Caso 47 - Segredos de um Crime Vol. 1 escrita por Caroline Rodrigues


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Heeey!

Bem pessoas, só posso dizer que o capítulo ficou um pouco grandinho
E que quase todos serão assim
Mas vale a pena!



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Philadelphia - PA - Chastnut Hill.

 

 

Era início da manhã quando saímos de casa, e pegamos toda a chuva daquela manhã de começo de outono, as estradas estavam molhadas o que fazia o carro deslizar com uma certa facilidade alarmante. De D.C até a Philadelphia eram cerca de três horas de carro, o que dispensava o uso do jato do departamento, fazendo com que Stephen fosse como motorista. O caminho foi silencioso, mais por minha parte do que por ele que apenas respeitava minha falta de palavras. Já estávamos passando pelo começo do parque Central de Chastnut, onde as árvores que antes eram verdes e vibrantes tomavam um tom amarelado em suas folhas se preparando para cair.

 

— Paul disse que fez uma reserva em nossos nomes em um hotel na rua 12 com a 21, do outro lado do parque. Se entrar nessa rua, sairemos bem próximo a metade do parque. - falei apontando para a rua a nossa esquerda. As ruas formavam uma espécie de círculo em volta do parque, e depois se ramificavam pelo resto do bairro.

 

— Olha só, a ruiva fala ! - Stephen fez graça enquanto fazia a curva na rua indicada. Não pude deixar de notar o tom de acusação escondido em sua " brincadeira".

 

— Só continue dirigindo, a descrição diz que é um prédio de tijolos azuis. - me virei para a janela tentando olhar através da chuva fina que caia. A neblina dificultava a visão e me fazia ter certeza que Stephen era um exímio motorista. - É esse aqui.

 

Stephen me olhou com os olhos apertados, e depois voltou sua atenção para o prédio. Aparentemente não havia um estacionamento para clientes, e tenho certeza que a carranca que se formava no rosto do meu parceiro era por ter que deixar seu Audi modelo do ano na rua sem nenhuma proteção. Bem, nós  deveríamos ser a proteção. Assim que ele estacionou em uma vaga do outro lado da rua, pulamos para fora subindo a gola  de nossos sobretudos para afastar o máximo as gotículas de água.

 

— Autumn's ? É sério?  - Stephen perguntou olhando a fachada do lugar. Era um prédio simpático, se é que posso dizer. Tinha três andares, e se estendia por alguns metros da rua com poucas casas. Era todo pintado de azul marinho, mas tinha alguns pontos descascados denunciando  que não era pintado a alguns anos. As portas eram de madeira de pinho escura, e contava com uma sineta que eu aposto que tocaria assim que a abrissemos. Acima da porta ficava uma placa cinza com letras em laranja chamativo onde o nome Autumn's  se destacava das letras menores que formavam uma frase : Prestando serviços desde 1867. É, relíquias.

 

— Qual é!  Não deve ser tão ruim assim. -falei me lembrando de passar em frente esse lugar todos os dias quando voltava da escola - Nunca entrei aí, mas sempre me pareceu aconchegante.

 

— Claro, provavelmente seremos atendidos por uma velhinha que assim que descobrir que somos do FBI, vai querer tentar tirar cada detalhe que conseguir sobre o que fazemos aqui para contar as amigas do bingo. - ele torceu o nariz pegando nossas malas e me estendendo a minha, enquanto a chuva molhava meus cabelos presos pelo elástico.

 

— Não seja tão impiedoso com as velhinhas. - dei uma risada fina me colocando a andar, atravessando a rua.

 

Assim como eu esperava, no momento em que abrimos a porta uma sineta fina anunciou nossa chegada ao local. Stephen estava bem atrás de mim. Por dentro o local me lembrava um verdadeiro hotel de 1867, porém em um estado melhor do que os 151 anos que o lugar tinha. As paredes eram pintadas de branco, com vários quadros e fotografias em preto e branco de pessoas que, acho eu, eram personalidades famosas pela cidade. Morei aqui por seis anos, e não via nenhum rosto conhecido até a metade em que olhei. Havia uma escada lateral do lado direto que dava acesso aos andares de cima, e no fundo um balcão também branco e de madeira com um computador de um modelo aparentemente novo, um vaso de flores e um pote de canetas. Ao lado esquerdo e bem no canto, uma mesinha com quatro cadeiras e algumas revistas estava ali parecendo esquecida e abandonada. Não havia poeira aparente e o lugar era realmente tão aconchegante quanto eu achei que seria.

 

— Em que posso ajudar?  - um homem de sueter vermelho e cabelos ralos apareceu atrás do balcão. Ele deveria ter por volta dos 50 anos ou menos.

 

— Bom dia -Stephen se prontificou caminhando até o balcão e estendendo a mão após retirar as luvas - Sou o Agente Especial Do FBI, Stephen Winston - apertou a mão do homem que teve os olhos saltados um pouco após ouvir a palavra FBI brincar nos lábios de Stephen - E essa minha parceira, também do FBI, Nina Stewart - apontou para mim que dei um sorriso tímido e apertei a mão estendida do senhor - Temos reservas em nossos nomes.

 

— É um enorme prazer recebe - los no hotel. Meu nome é Otto Hudson. - o homem sorriu de um jeito que achei exagerado e voltou sua atenção para a tela do computador - Bem, existe uma reserva de um quarto no nome de Stephen Winston e Nina Stewart  sim.

 

— Apenas um quarto ? - perguntei unindo as sobrancelhas olhando para Stephen que apenas deu de ombros

 

— Sim. Um quarto, duas camas de solteiro. - se virou para o painel atrás de si pegando uma chave - Quarto 45, terceiro andar. - entregou a mim - Querem ajuda com as malas ?

 

— Não, obigado. Eu mesmo posso leva-las. - Stephen se prontificou pegando minha mala e caminhamos em direção a escada.

 

— Não tem um elevador. - saiu mais como uma afirmação do que como uma pergunta.

 

Não deve ser tão ruim.— Stephen repetiu o que eu havia dito em uma tentativa de imitar minha voz.

 

— Babaca.  - ralhei enquanto começávamos a subir os degraus de madeira.

 

— Pense pelo lado bom, nada de velhinhas intrometidas. - ele sorriu de lado me arrancando um sorriso.

 

Subimos em silêncio os três longos lances de escada. Não que eu seja sedentária, mas modernizar e colocar um elevador não faria nada mal. Ou talvez Stephen esteja certo eu seja um tanto acostumada demais com o que ele chama de luxo. Eu prefiro encarar como necessidades, ele agradeceria um elevador agora que está carregando duas malas pelos degraus altos dessa escada de mais de 150 anos.


O quarto em que ficamos era encantador. Duas camas de solteiro, paredes pintadas de bege claro, carpete escuro, uma mesa de trabalho e uma cômoda com gavetas. O banheiro era médio, e contava até com uma banheira.

 

— Segundo o laudo do legista, as vítimas tomaram doses cavalares de Xenônio* pouco tempo antes da hora do óbito - Stephen disse da mesa do quarto enquanto eu terminava de me trocar no banheiro.

 

— Xenônio?  - perguntei franzindo a testa enquanto voltava para o quarto - Isso não é um tipo de gás ?

 

— Sim, um gás que pode ser usado como anestésico. - Levantou uma das folhas -  A quantidade que o legista achou era tanta, que ele repetiu o exame. E não foi apenas o  xenônio,  encontram também bupivacaína**.

 

— Isso é estranho. -ponderei um pouco enquanto ele analisava mais papéis - Acho que já está na hora de fazermos uma visitinha ao Tenente Wilde e ao legista.

 

...

 

A Delegacia do Distrito ficava a poucos metros do hotel onde estávamos, então dispensamos o carro e caminhamos até lá. Eram três prédios um ao lado do outro que formavam todo o serviço de polícia da cidade.

 

— Estamos procurando pelo tenente Wilde - falei para a moça que estava atrás do balcão na recepção - Agentes especiais - mostramos os distintivos com um sorriso forçado.

 

Quando temos que lidar com mulheres eu sempre tomo a frente. Digamos que Stephen seja um tanto quanto passional.

 

— Então Sullivan realmente mandou sua melhor dupla . - uma voz grossa soou atrás de nós nos fazendo virar de encontro a ela - Detetive Stewart e Detetive Winston, estou certo ?

 

O homem era o típico policial comedor de rosquinhas. Usava um terno barato mas bem passado e alinhado. Os cabelos brancos eram espetados pra cima e bagunçados, e claro, ele deveria estar acima do peso pela quantidade absurda de açúcar que consumia. Era perceptível pelas pontas rosadas de seu dedo : calda de morango.

 

— Creio que sim, senhor. - Stephen estendeu a mão e comprimento o homem - Chegamos a poucas horas e resolvemos dar um olhada no que tinham.

 

— Deveriam ter descansado o dia de hoje e começaríamos amanhã logo cedo - deu de ombros fazendo leves movimentos com a cabeça que chego a crer ser um tique nervoso.

 

— Acho que o quanto antes começarmos, menos corpos teremos de enterrar. - me pronunciei pela primeira vez diante dele. Pude sentir o sorriso se formar no rosto de Stephen.

 

Os olhos do homem parrudo passaram dos meus pés à minha cabeça, se fixando no meu rosto como se procurasse algo familiar. Mantive a expressão enquanto ele me encarava, até ele desistir e desviar o olhos por mero segundos até pousar os olhos em mim novamente.

 

— Stewart não é?  - perguntou apontando o dedo sujo de calda na minha direção - Não seria a filha do Dr. Stewart?

Um leve desconforto começou a se formar em meu peito. Eu não havia avisado meu pai que viria e esperava entrar e sair sem que ele soubesse. Mas acho que meu plano acabou de falhar.

 

— Sim, eu mesma. - respondi firme sem vacilar - São amigos ?

 

— Ah, não. Não somos - deu um sorriso amarelo que me pareceu sincero - Ele é o médico da família sim, mas não sei se a palavra amigos se aplica. - fez uma pausa como se pensasse em algo - Seu pai é um bom homem.

 

—Creio que sim - respondi desconfortável. Meu pai era um homem bom, e mesmo assim eu me mantive afastada dele todo esse tempo. - Mas não acho que estamos aqui para falar de dele, e sim de algo maior.

 

— É claro, claro. Me acompanhem por favor. - pediu já se virando e caminhando para dentro das portas de vidro da delegacia.

 

— Mal chegamos e você já foi grossa duas vezes com o homem - Stephen sussurrou em meu ouvido enquanto caminhávamos - Não vai me ganhar dessa vez.

 

— Odeio esse competições estúpidas - ralhei também sussurrando- Mas lembre-se , não valem grosseiras forçadas.

 

— Odeio essas competições estúpidas—  Stephen imitou o que eu disse em uma tom de voz que ele achava ser igual ao meu. - Eu vou ganhar Stewart.

 

— Veremos Winston!  - sorri olhado em seus olhos.

 

Sempre fazíamos isso. Foi assim que Stephen ganhou minha confiança, invés de me reprimir pelos meus modos, competia comigo para ver quem era pior. Normalmente eu ganhava, mas ele tinha seus momentos de glória devo admitir.

 

— Bem, tudo que temos já foi enviado a vocês - Wilde disse enquanto entrávamos em uma sala pequena em que o nome dele era visto na porta. A sala refletia sua personalidade. Havia quadros e porta retratos com ele, uma mulher e duas crianças espalhadas pelo lugar. Dois troféus de Basebol estavam em uma estante ao lado de um quadro com medalhas de honra ao mérito. A mesa era de madeira escura e uma caixa de rosquinhas pela metade estava ali. Como eu disse : Calda de morango. - Sentem-se.

 

Stephen e eu nos sentamos nas duas cadeiras em frente a mesa e o tenente na poltrona atrás da mesa. Confortável para comer rosquinhas .

 

— O relatório do legista era meio vago - Stephen disse assim que nos acomodamos - Queríamos conversar com ele, se possível.

 

— Claro, achei mesmo que iam querer - ele fechou a caixa de rosquinhas e a colocou de lado pegando uma pasta caramelo - Se tiverem alguma pergunta...

 

— Sim - falei curvando o corpo para frente - No seu relatório, não era específico a relação de ias vítimas. Existe alguma ?

 

— Aparentemente, não. Como eu disse lá, eram todas boas pessoas tanto o rapaz, quanto às três moças. - ele suspirou - No primeiro caso achei que fosse apenas uma tragédia,mais uma. Mas quando o segundo apareceu já comecei a desconfiar. Mas veja bem, nunca ouvimos de um caso de um serial Killer por aqui. Meus homens não fazem nem idéia do que ou quem procurar, e eu sou um cara do exército, sutileza não é meu forte. - fez um gesto com as mãos para cima - Então lembrei do Sullivan e decidi pedir ajuda, cobrar alguns favores.

 

— Entendo. - falei manejando a cabeça para o lado - As vítimas se conheciam? - peguei meu bloquinho e Stephen o seu. Adoramos anotações, cada um faz as suas e no final do dia juntamos as duas.

 

— Não, não diretamente - se remexeu na cadeira - A primeira e a quarta vítima estudavam na mesma universidade, mas em cursos e horários diferentes. Nenhum amigo em comum. E a segunda trabalhava em uma lanchonete de estrada  talvez já tivesse visto as outras três, não tenho certeza. Já o garoto, parece que só veio visitar os pais e acabou ficando por aqui.

 

— Atividade recente? - Stephen perguntou e emendou depois de ver a confusão no rosto do tenente - Quero dizer, nenhuma atividade recente em comum?  Festas, palestras, shows ou qualquer coisa que possam ter feito que as ligassem ?

 

Ele pareceu pensar no assunto. O grande problema dos polícias hoje em dia é não olharem de todos os ângulos. Psicopatas dificilmente buscam vítimas ao acaso. Algo tem que ligar e formar a sua teia de insanidade.

 

— Não, nada também. Pelo menos não que os familiares e amigos tenham nos contados e nossas investigações também não levaram a nada.

 

— Certo -falei fechando o bloquinho - Gostaríamos dos endereços de onde podemos encontrar cada um com quem falou sobre as mortes - vi uma ruga se formar em sua testa como que diz : Esta insinuando que não sei fazer meu trabalho? Tratei de me explicar -  Não duvidamos de suas investigações, mas as vezes deixaram passar algo que nós podemos achar crucial.  Pontos de vistas diferentes, por isso estamos aqui.

 

— Eu entendo. - fungou o nariz meio relutante - Vou pedir que lhe entreguem isso .

 

— Obrigado. - Stephen agradeceu por nós -Pode nos levar ao legista agora ? Gostaríamos de falar com ele.

 

— Claro.

 

Caminhamos em silêncio até o final do corredor onde um elevador no deixou no terceiro andar. Modernidade nunca é exagero, é o que eu sempre digo. Ou penso, tanto faz.

 

— Dr. Robbins?  - Wilde chamou dando leves batidas em uma porta de metal  - Trouxe o FBI para falar com o senhor.

 

De fora podíamos ver um homem de cerca de 60 anos usando um jaleco branco e óculos de grau. Os poucos fios de cabelo em sua cabeça já eram brancos, e suas rugas formavam diversas linhas em sua face. Ele parecia concentrado em algo no microscópio.

 

— Entrem - disse voltando sua atenção para o que quer que estivesse olhando - Estou apenas analisando algumas amostras de tecido.

 

— Bem, eles querem saber sobre os casos de lobotomia - Wilde falou enquanto entrávamos - Vou dexa-los a sós, tenho que dar um telefonema.

 

Acenei de leve e Stephen se manteve em silêncio. Ponto para ele. Ele não se despedia nunca.

 

— Em que posso ajuda-los ? - perguntou o médico se virando para nós.

 

— Sou o detetive Winston e essa a detetive Stewart- apontou na minha direção - Gostaríamos de esclarecer alguns pontos de seus relatórios.

 

— Ah - ele desviou rapidamente os olhos - Desculpe se fui muito vago, mas estava com uma lista enorme para despachar. Podem perguntar o que quiser.

 

— Nós entendemos - falei pegando meu bloquinho - Me diga Dr. Robbins, as lobotomias, o senhor classificaria como profissionais?

 

— Pergunta interessante - ele ponderou apertando os lábios - Respondendo a ela, não. - ele pegou alguns papéis em uma pilha - A primeira vítima, Alana Walker,  morreu por hemorragia depois de uma lobotomia transorbital aos métodos de Dr. Frreman.

 

— O que quer dizer ? Existem lobotomias diferentes? - Stephen perguntou erguendo uma sobrancelha.

 

— Ah existem sim - o médico sorriu frio - Nosso assassino se inspira nos métodos de Walter Freeman*** - acho que ele esperava que soubéssemos do que ele estava falando, mas como não aconteceu... - Bem, ele basicamente usa um picador de gelo colocado no olho da vítima com a ajuda de um martelo, e assim separa os lobos frontais do tálamo, impedindo a transmissão e recebimento de estímulos sensoriais.

 

Encarei Stephen e ambos engolimos em seco parando nossas anotações. Já vimos de tudo, é fato. Mas algo assim era doentio demais até para nós.

 

— Todas as vítimas morreram do mesmo modo ? - perguntei após uns segundos me recuperando do choque.

 

— Não. Quer dizer, todas passaram pelo mesmo método de lobotomia, mesmo procedimento, mesmos instrumentos. Mas.. - pegou uma das folhas - A última vítima morreu antes do processo acabar, de choque anafilático.

 

— Alergia ? - minha voz saiu mais fina que o normal.

 

— Sim, a última vítima era alérgica a bupivacaína. - fez uma pausa lendo algo em seus papéis - Ao que parece nosso cara achou que colocando mais analgésicos e aumentando a dose de anestésicos ia impedir a morte do seu "paciente" - fez aspas com dos dedos em sinal de ironia - A vítima era alérgica, em poucos segundos ela morreu mas ele decidiu continuar mesmo assim, talvez como experimento -deu de ombros soando indiferente.

 

— Dr. Robbins, o acesso a compra de bupivacaína e xênonio, gás que o senhor mencionou estar presente em grande quantidade nas vítimas, é aberto ou restrito? - Stephen batia a caneta em seu bloquinho enquanto perguntava. Sabia que ele estava se controlando.

 

— Restrito. É totalmente restrito. - tirou os óculos para coçar os olhos cansados - Não é algo que se compra em uma farmácia se é o que querem saber. É precioso ser um médico para tal coisa um dono de hospital com uma licença.

 

Poderei por um instante. Se não era comprado fácil, então o assassino só poderia ser médico.

 

— Então o senhor diria que nosso assassino pode ser um médico? - perguntei. Isso diminuiria nossas buscas.

 

— Nem de longe - balançou a cabeça em negação - Veja bem, a primeira vítima tinha incisões grotescas, ele não sabia o que estava fazendo nem com o que estava mexendo. Ele moeu o cérebro dela, virou carne moída - suspirou umedecendo os lábios e recolocando os óculos - Ele foi melhorando com a segunda vítima, e na quarta ele fez um trabalho... Deus me perdoe por dizer isso - suspirou novamente - Mas ele fez um trabalho perfeito , mas ainda sim, nada profissional.

 

— Ótimo - bufei frustrada - Pode ser qualquer um.

 

— Vamos com calma Stewart - Stephen me repreendeu.

 

Antes que eu pudesse responder, duas batidas na porta de metal nos interromperam. Era um policial fardado, alto e de cabeça raspada. Apostaria em ex militar.

 

— Detetive Stewart? -chamou minha atenção - Tem um senhor procurando pela senhora lá em baixo. Ele diz que é urgente.

 

Olhei para Stephen, e pude ver que ele pensava o mesmo que eu, novamente: Quem poderia ser?

 

— Eu já volto - falei fechando o bloquinho - Termine com o Dr Robbins e me encontre lá em baixo.

 

Ele apenas assentiu e eu sai da sala segunda o policial. Em poucos minutos já estava no saguão da frete próximo ao balcão.

 

— É aquele ali - o policial apontou para um homem virando de costas, vestido com um casaco marrom e calças bege. Me era famíliar, mas eu não sabia de onde.

 

— Obrigada .. - me virei olhando o crachá em seu peito - Polícial Cooper.

 

Ele sorriu de leve e saiu a passos largos pelo lado oposto. Caminhei para mais próximo do homem, e como se tivesse sentido minha aproximação ele se virou.


Perdi o ar assim que reconheci seu rosto. Fiquei parada onde estava, de olhos arregalados e coração errando o compasso.

 

— Pai ?


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Notas finais do capítulo

* Xenônio - é um tipo de gás raro usado como anestesia em alguns casos *


** Bupivacaína - é um anestésico local do tipo amino-amida de longa duração com efeitos anestésico e analgésico.**


*** Dr. Walter Freeman era um médico norte americano conhecido por ter popularizado a lobotomia transorbital. Fez mais de 3500 lobotomias e a maioria sem muitos conhecimentos científicos. É considerado por muitos como um sádico psicopata ***



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