Take me to church escrita por Andreza Cullen


Capítulo 11
Nono capítulo




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Havia um zumbido horrendo no fundo, um bi bi bi soava um pouco mais forte, mas a atenção se dava a um amontoado de vozes, provavelmente uma discussão. Estava escuro, muito escuro, e por mais que eu me forçasse não enxergava nada.

As vozes continuavam, agora como plano de fundo dando seu lugar a uma dor latejante na cabeça, e mesmo que estivesse tudo escuro, tudo girava.

Percebi que eu estava de olhos fechados, e com muito custo, ultrapassando as camadas de dor que insistiam em me desanimar, consegui abri-los.

Marco estava no celular, gritando com alguém do outro lado da linha. Suas roupas estavam um pouco sujas, sua expressão séria e nervosa.

— Mas que merda... - assim que comecei a frase, ele se virou rapidamente percebendo que eu havia despertado. Eu fazia forças para não fechar os olhos, que provavelmente estavam bem inchados.

— Você acordou! - ele foi até mim sentando na cadeira do lado da maca.

— Eu disse que usaríamos aquele seguro de saúde algum dia – tentei brincar, mas ele me olhou sério, jogando seu celular em uma poltrona – me atualize – eu falava com dificuldade, pois minha garganta estava um tanto quanto fechada.

— Assim que eu dei uma surra naquele pirralho, chamei a emergência e trouxemos você para cá. Você não corre risco, mas não poderá fazer esforço por algumas semanas.

Ele parecia cansado, obviamente não havia tomado banho ainda. Olhei de relance para o relógio ao lado da maca e vi que ainda eram 02:00 da manhã. Ignorei a dor imensa no meu estômago e minha cabeça explodindo.

 - Continue...

— Brida estava aqui, mas assim que contei a ela que foi o Guilherme quem te bateu, ela puxou o Matheus pelo braço e saiu - ergui a sobrancelha, Guilherme estava ferrado - Matheus achou melhor esperar para ver se você estava bem antes de ligar para Alhena.

Suspirei aliviada. Alhena ainda não sabia de nada, e isso era bom. Se ela soubesse, já teria vindo aqui e feito um escândalo, a cidade toda já estaria sabendo de nós e estaríamos ferrada, pois seus pais iam fazer de tudo para estragar os nossos planos.

— Os policiais apenas disseram que não podem provar que foi o Guilherme - sua voz deixa claro sua irritação, revirei os olhos. Mas é claro que eles iam dizer isso, que policial daquela cidade ia ficar ao lado de uma pecadora imunda aos olhos dos outros como eu? Eu nem possuía alguma esperança do contrário. Vi que ele pegará seu celular e começou a digitar um número.

— Pra quem você tá ligando? - indaguei, ainda com a garganta ardendo.

Marco não respondeu, mas percebi que alguém no outro lado da linha atendeu.

Ele saiu da sala, me deixando sozinha aquilo estava começando a me deixar preocupada, nós éramos como irmãos, e eu sei que ele não deixaria isso barato.

A dor latejante não parecia diminuir nem um pouco, e me lembrei que em poucas horas estaríamos nos mudando.

Guilherme já não importava mais e nem o que ele havia me feito. O que importava era que eu estaria fora daquele inferno, tudo aquilo acabaria em breve. Eu só precisava deixar tudo isso para trás e começar minha vida nova com as pessoas que eu amo. Com minha família e minha Alhena.

Eu ainda torcia para que ninguém houvesse contado a ela sobre o ocorrido. Não era fácil pensar quando sua cabeça parece estar levando choques a todo instante, mas não me restava muito mais a fazer ali, sem celular ou qualquer outra coisa.

Faltava pouco, muito pouco, e eu sei que tudo isso poderia ir por água abaixo caso ela soubesse.

Quando Marco retornou, percebi que ele estava um pouco corado.

— Temos um advogado agora.

 

 

Um sedativo me fez apagar e só acordar três horas depois, ainda na maca do hospital. Ouvi alguns gritos e reconheci a voz de imediato.

Minha visão ainda era turva, mas consegui distinguir a silhueta de Alhena enquanto ela gritava com alguém de branco.

— Eu não me importo! Acho bom vocês agilizarem todos esses processos, quero ela em perfeito estado e rápido!

— Estamos fazendo o possível no tempo que nos cabe – o médico, um velho com cara de poucos amigos, respondeu grosseiramente.

— Nosso advogado está a caminho, acho bom ele não contatar que você está sendo negligente por homofobia.

— Você não precisa vitimizar ela, todo mundo sabe que isso não existe no Brasil.

Ele saiu da sala, mas percebi que havia baixado seu tom de voz.

Aquela frase me fez soltar uma risada sem humor algum, algo tão típico dessa cidade, que eu nem deveria ficar surpresa.

Provavelmente Alhena percebeu que eu estava acordada, pois dois segundos depois seus cabelos já estavam no meu campo de visão, bem ao lado da maca.

— Você acordou! Oh meu Deus, você acordou!

Ela se sentou ao pé da maca, provavelmente com receio de encostar em mim e eu me machucar.

Ela continuava tão maravilhosa quanto eu estava acostumada, estava corada e com ar de preocupação.

Com alguma dificuldade, sentei na maca.

— Eu não ganho um abraço?

— Você não parece estar suportando um abraço agora.

Ergui a sobrancelha e a encarei, ela continuou seria por alguns segundos até se aninhar a mim na maca, me abraçando de leve.

— Eu vou acabar com ele!

Embora cada parte do meu corpo latejasse, ainda sim encostei meu nariz no seu cabelo, e depositei um beijo em sua testa.

— Não, não vai. Eu vou sair desse hospital hoje, nós vamos nos mudar hoje e esquecer tudo o que vivemos aqui.

O olhar que ela me lançou me fez estremecer.

Percebi que a coisa ficaria feia quando ela se desvencilhou dos meus braços e saiu da maca.

— Você não vai sair desse hospital enquanto não estiver impecável, está me ouvindo Terra?

Sua voz estava fria e séria, e ela estava de costas.

Não respondi, não podia prometer algo que não cumpriria.

Eu não suportaria passar mais um segundo naquela maldição de fim de mundo, não podia fazer isso comigo, com meus amigos ou com ela. Aquele lugar me sufocava, tirava de mim o restante de liberdade que eu tinha orgulho de ter conquistado.

Está me ouvindo, Terra?!

Agora ela me encarava, com o que parecia raiva.

— Não posso te prometer isso, meu amor – manti meu tom carinhoso, com a esperança de que isso fosse o possível para acalma-lá.

Bom, não foi.

— Nathaniel vai chegar em menos de uma hora, vamos mover uma ação contra o hospital, os bombeiros e os delegados que fizeram vista grossa com o Guilherme. Vamos prestar queixa contra o Guilherme em todos os requisitos que esse crime se encaixar – ela voltara a desviar o olhar, agora andando de um lado para o outro o pequeno quarto – Ele não vai sair impune! – agora ela se virou para mim, senti seu hálito perto do meu rosto. Ela me encarava com o olhar penetrante – Você não pode deixar ele sair impune Terra.

Eu sabia que ela estava certa. Se ninguém fizesse nada a respeito, as pessoas continuariam fazendo o que quiserem por causa do seu preconceito idiota.

Mas Guilherme não deixaria barato, eu temia que ele fizesse algo contra eu, ou pior, meus amigos ou Alhena. Os delegados fariam de tudo para defender ele, alegariam mil e uma coisas, colocariam a culpa em mim, e ainda por cima em Alhena.

Provavelmente ela entendeu o que eu quis dizer com o meu silencio, pois voltou para longe de mim e se sentou no canto, perto da porta.

Eu queria ela perto, o sorriso dela, que iluminava todos os meus dias de merda, mas eu não a colocaria em risco assim, eu simplesmente não podia.


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Notas finais do capítulo

Olá gente. Eu sei que demorei, mil perdões, mas cabei trocando de emprego e meus horários estão uma loucura pelo final de ano - trabalhar em shoppng, sabem como é -
bom, a fic já está na reta final, e eu não quero começar a me despedir dela, embora eu já devesse ter feio isso quando a conclui. Acho que vou protelar esse momento até o último segundo. Esse é meu presente de natal atrasado para vocês. Boas festas, e desejo muito de tudo para vocês, e uma Alhena, uma Terra ou uma Brida para o corações de vocês ficarem quentinhos nesse fim de ano ♥



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