Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 38
Oportunidades


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado dia 07/12/2019, às 12:38



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Marinette

Eu estou no meu quarto, sozinha e com absolutamente tudo desligado. Haviam me dado um calmante para que a polícia pudesse entender o que havia acontecido na universidade, mas eu precisei tomar cinco comprimidos para que tivesse algum resultado. Faz tanto tempo que estou deitada na minha cama que não sei se já se passaram horas, dias ou semanas. Por mais que quisesse dizer às batidas incessantes dos meus pais no alçapão do meu antigo quarto que eu estava bem, não conseguia. Eu estava longe de estar bem. A cena do que havia acontecido se repetia várias e várias vezes na minha cabeça, não me dando um minuto sequer de sossego. Em menos de dois minutos eu perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida até ali, fora os meus pais. Nada conseguia me tirar da cabeça que tudo aquilo podia ter sido evitado se eu não tivesse soltado a mão de Adrien para ele procurar pela idiota da Bridgette que deveria estar lá dentro ainda.

Abraço meu travesseiro com mais força quando ouço mais batidas no ar. Penso em dizer “vá embora” mais uma vez, mas quando tento falar alguma coisa nenhuma palavra sai da minha garganta seca. Ao invés de insistir mais um pouco como já estava acostumada a ouvir por horas e horas, o toque simplesmente cessa e ouço alguém entrar no cômodo. Meus pais tinham uma chave reserva em algum lugar da padaria, mas até então não tinham usado ela para me tirar do meu estado.

— Mari? – me surpreendo com a voz que me chama, arregalando os olhos quando lhe reconheço. – A gente pode conversar?

Me viro, fazendo uma careta com a claridade repentina que atinge os meus olhos. Quando finalmente se acostumam com tal luz não deixo de mostar minha surpresa para a figura que está parada ao lado do alçapão com uma bandeija de comida nas mãos. No mesmo instante meu estômago ronca, me lembrando que estou morta de fome há bastante tempo.

— Laura? – digo, confusa. Desço as escadas da minha cama e antes que possa fazer mais alguma coisa a mesma me abraça forte. Respiro fundo para não começar a chorar mais uma vez. – O que você está fazendo aqui?

— Eu precisava muito falar com você. – a brasileira responde, estendendo um prato com croissant’s de presunto e queijo quentinhos na minha direção. – Sua mãe queria que você comesse alguma coisa. – como não esboço nenhuma reação a mesma suspira, me puxando até onde meu computador estava desligado e se sentando comigo nas cadeiras da escrivanhinha. – Marinette, muitas coisas aconteceram depois que te trouxeram pra cá. Já fazem três dias que você não sai daqui e todos estão muito preocupados com você. Eu... – ela hesita, colocando sua franja atrás da orelha e se certificando que o alçapão do quarto estava fechado. – Descobri coisas que você, mais que ninguém, deve saber.

— Que coisas? – indago, subitamente me esquecendo de absolutamente tudo. – O que você descobriu Laura? – lhe questiono, agarrando seus ombros e lhe apertando um pouco. – O que você descobriu, me conte!

— Primeiro coma alguma coisa, você está parecendo um fantasma pálida desse jeito. – rebate, indicando o prato à minha frente novamente. Suspiro, lhe soltando e mordendo um grande pedaço do croissant mais próximo da minha mão, lhe encarando a espera de uma resposta. – Bom, como eu disse, muita coisa aconteceu depois que te doparam com calmantes.

Depois que você foi levada pela sua mãe e o seu pai para casa, os bombeiros chegaram na universidade. Não demorou muito para o incêndio ser controlado e a polícia chegar também, encontrando o Félix desacordado dentro do prédio, próximo a uma das saídas que davam para o estacionamento. Todo mundo estava muito assustado e comigo não foi diferente: se não fosse pelo Jacques eu teria levado um tiro no meio da multidão. Quando meu tio Achille chegou, ele parecia mais desesperado que o normal, principalmente depois que ele viu o Jac em uma das ambulâncias sendo socorrido com um tiro de raspão. Eu fiquei com uma pulga atrás da orelha quando vi como ele apareceu tã rápido e com tantos outros policiais, antes que pudesse ver qualquer aluno ligar pra pedir ajuda.

Enquanto a maioria dos alunos começava a ir embora e alguns policiais conversavam com os bombeiros para tentar ter uma ideia do que poderia ter causado aquele fogo todo eu vi uma coisa que me chamou a atenção perto da entrada do prédio.

— E o que você viu? – pergunto, tomando um gole do café com leite quentinho que minha mãe havia feito pra mim e começando a comer de novo. Parece que fazia anos que eu não comia nada.

— Isso. – Laura responde, remexendo em um dos bolsos da blusa que estava usando e tirando dois objetos que fizeram meu coração disparar.

Era um distintivo em forma de borboleta levemente arroxeada feito em ferro com uma foto e o nome da minha irmã mais velha. O outro objeto era um anel de ouro com uma grande pedra verde incrustada no metal. Encaro ambos por longos minutos sob os olhos da brasileira que continuou em silêncio.

— Você mostrou isso a mais alguém? – pergunto, voltando a encará-la e a observando balançar a cabeça negativamente. – Nem mesmo a Félix ou ao pai do Jacques?

— Mari, o Félix está preso. – revela, me fazendo mais uma vez ficar muito surpresa em menos de duas horas de conversa e quase engasgando com minha saliva. – Depois que ele saiu do hospital, o delegado Raincomprix acusou ele como um dos principais suspeitos de toda aquela loucura do incêncio e do desaparecimento do Adrien e da Bridgette. Ele está na delegacia do pai do Jacques dizendo que é inocente, mas não temos como dizer isso sem qualquer prova. – explica, bebendo um gole do que parecia ser café com leite também.

— Mas... Como acusaram ele de ser um suspeito? – me pergunto, encarando o distintivo em minhas mãos. – Do mesmo jeito que não podem dizer que ele é inocente, não podem dizer que ele é acusado, podem?

— Aí que está. – Laura continua, se esticando da cadeira para mais perto de mim, olhando mais uma vez para o alçapão fechado. Seu tom é mais baixo, como se tivesse medo de alguém estar ouvindo: - Parece que as câmeras de segurança da escola, pelo menos a maioria delas, estavam desligadas na hora do que o prefeito chamou de ataque terrorista. Era pro baile de outono ter sido um verdadeiro massacre Mari. – assinto, pedindo para que continue. – Uma das câmeras de segurança da avenida, aquelas da governo, flagrou um furgão preto fugindo exatamente do ponto onde o irmão do Adrien foi encontrado. Ele é o principal suspeito com essa gravação.

— Mais alguém saiu ferido além do Jacques? – pergunto, sentindo o coração apertar.

— Graças a Deus não, pelo menos eu não fiquei sabendo. – responde, mordendo o lábio. – Tem mais uma coisa que você precisa saber. – eu estreito os olhos e ela respira fundo. – Eu estava na delegacia quando Félix foi preso. Um tempo depois um homem e uma mulher apareceram por lá, querendo conversar com o delegado Raincomprix. Meu tio me disse que eles eram os advogados do irmão do Adrien, mas eu não acreditei muito. Eu gelei na hora quando vi isso – aponta para o possível objeto de identificação de Bridg em minha mão trêmula. – dentro dos casacos deles. Seja lá o que significa essa borboleta, eles não pareciam muito felizes Marinette.

— Não consigo acreditar que minha irmã possa estar envolvida em algum tipo de facção. – murmuro, encarando sua foto, distante. – Se bem que ela sempre parecia estar escondendo alguma coisa. Assustada com tudo. Sempre preocupada comigo e as meninas. – digo, parando para pensar. – O que quer seja, Bridgette tinha medo de me envolver no meio, era visível na presença dela onde quer que eu fosse. – olho mais uma vez para a morena, ansiosa por mais alguma informação. – Você conseguiu ouvir alguma coisa do que eles falaram com o delegado?

— Infelizmente eu não consegui ouvir nada, foi muito rápido. – Laura explica, passando as mãos no rosto. – Eu só me lembro de que, na hora que eles estavam indo embora eu estava muito nervosa e acabei derrubando esse anel no chão. Enquanto eu estava no chão procurando, eles me ofereceram ajuda e a única coisa que consegui arrancar deles foi seus nomes. – conta, terminando de beber sua bebida junto comigo. – Se não estou enganada eram August e Annabeth. Dava pra ver que eles também eram estrangeiros pelo jeito que falavam o francês que, na minha opinião tava bem pior que o meu. – comenta, dando um pequeno sorriso.

— August e Annabeth. – repito, pensativa. Essa informação poderia nos levar a algum lugar se conseguíssemos falar com eles. – Tem certeza que o distintivo que eles estavam usando era igual a esse Lau?

— Absoluta certeza. – ela afirma, convicta. – Acredite, eu fiquei com tanto medo que nunca mais vou esquecer essa borboleta na minha vida.

— Esses caras têm a resposta Laura. – digo, com a determinação crescendo em meu peito. Trocamos olhares iguais e pela primeira vez desde que tudo havia acontecido era bom sentir conforto e um pouco de esperança. – Se encontrarmos eles, descobrimos quem levou Adrien e minha irmã, disso tenho certeza.

— E descobrindo quem os sequestrou resolvemos o caso. – a brasileira completa, sorrindo. Seu celular começa a tocar e quando a mesma olha o seu visor morde o lábio, parecendo preocupada. – Eu tenho que ir Marinette, Jac deve estar me esperando lá na frente. Disse que não demoraria tanto. – ela diz, se desculpando com um meio sorriso e ignorando a chamada do loiro.

— Está tudo bem. – digo, forçando um sorriso. Lhe abraço forte, respirando mais aliviada. – Obrigada por tudo Laura.

— Não me agradeça ainda. – rebate, com um sorriso sincero. – Aliás, devia tentar ligar seu celular. Tenho certeza de que não sou a única preocupada e disposta a resolver toda essa bagunça.

Nos despedimos e depois de alguns minutos resolvo ir levar a bandeija para a cozinha, seguindo para o banheiro para tomar um banho quente. A água me acalma, clareando minhas ideias e me fazendo pensar no que vou fazer a seguir. Se Bridgette estava envolvida em algo grande, porque nunca nos contou nada? Porque nunca confiou em mim? Porque preferiu guardar tudo pra si sozinha? Eu não conseguia entender. Para falar a verdade, eu não sabia se queria saber. Uma onda de apreensão me atinge, me trazendo a mente o quão tenebroso podia ser o passado da minha irmã mais velha quando começo a vestir uma roupa mais quente. Enquanto caminhava para a sala de estar me pego imaginando onde estava prester a me enfiar para ir a fundo nessa história. Alguma coisa me dizia que eu ainda iria me arrepender.

— Oh querida, como você está se sentindo? – ouço minha mãe me perguntar quando finalmente os vejo sentados no sofá. Vou em sua direção e a abraço com força, sentindo um aperto no peito quando vejo quão inchados seus olhos estavam. – Você comeu alguma coisa?

— Sim mamãe, obrigada. – respondo, lhe dando um beijo no rosto e indo abraçar meu pai. – Obrigada a vocês dois.

— Nós vamos resolver isso meu amor, sua irmã vai ser encontrada logo logo. – seu Tom afirma, espremendo meus ossos. Quando nos separamos ele se esforça para me dar um sorriso. – Vamos ter fé que tudo isso vai se resolver.

— Eu sei papai. – digo, agradecendo aos céus por eles, apesar de tudo, serem mais fortes do que eu. – Eu amo vocês. – solto, encarando ambos com a determinação voltando a me encher por dentro. – Por isso eu vou encontrar a Bridgette. Juro a vocês que nós vamos encontrá-la.

— Vamos acreditar que a polícia vai resolver tudo isso. – dona Sabine diz, respirando fundo. Posso ver o cansaço em seus olhos. – Já está tarde. Todos nós deveríamos estar indo para a cama.

Olho rapidamente o relógio em nossa estante e balanço a cabeça, fingindo um bocejo. Nove da noite. Subo para o meu quarto, concordando com minha mãe e decidindo logo “ir dormir”. Assim que fecho o alçapão, pego novamente aquele distintivo e o analiso mais uma vez. De alguma maneira aquele desenho da borboleta roxa não me é estranho, como se já o tivesse visto há muito tempo e não fosse algo distante. Ao passar os dedos com mais atenção levo um susto quando o distintivo fecha as asas, ficando num formato parecido com uma joaninha. Se ninguém o olhasse com atenção poderia dizer que era um enfeite qualquer e não um documento de identificação. Sem muito esforço consigo fazê-lo voltar a ser um distintivo e o coloco sobre a mesa.

Com um empurrão, afasto minha cadeira da escrivaninha e a giro no sentido contrário, fechando e abrindo rapidamente os olhos. Precisava de uma solução. Deixo meu olhar vagar pelo cômodo e subitamente me dou conta do que está perto do meu armário. A bolsa da Bridg. Quando me dou conta já estou de pé, pegando a mesma e procurando por alguma coisa que possa me dar um caminho a seguir. Lá dentro tinham apenas as roupas que minha irmã levara para Calanque e uma lata de metal com estampa de flores. Com um grunhido e um punhado de força consigo abri-la, analisando o que tem ali dentro. Uma pulseira de miçangas coloridas. Um colar de coração pela metade escrito “Friends”. Um pen-drive com um M escrito encima – que revelam ser apenas músicas antigas para minha irmã quando o coloco no computador. Um envelope amarelado que parecia ter bastante coisa dentro e por último quatro fotos antigas que me fazem arregalar os olhos.

Eu me lembrava vagamente dos amigos de Bridgette, Melody e Mercúrio. Fazia tanto que não os via que nem faço ideia de onde eles possam estar hoje. Bridg falava muito deles e eu me lembro da viagem da foto que seguro agora, com ela com uns dezesseis anos enquanto eu tinha uns dez, onze anos. Nunca me passara pela cabeça que um dia eu conheceria o Agreste e sua família como conheço – ou penso conhecer – hoje. Toco levemente a foto onde vejo Gabriel Agreste e possivelmente a mãe de Adrien. Ela era tão linda quanto dizem que era. Analisando melhor consigo notar semelhanças entre ela e a outra mulher adulta na foto que, reconhecendo uma cabeleira castanho-escuro ali também, devia ser a mãe de Louis. A descrição na foto dizia “1º Dia em Calanque”. Sorrio, deixando essa foto sobre a escrivanhinha e continuando a ver as outras fotos. Rio ao ver o registro pré-ataque de um mini-Louis com um balde de água prestes a ser jogado nas costas de um mini-Adrien, demorando meu olhar no rosto feliz dos integrantes da foto. Passo por Melody e Mercúrio juntos torcendo para que continuem assim e por fim, dou de cara com uma fotografia de Bridgette – aparentemente com a minha idade – beijando o irmão mais velho de Adrien a força, mas sem que o loiro a impedisse até onde se podia ver.

— Eu não consigo entender. – murmuro pra mim mesma, frustrada. – Se vocês pareciam se dar tão bem antes, porque raios ficam trocando farpas agora, como dois estranhos?

Suspiro, guardando as fotos de volta na lata de metal e encarando o envelope lacrado. Sem conseguir mais conter minha curiosidade o abro, começando a ler as quatro cartas que estavam ali. Duas estavam destinadas para minha irmã, outra para Félix e a última - que parecia mais recente – pra mim. Começo pela carta do Agreste, disposta a entender o que acontecia desde o começo. Não consigo evitar meu espanto a cada linha que leio e rapidamente passo para as outras duas cartas, chegando com certo receio na destinada pra mim. Está escrita em uma folha de caderno e um pouco enrugada, como se tivesse caído água encima.

Meu Deus. Que merda você fez Bridgette?

Corro para o meu armário para trocar de roupa e agarro o primeiro casaco que consigo enxergar na minha frente, dobrando aquelas cartas e as enfiando dentro do bolso da mesma. Quando vejo que não há ninguém na sala de estar faço o mínimo possível de barulho para sair de casa, fazendo uma careta ao fechar a porta atrás de mim com um clique.

Era a hora de ir a fundo no passado da minha irmã e descobrir, de uma vez por todas, seu segredo.

“Marinette,

Eu queria que houvesse uma maneira mais fácil de dizer isto pra você mana, mas sinto que o cerco está fechando para mim e não vejo uma solução que não seja difícil. Aqui vai: eu menti. Menti pra você e para os nossos pais, e agora esse fardo voltou para me assombrar.

Não queria vir até Calanque porque foi aqui que minha história feliz com o Félix começou, onde a minha vida dava certo no passado, quando você ainda era uma garota. Foi na mesma época que nós estávamos passando aquele apuro e quase morremos de fome com os negócios de mal a pior, bem antes de conseguirmos a padaria. Eu era a irmã mais velha, precisava ajudar o papai e a mamãe, mas principalmente você. Eu queria te dar o melhor. Bem, quando eu não medi esforços pra isso me meti numa furada.

Eu fiz coisas horríveis Mari, coisas que eu não queria me lembrar todos os dias quando eu acordo e nem todas as noites que eu vou dormir, mas que me lembro. Lembro e me arrependo a cada minuto do resto dos meus dias. Espero ter tempo para conversarmos sobre isso antes que algo me aconteça, mas se estiver lendo esta carta sem a minha presença quer dizer que é tarde demais. Eles conseguiram me achar.

Quero que encontre Tikki ou Mestre Fu, eles saberão te dizer as respostas que procura. Acho que você conhece o neto dele melhor do que eu. Mostre essa carta a apenas um dos dois, a mais ninguém. Não quero mais ninguém correndo riscos por minha causa.

Só você pode nos salvar Marinette. Guarde o que tem e preste atenção aos detalhes. Mais importante que tudo, não entregue o OSAV a eles.

Esperando que o bem vença essa batalha,

Bridgette Dupain-Cheng.”

***

É só na quarta vez que bato na porta que finalmente escuto alguém se aproximar e destravar a mesma. Aguardo ansiosa e quando vejo uma cabeleira castanha escura surgir na minha frente, totalmente bagunçada e Louis com o rosto um pouco amassado, não consigo conter uma arqueada de sobrancelha maliciosa. Ele claramente devia estar com Kattie lá dentro em algum lugar e eu os interrompi. Ele parece confuso e tenta arrumar o cabelo, falhando miseravelmente.

— Ah, oi Mari. -  ele finalmente diz, ficando cada vez mais parecido com um tomate, totalmente envergonhado. – O... o que você está fazendo aqui?

— Não me convidar para entrar porque, senhor Yaosaka? – lhe questiono, prendendo o riso. Ele balança a cabeça, abrindo espaço para que eu passe. – Kat, eu sei que você está aí, nem adianta se esconder.

— Não vou! Sabe que não consigo esconder nada de você sua louca! – ela grita, provavelmente do quarto no final do corredor e me fazendo dar uma pequena gargalhada.

— Louis, seu avô está em casa? – indago, voltando a ficar séria. Ele balança a cabeça, pensativo.

— Está, porque? – pergunta de volta, arqueando uma sobrancelha olhando por cima do meu ombro. Quando me viro dou de cara com Kattie encostada na soleira da porta do quarto que devia ser do primo de Adrien. – É alguma coisa séria?

— Na verdade, eu não sei. – digo, apertando a carta em uma das mãos dentro do meu bolso. Mostre essa carta a apenas um dos dois, a mais ninguém. — Eu preciso de um conselho para lidar com tudo isso que está acontecendo. – continuo, abaixando o olhar. Tecnicamente não estava mentindo. - Estou cansada de ficar trancada no meu quarto.

— Nós estávamos morrendo de preocupação com você amiga. – a ruiva diz, se aproximando e me dando um abraço apertado. A culpa de esconder algo da mesma começa a pesar minha consciência. – Eu, Alya, a Laura e até mesmo o Diego, por mais que ele negue.

— Por isso vim aqui. – conto, mordendo o lábio. – Laura me disse que Félix está preso. Precisava confirmar essa história por eu mesma.

— Bem, é verdade. – Louis responde, cruzando os braços enquanto Kat continua agarrada em mim. – Todo mundo ficou chocado com isso, porque até então ninguém sabia de nada do que tinha acontecido de verdade na universidade. A polícia disse que ele facilitou a fuga dos sequestradores do Adrien e da sua irmã, por isso o prenderam em flagrante.

— Foi tudo um plano.

Nós três nos viramos para ver quem havia dito tal coisa e sinto meu coração acelerar quando vejo o velho chinês com camisa vermelha e estampa havaiana nos encarando. Ao lado dele as duas figuras que palpitei estarem ali nos observam. Como imaginei. Tikki e Plagg nos observam em silêncio, e concentro meu olhar na ruiva de olhos azuis cintilantes abaixando a cabeça. Ele suspira, me cumprimentando com um aceno de cabeça e nos chama para nos sentarmos com ele no pequeno sofá em um dos cantos da sala de estar. Encaro a O’Green que me devolve o olhar curioso e com uma cara de confusão parecida com a minha, mas quando olho para o moreno de olhos castanhos não vejo aquela reação compartilhada.

— Então você é a famosa Marinette Dupain-Cheng que tanto ouvi falar. – ele começa e seu sotaque chinês é muito parecido com o meu. Continuo em silêncio quando ele resolve prosseguir: - Sua irmã me falou muito de você, assim como Tikki e Louis falaram.

— Então você é o Mestre Fu que Bridg disse na carta. – digo, sem vacilar sob seu olhar. Ele assente, contido.

— “Mestre Fu”? – Kattie repete, confusa e a vejo me encarar pelo canto do olho. – Carta? Como assim, a Bridgette deixou uma carta para você Mari?

— Depois que Laura foi embora hoje mais cedo eu resolvi procurar alguma coisa que pudesse me dar respostas do que estava acontecendo na minha vida. – revelo, tirando do bolso duas as cartas e as entregando para o avô do primo meio-Agreste. – Achei isto dentro da mochila que ela trouxe de Calanque e esta carta me dizia para procurar por Tikki ou pelo senhor, pra não envolver mais ninguém no meio. – continuo, parando tempo o suficiente para que tire os olhos do papel e volte a me fitar. – Eu quero saber tudo. Agora.

— Isso é algo que apenas a própria Bridgette pode contar, jovem Marinette. – ele responde, paciente e fazendo meu coração falhar por um momento. – Sua irmã escolheu um caminho errado no passado, mas conseguiu se redimir a tempo, antes que sofresse alguma consequência mais séria.

— Eu quero saber o que minha irmã tem a ver com isto. – digo, tirando o distintivo da mesma do bolso da blusa e o estendendo diante do mesmo. Ouço Tikki arquejar de surpresa, mas o chinês a minha frente continua impassível. – Você fez minha irmã participar de algo grande, senão ela não teria me pedido para o procurar. Por favor, me diga quem a levou e porquê fizeram isso arrastando Adrien de brinde.

Alguns minutos se arrastam e aquele silêncio estaa passando de desconfortável para sufocante.

— Nós fazemos parte de uma organização secreta internacional chamada Miraculous. – Tikki revela por fim, fazendo todos lhe encarem com atenção. Toma fôlego, ignorando o olhar do avô de Louis, que continuava em silêncio. – Essa organização tem sedes em todos os países, buscando preservar a segurança da população mundial. Eu, Plagg e os outros somos “kwamis”, agentes disfarçados que tem como prioridade vigiar jovens como vocês, que têm histórico na família.

— As famílias Dupain-Cheng, Agreste e Yaosaka têm origens chinesas e são descendentes de três clãs que se uniram contra um inimigo em comum no passado. Por gerações, três relíquias foram passadas através do tempo de família para família que hoje se encontram em vocês. – Plagg conta, agarrando a cintura da namorada. – Essas relíquias são três vasos encravejados de pedras preciosas que “segundo uma lenda chinesa” – faz questão de fazer as aspas e revirar os olhos, descrente – levariam aquele que os unisse a um tesouro estimado em milhões e milhões de euros de hoje.

— Espera aí. – eu digo, estreitando os olhs para os dois. – Quer dizer que tem algum homem ou alguma mulher ameaçando minha família por causa de um mísero vaso? – lhe questiono, começando a dar risada. – Ok, isso é ridículo. Podem parar de dizer besteiras, por favor, e me contar realmente a verdade?

— Essa é a verdade Mari. – Louis afirma, tirando os olhos do chão por um momento. – Não se trata de apenas um vaso para a Surveillance.

— Surveillance? – seu avô repete, arregalando os olhos com espanto. – Como sabe que possa ter sido a Surveillance se você nem sabe o que ela é meu neto?

— O senhor está enganado. – o moreno rebate, enquanto troca um olhar com Kattie, voltando a me encarar em seguida. – Depois daquele dia que conversamos, nós... Resolvemos ajudar em alguma coisa.

— “Nós”? – solto, ficando boquiaberta com minhas conclusões. – Você e a Kattie então...

— Sim. – a ruiva de olhos esverdeados confirma, encabulada. – Foi antes do atentado na universidade. Eu jurei que não contaria a ninguém Mari, não podia trair a confiança dele e nem colocar você ou a Ay em risco. Já pensou se tivessem te levado no lugar do Adrien? Sabe-se lá o que poderia ter acontecido se você soubesse de qualquer coisa.

— Ou o que no caso realmente aconteceu. — ressalto, magoada pela ruiva ter escondido algo e eu pensado em mentir para a mesma. – O que é essa Surveillance?

— Uma facção criminosa. – Mestre Fu responde, se levantando e indo até uma mesinha com uma velha vitrola encima. – Como não pensei nela antes? Tudo faz sentido agora.

— Essa facção é a maior comerciante e exportadora de drogas da Europa. – Louis explica, apertando as mãos. – Há algum tempo está sendo perseguida pelo governo francês pelo tráfico ilegal de jóias furtadas, mas não teria como fazerem isso sem a ajuda de mais alguém envolvido. A polícia até agora não descobriu nada que nos leve a uma conclusão definitiva, porém nós temos uma pista à frente deles.

— As câmeras da rua conseguiram pegar a placa do furgão preto e nos deram a localização exata de onde deixaram o carro quando procuramos via satélie, no Departamento de Trânsito. – Kat prossegue, se apoiando no ombro do namorado. – Ele foi deixado nos limites de Paris, completamente queimado e deixando qualquer prova destruída no processo. Queima de arquivo. Quando eu e Louis fomos até lá encontramos um bilhete escrito: “Amusement”, dentro do que restou do furgão. 

— “Diversões”? – murmuro, tentando entender alguma coisa. – Isso não faz sentido.

— Parece que alguém está nos fazendo participar de um quebra-cabeça mortal. – Tikki comenta, distante. – Algo me diz que mais gente vai se envolver nisso.

— Isso é o que me preocupa. – o velho chinês solta, calando a todos nós. Com um suspiro pesado, ele olha no rosto de cada um dos presentes e para em mim. – Está na hora de acabarmos com essa ameaça de uma vez por todas, mas para isso vamos precisar da sua ajuda, jovem Marinette. – encaro Kattie e Louis a minha frente. – Vocês estão dispostos a manter o segredo da Miraculous e ir ao fundo dessa história?

— Faço qualquer coisa para ter as pessoas que eu amo de volta. – digo, sem hesitar.

— Nós também. – o neto do chinês diz, tão sério quanto a minha melhor amiga. – Tanto Adrien quanto Bridgette são pessoas importantes pra nós.

— Sendo assim, a partir de agora vocês três são membros temporários da Miraculous, ao menos até essa história ser resolvida. – Mestre Fu continua a falar, esfregando as mãos no rosto, visivelmente cansado daquela história. – Antes de qualquer coisa precisamos tirar Félix da cadeia. Sem ele, nossas chances de encontrar a Surveillance e o autor de todos esses atentados só diminuem. – dirige o olhar até onde Tikki ainda estava nos observando. – Contate Annabeth e August. Precisamos disto pra ontem. – ela assente, pegando o celular rapidamente e saindo do cômodo. – Plagg, relatórios dos outros. Agora. Diga que estou com pressa. – volta seu olhar para o neto e a O’Green. – Vocês dois, quero que procurem qualquer coisa que puderem encontrar sobre a pista que deixaram para vocês. – ambos assentem e se despedem de mim, adentrando para o que eu palpitara ser o quarto do Yaosaka. – Quanto a você Marinette, quero que vá para casa.

— O que? – questiono, me levantando por impulso. – Porquê?

— Seu dever é encontrar a herança dos Dupain-Cheng e protegê-lo antes que a Surveillance descubra onde está. – o chinês diz, apertando meu ombro de leve. – Se eles descobrirem onde a herança dos Agreste está, não demorarão muito para chegarem você. Pode ser apenas um vaso para você, mas no passado esse mísero artefato custou a vida de milhares de pessoas. – suspiro, balançando a cabeça levemente. – Não quero que nada de grave aconteça à sua família.

— Sim – dou um sorriso fraco – Mestre Fu. Vou fazer isso.

Sigo até a porta de entrada com ele me acompanhando e poucos minutos depois estou seguindo para casa. Porém, ao invés de virar uma esquina rumo à padaria dos meus pais, sigo em frente rumo à delegacia dois quarteirões mais a frente.

Hora de colar um coração partido. Bridg poderá me agradecer depois.

***

— Obrigada sr. Achille. – digo, dando um sorriso de lado quando o mesmo se virava para sair dos fundos da delegacia 44 de Paris. Ele apenas balança a cabeça, arrumando o chapéu em sua cabeça.

— Vou deixar um policial a postos. – avisa, me fazendo assentir levemente. – Procure não demorar muito.

Assim que a porta que separa as celas dos fundos do resto do prédio se fecha, volto a encarar a cela na minha frente. Suspiro, dando alguns passos para mais perto e seguro uma das grades, esperando alguma reação do loiro com o rosto escondido entre as mãos sentado no interior de sua prisão. Passam-se vários segundos até que eu consiga reunir coragem para finalmente falar alguma coisa e quando o tento fazer sinto minha garganta ser arranhada, como se estivesse há muito sem falar.

— Não acreditei quando me disseram que você estava aqui. – começo, tentando procurar as palavras certas. – Achei que era apenas uma piada de mau gosto.

— Que piada, não? – Félix rebate, com um tom de voz tão rouca quanto a minha. Ele não se mexe, não esboça reação nenhuma. – Tô morrendo de rir.

— Não foi isso que eu quis dizer. – tento argumentar, encostando minha testa nas grades frias. – Não vim até aqui para falar sobre isso também. Vim porque sei de tudo Félix.

— Tudo o que? – ele retruca na mesma hora, me fazendo suspirar, tentando criar coragem para fazer tudo o que eu tinha pensado em fazer. – Do que você está falando Marinette?

Me afasto para olhar em seus olhos novamente e levo um susto quando o vejo tão próximo de mim, me encarando tão profundamente que não consegui sustentar meu olhar por mais que alguns segundos. Olho para os lados e avisto duas câmeras nos encarando no fundo do cômodo, disfarçando o melhor que consigo.

— Eu me encontrei com o Mestre Fu e ele me contou sobre a Miraculous, você e minha irmã, e... – digo o mais baixo que consigo, diminuindo mais ainda o tom, quase num sussurro. – a Surveillance.

— Você não poderia ter se metido nessa. – ele sussurra furioso de volta, os olhos azuis cintilando de algo que se parecia muito com medo. – Marinette, o que você estava...

— Eu não vou perder minha irmã de novo. – sibilo, o fuzilando com o olhar. – Se você não fosse tão egoísta a ponto de não entender o lado da Bridgette, nada do que aconteceu realmente teria acontecido. Ela estava louca para encontrar você-sabe-o-que da sua família para proteger vocês a todo custo, mas quando conseguiu a pista de onde finalmente estava, descobriu que a sua mãe tinha sido mais rápida. Ela ia doar aquela coisa e você-sabe-quem estava de olho nela, por isso aconteceu aquele acidente. – disparo, explodindo o mais baixo que consigo e vendo a cara do Agreste empalidecer rapidamente. Ofegante, arranco a carta que minha irmã escrevera para ele e a empurro contra seu peito através das grades. – Bridgette amava e sempre vai amar você, seu estúpido. Ela se culpa até hoje por algo que não fazia ideia do que ia acontecer e que tentou evitar pra te salvar, escreveu milhões de coisas que você sequer imagina nessa droga dessa carta e além de tudo precisa da sua ajuda agora. – o observo encarar aquele pedaço de papel com as defesas totalmente baixas e resolvo dar minha última carta, tentando conter as lágrimas de raiva que queriam descer pelo meu rosto. – Se você ainda a ama, o que eu sei que é verdade, faça alguma coisa.

Me viro para ir embora, enxugando qualquer resquício de rosto até a saída. Antes que possa abrir a mesma, um comentário de Félix faz o impossível. Quase me faz dar um sorriso.

Abro a porta e aceito a carona que o pai de Jacques me oferece para ir embora.

— Você é igualzinha a sua irmã, garota.

***

Assim que a viatura da polícia dobra a esquina no final da rua da padaria dos meus pais não perco meu tempo e subo para casa pelos fundos. São mais de onze da noite e provavelmente meus pais deveriam estar dormindo. Precisava fazer o mínimo de barulho possível até chegar no meu quarto. Não sei se eram as novas descobertas da noite ou as responsabilidades que precisaria carregar em minhas costas agora, ou se era simplesmente o medo, porém assim que virei a maçaneta da porta de entrada a adrenalina toma conta de todo o meu corpo. Quando finalmente estou dentro sinto meu coração batendo nas orelhas e com dificuldade controlo minha respiração, tirando os sapatos para subir as escadas e ir para o meu quarto. Entretanto, assim que passo pela porta do quarto dos meus pais escuto vozes de lá de dentro. Pelo visto ninguém conseguiria dormir com tanta coisa acontecendo naquela casa.

— Não podemos mais ficar com isso aqui Tom, é perigoso demais. – escuto a voz da minha mãe dizer, parecendo confidenciar algo urgente com meu pai.

— Sair de Paris agora seria ainda mais perigoso meu amor. – ele responde, e eu não consigo controlar minha curiosidade, encostando o ouvido para ouvir alguma coisa atrás da porta.

— É a segurança da Marinette e da nossa família que está em jogo querido. – dona Sabine retruca, com seu ar determinado a contradizer meu pai. O escuto suspirar. – Você sabe que até encontrarem Bridgette nossa família está em perigo. Podemos ir para a casa dos meus pais e escondemos isso onde deve ficar.

— Sabine, a polícia não vai permitir que viajemos de uma hora para outra à China sem um bom motivo. – argumenta, e eu estreito os olhos. Porque mamãe precisa ir pra China, assim tão de repente? Porque justo pra lá? — Além do mais, eles estão fazendo a nossa segurança aqui. Sair, sem mais nem menos para viajar agora nos deixaria na mira do delegado Raincomprix.

— Eu preciso esconder esse maldito objeto antes que nós sejamos o próximo alvo desses bandidos Tom. – ela conta, e sua voz diminui. Engulo em seco quando escuto um choro baixinho e isso me parte o coração. – Eu jamais me perdoarei se alguma coisa acontecer com as nossas filhas.

Me afasto e subo para o meu quarto antes que começasse a chorar de novo. Odiava ver meus pais naquele estado.

Depois de trancar o alçapão atrás de mim resolvo ligar meu celular, aceitando a sugestão de Laura. Assim que liga milhares de mensagens aparecerem na minha tela, mais do que jamais poderia imaginar, mas as ignoro por enquanto. Apenas quando ele começa a tocar minha música favorita e vibrar numa chamada volto minha atenção para o mesmo. Reviro os olhos tentando adivinhar quem seria. Alya? Kat de novo? Louis? Tikki?

Quando olho para o visor quase levo um susto. Número desconhecido.

— Quem é você? Quem tá falando? Cadê a minha irmã e o Adrien? – atendo, me levantando completamente exaltada. – O QUE FEZ COM ELES?!

“Poupe seu fôlego garota.” – a voz diz, preguiçosa e com um visível tom de malícia no processo.

— Cadê eles? – repito, conseguindo reunir toda a minha raiva. A risada do outro lado da linha parece se divertir.

“Temos uma proposta interessante para você... Marinette.”


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