Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 21
Atitudes & Deslizes


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, belezinha? :v

Só queria dizer que foi divertido escrever esse capítulo. Espero que vocês gostem e comemorem bastante no final dele huehuehue Sem dicas, vocês vão ler! :v Boa leitura!

Capítulo postado no dia: 03/10/2018, ás 21:05



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/747674/chapter/21

Laura

— Eu não vou sair, me deixem em paz! - Diego grita pela milésima vez, teimando em não ser arrancado do banheiro masculino da facul por Jacques e me fazendo revirar os olhos, já entediada.

— Diego, você não pode ficar trancado ai dentro pra sempre. - digo, parada discretamente perto da porta para não chamar a atenção de ninguém muito esquisito. - E as suas aulas de medicina? Como tu vai ser um médico formado se ficar ai, dentro da cabine de um banheiro qualquer, o resto da sua vida acadêmica? O que seus pais iriam dizer disso, já pensou? - argumento, tentando achar uma saída razoável daquela situação... É, humilhante.

— Cara, sai dessa. - ouço Jac começar e olho na direção do corredor pouco movimentado enquanto tia Charlotte pedia informações na recepção da universidade, apenas alguns metros de distância. - Aquelas montagens nem ficaram tão ruins assim, pelo contrário, ficaram super engraçadas. Você deveria não esquentar tanto a cabeça com isso e...

— Você diz isso porque não é a sua cara naquelas montagens Jacques! - o mexicano rebate, parecendo furioso. - Sabe o quanto de piadinhas e risadas pelas costas que vou ter que aturar a partir de agora? Sabe a sensação de ser um nerd estúpido dos memes de quem não tem o que fazer passeando pela universidade inteira? Claro que não, não é você né? Se fosse eu queria ver o que você iria pensar.

— Sai logo daí Diego! - o loiro grita, irritado.

— Não saio e daqui ninguém me tira! - aquele nerd infantil grita de volta.

Suspiro, pensando em como só arranjo amigos doidos e infantis. é impressionante ter tamanha sorte exclusivamente pra mim. Olho ao redor e quando percebo que não tem ninguém olhando nem nenhuma câmera no horizonte entro no banheiro masculino. Graças a Deus não tinha ninguém lá dentro além de Jacques e o doido do meu-novo-mas-praticamente-já-melhor-amigo Broussard trancado na última cabine. Ignoro o loiro me repreendendo sobre como era errado entrar no banheiro do sexo oposto, que se o diretor ficasse sabendo poderia me dar alguns dias na detenção, que as câmeras podiam ter visto isso e blá-blá-blá e esmurro a porta trancada onde o mexicano está com força, calando as ladainhas dos dois garotos de uma vez só.

— Sai. - mando séria e ao mesmo tempo sem brecha pra protestos. - Agora.

Dou dois passos pra trás e observo o moreno de óculos e casaco verde abrir a porta lentamente, com os olhos arregalados ao me ver. O puxo pela gola da camisa social para onde eu e Jac estamos sem mudar minha expressão fechada. Ambos calam a boca na hora e tento manter a confiança falsa estampada na minha face.

— Eu já passei por uma situação dessas Diego. Já virei motivo de piada pela escola inteira e até mesmo meus vizinhos ficaram sabendo dessa gafe. Já passei por muitos memes e bullying até chegar aqui, portanto engole essa ladainha, para de reclamar e achar que é o único aqui que é azarado. - falo em voz alta, encarando os dois que me fitavam ao mesmo tempo assustados e admirados com o quer que tinha sido a minha história. - Eu não entrei no banheiro de vocês "homens" pra ser mais durona nessa situação do que vocês dois. Agora toma vergonha nessa cara e volta pra sua vidinha normal, senão o bicho pega! - grito um pouco exaltada e me viro a passos duros pra sair dali. Bufo, ao bater em algum cara qualquer que entrava.

Por favor, qual o problema desses garotos? Tem coisa muito pior do que virar um gladiador grego lutando contra um tsunami. Estalo minha língua e irritada paro ao lado da minha do loiro que viera me ajudar com a minha "matrícula" no Françoise Dupont. Claro que não queria fazer Direito: nunca fui a favor dessa escolha imposta pelo meu pai. Desde pequena sempre quis fazer Letras, me tornar uma verdadeira escritora com diploma e tudo mais, fazendo minhas histórias baseadas na vida das pessoas ao meu redor e... Bem, até mesmo da minha vida, mesmo que não seja lá algo interessante. Encosto minha cabeça na parede fria atrás de mim e fecho os olhos, tentando esfriar minha cabeça. Ok, eu estava estressada mesmo por causa daquela maldita matrícula. Ela só me lembrava o motivo de ter vindo pra cá sem avisos e tempo de volta pra casa - minha verdadeira casa? - no Brasil. Se não tivesse dito o que tinha visto, ainda estaria lá, mas seria atormentada pelas sombras do engano. Eu e principalmente minha mãe. Nunca me perdoaria se soubesse de tal coisa e encoberto as tramas de meu pai. Porém... Não me sinto nem um pouco aliviada em saber que contribui com isso. Na verdade o peso da culpa e do arrependimento em balançar nossa familia está quase insuportável sobre as minhas costas. Estou prestes a desmoronar e tenho medo de não sobrar nada útil de pé depois.

Um pigarreio me faz abrir os olhos, ainda carrancuda.

Jacques e Diego pareciam um pouco hesitantes e envergonhados parados diante de mim, olhando ao redor. Arqueio uma sobrancelha e encaro o moreno apertar alguma coisa no celular antes de Jac sussurrar um "Você me paga por isso depois". Pra minha surpresa começa a tocar uma música conhecida. Não consigo resistir a vontade de rir ao pensar no mico dos dois no meio do corredor.

Manda esse Treco de Volta Senão o Bicho Pega

Joga esse treco pra fora e é pra já!

Manda esse treco de volta

Ou olho grande em você vou botar!

— Vocês não estão fazendo isso. - murmuro encarando uma "apresentação aos pulinhos" digna de mais um meme do Youtube e dando uma gargalhada com a boca embaixo da minha mão. - Vou colocar isso na minha retrospectiva de final de ano, podem esperar.

— Vai lá também Laurinha, isso precisa ser registrado. - tia Charlotte se manifesta com um largo sorriso no rosto, me empurrando para o meio dos dois garotos com uma mão enquanto equilibrava o celular na outra. - Façam bonitinho senão vão ter que começar tudo de novo. - ela ameaça e eu gelo por um pequeno momento.

Tanto Jacques quanto Diego ficam vermelhos que nem um pimentão enquanto alguns alunos que não tinham nada melhor para fazer pararam pra assistir nosso papelão. Mas fico surpreendida comigo mesma quando ao invés de ficar nervosa, envergonhada ou até mesmo travada diante de uma plateia eu começo a entrar na brincadeira. Cutuco o mexicano ao meu lado e faço uma verdadeira cara de doida, com um largo sorriso e uma expressão divertida. Se era pra passar vergonha como um time de amigos que eu realmente me identificava - algo praticamente impossível de me achar - eu o faria de uma maneira menos constrangedora e mais engraçada possível.

Manda esse Treco de Volta Senão o Bicho Pega

O Bicho Pega!

Ambos riem da minha péssima performance, mas eu não me importo. Minha vocação é fazer as pessoas se sentirem bem e torná-las felizes. Mesmo que eu esteja em ruínas faço o impossível para as pessoas próximas de mim ficarem de pé. Confuso? É... Ninguém me acha normal mesmo, então pra quê eu vou começar agora? Começo a dançar horrivelmente como sei que sempre irei dançar - minha triste realidade e destino cruel - e pareço contagiar meus amigos: eles começam a me acompanhar que nem dois retardados.

Diego: O Bicho Pega!

Jacques: O Bicho Pega demais...

Diego, Jacques e eu: Manda esse Treco de Volta Senão o Bicho Pega!

O Bicho Pega!

Eu (solo): E não solta mais...

Ouço o som de algumas batidas de palmas das pessoas que estavam ao nosso redor e a mãe de Jac entre risadas enquanto guardava seu celular na bolsa carregada de papéis sobre a minha transferência. Olho para minhas mãos balançando - "mãos de Jazz" como costumava dizer - e dou risada, indo ao encontro daqueles dois idiotas e lhes dando um abraço coletivo e desajeitado. Eles ainda pareciam estar com vergonha, mas os ignorei. Estava feliz. Eles também. Nada mais importava.

— Viram? Agora nós três vamos virar memes Diego. - digo, descontraída com tal verdade. Provavelmente aquilo não iria demorar. - Não precisa passar apuros sozinho.

— Você fez aquela cena no banheiro de propósito então? - ele indaga se separando do abraço com uma cara desacreditada. - Se soubesse que não estava falando sério eu não teria feito isso pra pedir desculpas.

— Como se você fosse deixar essa referência passar Dieguito. - rebato com um sorrisinho sarcástico. Ele revira os olhos e arruma os óculos no rosto. Olho para Jac ao meu lado de cara amarrada e franzo minha testa. - O que foi loiro? Parece que chupou limão azedo (?).

— Só não entendo como é que vocês dois se deram tão bem tão rápido. - responde cruzando os braços sobre o peito e me olhando de soslaio. - Era pra eu ser o melhor amigo que te introduziria aqui em Paris, não o Diego.

Dou uma gargalhada e faço um biquinho provocador para o mesmo. Ele finge não me encarar de volta e inclino a cabeça pra um lado, como se fosse um cachorrinho que perdeu o dono.

— Tá com ciúminho, tá? - pergunto sorrindo. Ele balança a cabeça e bagunça meu cabelo como resposta. -Tá legal, tá legal Jacques, não precisa destruir o meu visual. Ainda preciso ver o que vou fazer da minha vida aqui nessa universidade dos infernos.

— Olha a boca baixinha, se não quiser arranjar encrenca é melhor ficar quietinha a falar comentários assim. - o loiro repreende enquanto lhe lanço um olhar mortal, fazendo o possível para arrumar meus cachos no lugar de novo. Lhe mostro a língua, pra que pare de encher meu saco. - Ah é? Ei Diego, o que foi que aconteceu com a última pessoa que falou um elogio de baixo escalão sobre o nosso querido diretor Damocles?

Nossa guerra de encarar o outro sem piscar é quebrada pelo silêncio repentino do mexicano ao nosso lado. Nós dois olhamos na sua direção e o enxergamos o Broussard praticamente paralisado com alguma coisa que estava no final do corredor. Estreito meus olhos para tentar enxergar mais alguma coisa, mas apenas noto uma garota anotando algo de um quadro de informações. Até onde consigo enxergar ela é morena, praticamente da mesma altura que eu e tem cabelos longos e lisos castanho escuro, porém antes que pudesse analisar mais alguma coisa importante sinto a cabeleira bagunçada do Olivier aparecer subitamente sobre o meu ombro. Diego parecia em outro mundo, nem mesmo estava piscando quem dirá respirando direito!

— Essa é a paixão platônica do Diego, Lau. - escuto o loiro cochichar no meu ouvido e sinto um arrepio atravessar meu corpo com nossa aproximação súbita. - Ela se chama Lila e nunca nem disse um "Oi" pra ele, mas quem disse que isso é problema? Mal consegue se aproximar dela e aquele oxigenado do Adrien e dos amiguinhos dele chegam pra estragar o momento.

— Porquê? - pergunto baixo, confusa. - Eles não se bicam (?), ou algo assim?

— Não faço a mínima ideia. - Jac responde e fico pensativa. - Só sei que o Diego odeia falar sobre isso. Seja lá o que aconteceu tem a ver com o Agreste, a Lila e a Rainha da Escola, Chloé Bourgeios e acredite: não deve ser coisa muito boa.

— Chloé Bourgeios? A mesma filha do cara que investou o Brasil com aqueles hotéis caríssimos e cheios de frescuras que só de respirar duas quadras de lá tu já precisa pagar? - indago, talvez com certa implicância na voz. Quando ele assente não posso conter minha surpresa. - No que foi que o Diego se meteu com essa gente Jac? Tipo, você não acha isso nem um pouquinho esquisito?

— Eu prefiro guardar minhas teorias pra mim e te aconselho a fazer o mesmo aqui dentro. - ele responde mais sério e se afasta, cutucando o mexicano e o tirando de seu transe. - Vamos cara, o sinal já vai bater e a gente tem aula ainda. Já se esqueceu dos memes foi?

Como que combinado um sinal contínuo e insuportável começa a soar e me dá dor nos ouvidos enquanto alunos brotam de todos os lados para não se atrasarem para suas determinadas aulas. Esfregava ainda minhas orelhas quando Diego me acena ao longe, quase na metade de uma escada para um primeiro andar e Jacques dava um beijinho na bochecha de sua mãe e em mim. Tento apenas acenar de volta para não pensar em como ficara sem graça com tal ato de carinho. Me viro para olhar o final do corredor e suspiro de frustração ao ver que a suposta "deusa alvo da admiração e total devoção do Diego" simplesmente já não estava mais ali. Ando derrotada até onde tia Charlotte e uma mulher com cabelo ruivo tingido e quase neon, olhos cheios de maquiagem escura e vestida num conjunto estravagante e nem um pouco discreto estavam conversando animadamente. Quando me aproximo o suficiente a tal mulher se vira pra mim com um sorriso largo até demais:

— E ai, pronta para o seu "tour" pela Françoise Dupont?

# # #

— Como você verá, nossa universidade não é rígida o suficiente para fazer nossos alunos se sentirem numa prisão de segurança máxima, porém o corpo estudantil não permite qualquer tipo de liberdade de expressão cultural extremista que possa causar divergências ou até mesmo alguma tragédia por essas bandas (?). - a mulher dizia apontando para vários lugares e falando que nem um verdadeiro papagaio enquanto eu e tia Charlotte apenas acenávamos levemente com a cabeça algumas vezes quando ela se virava rindo de algum comentário ridículo que fizera.

— Queremos apenas saber quando Laura poderá começar a comparecer ás aulas de Direito quando o segundo semestre começar. - escuto a mãe de Jacques responder com uma expressão cansada de ouvir tanta groselha desnecessária.

— Ah, claro, claro! - a ruiva falsiane (?) assente enquanto subíamos o último vão de escadas para uma passarela que atravessava o campus e um grande bosque dentro das dependências da universidade. - A nossa Laurinha poderá começar suas aulas já no primeiro dia do "Volta ás Aulas", assim como também poderá se increver nos nossos programas extracurriculares que vamos inaugurar por aqui.

De repente minha mente clareia. Ela tinha mesmo dito aquilo?

— Que tipo de atividades extracurriculares? - pergunto, intrigada com aquele pequeno fiapo de liberdade diante dos meus olhos.

— Bem, nós começaremos com apenas quatro atividades. Dança, música, teatro e um projeto de artes visuais que está sendo planejado ser exibido na maior parte dos prédios participantes. - explicou, apertando a prancheta lotada de papéis contra suas mãos. Confesso que sorri levemente ao ouvir aquilo. A mulher me lança um olhar demorado - e até mesmo bonito - embaixo de toda aquela maquiagem desnecessária. - Está interessada em participar mocinha?

— Talvez. - solto desviando o olhar para a paisagem a minha volta, qualquer coisa menos para prestar atenção naquela pergunta.

Enquanto a mãe de Jac continua conversando sobre alguma coisa eu me desligo do mundo ao meu redor quando vejo que a maioria daquela universidade está ocupada com alguma coisa menos eu, porque naquele exato momento eu estava tentando me encaixar ali a força. Procuro não pensar em estudar para me tornar alguma coisa que eu muito provavelmente nunca iria conseguir me adaptar - imagine exercer minha função em algum lugar? Meus pensamentos me levam de volta aquela morena misteriosa e a toda a trama que envolve Diego Broussard. Tinha alguma coisa de errado pelo que Jacques me dissera momentos atrás. O jeito que ele olhava pra ela no final do corredor, babando. Não... Se ali tinha alguma coisa eu iria descobrir, nem que pra isso eu tenha que parecer uma stalker desmiolada e maníaca.

Ah, por favor. Eu já sou isso.

— Laura?

— Hã, sim? - digo, voltando a prestar atenção nas duas mulheres paradas a minha frente e me encarando a espera de uma resposta. - Perdão, pode repetir?

— Ela te perguntou se vai se inscrever nas aulas de música, já que você me disse uma vez que é expert no violão e no teclado. - dona Charlotte diz com um pequeno sorriso. Solto um suspiro de alívio.

— Ah, isso. - falo, com uma pequena gargalhada. - Claro tia, acho que pode ser mesmo uma boa ideia.

Ambas sorriem pra mim e só então me dou conta de onde estamos. Em frente a diretoria para enfim me matricular e resolver toda aquela questão burocrática internacional. Respiro fundo e solto um suspiro profundo.

— Pronta senhorita Novaes? - a ruiva me pergunta parecendo mais simpática de repente. Tento parecer o mais segura de mim mesma e ergo minha cabeça.

— Pronta. - rebato, desviando o olhar para a loira de olhos azuis turquesas ao seu lado. Tia Lotte dá um aceno de volta. - Na medida do possível.

***

Marinette

Um garçom trazia mais uma bandeja com um dos melhores milkshake's de baunilha com morango que eu já havia tomado na vida com alguns cookies com gotas de chocolate, pela segunda vez daquele começo de tarde. Nós estávamos em uma cafeteria super cara de Paris onde aquele idiota do Agreste insistiu tanto para que eu deixasse para entrarmos. Me comprou com um delicioso milkshake ao som de uma música agradável e ainda de quebra meu acompanhamento favorito. Não posso dizer que não estou me sentindo um pouco culpada por estar dentro de uma concorrência, mas, sinceramente gente, eu estava quase no céu. Enquanto tomava mais alguns goles da minha bebida congelante observava o loiro me fitando embaixo do capuz de orelhas pretas do seu moletom. Nós estávamos conversando sobre o curso que estávamos fazendo e eu acabara de descobrir que o loiro não tinha vocação alguma para tal, sendo que era obrigado pelo pai a estudar aquilo e se dar bem no ramo de modelo exigido a risca pelo meu designer de moda favorito. Ele estava inclinado bem perto de onde eu estava, devorando meus biscoitos de chocolate e com os olhos cravados em mim.

— Então quer dizer que toda essa sua beleza de deus grego é apenas uma farsa? - pergunto, com uma sobrancelha arqueada. Ele dá uma risada fraca.

— Queira você acreditar ou não, eu sou um deus grego. Você que é teimosa em não acreditar em mim. - ele responde com um sorriso convencido e eu reviro os olhos, rindo. Entretanto, sua expressão tranquila rapidamente dá lugar a algo que não consigo identificar. - A verdade é que eu sou apenas um manequim. Um manequim que faz sucesso forçado sobre uma marca que nem em sonhos eu seria a capa em condições normais.

— Você fala do seu pai como ele fosse um monstro Adrien. - comento remexendo com o canudo o sorvete dentro do copo tamanho médio. - Ele é tão ruim assim, como você diz?

Uma sombra escurece o rosto do garoto a minha frente e ele parece refletir em dizer algo ou não pra mim. Sigo seu olhar até a pequena mesa em que estamos sentados e acompanho seus dedos tocarem os meus levemente. Penso em recuar, porém algo me diz para continuar ali se quisesse realmente descobrir o segredo da família Agreste.

— Muitas coisas não são o que parecem ser Marinette. - ele começa, sem me encarar nos olhos. Espero que continue, e fico em silêncio.

— Meu pai é um homem frio, calculista. Não aceita erro algum. Sempre que algo não sai como ele deseja alguém paga por isso, não importa quem quer que seja. - assisto calada seus dedos brincarem com as pontas dos meus. Seu toque é calmo, quente, quase tranquilizador. Muito diferente do rumo daquela conversa e das minhas mãos ásperas e cheias de calos. - É por isso que quase ninguém sabe das marcas nas minhas costas a não ser Nino, Mandy e... Bem, você.

Estremeço. Aquelas cicatrizes ainda me assombravam sempre que entrava sozinha na cozinha durante uma madrugada mal-dormida. Nossos olhares se cruzam e involuntariamente aperto sua mão.

— O que foi que você fez Adrien? - minha voz sai tão baixa que não deve ter soado nada mais do que um sussurro apertado. Para me assombrar ainda mais ele dá um suspiro e desvia o olhar para nossas mãos novamente.

— Digamos que eu estava brincando com fogo e não sabia. - o loiro responde quase tão baixo quanto eu.

O silêncio se instala brevemente entre nós. Bem, até ser partido ao meio por conta de um trovão furioso lá fora, anunciando que uma tempestade estava prestes a cair. Nossas mãos se afastam e sinto meu rosto esquentar por algum motivo enquanto ouvia o mesmo acertar as contas da lanchonete. A temperatura começa a cair e rapidamente pego o meu moletom rosa claro - que por coincidência ou crueldade do destino, combinava com o do Agreste. Evito seu olhar e tento me cobrir o máximo que consigo, falhando miseravelmente ao ver que o moletom só chegava na altura das minhas coxas. Bom, pelo menos não passaria frio da cintura pra cima. Enquanto saímos apressados da cafeteria para não sermos surpreendidos pela chuva eu podia sentir seu olhar em minhas costas, mesmo nós dois usando capuzes das blusas. As pessoas ao nosso redor correm que nem doidas para evitar as pequenas gotas de chuva que começam a despencar do céu e então uma luz me vem a tona.

Eu tinha um guarda-chuva na bolsa!

Como não tinha pensado nisso antes? Alya me havia insistido pra levar em caso de emergência. Dou uma gargalhada fraca enquanto o pego e abro bem a tempo de evitar uma verdadeiro aguaceiro (?) molhar a mim e ao Agreste.

— É, você é bem precavida Cheng. - escuto o loiro dizer, enfiando as mãos no bolso e se enfiando no pequeno espaço entre nós e o guarda-chuva cinza em minha mão direita. Dou um sorriso tímido.

— Uma Cheng precavida vale mais que duas Gagnon juntas, não acha? - retruco, não evitando encarar seus olhos tão verdes a poucos centímetros de mim. Eles pareciam cintilar na escuridão repentina da tempestade que nos rodeava. Um trovão encobre uma risada profunda e grave vinda do mesmo, e novamente me sinto estremecer contra minha vontade. - Eu... Eu quero pedir desculpas. Não devia ter tocado no assunto do seu pai, você sempre fica tão frio e distante.

— A culpa disso não é sua Marinette. - Adrien responde baixo e quase não consigo ouvi-lo por causa do barulho da chuva. Balanço a cabeça, contrariada.

— É sim. - afirmo, me sentindo realmente culpada por tal feito. - Mas antes que comecemos a discutir sobre de quem é a culpa, eu... Só quero que saiba que... Bem, pode contar comigo gatinho. - digo, dando um sorriso fraco no final, um pouco envergonhada.

Raios, porque é que eu estou me sentindo assim tão estranha?

Ele entreabre os lábios, parecendo surpreso com o que eu dissera. Então, quando eu pensei que fosse dizer mais alguma estupidez ou algo para me rebaixar como sempre faz com suas gracinhas senti meu coração parar. Ao invés de ser previsível como eu imaginei que ele sempre foi e sempre seria, Adrien Agreste apenas me abraçou. Sim, isso mesmo. Ele me abraçou como se eu fosse a coisa mais preciosa da vida dele e pudesse partir pra sempre. Prendi a respiração ao notar o quão fortes e firmes seus braços eram ao me envolverem pelos ombros e pela minha cintura. Com toda a certeza do mundo não era apenas photoshop nas revistas de moda da Gabriel. Podia sentir seu coração acelerado batendo contra o meu peito e fazendo o meu também entrar em sincronia. Uma harmonia perfeita para aqueles que pensavam que não existia melodia que se encaixasse com suas notas próprias. Oh meu Deus, será que eu estou... Eu não posso acreditar no que está acontecendo. Sinto meu rosto ferver com a mentira que martelava minha consciência desde a conversa com milkshake. Seria ela mesmo só uma mentira?

Quando nos separamos algo quase que mágico acontece. É como se o som ao nosso redor simplesmente fosse diminuindo até restar apenas nós dois e aquele bendito guarda-chuva no meio da rua ensopada pela tempestade anunciadora do verão. O capuz em sua cabeça caiu com o ato imprevisível, deixando a mostra aquele cabelo maravilhosamente perfeito. Nossos corpos se atraem e quando percebo o Agreste está inclinado sobre mim. Seus dedos tocam minha face com delicadeza, tão macios como veludo, e fazem o local arder junto com a minha vergonha. Ele está quase da minha altura e me encara tão profundamente que parece que está olhando minha alma.

— Você já reparou que sempre que está chovendo e nós dois estamos envolvidos em alguma situação assim, muito próximos - ressalta a última palavra guiando seu dedo polegar desde a minha bochecha até chegar nos meus lábios. Sinto algo se acender dentro de mim e tenho medo ao descobrir que não sei o que é aquilo. -, o tempo parece entrar em câmera lenta Marinette? - indaga com um sorriso de canto, sem tirar os olhos de mim. Não consigo evitar seu olhar penetrante e sinto meus dedos formigarem contra o cabo do guarda-chuva.

— Isso só aconteceu duas vezes, contando com esta. - respondo, me sentindo um pouco zonza com o cheiro inebriante de seu perfume tomando conta da minha respiração. - Não pode afirmar uma coisa apressadamente.

Adrien apenas solta um suspiro lento e profundo. A chuva piora a cada instante e a cidade continua correndo a todo vapor ao nosso redor, porém o que ele diz é verdade. É como se estivéssemos presos em uma bolha e não fizéssemos parte do mundo lá fora, como se não fôssemos tão importantes e ninguém sequer nos visse ali no meio da calçada.

— Eu sei que você vê isso também Marinette, não minta pra você mesma. - sua voz sai grave, quase sedutora. Fecho os olhos quando sua mão volta a acariciar minha face e sinto meu corpo tremer em resposta. Tremer por um desejo insano de reagir aquela provocação tentadora. Ele dá mais um passo e um arrepio sobe pelas minhas costas quando seu nariz roça no meu. - Porque não se dá o luxo de deslizar sobre o pecado de beijar o príncipe dos seus sonhos? - abro meus olhos com seu sussurro.

— Você não é o príncipe dos meus sonhos garoto. - sussurro, torcendo para que minha voz não vacile e ele veja uma possível fraqueza em minha postura.

Sinto seu nariz tocar minha orelha e mordo o lábio, apertando o cabo do guarda-chuva com mais força.

— Posso ver nos seus olhos que você me quer... Garota.

Dito isso ele segura minha nuca entre as mãos e toca meus lábios com os seus. São úmidos, tremendamente macios e deliciosos. Fecho meus olhos com o coração aos pulos e não consigo resistir ao impulso de corresponder aquele maldito sentimento que aflorava em meu peito desde que pisara na universidade, largando tudo o que tinha em minhas mãos e entrelaçando meus dedos em seus fios de ouro. De repente a chuva não era mais nenhum problema. Mais nada era problema. Só havia eu e aquele loiro insuportável no universo inteiro. Nada mais importava naquele momento. Enquanto em pouquíssimos segundos nossas roupas se encharcavam, sinto Adrien me puxar pela cintura e juntar nossos corpos um contra o outro. Cada movimento que fazemos é calmo e parece propositalmente demorado, como que para aproveitarmos ao máximo aqueles pequenos minutos. Logo nossas roupas e nós mesmo estamos ensopados, mas quando aperto meus braços em torno de seu pescoço e inclino mais a cabeça para um lado não sinto o frio característico da tempestade. Sinto apenas minhas inúteis barreiras caírem no chão, rendidas ao desejo de me permitir ser um pouco feliz. Uma de suas mãos entrelaça meus fios em dedos e os puxa com carinho enquanto a outra desliza lentamente sobre as minhas costas e me puxa para seu corpo cheio de músculos firmes como um verdadeiro muro. Nossas línguas se tocam e então parecem dançar conforme o ritmo da música dos nossos corações.

Não me lembro de ter parado e pra ser sincera, ali, dominada por ele, eu realmente não queria tê-lo feito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Steal Your Heart AU" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.