APOLO

Ir de Nova Roma para Nova York não era a parte complicada. Complicado era ter que aguentar Meg e Pêssego perguntando a cada 5 minutos se já estávamos chegando. Considerei várias vezes largar eles pelo meio do caminho. Ainda bem que Zia e Kayla estavam lá para me impedir de fazer isso… apesar de ela também não parecer a maior fã minha (o que não faz o menor sentido). 

A ideia era deixar Kayla no acampamento, então deixamos ela lá perto antes de seguirmos para a chamada “Casa do Brooklyn”. Infelizmente parecia que Meg estava grudada em mim e não quis ficar no acampamento. De toda forma, foi um alívio enorme quando chegamos em Nova York. Elas cansadas, doidas por um banho e uma soneca, eu doido por uns minutos de silêncio com meus próprios pensamentos. Zia tinha falado que uns monstros tinham atacado o namorado dela, Carter, quando ele tentou voltar para a casa deles em Nova York. Claramente a situação tinha mudado pois, dessa vez, ninguém nos atacou no caminho, eu só me senti extremamente observado. Era desconfortável.

Mas enfim… o tal Carter abriu a porta, cauteloso, com espada na mão, mas, ninguém nos atacou e, ao mesmo tempo, Zia suspirou aliviada.

— Sei que já tínhamos falado no telefone e que você disse que estava melhor… mas mesmo assim é bom ter a prova com os olhos. - disse Zia para Carter.

Carter abriu um sorriso e ficou todo vermelho. Me senti segurando vela junto com as meninas, enquanto Carter falou:

— Entrem logo. - disse ele abrindo caminho para nós enquanto olhava para todos os lados.

Entramos rapidamente, afinal era claro que Carter estava preocupado com provavelmente a mesma coisa que eu, aquela sensação estranha de que estávamos sendo observados seja por monstros ou alguma outra coisa. Com todos já dentro, Carter fechou a porta e imediatamente Zia se aproximou dele, o olhando de cima a baixo e então pegando o rosto dele nas mãos.

— Você me deixou preocupada. - admitiu Zia.

— Desculpa. - disse Carter - Também fiquei preocupado com você lá sozinha em Las Vegas.

— Não que ela estivesse realmente sozinha… - resmungou Meg ao meu lado.

— Pêssego. - disse, obviamente, Pêssego

— Shiu.. - reclamei baixinho para Meg e Pêssego.

Carter e Zia se beijaram rapidamente e eu só ouvi Meg falando “eca” ao meu lado, o que fez com que eu tivesse que segurar uma pequena risada. Mas, para felicidade de Meg, o beijo foi rápido.

— Depois eu vou querer ouvir como é essa tal Nova Roma. - pediu Carter com os olhos brilhando.

— Eu vi muito pouco. Mas é um lugar incrível! - admitiu Zia.

 Ao meu lado, Meg tossiu falsamente, claramente querendo lembrar o casal feliz que estávamos ali. Eu encarei ela, pela falta de educação, mas ela simplesmente deu de ombros. Com a atenção devidamente chamada, logo Carter virou-se para mim e Meg.

— Esses são Meg e Apolo. - explicou Zia antes que Carter perguntasse qualquer coisa - Meg e Apolo, este é o Carter.

— Pêssego! - reclamou Pêssego.

— Ah… e esse é Pêssego… - disse Zia.

— Ah.. ok… - disse Carter encarando Pêssego, curioso, mas logo olhando para mim, embora não tão surpreso - Apolo? Sério? Não te imaginava assim… se bem que eu também não imaginava Anúbis do jeito que ele é então… paciência… tem um bando de deus adolescentes andando por aí pelo visto.

— Ah, mas eu consigo parecer mais adulto e mais apolíneo se eu quiser. - disse orgulhosamente - Não se preocupe. Não é como se eu tivesse congelado como adolescente pro resto da minha vida.

— Se fosse assim com certa pessoa, com certeza só pioraria tudo… - resmungou Zia.

— Ah? - perguntei perdido.

— Ela não tá falando de você… - disse Carter, com um sorriso torto mas logo olhando com o canto do olho para Zia, senti cheiro de alguma confusãozinha familiar que eu não sabia qual era - Devem estar doidas por um banho, comida e cama né?

— MUITO! - implorou Meg - Passamos sei lá quantos séculos naquele carro.

— Algumas horas na melhor das hipóteses pra falar a verdade. - rebati.

— Banho primeiro seria legal. - disse Zia se espreguiçando e subindo escada acima - Vem Meg, vou te mostrar onde tem chuveiro. Vamos pegar uma toalha e sabonete pra você também.

Zia e Meg subiram pelas escadas, atrás do tal banho, me deixando sozinho com Carter. Nos encaramos por um segundo, mas ele logo quebrou o silêncio:

— A Zia não estava falando de você naquela hora. - disse Carter sentando-se no sofá -  Desculpa.

— Percebi, mas posso perguntar de quem era? - perguntei curioso, sentando no braço do mesmo sofá, mas na outra ponta.

— Anúbis está namorando a minha irmã, Sadie, e… Zia não confia muito nele… - admitiu Carter suspirando pesadamente - Se bem que eu acho que ela não confia em deus nenhum… o que é até compreensível… sem ofensa.

— Nem um pouco ofendido. - respondi - De fato faz sentido. Hum… entendi agora porque ela não parecia querer conversar muito comigo no caminho.

— Mas… - disse Carter suspirando e se largando no sofá - Convenhamos que se Anúbis quisesse fazer algo de mal a Sadie, já teria feito a muito tempo.

— Bem, eu não conheço ele direito então não posso te ajudar nisso… - respondi.

— Achei que se conheciam. - disse Carter realmente surpreso pela primeira vez.

— Mais ou menos… - admiti enquanto puxava a minha memória da Grécia Antiga - Admito que troquei algumas palavras com ele umas meia dúzia de vezes, mas acho que de todos os deuses gregos, eu só vi ele falando mais com o Hades e com a Perséfone. Principalmente com o Hades, afinal são amigos.

Fiquei um tempo puxando as memórias, lembrando das poucas vezes que eu prestei atenção o suficiente nos deuses egípcios quando estavam presentes. Lembrei de algumas olimpíadas, lutas em coliseus… mas por algum motivo, nos trechos de memória que eu tinha, eles não pareciam estar tão entrosados com os gregos, ou romanos, ou o que fosse, se fosse uma situação mais de lazer. 

Hades por si só já não se entrosava mesmo com os demais, praticamente só participando de algo quando era obrigado, então ficava mais no canto e me lembrei de uma festa com vários deuses, Hades num canto que praticamente virou o canto dos deuses góticos. E devo dizer, naquela época não era fácil ser gótico. Tecido preto era algo muito raro ou inexistente dependendo do século. Aposto que todos pintaram com magia. Mas enfim, lembro que Anúbis ficava lá, nesse núcleo de deuses antissociais que pareciam estar numa competição não dita de quem queria  menos estar ali.

Nessas memórias, eu parei para notar pela primeira vez, havia algo de esquisito no comportamento dos egípcios nelas. Quer dizer… não no grupinho gótico. Os deuses de coisas assim mais a ver com morte, submundo, sepultamento e sei lá mais o que geralmente são assim mesmo, anti sociais. Mas sempre tem deuses extremamente sociais, ou diplomatas, ou até os importantes que tem que ficar lidando toda hora com Zeus (o que deve ser um saco). Lembrava bastante dos deuses celtas, etruscos, persas fazendo exatamente isso. 

Porque eu não tinha tantas lembranças dos egípcios, por algum motivo com exceção de Thoth, e outros povos até, agora que penso, fazendo tanto do mesmo? Porque nas minhas memórias eles pareciam querer ficar mais na deles ou saiam das festas mais cedo? Thoth não era tão importante como Rá ou Hórus, com quem já falei bastante, inclusive. 

Me lembrava bastante de Thoth interagindo com os outros e até resolvendo algo com Zeus, o que não fazia muito sentido. Mas porque não me lembrava muito de Hórus, por exemplo, falando com Zeus sem ser algo estritamente necessário? Ou aproveitando tanto as festas?

— Anúbis diz que eles não são amigos… - comentou Carter me puxando das minhas memórias e eu imediatamente soltei uma risada.

— Ah, tenho certeza que nenhum dos dois vai admitir isso. Quer dizer, ao menos Hades eu tenho certeza que nunca vai admitir isso. Como disse, não conheço Anúbis tanto assim. - falei - Mas são sim, ao menos até onde eu lembro de ter visto, parecem amigos pra quem vê de fora.

— Você… lembra muita coisa da Grécia Antiga? - perguntou Carter parecendo interessado - Eu tento perguntar coisas do Egito Antigo pro Anúbis mas ele não me conta muito. As vezes fico com um pouco de raiva em pensar que ele com certeza sabe onde estão sepultados Cleópatra e Alexandre! Eu penso em ser historiador ou arqueólogo aí… a curiosidade bate forte e… sei lá… fico pensando em como acharam a tumba de Tutancâmon.

— Bem, eu não tenho uma tumba secreta perdida pra te revelar - eu disse rindo.

— Tudo bem, mas você estava lá né? - perguntou Carter - Viu coisas que são difíceis de se saber pegando os poucos registros que chegaram até os dias de hoje. Seja da Grécia, ou do Egito, ou Roma.

— Bem, com certeza mais da Grécia e de Roma… - admiti - Do Egito acho que fiquei mais por Alexandria, se contar, por mais grega que a cidade fosse naquela época. Mas era raro eu ir até lá ainda assim. Mas ao menos às vezes eu gostava de ir até lá. Era bonito de se ver. Tantos templos bonitos, tanto ouro… e os egípcios, deuses ou mortais, sempre foram… bem… ahm…

Senti minha cara ficando vermelha enquanto a frase ia morrendo no ar. Memórias totalmente incompatíveis para a idade aparente de Lester começaram a encher minha mente. Lembrei especificamente de ter apresentado para os deuses egípcios Nefertem e Qebui uma certa invenção grega… ENFIM… MUDANDO DE ASSUNTO…

— Eu vou querer ouvir o resto dessa frase? - perguntou Carter preocupado.

— Posso completar com “exóticos” e fingir que nada aconteceu? - perguntei com a cara mais vermelha que um tomate me segurando pra não rir de nervoso.

— Prefiro que complete com nada e fingimos que nada aconteceu. - disse Carter, nem ousei olhar pra cara dele, mas sentia seus olhos me julgando.

— Ok. - respondi na hora desesperado por uma troca de assunto - Mas, agora que você perguntou, estou notando pela primeira vez que os deuses egípcios não pareciam gostar de ir para nossas festas e outros eventos. Não interagiam além do necessário e às vezes iam embora cedo.

— Porquê? - perguntou Carter - Segundo estudei, são um povo que gosta muito de festa.

— Eu não sei. - admiti, dando de ombros - Sinto que não prestei atenção o suficiente para notar. Estava quase sempre tentando curtir as tais festas para notar esse detalhe. Mas mudando de assunto… Zia tinha falado que podiam ter vários monstros aqui na entrada mas não vi nenhum, mas acho que eles estavam por perto.

— Ah sim. Isso… - disse Carter suspirando - De fato tinha e me deram muito problema. Conseguimos lidar com um ou outro quando precisávamos sair mas, a quantidade realmente diminuiu drasticamente de um dia para o outro. 

— Falando dos monstros na porta? - perguntou repentinamente uma menina, que desceu a escada.

— Sim. - disse Carter - Cleo, esse é Apolo. Apolo, essa é Cleo.

— Oi… - respondi sem ter mais o que dizer.

— Oi. - respondeu Cleo naturalmente, com zero surpresas - Então, os monstros, felizmente, não conseguem passar pela barreira mágica. Não sei se por isso desistiram de nos irritar tanto… acho difícil.

— Agora não nos impedem mais de entrar e sair, - explicou Carter - Mas parecem estar perto o suficiente para observarem cada movimento nosso.

— Já tentaram lidar com esses que ficam os observando? - perguntei.

— Claro que sim. - respondeu ela - Mas não conseguimos encontrá-los ainda. São rápidos e mudam de lugar ou fogem antes que consigamos fazer muita coisa. Pelo menos por enquanto não temos muito para onde ir mesmo. Sadie e os outros estão já indo pra Inglaterra… tem o pessoal indo para Nigéria também. Não sabemos onde mais nossa presença é necessária por enquanto, então, aqui estamos, descansando, treinando e tentando pensar num jeito discreto de contactar o resto da Casa da Vida, escondidos no Sudão.

— Entendi… - respondi sem saber mais o que falar - Ahm… estaria tudo bem eu ficar aqui até amanhã? E talvez mais… não sei. Só sei que amanhã eu tenho que ir pro Olimpo e como ele é relativamente perto.

— Claro. Está tudo bem. - disse Carter.

— Desde que essa confusão começou aqui virou praticamente um hotel. - completou Cleo entrando na cozinha e, pelos sons que vinham de lá, colocando algo no microondas.

— O que tem que fazer no Olimpo? - perguntou Carter.

— Estão chamando uma reunião com vários deuses de vários panteões. - expliquei - Pra falar dessa confusão.

— Eu vou junto. - declarou Carter repentinamente.

— Que!? Não! - rebati - Não é assim que funciona! Já me falaram pra não levar ninguém!

— Você não precisa me levar… - disse Carter - Pode ir sozinho mas aí… por acaso… eu vou saber onde e quando é essa reunião e aparecer por lá.

— Você está falando sério!? - perguntei surpreso - Vão notar na hora que tem um mortal lá! Sem falar que você vai me colocar em confusão!

— É só você fingir que não sabe de nada. - disse Carter - Tento ser discreto.

— Se meu pai me deixar mortal de novo, a culpa vai ser toda sua! - exclamei já entrando em desespero antes da hora - Porque você quer ir?

— Preciso. - disse Carter, firme - Não vou simplesmente confiar que os deuses vão fazer o que é necessário para resolver essa situação. Mal estão nos ajudando, e digo “mal” porque estou considerando você, Anúbis e Ártemis e a pouquíssima ajuda que uns deram até agora. Essa confusão já custou vidas!

— Eu concordo que é uma boa ideia você ir, Carter mas… - disse Cleo sentando-se no sofá entre nós - Como você vai impedir de ser notado não por um, mas por um monte de deuses? O feitiço I'mun não deve funcionar. Magos poderosos conseguem ver através dele já. Imagina deuses!

— Eu vou pensar nisso… - disse Carter cruzando os braços e claramente começando a pensar ali mesmo.

Eu e Cleo nos entreolhamos e ela simplesmente deu de ombros. Se Carter fosse uma máquina, eu tenho certeza que eu conseguiria ver as engrenagens girando naquele momento. De repente, um ‘bip’ vindo da cozinha indicou para Cleo que o que ela botou no microondas estava pronto. Ela então se levantou e eu estava novamente sozinho com Carter.

— Imagino que deva ter alguma lista de convidados mágica ou algo do tipo impedindo que eu finja ter sido convidado, certo? - perguntou Carter de repente.

— Sim… - respondi.

— O que eu precisaria para de fato ser convidado? - perguntou ele.

— Algum deus mais importante que eu provavelmente consegue te convidar. - respondi.

— Tipo…? - perguntou ele.

— Ahm… - comecei, receoso de responder a pergunta - Algum deus nível do meu pai, líder de todos, ou do céu, ou assim bem importantezão ou que governe alguma parte meio independentemente, como o submundo.

— Não conseguimos falar com os outros deuses egípcios… - começou a resmungar Carter, encarando o chão praticamente sem piscar - Se não Hórus provavelmente seria uma opção. Anúbis não governa o submundo, quem faz isso é Osíris… que também não consigo falar… mas… 

Ele então ergueu o olhar repentinamente me olhando como se acabasse de ter a ideia mais genial. 

— Tradicionalmente, os deuses da morte do Egito eram tidos em muito mais alta estima que os deuses da morte na Grécia… afinal os egípcios têm a fama de viverem para a morte. Mas… Hades deve conseguir estender convites, certo? - perguntou Carter - É independente e importante o suficiente, não é?

— Ah não.. ah não… - reclamei, já me sentindo ficar pálido e com arrepios - Você quer pedir ajuda logo pro Hades?!?!

— Você não pediu antes? - perguntou Carter - E você mesmo disse que ele e Anúbis são amigos. Nesse ritmo das coisas daqui uns anos ele vai ser meu cunhado! Amigo do amigo, também é amigo.

— Mesmo assim! Hades ainda é Hades! Eu quase me mijei todo indo pedir ajuda pra ele da primeira vez! Já dei sorte que ele não pediu nada em troca!  - reclamei, mas logo me lembrei de algo - Ah! Hades sabia como falar com Anúbis por meio de uma pequena estátua dele num museu. Será que não consegue falar com Osíris do mesmo jeito?

— O que ele fez? - perguntou Carter interessado.

— Ahm… ele disse umas coisas em egípcio… eu acho… - respondi, já sentindo o plano morrer ali - Eu não sei egípcio… 

— De volta ao plano do Hades então. - disse Carter.

Eu juro que tentei fugir, tentei dar argumentos, mas quando notei, já estávamos eu, Carter, Zia e Meg tentando chamar Hades por uma mensagem de Íris enquanto Pêssego achava completamente seguro brincar com um crocodilo albino. QUEM RAIOS TEM CROCODILO DE ESTIMAÇÃO?

De toda forma, começamos a mensagem de Íris e Hades logo apareceu. Minha vontade foi me esconder em algum lugar, mas infelizmente o resto do pessoal me prendeu logo na frente da mensagem. Ao me ver, Hades logo fechou a cara, no mínimo estranhando a ligação.

— O-Oi - gaguejei de leve - Tudo bem? Como vão as coisas aí no submundo?

— O que você quer dessa vez? - perguntou Hades sem enrolar.

— Me deixa fora dessa, são eles que querem algo…  - falei.

— Queremos ir pra reunião no Olimpo amanhã. - disse Carter.

— E quem é você para achar que pode simplesmente decidir que quer ir pra uma reunião entre deuses e ainda me ligar para pedir algo tão absurdo? - perguntou Hades.

— Carter Kane far- - disse Carter mas logo foi interrompido por Hades.

— O filho do cara fundido com Osíris, irmão da Sadie. - disse Hades.

— Ahm… sim…estranho ser definido pela minha irmã mas ok… e sou faraó da Casa da Vida também. - lembrou Carter.

— Faraó ou não, nem Ramsés II pediu algo tão absurdo. - disse Hades.

Eu abri a boca pra acrescentar “e olha que o Ramsés II foi bem famosão e poderoso”, mas achei melhor ficar quieto. Apesar da minha vontade de ficar em cima do muro para não ficar complicado para mim, eu queria que Carter conseguisse poder ir para a reunião. Seria bom ter alguém para interceder pelos humanos… mas só esperava que ele saísse vivo se fosse convidado.

— Ramsés II passou por uma situação tão complexa com tantos panteões no meio? - perguntou Carter, firme, eu já teria pedido desculpas e ido embora - A não ser que tenha algo que eu não saiba, o maior conflito pelo qual Ramsés II passou foi a batalha de Kadesh contra os hititas. Não estava lá, mas dizem os rumores que os deuses ajudaram. Quer seja verdade ou não, já estamos perdendo vidas do nosso lado. Já perdemos vidas demais. Uma já é demais pra falar a verdade. As decisões feitas nessa reunião vão ter consequências para os mortais, é simplesmente ridículo não ter um mortal convidado para falar por nós.

— Os deuses representam seus povos. - disse Hades.

— Um monte de imortais super poderosos que não sabem o que é ser mortal. - disse Zia, logo bufando.

— Grécia não é o berço da democracia? - perguntou Carter retoricamente - O poder do povo. Não estão fazendo uma representação justa do povo! 

— PODER PARA O POVO! - gritou Meg atrás de mim.

— E onde isso é problema meu? - resmungou Hades bufando e parando para pensar… e eu esperava que fosse pensar numa resposta, e não em como penalizar Carter pelo pedido - Peçam para Atena, ela vai adorar esse discurso de democracia de vocês.

— Erm… eu não acho que ela consiga colocar alguém na lista… - disse - Mas só acho mesmo.

— Porque eu ajudaria vocês então? - perguntou Hades.

— Porque lá no fundo você sabe que é a coisa certa? - disse Meg.

— Não. - respondeu Hades.

— Porque eu sou irmão da Sadie? - tentou Carter.

— Não. - respondeu Hades novamente.

— Podemos fazer um acordo. - eu disse, não acreditando na minha própria boca, especialmente depois que Hades abriu um sorriso.

— Ansioso para ficar me devendo uma, Apolo? - perguntou Hades.

— Ahm.. não quer falar agora antes de eu concordar o que eu vou ter que fazer? - perguntei.

— Não. - respondeu Hades ainda com aquele sorriso - Afinal tenho que pensar como me aproveitar melhor de você. E sendo a reunião amanhã… na verdade já dentro de algumas horas… imagino que estarão com pressa.

— Será que não poderia, ao invés disso, falar com Osíris para ele nos convidar então? - perguntou Carter - Ou nos ensinar o que fez para chamar Anúbis para podermos chamar Osíris?

— O preço se manterá o mesmo. - respondeu Hades.

— Tá! - exclamei, com medo das consequências - Você coloca o nome deles três na lista e eu fico devendo uma para você.

E foi assim, que no dia seguinte, depois de descanso e comida, eu, Carter, Meg, Pêssego e Zia, deixamos a Casa do Brooklyn nos escondendo em magia, torcendo para os monstros (ou sei lá o que) que vigiavam a casa não notarem que estávamos indo a algum lugar. Com o coração na mão, paramos diante do Empire State dentre os vários turistas, e deuses disfarçados, que entravam dentro do prédio que nos levaria até o Olimpo.