Primavera sem flores escrita por Megitsune


Capítulo 3
3 - Oportunidade


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!

Capítulo centrado no Gaara.



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Gaara podia contar nos dedos as vezes em que foi ao cinema. Ele nunca foi fã de filmes e documentários. Preferia cuidar dos cactos que preenchiam a pequena estufa que ficava nos fundos de seu quarto. Era um serviço relaxante, as plantas sempre recebiam bem os cuidados e não era preciso muita coisa: sol e pouca água. Cactos eram resistentes por si só. E solitários.  

No cinema, nem tudo correu como planejado. Alguém havia errado o horário do filme em quinze minutos, foi por pouco que não perderam o início do filme. Quando entraram na sala, as luzes já estavam apagadas e era difícil encontrar os assentos demarcados no bilhete. Acabou que se sentaram na fileira certa, mas com os assentos trocados. Sakura sentou no lugar destinado a Naruto para ficar ao lado do namorado, enquanto Gaara ficou na penúltima cadeira.

Pipocas e bebidas em seus devidos lugares e donos, bastou o final de uma propaganda para o filme começar. Olhando ao redor, percebia-se que a sala estava relativamente vazia, o ruivo não era de reclamar, mas o ar-condicionado causava uma sensação de frio incômoda.

Passados quinze minutos, Naruto já havia acabado com a pipoca e ainda parecia faminto, porque dava para reparar na quantidade de olhares que o rapaz lançava em direção ao lanche alheio.

— Pode ficar com o meu — Gaara murmurou.

— S-sério? — Naruto queria fazer bonito e recusar, era deselegante pegar o lanche de alguém. Ainda mais do ruivo que nem era próximo dele assim, mas a fome era maior que os bons modos.

— Huhum.

— Valeu, Gaara! — Naruto lançou um sorriso radiante e pegou a pipoca das mãos do outro. O outro sorriu em resposta, depois voltou a atenção para o filme.

O ruivo precisava admitir que a premissa da estória era boa. Apenas um pouco deprimente. Dramas familiares nunca foram o foco dele, porque o lembravam de todas as dificuldades que teve. No caso em questão, a trama era sobre o desamparo de uma mulher que achava ter se casado com o homem dos sonhos. Ela acabou entrando em um relacionamento abusivo do qual, por mais que tentasse, não conseguia sair.

O filme piorou à medida que se aproximava da metade, a protagonista engravidou e o marido não queria a criança. Era ter a criança ou o divórcio, e ele não pagaria pensão alguma. Onde estava o romance naquilo? Virou o rosto para o lado, era difícil dizer se Sakura estava triste ou com raiva, o certo seria dizer os dois. Os olhos dela marejavam, enquanto a mão apertava com força o braço da cadeira. Não dava para ver Sasuke direito, mas ele parecia um pouco transtornado em meio a sua indiferença habitual.

Gaara encostou-se mais na cadeira, sentindo frio. Colocou uma das mãos no bolso da calça, tentando de alguma forma conseguir uma fonte de calor. Iria colocar a outra também, afinal, por que alguém só tentaria esquentar uma das mãos? Ele podia usar como desculpa o copo de refrigerante intocado. Seria suicídio beber algo gelado enquanto sentia tanto frio, mas o rapaz nunca imaginou que Naruto seguraria a mão dele naquela hora.

A surpresa fez o coração de Gaara disparar. Um arrepio estranho tomou conta de todo o braço e o estômago parecia repleto de borboletas. Não podia ser Naruto, mas qual era o problema? Eram amigos. Dois garotos.

Voltou o rosto na direção de Naruto. Ele estava... Emocionado? O loiro mordia o lábio, o pomo-de-adão tremia de leve, dando a entender que ele estava prestes a chorar. Chegava a ser engraçado ver o rapaz mais rebelde da escola chorar por causa de um filme, se bem que Gaara não viu graça alguma. Ainda tentava entender o motivo da mão de Naruto em cima da sua.

Por mais que a explicação fosse óbvia, a sensação de total constrangimento impedia o ruivo de raciocinar como deveria. Naruto havia agido por impulso e nem tinha ideia do que fazia, atento ao filme. Por outro lado, Gaara começava a sentir como se o ar-condicionado tivesse sido desligado e o calor do loiro passasse todo para sua face.

E com isso vinha o impasse entre chamar Naruto ou deixar como estava. Se por um lado isso acabaria com a situação, por outro poderia causar mais constrangimento. Sakura poderia acabar olhando para eles na hora em que Gaara chamasse; Naruto poderia se sentir envergonhado a tal ponto que não olharia mais na cara do ruivo. Pior, fazer um pequeno escândalo, encolhendo-se na cadeira como se tivesse tocado em um pedaço de lixo. A última opção doeria. Muito, e não era como se Gaara quisesse tirar a mão dali, certo? Ele não sabia.

Preferiu deixar como estava.

—//-       -//-         -//-

O filme acabou e Gaara era incapaz de comentar qualquer cena, porque não havia prestado atenção em nada. A cada aperto que Naruto dava em sua mão, cada novo calo que ele reparava na pele do loiro, sentia como se a sala de cinema fosse um mundo distante e sem nexo. O melhor de tudo: Naruto ficou sem saber o que havia feito até o final.

Os quatro saíram da sala de cinema em silêncio. Sakura tinha os olhos vermelhos de choro e Sasuke fingia estar bem, mas dava para perceber que ele havia coçado os olhos.

— Ficou emocionado, dobe? — Sasuke partiu para a provocação assim que viu a cara de choro contido do loiro.

— E-eu? Haha! É preciso muito mais do que isso para me fazer chorar — Naruto se defendeu, ele tinha consciência que fazia papel de idiota, porém não daria o braço a torcer. — Mas e esse olho vermelho, teme? O “grande” Uchiha chorou em um filme de menininha!

— Humpf, eu que cocei os olhos por causa do sono — mentiu. O filme havia arrancado algumas lágrimas de Sasuke, sim. Gaara não compreendia o porquê deles ficaram se provocando daquele jeito. Devia ser algo que amigos muito próximos fizessem. Sabia que os dois se conheciam desde a infância, eram como irmãos.

— Espera até eu contar para o Ita... — Naruto começou a ameaçar, porém Sasuke não o deixou prosseguir, pegou o celular no bolso e tirou uma foto — O-O que você fez, teme?!

— Com essa cara de idiota, ninguém vai discordar de mim.

— P-Pera aí, Sasuke! Não compartilhe isso. Apaga, agora! — Naruto exclamou.

— Não — o Uchiha provocou, mostrando a foto no celular. A cara do loiro era hilária, os olhos avermelhados e o nariz inchado, como se estivesse com gripe. Quem visse aquilo, riria da cara dele por meses.

Naruto não pensou duas vezes e partiu para cima do amigo com tudo. Toda tentativa de pegar o aparelho era frustrada por Sasuke que desviava sem precisar olhar para a cara do outro. O loiro podia tentar quantas vezes quisesse, o Uchiha dava a impressão de ler todos os seus movimentos.

Gaara apenas observava, considerando tudo divertido. Os amigos de Naruto eram unidos, alegres, animavam o dia de qualquer pessoa com poucos gestos, embora talvez o que iluminasse mesmo o rosto de todos fosse a presença marcante do loiro. Em toda a escola, ele era o único a arrancar um sorriso de Sasuke.

Eles eram como sol e lua. Independentes e dependentes um do outro ao mesmo tempo. A lua não precisava do sol para existir, mas dependia dele para ter luz, assim era Sasuke. O rapaz continuava sendo popular, independente de Naruto, mas precisava dele para que algo brilhasse em seu interior.

A situação entre os dois até poderia ser divertida de ver. Eles estavam felizes na companhia um do outro, enquanto Gaara tinha a sensação de ser um mero expectador; a presença ou falta dele fazia nenhuma diferença, e aquilo de alguma forma doía.

— Naruto-kun, pare! — pediu Sakura. — Vamos ser expulsos do cinema desse jeito.

— Então faça o teme apagar a foto! — Naruto disse, tentando pegar o aparelho da mão do moreno, sem efeito.

— Se não parar agora, eu mesma compartilho essa foto — ameaçou. Naruto parou com a mão a meio caminho do braço do outro.

— Sakura-chan...

— Vou guardar para uso futuro — Sasuke anunciou, colocando o celular no bolso.

— Francamente, você devia parar de agir como criança, Naruto — Sakura falou, irritada. Ela logo voltou-se para o ruivo — Aliás, Gaara, você está bem?

Bem ele estava. Só ignorar a uma hora de filme que ele deixou de assistir e o desconforto indecifrável que estava sentindo.

— Estou — respondeu.

— É que você está um pouco vermelho — Sakura explicou.

— Efeito do filme — mentiu. Levando em consideração o estado dos outros ao sair do cinema, nada mais válido. A garota não ousou questionar.

— Você também chorou, Gaara? — Naruto voltou-se para ele.

— Nã... — Foi a vez do loiro de tirar uma foto com o celular.

— Até que você não é muito diferente do teme.

Gaara permaneceu sem resposta. Naruto seria capaz de manter a foto se soubesse que estava corado por culpa dele? Que ele havia segurado sua mão por mais da metade do filme? Provavelmente não.

Sorte que nada sairia da boca de Gaara. Ninguém precisava saber.

— Vai me chantagear com a foto? — perguntou. A resposta seria não, óbvio. Naruto nunca levava uma provocação a sério de verdade e tinha pavor de prejudicar as pessoas próximas a ele.

— Talvez — brincou. — Troco a foto por um lámen no Ichiraku amanhã.

— Não acredito que vai chantagear o Gaa... — Sakura começou a reclamar.

— Eu aceito — o ruivo respondeu, acabando com qualquer futura discussão.

O problema na hora de pagar lanche para o loiro era que ele comia demais. Uma ida ao Ichiraku resultava em uma perda de quase mil ienes. Claro, dinheiro nunca foi uma questão importante para Gaara, por mais que ele não esbanjasse. Seria a primeira vez dele indo ao “Ichiraku lámen”. Sabia que o principal cliente do lugar era Naruto, mas muitos professores também costumavam almoçar lá e aprovavam a comida. Seria interessante.

— Já está tarde — Sasuke pontuou, dando alguns passos para fora do cinema. — Sakura, irei acompanhá-la até em casa.

— T-tudo bem, Sasuke-kun. Naruto-kun, Gaara-kun, nos vemos amanhã. Tenham uma boa noite — Sakura sorriu e foi para perto do namorado.

— Até amanhã — Sasuke disse.

Naruto acompanhou-os até a rua e Gaara o seguiu. Um vento ameno vinha em sopros suaves, tornando a noite agradável para uma caminhada. A alguns prédios de distância já era possível ver o brilho das luzes de Kabukicho. O movimento na rua continuava intenso, os trabalhadores voltavam para suas casas, sinal de metrô lotado.

As despedidas terminaram rápido. Vistos juntos, Sakura e Sasuke formavam um belo casal. Eles inspiravam outras garotas na escola, faziam-nas acreditar na possibilidade real de encontrarem um “príncipe encantado”. Acreditar na perfeição de alguém poderia ser tóxico, tanto quanto ver apenas defeitos, porque o sonho cego gerava expectativas altas.

— Também vou para casa. Tchau, Gaara! — Naruto falou. O padrinho dele alugava um apartamento na parte mais tranquila de Kabukicho. De onde estavam, dava meia hora de caminhada, sendo preciso passar por uma longa avenida cheia de bares, restaurantes e motéis.

— Até amanhã — respondeu Gaara. A estação do metrô ficava no sentido oposto. A poucos quarteirões de distância.

O rapaz checou o celular antes de começar a caminhar, na quase certeza de que Kankuro e Temari teriam mandado mensagem perguntando sobre o seu retorno e se precisava de carona. Para sua surpresa, só a irmã perguntou a hora em que ele voltaria; respondeu que estaria em casa em vinte minutos. Demorou quinze.

Gaara morava no terceiro andar de um luxuoso apartamento em Ebisu. O lugar proporcionava o que havia de mais inovador em segurança, mas o que todos na família gostavam era do amplo espaço de cada cômodo.

Destrancou o portão e seguiu para dentro do prédio. Havia um elevador, porém Gaara sempre preferiu as escadas. O porteiro noturno cumprimentou-o com um sorriso, era um homem baixo e velho, devia ter cinquenta anos. Não importava quem entrasse, ele sempre mantinha a expressão positiva, diferente do homem que ficava no turno da manhã. Aquele só mostrava respeito com pessoas mais velhas e de grande poder aquisitivo.

Subiu as escadas e entrou em casa. Retirou os sapatos no genkan(1), alinhando-os em direção a porta. Ele reconhecia os sapatos do pai e da irmã, os de Kankuro não estavam lá. Estranho.

Tadaima(2).

Rasa lia o jornal no sofá, despreocupado. Em qualquer outro dia, ele fingiria que o filho não existia e continuaria a ler. Dessa vez, ele resolveu inovar, abaixou o jornal e olhou para Gaara.

Okaeri nasai(3). Como foi o seu dia de aula?

A resposta demorou a vir. O rapaz estava surpreso, o coração faltou falhar uma batida.

— Foi bom. Eu fui ao cinema com o Naruto e os amigos dele.

— Fico feliz que tenha se divertido — Rasa disse, com o esboço do que poderia ser chamado de sorriso nos lábios. Ele logo voltou a ler, terminando a conversa. Deixando Gaara confuso.

— Onde está Temari e Kankuro? — Resolveu arriscar. O pai estava disposto a conversar, já era um início.

— Temari está no telefone e Kankuro ainda não voltou.

Estranho o irmão ainda não ter retornado. Depois de pegar as marionetes, ele voltaria rápido para casa. Kankuro sempre foi um pouco antissocial e recluso, porque seus gostos eram exóticos demais para alguém se interessar.

Rasa nunca se intrometeu em nenhuma das decisões dos filhos. Deixava eles seguirem com o que quisessem, pois cada um sabia as consequências de uma escolha. Contudo, era a primeira vez em 17 anos que ele tinha uma conversa amigável com Gaara.

Há anos o mais novo decidiu perdoar o pai por qualquer divergência e seguir em frente como uma pessoa nova, sempre disposta a se aproximar dos outros e formar laços. Rasa devia ter seus motivos para agir com ódio no passado, e se agora ele queria corrigir suas ações, Gaara não iria impor barreira alguma. Sem querer conversar mais, Rasa permaneceu em silêncio.

Gaara entendeu o recado e foi para o quarto, deixou a mochila pendurada ao lado da porta e pegou o notebook guardado dentro da gaveta na escrivaninha. Enquanto o aparelho ligava, retirou o casaco do uniforme e a gravata. Detestava sentir o pescoço apertado, a sensação devia ser a mesma de ter uma coleira. Desabotoou os primeiros botões da camisa, sentindo-se livre, à vontade.

O notebook ligou, ele digitou a senha e a imagem de diversos cactus floridos apareceu na tela inicial. Abriu a pasta de documentos e fez todos os documentos ocultos aparecerem. Só havia um arquivo escondido, de acesso restrito a senha; o aplicativo exibia o rosto de uma criatura de areia, seu nome era Shukaku. Um sistema de hacking desenvolvido pelo próprio Gaara.

O rapaz respeitava a privacidade alheia, desde que ela não o envolvesse. Nem prejudicasse Naruto. Por vezes, Gaara refletia sobre o tanto de vezes que seus pensamentos era direcionados ao melhor amigo. Ele não se considerava um stalker, para ser sincero, aquela era a primeira vez no ano em que ele acessava o aplicativo.

Shukaku havia sido desenvolvido quando ele tinha doze anos para servir-lhe de companhia enquanto ele se divertia lendo as mensagens dos professores e acessava todos os podres deles. No início, era divertido, depois passou a ser um motivo de vergonha para si mesmo, mas ele não teve coragem de apagar o aplicativo. Querendo ou não, sentia grande carinho por sua criação.

Abriu o aplicativo. Segundos se passaram antes de Shukaku aparecer na tela inicial. Parecia um guaxinim de areia, gordo e cheio de selos pelo corpo. Gaara o criou baseado em um livro de mitologia que Temari deu a ele de presente quando criança.

“Yo, pivete! O que foi, solitário depois de um ano me mantendo em cativeiro?!”, o monstro de areia gritou, irritado.

— Não o deixei preso, sabe que pode navegar livremente pela internet desde que proteja os meus dados — Gaara respondeu, calmo.

É, é. Tanto que fiz uma ultra viagem ao Egito! Quanta areia e liberdade! Mas isso não tira o fato de que você não aparecia.”, ele continuava irritado.

— Sentiu minha falta? Sinto muito.

O pequeno monstro virou a cara e cruzou as patas.

Humpf, também não precisa sair se desculpando. O grande eu o perdoa por ser um pivete folgado. Qual o novo serviço? Roubar arquivos da diretoria, localizar o “Naruto-chan”?”, Shukaku riu. Gaara ficou envergonhado, mas não deixou transparecer.

O que ele pretendia pedir era muito errado. Tirar a foto do celular de Naruto acabaria com a promessa do lanche, mas como o loiro era descuidado, deixaria de conferir a foto. Era com isso que Gaara contava. Só que seria desleal e esse era o principal problema.

— Nada. Eu preciso pensar.

Não acredito que me chamou par...”, Shukaku não teve tempo de responder. Gaara fechou o notebook, sem saber qual seria a melhor decisão a tomar.

Ele e Naruto eram amigos. Gaara considerava ter contraído um débito para toda vida com o loiro, que alcançou a posição única de melhor amigo. Se tinha toda essa consideração, qual o sentido de sair correndo atrás dele logo agora?

Gaara coçou a nuca, ainda mais perdido em seu impasse moral. Ele podia correr o quanto quisesse, nunca alcançaria Naruto. O rapaz sempre estaria dez passos a frente e ele teria de se contentar com as pegadas deixadas pelo caminho trilhado.

Ele desejava tornar tudo diferente. Por mais que tivesse mudado, Gaara não conseguia trazer a mesma luz. Não era capaz de trazer mudanças para as pessoas.

No fundo, o ruivo desejava estar perto de Naruto, ser contaminado uma vez mais por toda a luz dele. Estar de igual para igual com Sakura e Sasuke. O que houve no cinema foi um acidente, em hipótese alguma Naruto teria segurado a mão dele. Nem se aproximado tanto.

Isso o lembrava da primeira vez em que se encontraram no evento de fim de ano. Naruto teve vergonha de apertar a mão dele, alegando ser ruim com momentos de proximidade. Foi preciso um empurrão de Sakura para o loiro corresponder ao cumprimento.

Ele não desejava outro aperto de mão. Queria apenas um momento para se divertirem como amigos, sem interferências. Desejava fazer Naruto se aproximar dele de forma consciente. Por isso o lanche era tão importante. Com essa intenção em mente, tornou a abir a tela do notebook.

Mudou de ideia...?”

— Preciso que pegue uma foto no celular dele — Gaara pediu sem se referir diretamente a Naruto. Shukaku saberia do que se tratava.

Haha, sabia que não se cansava de espiar os outros! Acesso a galeria do pirralho em dois segundos!”, disse e sumiu.

Qualquer situação conseguia ficar ainda mais constrangedora com Shukaku. Gaara aguardou, rapidamente surgiu uma pasta no desktop cheia de fotos. Todas vindas do aparelho de Naruto.

Super fácil. O idiota ainda usa rede pública de wi-fi, acessar foi moleza! E então, qual delas, ou vai ficar com todas?”, perguntou, sugestivo. Havia um forte tom de chacota ali.

— A foto que ele tirou de mim na saída do cinema. Apague do aparelho dele junto de algumas outras aleatórias. Quero que pareça...

“...Um erro no sistema, sei. Agora chega de ficar me dando ordens!”

Shukaku reclamava, mas sempre obedecia. Enquanto ele fazia o serviço, Gaara observou as imagens. A maioria das fotos não haviam sido tiradas por ele, eram momentos diversos e em quase todos Sasuke estava junto. Próximo, com um olhar triunfante, digno de alguém que conseguia logo o que Gaara desejava.

Algo ferveu dentro do ruivo. O calor que veio ao corpo não era reconfortante, tinha adrenalina. Obscurecia a mente com o desejo de destruir. Gaara era familiar a esse sentimento e foi com horror que ele percebeu estar a sentir raiva de alguém que nunca fizera mal a ele.

Fechou a pasta. O ruivo queria acreditar que era uma pessoa nova. A raiva devia ser algo do passado. Sasuke não tinha culpa de nada. Existia uma solução para o problema das fotos: bastava Naruto colecionar novas fotos. Com ele...

O plano daria certo e os dois passariam uma tarde juntos jogando videogame na sala de estar.

— Shukaku...

Quê?”

— Das fotos... Poderia apagar mais algumas do rapaz de cabelo negro?

Deixo salvo em um backup para o caso de alguma emergência?”

— Na... — Parou na metade da frase. Acabaria se arrependendo por ser impulsivo, Naruto seria capaz de odiá-lo. — Sim. Guarde e esconda todas as fotos.

Deixou de ser impulsivo, mas cuidado, bondade demais pode ser o seu fim.”

— Não ligo em ser odiado.

Desde que ele conseguisse permanecer no caminho certo, nada mais importava. Porque mais importante do que conseguir a companhia de Naruto, era manter viva em si a chama que havia se apagado anos atrás.

O demônio dentro dele não ganharia uma segunda chance.


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Notas finais do capítulo

Notas:

Genkan: É a área de entrada das casas tradicionais japonesas, onde se retiram os sapatos.

Tadaima: Os japoneses possuem o costume de avisar quando chegam em casa. Em tradução literal significa “agora, neste momento”. Mas como fica estranho, traduz-se como “voltei neste momento”.

Okaeri nasai: É a resposta para a expressão acima. Significa “seja bem-vindo”. Em alguns animes vocês devem ter escutado apenas okaeri, isso acontece porque essa é a maneira informal de se utilizar essa expressão.

Próximo capítulo: Uchiha Sasuke.



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