre como Nico e sua irmã, Bianca, tinham nascido em Veneza, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, e também pouco antes dela começar, se mudaram com a mãe para os Estados Unidos. Zeus então matou a mãe deles “por acidente”. “Por acidente” pois os verdadeiros alvos eram Nico e Bianca, mas Hades os protegeu a tempo, o mesmo não pode ser dito para a mãe deles, infelizmente.

Hades apagou as memórias deles e os escondeu num hotel mágico esquisito chamado Hotel Lótus, onde o tempo foi passando mas eles não sentiram absolutamente nada. Mas depois que finalmente saíram, e descobriram quem eram, Bianca acabou se juntando às Caçadoras de Ártemis pouco depois e então morrendo. 

A conversa deixou o clima ruim mais uma vez. A explicação tinha sido até bem longa, e ainda nada de Nico e Anúbis voltarem. 

"Mas… desculpa mas quero saber…" disse Sam cuidadosamente olhando para Sadie "E aquela memória de Anúbis?"

"Eu... prefiro não falar disso." admitiu Sadie.

" Pareceu uma ex… " comentou Blitzen seguindo a curiosidade.

" É… eu sei. Ele já tinha falado dela pra mim mas, ainda não quero falar disso." repetiu Sadie " É difícil competir com uma ex do seu namorado imortal, que por acaso também é imortal. Então, não quero falar disso, ok?"

De repente, livrando Sadie de falar mais disso, surgindo dentre as estantes com uma bandeja cheia de comida e garrafas d’água, estava Hipátia.

"Peguei comida na lanchonete do museu para vocês." disse Hipátia e a tradução pelos óculos ficou estranha, já que ao mesmo tempo ela segurava a bandeja estaticamente na sua frente, e ao mesmo tempo um novo par de braços apareceu passando tudo o que ela disse para ESL "O museu já fechou. Mas não podem comer assim, perto dos livros. Tenho um lugar que podem gostar de relaxar um pouco."

Hipátia nos levou então por uma porta que levava para uma área externa nos fundos da biblioteca. Longe de eu ser o maior conhecedor de arte e arquitetura, mas eu descreveria o lugar como um jardim, aberto para a escuridão, com flores bem coloridas onde, perto de onde entramos, havia uma área com pilastras gregas mais finas organizadas no formato de um círculo.

No centro, ao invés de bancos, havia várias almofadas coloridas dispostas sobre um tapete igualmente colorido. O padrão dos desenhos das almofadas e do tapete davam a impressão de serem decididamente tradicionais e culturais, e nada europeus. Havia uma mesa de centro, onde surgiram vários copos de vidro, um para cada um de nós, com um líquido rosa-avermelhado. Hipátia colocou as comidas na mesa enquanto nos sentamos nas almofadas no chão, e então olhou para nós.

"Isso é chá?" perguntou Sadie, claramente esperançosa como se o lado britânico dela tivesse aflorado naquele momento.

"Chá de hibisco." explicou Hipátia "Muito comum no Egito. Como estão indo as buscas?"

"Poderia estar melhor." admitiu Sam "Tentamos nos dividir para conquistar, mas cada assunto por si só é muito complexo, aparentemente."

" Ah sim, a biblioteca me contou." admitiu Hipátia.

"A biblioteca te “contou”?" perguntei, achando aquilo curioso, e ela confirmou com a cabeça.

" Não é apenas um prédio, como já devem ter notado." explicou Hipátia " E como sua protetora, tenho alguns luxos… como esse."

"Será que não saberia dizer onde estão os livros que precisamos?" perguntou Sadie.

"A biblioteca sabe bem melhor do que eu onde encontrar o que precisam. " explicou Hipátia "Eu não seria tão útil assim. A não ser que seja algo que a biblioteca não saiba e eu sim… e não existem tantas coisas assim. Sei que estão pesquisando sobre magias com pirâmides, obeliscos e gênios, eu não sei quase nada sobre magia.  "

"Gênios? " perguntou Will, perdido.

" Eu tentei olhar algo sobre gênios." admitiu Sam "Temos que encontrar um, não é?"

"É para isso que vocês estão pesquisando gênios?" perguntou Hipátia aparentando estar feliz e surpresa ao mesmo tempo.

"Temos três pedidos que umas deusas nos falaram para pedir e aparentemente é para um gênio." explicou Sam.

 "Nesse caso, posso ajudar vocês sim. Tenho contato com um gênio confiável, foco em confiável, em Istambul." revelou Hipátia claramente feliz por poder nos ajudar com algo.


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Notas finais do capítulo

por hoje é isso e até a próxima!
vão tentar ler a fic do Anúbis tbm kkk vai que gostam? :) n precisa nem conhecer CDK direito.



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