Believe in your Dreams escrita por J S Dumont, Isabela Maria


Capítulo 1
Capítulo 01 - Isso não é vida


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa fanfic é um projeto já de um bom tempo, que Isabela e eu estamos criando, e decidimos postar assim que terminasse "Dez Razões...", já terminou algum tempo, mas dei uma esperada para adiantar alguns caps de fanfics minhas, principalmente que também estão na reta final ou quase lá, bom, ela começará a ser att semanalmente a partir do dia 22 de outubro, pois vou pegar esses dias para finalizar uma outra fanfic minha da categoria jogos vorazes. E então, a partir dai poderei me dedicar mais nesse novo projeto, até lá peço que deixem comentários e vão pegando para acompanhar, temos muitas ideias interessantes para essa história e esperamos de coração que vocês gostem.



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1.

Isso não é vida

Isabella

A primeira coisa que Charlie fez quando eu disse que meu sonho era ser modelo foi rir. Sim ele riu, riu exageradamente e me disse: “Para de ser idiota Isabella, você nunca será uma modelo”. É Charlie tinha dom para destruir os meus sonhos e conseguia isso com excelência.

Até os meus treze anos de idade eu ainda tinha aquele dom de fantasiar, de criar, imaginar e sonhar. Lembro-me de como eu gostava de assistir desfiles de moda e minha brincadeira favorita era imitar as modelos. Eu ficava horas parecendo uma idiota andando para um lado e para o outro na minha minúscula sala de estar, fazendo aquelas poses e imaginando as pessoas me olhando com admiração. Era sem sombra de duvidas minha brincadeira favorita, já hoje tudo isso ficou bastante longe.

Hoje a minha vida não tem mais espaço para os sonhos, e eu gosto de viver na mais dura e cruel realidade, com o tempo eu aprendi que viver com os pés no chão é mais seguro, assim pelo menos, não temos o risco de cair.

Só que o ruim de viver assim é que todos os dias são iguais. Sem nenhuma expectativa. Dos meus catorze aos dezesseis anos de idade isso parecia o mais terrível dos pesadelos, hoje eu já tinha aprendido a abrir os olhos e sair da cama apenas porque é necessário. Sem planos, sem metas. Viver apenas mais um dia, dia após dia, simplesmente porque é necessário viver.

É necessário se levantar. É o que eu sempre pensava, enquanto fazia a minha rotina de sempre, limpar a casa, cozinhar e esperar. Esperar Charlie chegar e começar a criticar tudo, como sempre ele adora fazer.

Charlie foi o homem que me criou, ele diz que me encontrou no lixo e que eu devo minha vida a ele, afinal, ele poderia muito bem me deixar lá até eu morrer de frio ou de fome, mas não, ele diz com orgulho que uma vez em sua vida teve um gesto bondoso, me tirou daquele lixão e me trouxe para sua casa.

Eu particularmente até hoje não imagino Charlie tendo esse tipo de atitude, não o imagino ajudando nenhum ser vivo do universo que não seja ele mesmo, mas é a história que ele me conta desde que me entendo por gente. Então acredito que seja a minha história.

Se toda essa triste história for verdade os meus pais então me jogaram no lixo enquanto ainda eu era uma recém-nascida, e quando eu era criança e soube dessa história ás vezes eu ficava me perguntando o porque, quem poderia ser tão cruel a ponto de fazer isso com uma criança? Charlie disse que eu era um bebê muito chato, chorava muito e vivia tendo cólicas, ele dizia que provavelmente meus pais não me suportaram e por isso me jogaram fora. Hoje eu já sei que todo esse papo era apenas para me magoar, mas quando eu era pequena eu acreditava fielmente nessa história, e ficava o dia todo chorando, achando que eu era a culpada por ter sido abandonada.

Agora com meus vinte e um anos de idade, eu sei que chorar e sentir cólicas não são motivos o suficiente para uma mãe abandonar um filho, o mais provável é que ela não me queria e me jogou fora como se eu fosse um objeto descartável e ponto. Ok, sem dramas.

Afinal, depois de vinte e um anos ainda seria muito estupido de minha parte se eu continuasse chorando, a gente vai aprendendo a conviver e a cicatriz vai cicatrizando, depois de um bom tempo eu fui vendo que a única coisa que me restara é levantar a cabeça, e não ficar chorando a vida inteira porque minha mãe não me quis e blá, blá, blá. Sempre penso que não se tem como sentir falta de algo que nunca teve. Aprendi a ser sozinha, depender apenas de mim mesma, não preciso mais de uma família e ponto final. Já basta ter que suportar Charlie com suas bebedeiras, com seu jeito grosseiro e interesseiro de ser.

Eu sei que não precisava disso, eu não precisava suportar Charlie, ele não é o meu pai. Porém, é difícil você cortar laços com a pessoa que colocou o pão em sua boca, ele é um traste isso é um fato. Mas foi o traste que me criou e que me sustenta até hoje.

Seria mentira de minha parte dizer que sinto algo por ele, algo que pudesse ser comparado com um amor de filha por um pai, não, não tenho. Também não sei se eu tenho que ter gratidão por um homem que me salvou para me tornar sua empregada, ás vezes durante as horas em que estou sentada sem nada para fazer fico pensando no porque ainda continuo aqui. Depois de muito pensar eu chego á conclusão de que devo ter medo, o lá fora é muito duvidoso. Eu não saberia para onde ir.

  Charlie é um ser desprezível, mas quando ele diz: “Você precisa de mim, pois não sabe fazer nada do que limpar e cozinhar, se eu te jogar na rua com certeza você vai morrer de fome ou vai virar uma escrava de outra família” é a mais dura e cruel verdade. Eu sei que a droga do mundo não é fácil, e onde você nasce faz uma grande diferença, eu não nasci em um berço de ouro, se nasci não foi lá que fui criada. Eu não tive a oportunidade de outras pessoas em construir uma carreira e saber me manter sozinha.

Eu sei que as horas do relógio vão passando e que o mundo nunca para de girar, e a cada dia que permaneço nessa vida fica mais longe de esse ciclo um dia chegar ao fim. Mas eu não conseguia encontrar uma saída, se existia uma luz no fim do túnel eu não estava enxergando-a.

— Ahh finalmente você chegou... Seu sorvete já está derretendo... – disse meu único e melhor amigo Mike Newton.

 Ele mora no mesmo bairro que eu e foi quem me ensinou a tocar piano quando eu tinha quinze anos de idade. Depois de um tempo eu parei, Mike sempre ficava insistindo que eu deveria continuar, e que sou tão boa para tocar quanto para cantar, mas achei perda de esforço, ás vezes quando estou fazendo as tarefas domesticas eu acabo sempre cantando, mas sei que sempre continuará assim, soltando minha voz entre quatro paredes.

Mike atualmente trabalha como professor de musica, isso há dois anos, ele é ótimo com instrumentos e sabe tocar quase todos, ele queria me ensinar o violão, mas eu simplesmente parei de ir a casa dele. Prefiro-o como um amigo conselheiro, embora eu nunca siga nenhum conselho dele.

 - Desculpe, eu estava lavando roupa... – respondi, sentando-me a mesa em frente a ele.

— Mas você não tinha lavado ontem? – ele perguntou, enquanto eu começava a saborear o meu sorvete de chocolate. Meu preferido.

— Charlie vomitou de novo... – eu disse, era sempre assim ele chegava tão bêbado que ficava gritando, reclamando da vida e também vomitando, ai sempre sobrava para mim, para limpar toda sujeira que ele fazia.

— Você não precisava suportar isso, você sabe que se for por causa de dinheiro... – ele começou.

— Eu já conversei com Charlie referente a eu trabalhar... – eu o interrompi, em seguida soltei um suspiro. – Ele não quer e começou a falar palavras que... – eu me calei, eu não queria falar para ele ás coisas que Charlie falava, eu sabia que ele iria ficar irritado, ele vivia fazendo ameaças que um dia iria bater em Charlie, e eu sempre o convencia a desistir, mas desde a ultima vez que ele fez essa ameaça eu tinha decidido a parar de contar para ele ás coisas que Charlie fazia ou falava.

— Charlie é um ser desprezível, você sabe muito bem porque ele não quer que você trabalhe, está claro que ele não quer que você seja independente, pois sabe que você vai abandonar ele, ninguém quer viver com ele, é um castigo, não sei como você já aguenta isso há tanto tempo! – Mike disse e eu terminei o meu sorvete, e tentei não responde-lo, eu não queria continuar falando de Charlie, pois no fundo eu sabia que ele tinha razão, eu que todos esses anos sempre fico adiando o inevitável, eu sei que uma hora eu terei que tomar uma atitude para mudar a minha vida. Eu só não sei quando e como terei essa coragem.

— Bella... Você sabe que não está sozinha... – ele começou, colocando a mão em cima da minha e a apertou levemente. – Se você precisar de qualquer coisa, você tem eu, eu sou seu amigo e vou estar aqui para te ajudar...

Eu sorri forçadamente e agradeci em pensamentos por ter pelo menos a amizade de Mike, ele era a única pessoa boa que sei que está do meu lado, sem interesse algum.

###

Durante a volta para casa fiquei pensando nas palavras de Mike, encontrar com ele era um dos únicos momentos da qual eu saia de casa, eu sei que ele tinha razão, eu sei que eu estava vivendo com Charlie pela conveniência, acho que de tanto Charlie falar em minha mente que eu não conseguiria sobreviver sem ele, eu acabei acreditando.

Quando entrei em casa vi que não estava mais sozinha, lá estava ele esparramado no sofá com uma garrafa de cerveja na mão, franzi as sobrancelhas, olhei a hora no meu relógio de pulso e vi que ainda não era a hora dele chegar. Ele estava trabalhando numa oficina mecânica a mais ou menos um ano, desde que ele arrumou esse emprego as coisas estava menos insuportável, ele só bebia na volta do trabalho, eu podia passar o período da manhã e da tarde sozinha e ainda tínhamos sempre dinheiro, embora eu não ache que todo o dinheiro que Charlie tem é do seu salario da oficina mecânica.

— Não era para você estar no trabalho? – perguntei a Charlie.

— Aonde você estava? Era para você estar fazendo meu almoço... – ele disse ignorando minha pergunta, depois deu mais alguns goles de cerveja, e ligou a televisão.

— Como eu ia adivinhar que você ia vir para casa? Era para você estar no trabalho... – eu respondi.

— E você não come? – ele então olhou para mim. – Vive de ar por acaso?

— Não Charlie, eu como, mas eu almoço mais tarde... – eu respondi.

— Então vai fazer o meu almoço, anda! – ele disse, como se eu fosse apenas um cachorrinho e ele ficasse mandando em mim, ele tinha essa mania de usar essas palavras: “Fica quieta! Cala a boca! Anda, vai logo! Faz o que estou mandando!”. Ás vezes isso me deixava louca.

Eu fiz o almoço em silencio, porém ás vezes Charlie ficava gritando da sala perguntando se o almoço já estava pronto, e soltava uns resmungos dizendo que eu estava lenta demais, enquanto eu cozinhava varias coisas ficavam passando em minha cabeça, eu ficava me perguntando o que teria acontecido para ele estar em casa esse horário, ele não queria me responder, mas ainda eu iria insistir nessa pergunta.

— Onde você estava? – Charlie perguntou assim que nos sentamos a mesa para comer.

— Fui tomar um sorvete com Mike... – eu disse, e comecei a comer lentamente.

— Afff... Essa comida não está nada salgada, eu já não te ensinei a quantidade de sal que se coloca numa comida?... – ele disparou irritado, eu suspirei, ele sempre tinha que arrumar defeito em minha comida. Ele deu um soco de leve na mesa, suspirou, resmungou alguma coisa, mas depois voltou a comer. Reclama, reclama, mas o infeliz come tudo. – Você está falando do Mike Newton, aquele musico?

— Isso mesmo... – eu disse, agora evitando olhar para ele, meus olhos estavam apenas no meu prato.

Charlie deu uma risada que julguei um tanto sarcástica.

— Você sabe o que ele quer não sabe? – ele perguntou e então voltei a olhar para ele. – Ele quer transar com você, mas nem se anime com isso não, o que ele vai fazer é dormir com você e depois te jogar fora assim como seus pais jogaram...

— Mike é meu amigo! – eu disse irritada. Ele tinha que sempre ficar se lembrando, e ainda jogando na minha cara que me encontrou no lixo?

— Ah claro... Amigo? É o que ele vai dizer para você depois de te levar para cama, porque ele não vai te levar a sério, Mike Newton é um mauricinho, ele é daqueles tipos de caras que procuram mulheres inteligentes para casar, e não apenas uma mulher que sabe limpar casa e fazer comida, que alias faz muito mal feita! – ele falou daquele seu jeito grosseiro de sempre. Eu bufei e me levantei da mesa, peguei meu prato e fui para sala de estar, não dava para ficar um minuto próximo de Charlie, parecia que sua maior diversão era me colocar para baixo, e me magoar.

Nunca conseguia ter amigos, nunca consegui ter um namorado, sempre tive vergonha de Charlie, nunca deixei uma pessoa entrar na minha casa com medo dele aparecer e ficar me fazendo passar vergonha, ele parecia se sentir satisfeito em sempre me deixar mal, em sempre me deixar triste e eu nunca entendia o porque disso.

Para que ele me salvou? Para ter alguém para descontar sua raiva, sua frustração? Para disparar dizendo que é minha culpa que sua vida está uma merda? Como se eu fosse culpada por ele ser um traste que só sabe beber e reclamar. Ás vezes eu fico pensando se minha vida seria melhor se ele morresse, ou se eu fizesse o que Mike disse e fugisse, mas fugir sempre fora uma decisão mais arriscada, eu não teria para onde ir, eu não tenho nem cinco dólares no bolso para fugir.

Ás vezes eu ficava observando Charlie, tentando descobrir aonde ele coloca o dinheiro, mas nunca uma nota sai de sua carteira, ele sempre já vinha com as compras, ele sempre era o que comprava tudo, nunca, nunca deixava uma nota de dinheiro comigo.

  Fugir sem dinheiro seria uma tolice, aconteceria o que Charlie sempre diz: Sem ele eu morreria de fome, ou viraria escrava de alguém. Isso quando ele não diz: Que eu teria que vender o meu corpo por um prato de comida.

 Era por isso que eu não pensava nisso, era por isso que eu não queria ficar criando expectativas em minha mente, achando que minha vida poderia ser diferente da que eu tenho hoje. Pois a queda de uma desilusão é sempre, sempre grande.

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No outro dia eu achei que Charlie iria trabalhar, mas nada, continuou em casa no período da manhã e da tarde, sempre no sofá, assistindo jogos de futebol e se acabando com a cerveja. Eu sabia que eu precisava entender o que estava acontecendo, mas os fatos já deixavam tudo bastante claro, Charlie foi novamente demitido.

— Você foi demitido não foi?  - eu perguntei para ele entrando na sala e olhando para seu estado deplorável.

— Fui, mas também aquele lugar é uma merda, aquele chefe idiota acha que só porque é o dono da oficina pode ficar me fazendo de seu escravo, não, não mesmo, ninguém manda em mim! – ele respondeu e notei que sua voz já estava um pouco embolada, ele deveria ter bebido cerveja demais.

 - Você discutiu de novo com o chefe! – eu reclamei, discordando com a cabeça. – Por isso que você vive trocando de emprego, acha que pode trabalhar em um lugar onde não mande em você, isso quando você não vai bêbado para o trabalho... – eu respondi.

— O que você entende de trabalho? Você nunca trabalhou! – ele falou, se levantando do sofá e me fuzilou com o olhar.

— É, acho que já está na hora de eu trabalhar, porque se não vamos acabar morrendo de fome! – eu respondi.

Charlie então deu uma risada.

— Eu já deixei você passar fome Isabella? Não, não é! Então cala a boca e vai cozinhar, e vê se põe mais sal nessa comida... Vê se dessa vez faz alguma coisa que preste! – ele disse, e depois voltou a sentar no sofá e continuou rindo. – Trabalhar, coitada... – ele discordou com a cabeça e voltou a beber.

Eu dei um suspiro irritado e fui para o meu quarto e bati a porta com força. Isso não é vida, não considero vida viver enjaulada, aguentando um homem desprezível como um pai sendo que ele nem é meu pai, e ainda, viver ouvindo coisas dele que ele não deveria falar para ninguém. Eu já estava cansada de ser vista como uma pessoa que não serve de nada, eu já estava cansada dele ficar falando palavras duras, me humilhando e me tratando como sua empregada.

Eu não chorava mais, não caia mais lágrimas de meus olhos. Mas por dentro eu sentia meu sangue quente, fervendo, como se em qualquer momento fosse ficar em chamas. Eu não sei até quando eu suportaria Charlie, eu não sei até quando eu aguentaria essa vida. Mas eu estou sentindo que tudo estava chegando ao fim.

 Continua...


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Notas finais do capítulo

N/A: Voltamos no dia 22 de outubro, até lá!