Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 15
Capitulo 13 - Here For You


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui como se não tivesse sumido por mais de um mês kkkk
Eu tentei desenvolver mais as cenas da Evie com o Chad, mas não deu. Meu coração é muito Devie pra fazer isso haha (vamos deixar em off certas coisas...)

(Atenção para o inicio da explicação, caso não tenha interesse, fique a vontade para ler o cap de uma vez >.<)

Okay, já começo pedindo desculpas por não ter postado em dezembro, mas é que meu pai viajou bem no inicio do mês e só voltou na ultima sexta a noite. Pior é que ele tinha levado o notebook com mais da metade do capitulo, além das cenas prontas dos outros. Pra não ficar sem fazer nada, terminei o capitulo pelo celular (eu odeio fazer cap completo no celular, mas okay). Agora que meu pai voltou (E O NOTE TBM!!), passei o domingo transcrevendo para o pc e editei algumas pares repetidas para poder postar na segunda.
Infelizmente, meu recesso acabou e minhas aulas voltaram segunda. Eu tive apenas duas semanas sem aula e as ferias vão ser realmente em fevereiro. Mas como minha alegria não pode ser plena, já estou atolada com trabalhos e apresentações na faculdade, por isso só estou conseguindo postar agora.
Sorry pela preocupação. Paulie, Mariana e todos que me mandaram mp, preocupadas. Desculpe por isso.

Mas o capitulo já está ai, então... aproveitem ^.^
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Então agora você tem tudo entendido

E você sabe que você achou alguém que se preocupa

E se você sempre precisar de alguém para lhe ajudar

Bem, você sabe que eu sempre estarei lá

So now you've got it all figured out

And you know you've found someone that cares

And if you ever need somebody to help you out

Well you know I will always be there

 

Here For You (FireHouse)

 

Local: Auradon Prep., sala de química

Hora: 14h02m, segunda-feira

 

Doug suspirou frustrado ao olhar em seu celular. A aula iria começar em poucos minutos e ele ainda não havia chegado na sala.

O ensaio da banda havia demorado mais que o previsto. Na verdade, o ensaio não fora bem um ensaio. Foi mais como uma reunião para apresentar todos os membros uns aos outros e receberem o calendário de eventos do semestre. De qualquer forma, a consequência dessa demora poderia fazer o garoto chegar atrasado para sua aula favorita: química.

Abriu a porta da sala e sorriu ao perceber que o professor ainda não havia chegado. Ele sempre atrasava, mas hoje felizmente estava mais atrasado do que Doug. A maioria dos alunos já estavam dividindo suas mesas com seus devidos parceiros, e Doug encaminhou-se para seu lugar de sempre.

Alguns alunos estavam concentrados em seus celulares, um ou outro dormia sobre a mesa.... Tudo estaria normal, se não fosse pela garota de cabelos azuis sentada na primeira mesa.

Parou, nervoso se devia aproximar-se. A garota mirava-se em seu espelho de mão e inclinou a cabeça ao ver Doug pelo objeto. O garoto não tinha escolha, não podia ficar parado feito estatua no meio da sala de química, então aproximou-se daquela mesa e da garota de cabelos azuis.

— Oi. De novo. – Doug cumprimentou e empurrou os óculos, constrangido.

— Ah, estou no seu lugar? – Evie perguntou abaixando o espelho e encarando o garoto bobamente parado ao seu lado. – Posso sair, se quiser.

— Não! Não tem problema. – Doug respondeu com a voz mais alta do que gostaria. – Posso me sentar ao seu lado?

— Claro que sim. – Evie abriu um sorriso animado que aqueceu o coração de Doug, mais ainda não foi o suficiente para fazer sumir seu receio por completo.

O filho de Dunga sentou ao lado dela, de modo cauteloso. De manhã cedo haviam se encontrado e a garota parecia meio fria e distante, para logo depois mudar completamente de atitude. Estava receoso de como ela agiria agora, principalmente depois de ter ouvido murmúrios sobre o acontecido na aula da professora Primavera.

A viu olhando-o de esguelha, mas Evie apenas sorriu e não disse nada. A garota havia percebido a tensão em que Doug se encontrava, o que a deixou um pouco desconfortável.

Evie guardou o espelho em sua bolsa e notou o olhar do garoto de óculos acompanhando seus movimentos. Ela sorriu discretamente e pegou uma das canetas que ele tinha acabado de colocar sobre a mesa.

— Me empresta?

— C-claro. – Gaguejou, mesmo sem querer.

— Deve ser meio constrangedor ficar vermelho assim todas as vezes que conversamos. – Evie comentou sem se dar ao trabalho de fitar o rosto do garoto para confirmar suas palavras. Abriu o livro que estava sobre a mesa e lentamente escreveu seu nome no interior. – Não temos um professor nessa aula ou o que?

A caligrafia delicada e o modo como a garota desenhava um coração no “pingo do i” distraiu momentaneamente a atenção de Doug, fazendo-o rir nervosamente. Nem precisava mencionar o comentário anterior, ele havia realmente corado.

— Ah, ele atrasa um pouquinho. – Doug respondeu, o riso nervoso ainda brincando em seus lábios. – É para garantir que todos cheguem antes dele.

Evie deu de ombros e continuou a contornar seu próprio nome. Um despontar de um sorriso surgiu em sua face ao se lembrar de um antigo hábito e logo os números 125, 23, 53, 125 estavam escritos em seu livro. Esperava que estivesse certo, fazia tanto tempo que não usava aquilo. Utilizava como uma forma de distração na época em que passara confinada no castelo. Mais como um jogo na verdade, um jogo envolvendo a química.

Desde que se lembrava sempre gostara de química, desde do primeiro momento em que sua mãe lhe entregou aquele enorme e pesado livro de Química Avançada. Tinha pouco mais que onze anos na época, mas já estava acostumada com livros daquele porte.

Aquele em especial sua mãe havia dito que era um presente. Tinha certeza que Evie iria gostar, e, como sempre, a Rainha Má estava certa. Evie se encantou por como podia misturar duas substancias diferentes e observar a incrível reação que gerava. Era quase mágica! E como na Ilha dos Perdidos não havia tal entretenimento, química era o mais próximo que se podia chegar de realizar um ato mágico.

Doug notou o silencio da garota e virou-se para ela. Com a cabeça inclinada, Evie fitava a capa interna do livro, por onde a ponta de sua caneta percorria fortemente o contorno de alguns números estranhos.

— Está quase furando a capa. Está tudo bem? – Doug apoiou a mão no braço da garota e pressionou os lábios quando viu a caneta parar de se mover. – Aconteceu alguma coisa?

— O que? – Evie surpreendeu-se pelo súbito questionamento. As sobrancelhas juntas do garoto a fizera ficar ainda mais confusa. – Por que pergunta?

— Parece distraída. – Doug começou a contar, atraindo a atenção de Evie. – Hoje mais cedo você estava meio fria quando conversamos, depois mudou completamente. – A filha da Rainha Má o fitava, admirando-se pela expressão preocupada que o garoto apresentava em seu rosto à medida que continuava a falar. – Ouvi uma história sobre a aula de HVSM e também vi que você brigou com sua amiga. Mas aí, vocês estavam almoçando juntas, conversando como se nada tivesse acontecido, então não sei se foi realme-

— Que observador. – Evie interrompeu o falatório do garoto. Ela estava surpresa por ele ter conhecimento de todos aqueles fatos de hoje. Foi como se ele estivesse a seguindo o dia inteiro.

Doug se calou e desviou o olhar para o quadro negro a sua frente. Talvez não devesse ter dito tudo aquilo...

Evie sorriu e inclinou a cabeça na direção de Doug para lhe dizer que estava tudo bem, mas o barulho da porta se abrindo atraiu sua atenção.

— Boa tarde, turma. – O professor Deley adentrou a sala, cumprimentando os alunos e acordando os que estavam dormindo. – Espero que estejam dispostos a aprender hoje. – O professor encaminhou-se até o quadro e olhou seriamente para a turma. – Teremos prova na próxima aula.

O ofegar foi coletivo. Se mesmo os alunos que já conheciam o método de ensino e já estudaram com ele reclamaram, imagine a surpresa que Evie e o garoto ruivo que sentava duas cadeiras atrás da garota tiveram. Ambos eram novatos e nada preparados para um teste. Bem, talvez Evie estivesse preparada.

Ela não iria estar na próxima aula mesmo. Evie deixou escapar uma risadinha. Quanto mais rápido o plano da Mal desse certo, mais rápido sairiam dali. De volta para a Ilha dos Perdidos. De volta para os seus pais...

— Algum problema? – Doug perguntou, a fitando. Era a segunda vez que o garoto via aquela expressão reflexiva no belo rosto de Evie. Com certeza estava acontecendo alguma coisa.

— Não, não. – Evie sorriu de lado, disfarçando o pequeno nervosismo que sentira. – Só estou pensando alto.

— O professor Deley sempre faz isso: depois da primeira aula, aplica uma prova. – Doug explicou, presumindo que Evie estivesse preocupada com a notícia que o senhor Deley acabara de anunciar. – É bem previsível, na verdade. Mesmo conteúdo do último semestre.

— Abram seus livros na página vinte. – Deley pediu, escrevendo o título do conteúdo no quadro. – Começaremos com Modelos Atômicos e Sua Estrutura e depois passaremos para Massa Atômica.

O professor logo iniciou sua explicação sobre a estrutura atômica – prótons, nêutrons e elétrons – e Evie fechou o livro.

— Não vai ler? – Doug perguntou curioso ao notar o sorriso presunçoso da garota.

— Ah, não preciso. – Evie sorriu convencida.

— Você muda de personalidade toda hora? – Deixou escapar.

— Que atrevido. – Evie pronunciou as palavras lentamente e o rubor na face de Doug foi inevitável, para sua grande satisfação.

— Desculpe. – Doug empurrou seus óculos de volta ao lugar, constrangido.

— E você voltou a pedir desculpas.

— ... a contagem e distribuição dos elétrons é feita sempre de dentro para fora. – O professor levantou a voz para chamar atenção e boa parte das conversas paralelas na sala foi exterminada. Todos sabiam que Deley não gostava de interrupções. Doug virou-se totalmente para frente enquanto que a garota ao seu lado apoiou a cabeça na mão direita, entediada ao ouvir o professor explicar um assunto que ela já sabia. Em partes, pelo menos. – Cada uma das camadas possui um número máximo de elétrons. A Camada de Valência...

— ... é a última camada a receber o elétron em um átomo. – Evie murmurou distraidamente.

Doug soltou uma risadinha contida e Evie pressionou os lábios, desviando o olhar para o garoto de óculos.

 

...

— Água quente, melhor coisa em Auradon. – Jay balançou a cabeça, chacoalhando seus longos fios negros recentemente molhados, e por consequência espalhou água por toda área a sua volta.

— Cuidado aí, animal molhado. – Carlos reclamou ao sentir os respingos atingir-lhe a face. O jovem estava sentado em sua cama e apoiava o notebook nas pernas, concentrado em sua pesquisa. – Já tomei banho, não precisa me molhar.

Jay riu e se encaminhou para o seu lado do quarto.

O cômodo fora dividido de forma inconsciente, qualquer um que entrasse perceberia a divisão. De um lado, a cama arrumada, uma mochila pendurada na cabeceira e as roupas devidamente organizadas. Do outro... bem, poderia ser descrito como se um tornado tivesse atingido somente aquela parte do quarto, deixando para trás várias roupas espalhadas pela cama e outras pelo chão. Isso sem contar os peculiares objetos que o moreno havia “encontrado” durante o dia.

Jay observou por poucos segundos o montante de roupas sobre sua cama e pegou uma regata preta simples, vestindo-a logo em seguida.

— Você acha que eles vão notar alguma coisa? – Carlos perguntou, olhando atentamente para a tela do notebook em seu colo.

— Duvido. – Jay respondeu despreocupado, ocupando-se em empurrar seus pertences ao chão, abrindo espaço para se deitar de maneira desleixada. – Aposto que eles nem olham essas câmeras todas. – Jay se jogou na cama e fitou o amigo. – A ingenuidade deles é ridícula.

— Não entendi o porquê de tantas câmeras. – Carlos comentou, esperando carregar a página que tinha aberto no computador. Sobre as câmeras, o de Vil já havia percebido algumas espalhadas pela escola.

— Falta do que fazer. – Jay respondeu. – Quem eles deveriam se preocupar estão aprisionados na Ilha dos Perdidos.

— Incluindo nossos pais. – Carlos murmurou. – O que acha que está acontecendo lá?

Jay não precisava perguntar sobre qual lugar o amigo se referia, era óbvio. Tão óbvio quanto imaginar como estaria as coisas neste exato momento. Roubos, ataques, brigas, problemas... Esperava que os gêmeos estivessem mantendo o controle sobre o território, apesar de que as habilidades dos dois não seriam suficientes para manter aqueles piratas nojentos longe.

Quanto ao seus pais, Jay tinha uma ideia do que poderia estar acontecendo. Malévola devia estar em seu castelo, praguejando aos quatro cantos sobre a demora da filha; a Rainha Má deveria estar feliz, já que agora realmente ocupava o posto de “A Mais Bela”, pelo menos depois que Evie saíra da ilha. Cruella de Vil estaria no meio de seus pesados e grossos casacos de peles, conversando com seu cachorro empalhado. E Jafar provavelmente estava na loja ou largado em algum canto, bebendo com o Capitão Gancho sem nem se lembrar que seu filho estava do outro lado da barreira junto com os amigos em busca da libertação dos mais velhos.

Jay poderia ter dito tudo isso ao amigo, porém limitou-se apenas a dizer:

— O mesmo de sempre.

Carlos suspirou resignado. Se pensasse muito na Ilha dos Perdidos já começaria a ouvir a voz da mãe gritando seu nome.

— Encontrou alguma coisa? – O filho de Jafar desviou o assunto para algo mais interessante no momento.

— Acho que sim. – Carlos virou o notebook para que o amigo pudesse observar a tela. – A entrada era essa?

Jay levantou da cama e sentou ao lado do amigo, analisando a imagem de um cabo com uma pequena entrada quadricular.

— Quase. – O garoto resmungou e apontou para um ponto especifico da imagem. – Não tinha essa parte de baixo sobressalente, apenas o pequeno quadrado. – Jay pegou o notebook e moveu o mouse, procurando pela certa em meio a todas aquelas imagens. Sua memória ajudou e muito quando, em poucos segundos, encontrou o que procurava. Mostrou para o garoto de cabelos brancos. – É essa aqui.

— Okay. – Carlos pegou de volta o notebook e abriu uma guia recente. A imagem de uma câmera redonda e branca, idêntica à da entrada do vestiário surgiu na tela. – Essas câmeras usam gravação em memória interna, mas acho que se tirarmos o micro sd poderia acionar algum alarme. – Carlos explicava e Jay escutava atentamente, esperando o mais novo explicar o que deveria ser feito. – É melhor acessá-la diretamente. E precisamos de um cabo otg para facilitar. Acha que consegue “pegar” um?

Jay fez uma careta. Ele nunca nem tinha ouvido aquela palavra antes.

— Não sei nem como é! – O moreno reclamou e Carlos rapidamente digitou “cabo otg” na barra de pesquisa e o mostrou ao amigo. Jay fez uma careta, mesmo com a imagem, ele não sabia onde poderia encontrar. – Fica difícil encontrar algo assim.

— Ah, vou ver com o senhor Mitnick.

— Quem é esse? – Jay prendeu o riso ao ouvir o nome que Carlos falara.

— Professor de Regras de Segurança Para a Internet. – Carlos respondeu, sua voz elevando-se de animação. Aquele professor fora sem dúvida o melhor que já tivera em toda sua vida. Entendia de informática como ninguém e ainda havia se impressionado com a pequena demonstração que Carlos apresentara na aula. – Ele é um gênio.

— Não vá levantar suspeitas. – Jay o lembrou e voltou a analisar a imagem do cabo na tela do computador. Não era nada parecido com a entrada que tinham visto antes. – Tem certeza que é esse? A entrada não é a mesma.

— Eu sei, essa entrada é para cabo de dados AM/BM.— Carlos explicou, mas a falta de reação de Jay revelou a falta de entendimento por parte do moreno. – Eu vi dois desses na sala de informática, em cima da bancada no fundo da sala.

Jay acenou afirmativamente e voltou para sua cama, já sabia o que teria que fazer.

 

...

— O cálculo da massa atômica pode ser bem complicado para quem está vendo pela primeira vez. – Senhor Deley explicava andando pela sala e pressionando o giz na cabeça dos alunos que ousavam dormir sobre a mesa. – Na página trinta e sete tem alguns exemplos. Leiam e depois tentem resolver os da página quarenta e um.

— Desculpe, professor. – A porta foi aberta e por ela passou um Chad com seu sorriso despreocupado. – Estava no treino de Tourney.

— Mais um atraso, Chad. – Deley suspirou e apontou o giz para o garoto. – Sente-se e abra o livro na página trinta e sete.

Procura outra mesa, procura outra mesa. Doug repetia em sua mente. Semestre passado, Chad havia sido seu parceiro de química e isso não poderia ter sido mais horrível do que parecia; todo o trabalho havia ficado apenas para o garoto de óculos. E, novamente para sua infelicidade, Chad escolhera sentar junto com ele.

Evie acompanhou o loiro com o olhar até que este sentou-se à sua frente. Ele nem mesmo olhara em sua direção, apenas ficou observando o liquido colorido que vagava nos frascos químicos sobre a mesa.

Chad, o professor dissera. Era o mesmo garoto que Evie vira jogando vôlei pela manhã e estava treinando há pouco.

Ainda bem que ela não matara a aula como Mal havia sugerido, porque aquele garoto era realmente encantador visto de mais perto.

Os cabelos loiros lhe lembravam alguém que já vira nos livros de história de sua mãe. Algum príncipe, talvez. Que agora provavelmente seria rei.

E isso o fazia um príncipe. A beleza de um, ele tinha, com a mais absoluta certeza.

Só precisava confirmar o grau real que o garoto possuía.

Doug interrompeu sua anotação do conteúdo quando percebeu Evie inclinar-se em sua direção. De forma decepcionante, ela não o olhava quando questionou de maneira sussurrante:

— Por acaso esse gato está na linha de sucessão ao trono?

Doug seguiu o olhar sonhador de Evie, já sabendo o motivo daquela pergunta.  Era inevitável que Evie não se interessasse pelo loiro, todas as garotas de Auradon fariam de tudo para receber apenas uma piscadinha do mimado filho da Cinderela.

— Chad, príncipe encantado júnior. – Doug respondeu no mesmo tom da garota, exceto que com menos desejo na voz. – O filho da Cinderela.

O coração de Doug acelerou quando Evie virou o rosto em sua direção, apesar de sua mente saber que aquela aproximação extrema nem fora notada pela garota. Podia ver nos olhos dela o fascínio que sentiu por Chad.

Evie apenas voltou a fitar o loiro à sua frente. Havia finalmente encontrado seu príncipe perfeito e ele era tão lindo quanto sua mãe descrevera que seria.

— O Chad herdou o charme, mas na real, falta todo o resto. – Doug comentou em desdém, esperançoso de que ela ouvisse suas palavras. – Entendeu?

Evie deitou a cabeça sobre a mão direita, sua expressão apaixonada deixou Doug ainda mais chateado consigo mesmo. Para ele, ela agia de maneira inconstante e provocante. E com Chad, a garota se derretia apenas por observar ele.

— Para mim, ele tem tudo.

O suspiro apaixonado de Evie atraiu a atenção do professor, que não gostou nada de ser ignorado por causa de flertes adolescentes.

— Evie. – O chamado do professor desfez a bolha encantada em que a garota se encontrava. E a expressão dele se parecia muito com a de Yen Sid quando alguém interrompia suas palestras na aula de Enriquecimento em Dragon Hall. – Talvez isso seja apenas uma revisão para você. Será que você pode me dizer qual é o peso atômico da prata?

— Peso atômico? – Pronunciou as palavras em dúvida e viu o professor acenar afirmativamente. Ao seu lado, Doug forçou sua mente a recuperar aquela resposta, mas a voz de Evie continuava distraindo-o. – Bom, não deve ser muito. – A garota desviou o olhar rapidamente e notou que Chad agora a encarava também, assim como provavelmente todos os alunos daquela sala. – Tipo assim, um átomo, não é?

Chad riu daquela falha piada e Evie o acompanhou. Infelizmente, para a garota, senhor Deley não achara a menor graça. Suspirou, frustrado em ter mais um aluno desinteressado, fez um aceno, chamando Evie para resolver a questão feita por ele.

O sorriso de Evie sumiu. Ela olhou para Doug enquanto levantava e viu um sorriso mínimo nos lábios do garoto, desviando o olhar em seguida.

Aproveitando que a atenção do professor e dos colegas de mesa haviam se desviado para o quadro, Evie enfiou a mão disfarçadamente dentro de sua bolsa aberta e de lá tirou o Espelho Mágico. O tamanho era perfeito para escondê-lo em sua mão.

Senhor Deley não dera sequer um sorriso para sua aluna ao entregar o giz branco para ela. Ao contrário dele, Evie abriu um enorme sorriso pretensioso, analisando o olhar semicerrando do homem.

Aquilo era um desafio? Se fosse, ela provaria que era capaz. Mesmo que para isso precisasse de seu espelho mágico. Quando se é vilão, uma pequena trapaça está no sangue.

— Vamos ver. – Evie pegou o giz e acomodou sua mão esquerda próximo ao quadro, encobrindo com seu corpo para que nem o professor nem qualquer aluno pudesse notar o artefato. – Como encontrar o peso atômico da prata? – A garota perguntou, sempre olhando para o professor que somente assentiu ao achar que ela estava perguntando para ele. O Espelho não a decepcionou em dar-lhe a resposta que ela prontamente escreveu no quadro, repetindo em voz alta: – Seria: 106.905 x 0,5200 – Ela olhou rapidamente para o objeto mágico em mãos e disfarçou, fitando o professor em seguida. Pode notar rapidamente que o rosto dele demonstrava uma surpresa que ela apreciou ver. – Mais 108.905 x 0,4800.

Nessa parte, metade da sala estava de boca aberta enquanto a outra sorria, empolgados pela expressão pasmada do professor.

Doug esforçava-se em fazer a conta de cabeça, mas não conseguia acompanhar o raciocínio antes que a garota escrevesse no quadro. Ele realmente fora surpreendido agora.

— Que, senhor Deley, nos dará... – Evie continuou, empolgando-se naquele joguinho. Estava divertido! O mais gratificante era observar o modo como ele desviava o olhar, constrangido consigo mesmo. – 107.9 uma.

Evie finalizou e encarou o homem ao seu lado, o sorriso vanglorioso estampado em sua face.

E agora, o que tem a dizer, professor? Pensou, satisfeita com o que havia feito. Era sempre maravilhoso quando alguém a subestimava, ela podia esfregar na cara o quanto estavam errados, assim como dissera para Mal na noite passada.

Uma? – Doug disse consigo mesmo, desatento a tensão presente entre o professor e a aluna. Havia notado o fato de que a garota dissera a abreviação de Unidade de Massa Atômica como uma palavra só. Isso era estranho, mas passou despercebido.

— Eu esqueci. – Deley engoliu em seco, abaixando a cabeça. A garota havia simplesmente o deixado sem graça. E impressionado. – É sempre um erro subestimar uma...

— Vilã? – Evie completou a frase em tom sarcástico. Ela inclinou a cabeça, ainda exibindo seu sorriso vitorioso antes de jogar o giz para o professor e finalizar: – Não faça de novo.

O professor segurou o giz, boquiaberto. Nem mesmo ele seria capaz de ter feito aquela conta tão rápido quanto a garota.

 

...

Carlos colocou as mãos no bolso e suspirou ao ver que já estavam chegando no campo. Ben havia aparecido na porta de seu quarto alguns minutos mais cedo e o convidou a treinar. Queria ter recusado, mas não ia adiantar muita coisa. O Príncipe parecia ser bem insistente, e de qualquer forma iria logo perceber que esportes e Carlos não combinavam muito bem.

— O que você está achando de Auradon? – Ben perguntou disposto a quebrar o estranho silencio entre eles. Desde que saíram do castelo, o mais novo não abrira a boca para dizer nada.

— É bem diferente do que eu imaginava. – Carlos confessou, dando de ombros.

— Diferente como?

— Para começar, ainda não vi nenhum cachorro.

Ben riu, mas parou quando observou os ombros de Carlos se retesarem. O garoto devia ter alguma fobia a cães, mas considerando de quem era filho, era inevitavelmente engraçado.

— Você não gosta de cachorros?

— Não tenho porque gostar. – Carlos arrepiou-se apenas de lembrar da figura horrível que sua mãe descrevera. – Por que tem gente aqui?

Ben olhou para o campo e viu dois jogadores sentando no banco de reservas e mais uns pouco na arquibancada do outro lado.

— O treinador me avisou que irá ter um jogo. – Ben respondeu, lembrando-se das palavras do treinador quando fora pedir permissão para acessar o vestiário. – Um time infantil da capital vai jogar aqui.

— Legal. Vamos ter que lidar com pirralhos agora.

Ambos os garotos se encaminharam para mais próximo do campo, o silencio prevalecendo novamente. Ben folheava a prancheta que o treinador emprestara para anotar as habilidades do jovem da Ilha, mas o murmúrio de Carlos o fizera lembrar do que o garoto dissera antes do treino de mais cedo.

— Carlos, você me disse uma coisa antes do treino. Que eu teria muitas coisas com o que lidar. – Carlos encarou o Príncipe, já percebendo do que ele falaria. – Isso se referia a você e seus amigos?

— Sim. – Carlos respondeu simplório. – E eu estou certo quanto a isso.

— Ainda não entendi. – Ben soou verdadeiramente confuso. Estaria os quatro sendo mal recebidos pelos outros alunos? Havia ouvido um murmúrio sobre uma confusão em uma das aulas, mas não tivera tempo para parar e se informar mais sobre. Estaria os quatro sendo mal recebidos ou sendo alvo dos outros alunos? Não conseguia imaginar aquilo acontecendo, mas se outros auradonianos seguissem a maneira de pensar de Chad e Audrey, teria alguns problemas. – Se for por causa de algum desentendimento com outros alun-

— É tão óbvio. – Carlos murmurou, interrompendo a fala de Ben. Ele sentou-se no gramado e Ben acompanhou seu gesto. – Não estamos aqui por vontade própria. Ou estamos?

— A vinda de vocês para Auradon não fora uma obrigação. – Ben se defendeu, mas recebeu apenas uma risada irônica de Carlos.

— Oh, não? E o decreto? Isso não é tipo uma lei? – Carlos perguntou, mesmo já sabendo a resposta. As palavras começaram a sair de sua boca, expondo exatamente uma dúvida que vagueava sua mente fez ou outra. – O que aconteceria se não tivéssemos vindo, se tivéssemos recusado toda essa coisa? – Não esperando tempo o suficiente para que o Príncipe pudesse responder, continuou: – Indo contra a proclamação do Príncipe e futuro Rei de Auradon?

— Eu... – Ben ficou sem palavras. Aquelas palavras haviam lhe atingido profundamente.

Ele não sabia o que dizer.

— Vou buscar o equipamento.

Benjamin fitou o jovem da Ilha dos Perdidos enquanto este seguia para o vestiário. Não havia lhe passado pela cabeça o fato de que a vinda dos quatro fora de forma forçada. Ele fizera apenas um pedido, oferecera uma chance.

E, pelo que havia entendido agora, a opção de escolha fora totalmente tirada deles.

 

...

Quando voltou do vestiário – depois de dar uma olhada por todo o lugar em busca de mais câmeras e não descoberto nada – Carlos encontrou o jovem Príncipe ainda sentado sobre a grama. Parecia imerso em pensamentos.

— Me ensina a desviar? – Carlos pediu, interrompendo o devaneio de Ben quando jogou o escudo e o taco no chão, ao lado do loiro.

Ben levantou do chão, balançando a cabeça para retomar a atenção para o real motivo de estarem naquele campo agora.

— E então?

— Você quer desviar? – Ben passou a mão direita sobre o cabelo, transparecendo sua confusão quanto ao pedido de Carlos. – Se você ficar na parte da defesa, tem que ir para cima deles.

— Eu prefiro desviar. – Carlos frisou.

— Tudo bem. Vou mostrar algumas técnicas. – Ben deu de ombros, mas era bom começar pela parte que interessava ao garoto. Pegou o taco do gramado e o entregou para Carlos. – Coloque o escudo, precisa aprender a segurá-lo corretamente.

Carlos acenou e pegou o taco. Abaixou-se para pegar o escudo, mas o bastão caiu de suas mãos. Frustrado, ergueu o escudo e o encaixou no braço esquerdo.

— Quer ajuda? – Ben ofereceu-se ao notar a dificuldade que o garoto de cabelos brancos tinha para tentar segurar o taco e erguer o escudo ao mesmo tempo.

— Eu não consigo segurar os dois ao mesmo tempo. – Carlos confessou, envergonhado de si mesmo. Mais cedo, pelo menos conseguira segurar o equipamento de maneira correta. Claro que fora sorte, agora por exemplo, estava um desastre.

— Você está segurando errado. – Ben colocou a prancheta no chão e aproximou-se do mais novo para ajudá-lo. – Erga mais o braço, por favor.

Carlos assim o fez e Ben entortou o escudo poucos centímetros para a esquerda e apertou a faixa do braço do garoto, ajustando o aperto do escudo.

— É, assim fica mais fácil. – Carlos moveu o braço e percebeu que o escudo estava mais flexível em seu braço, parecia apenas uma grande pulseira.

— Desse modo, o escudo se torna quase uma parte do seu corpo. – Ben explicou, batendo no escudo firmemente preso ao braço do garoto. – Não precisa se preocupar se vai derrubá-lo ou não.

Carlos sorriu, realizando movimentos rápidos com o braço para testar o aperto. Não precisava nem mais apertar o apoio para segurar o escudo!

— Isso ajuda e muito.

— Ótimo. Agora vamos começar o treino. – Ben sorriu pela animação de Carlos com o escudo, mas eles tinham que começar logo antes que o time infantil chegasse. – Uma boa forma de desviar de uma defesa direta é fazendo isso.

O Príncipe pegou o taco e afastou-se de Carlos, indo para pouco mais de dez passos longe do garoto. O que iria demonstrar era muito usado por atacantes, mas seria interessante mostrá-lo.

— Venha correndo até mim e tente me derrubar. Use o escudo. – Ben sorriu para incentivar Carlos quando este o fitou confuso. Inclinou seu corpo levemente para frente, preparando-se para receber uma pancada. – Pode vir com tudo o que você tem.

Carlos levantou as sobrancelhas, mas resolveu fazer o que lhe fora pedido. Deu três passos para trás, ergueu o braço esquerdo – e o escudo – em frente ao corpo e logo começou sua corrida em direção ao Príncipe. Para sua enorme surpresa, Ben começou a correr em sua direção também, as mãos firmes segurando o taco como se realmente estivessem em um jogo.

O desespero tomou conta de Carlos e o coração do garoto acelerou, mas a expressão confiante e determinada de Ben o impediu de parar. Aquele garoto é doido! pensou enquanto aproximavam-se mais e mais.

E foi quando estavam quase colidindo um com o outro que Ben surpreendeu Carlos. Usando o pé direito para firmar-se no chão, Ben girou o corpo, ficando de costas para Carlos, apoiou o pé esquerdo e completou o giro 360°, saindo completamente do caminho do garoto de cabelos brancos.

O movimento fora tão rápido e incrível que Carlos distraíra-se e quase foi ao chão.

Ben parou sua corrida e voltou-se para ver como Carlos estava, encontrando-o com uma expressão perplexa.

— Pelos casacos de pele da minha mãe, você tem que me ensinar a fazer isso! – Carlos pediu extasiado.

 

...

Doug moveu-se vagarosamente por entre os bancos da arquibancada. Não poderia fazer nenhum barulho, por mais apreensivo que estivesse.

Depois que Evie havia respondido com maestria a pergunta do professor, Chad entregara um bilhete para a garota. Doug não sabia o que estava escrito, mas percebendo aquela troca de olhares durante o resto da aula o fez imaginar que possivelmente teriam marcado um encontro.

Mais do que nunca ele se amaldiçoou por Chad ter sentado naquela mesa.

Chad com certeza tentaria alguma “gracinha”, porque interessado em Evie ele não estava, isso Doug podia garantir a si mesmo. O loiro havia terminado um namoro há pouco mais de uma semana. E ainda havia dito que não iria se relacionar com ninguém que não fosse sua “alma gêmea”. Duvidava que Chad tivesse de repente percebido que Evie era sua alma gêmea.

— ...o príncipe Encantado e a Cinderela. – A voz baixa e suave de Evie atraiu sua atenção, fazendo-o quase se desequilibrar. – Fada Madrinha!

Não conseguia vê-los, mas pelo tom de voz poderia imaginar a expressão que estaria no rosto da garota. Infelizmente, direcionada ao Chad.

— Hey. – O chamado de Evie o fez se inclinar sobre a arquibancada e finalmente pode vê-los. Os dois estavam próximos, muito próximos. Na realidade, Chad segurava as mãos de Evie, o rosto perto o suficiente para beijá-la se quisesse. E ele teria feito se Evie não continuasse a falar: – Soube que a Varinha dela num museu chato. Sempre deixam ela lá?

A frase de Evie fora totalmente inesperada, tanto para Doug quanto para Chad, apostava. Ela estava interessada na Varinha da Fada Madrinha? Seria muita coincidência que Doug estivesse pesquisando sobre aquele objeto mágico na semana passada? Ele poderia compartilhar o que descobrira com a garota. Porém, antes que pudesse continuar com aquela ideia, Chad fez um movimento mínimo e fez com que Doug fechasse os olhos rapidamente.

O filho do Dunga não queria mesmo ver Chad beijando a garota de quem estava se descobrindo apaixonado. Ele deveria ir embora, pensou. Na verdade, não devia nem ter seguido os dois para começar.

Não servira de nada.

— Aí, eu queria muito conversar. – A frase melancólica de Chad interrompeu a negatividade de Doug. Ele abriu os olhos e pode ver o loiro afastar-se de Evie. – Mas estou tão ocupado. – Doug estreitou os olhos, notando por trás daquele exagero dramático o que Chad estava querendo fazer. – A não ser...

— A não ser.…? – A voz esperançosa de Evie soou em seus ouvidos, atingindo seu coração mais forte do que esperava realmente.

— Que você faça a sua lição de casa junto com a minha. – A decepção ficara visível no rosto de Evie quando ela fitou a mochila do loiro a sua frente. Chad continuava com seu teatrinho. – Aí, talvez a gente ache um tempo para conversar. Que tal?

Não aceita, não aceita, não aceita. Doug se martirizava por dentro, mas sabia que suas súplicas não fariam nenhum efeito assim que viu Evie pegar a mochila de Chad.

Doug não poderia deixar que aquilo continuasse, mas ele não tinha coragem – e nem acreditava ter chance – de interromper aquele momento. Mas ele tinha que falar com ela, com uma necessidade tão urgente quanto respirar. Não podia deixar que Evie fosse enganada por Chad, assim como Anxelin provavelmente fora. Não podia permitir isso acontecer.

E foi com essa motivação e por causa desse pensamento que ele sorriu quando viu Chad se afastar. Sem perder tempo e nem pensando muito bem, respirou fundo e se lançou para a travessa da arquibancada mais abaixo. Ajoelhado e completamente exposto, se fez presente a garota:

— Eu não pude deixar de ouvir... – Começou pela verdade. Meia no caso, mas Evie o interrompeu com uma voz irritada que o impressionou.

— Você está me perseguindo?

— Tecnicamente... – Considerando que havia esperado na área dos armários, observando os dois saírem do prédio escolar e irem em direção ao campo e depois se esgueirado por entre a arquibancada, tentando ver e não ser visto... É, ele tinha a resposta. – Sim.

Evie suspirou ao vê-lo descer desajeitado da arquibancada. Ela não queria falar com ele, não naquele momento e com certeza não depois daquele desastre que acabara de acontecer. Mas o que fora aquilo, Chad havia simplesmente a rejeitado? Evie estava com medo até mesmo de pensar no que a Rainha Má faria se soubesse daquilo.

— Eu também tenho fascinação pela Varinha da Fada Madrinha, que é outra razão para eu estar ansioso pela coroação.

Agora Doug tinha chamado a atenção de Evie. A garota o fitou enquanto ele continuava a despejar mais e mais palavras. Coroação e varinha numa mesma frase soou interessante para ela.

— O que você acha de nós sentarmos juntos e discutir os atributos dela? – Essa fora péssima, Doug tinha que admitir. Por outro lado, ele não havia gaguejado e nem começado a corar. Pontos positivos, ainda mais quando isso não aconteceu com a inesperada aproximação de Evie. Apesar de que ele não se sentiu muito orgulhoso de si quando Evie apoiou a ponta de seu dedo indicador no peito do garoto e fez o coração dele disparar.

— Então, está dizendo que eles usam na coroação? – Evie não desviava o olhar, buscando extrair a resposta que queria. Seu encontro com um príncipe não havia saído do jeito que pretendia, mas pelo menos uma informação importante ela acabara de conseguir.

— Sim. – Doug respondeu prontamente. Aquele olhar felino em sua direção nublou sua mente para qualquer coisa além e a única coisa que saiu de sua boca, fora uma frase involuntária que ele ansiava por dizer: – E te chamando para sair.

Evie não o respondeu. Sorrindo, ela se afastou e seguiu seu caminho.

Doug suspirou, a observando. Evie nem sequer olhara para tras, nem um misero olhar de relance em sua direção.

Ele devia ter avisado sobre Chad e não a ter chamado para sair! Mas, pelo menos, ela não havia lhe dito um horroroso e altíssimo não.

Doug sorriu. Estava apaixonado, isso era óbvio agora. Era a única coisa que explicava o porquê de seu coração acelerar toda vez que a via, ou porque se sentira tão mal com aquela conversa entre ela e o loiro mimado.

Apaixonado.

Pela filha da Rainha Má.

Que ironia maravilhosa!

 

...

— Agora, tente girar mais rápido.

Carlos respirou fundo e correu, mas quando estava iria completar o giro perfeitamente, seu pé esquerdo escorregou e ele caiu sentado sobre a grama.

— Quase! – Carlos lamuriou-se. – Quase que eu consigo.

— Que tal tentarmos outro? – Ben sugeriu. Por mais esforçado que estava, não estava confiando que Carlos conseguiria realizar o giro 360°, não nesse dia pelo menos.

— Tudo bem. – Carlos deu de ombro, desanimando-se.

— Use o escudo de novo. – Ben jogou o objeto para o garoto que o pegou, para sua própria surpresa. – Esse é especialmente para a defesa. Quando o jogador atacante estiver vindo em sua direção, você só tem que se abaixar e erguer o escudo.

Ben deitou um joelho sobre o gramado e estendeu o braço esquerdo em frente ao seu corpo, simulando o que acabara de explicar.

— Acho que entendi. – Carlos encarou o escudo por alguns segundos, em dúvida se conseguiria fazer aquilo. Parecia mais fácil de qualquer maneira.

Ben levantou-se e observou Carlos deitar um joelho sobre o gramado, assim como ele próprio fizera.

— Você pode estar enganado sobre Auradon. – O Príncipe retomou o assunto que fora deixado de lado desde o começo do treino.

— Não, não mesmo. – Carlos entendeu ao que o loiro se referia. Sem parar seus movimentos, evidenciou: – Não existe um lugar onde poderíamos ser aceitos do modo que somos.

— Por que diz isso? – Ben cruzou os braços ao perceber que Carlos apoiava a mão direita no chão, enquanto erguia a esquerda com o escudo.

— Não somos bonzinhos, gentis e todas essas coisas necessárias para sermos aceitos em Auradon. – Carlos respondeu à pergunta do Príncipe, erguendo a cabeça para encará-lo. – E tampouco pertencemos inteiramente a Ilha dos Perdidos. Pelo menos eu me sinto assim. – Carlos sentou no chão e apoiou a cabeça sobre o escudo. – A diferença é que na Ilha podemos agir como nós mesmos.

— Pois que seja assim aqui em Auradon. – Ben exclamou. Acreditava que todos deveriam ser aceitos por quem são. Ele não queria que aqueles jovens da Ilha dos Perdidos se sentissem desamparados, mesmo que a escolha de terem vindo para Auradon não fosse deles. – Não tem porque temer serem quem vocês realmente são.

Carlos balançou a cabeça, negando.

— Prepare-se, vamos ver como você se sai. – Ben pediu, já se encaminhando para mais longe. – Tente me parar.

— Não é tão simples quanto você quer. – Carlos respondeu, mas não era para o que estava prestes a acontecer. – Eu vi os olhares no rosto de cada aluno dessa escola.

Ben engoliu em seco, ainda de costas para o garoto. E o que temia, estava acontecendo. A desconfiança, falta de fé em sua palavra era verdadeira e realística. Precisava encontrar um modo para provar que deveriam, sim, confiar.

Mas primeiro tinha um jovem para treinar.

— Estou indo. – Ben avisou e virou-se, correndo em direção a Carlos e seu escudo estendido.

Carlos abaixou-se bem na frente de Ben – que estava próximo e rápido o suficiente – apoiou a mão direita no chão e ergueu a esquerda, empurrando o escudo e acertando o tronco de Ben de maneira certeira.

O Príncipe fora jogado por sobre o garoto de cabelos brancos e caiu de costas no gramado, respirando pesadamente. O golpe fora mais forte do que ele esperava.

— Estou pronto para o giro. – Carlos anunciou alegremente. Havia conseguido derrubar o Príncipe!

Não era o suficiente para arriscar o mais difícil, mas ele estava motivado agora.

— Tem certeza? – Ben perguntou, virando-se de barriga para baixo sobre a grama.

— Não, mas quero tentar. – Carlos largou o escudo de lado e afastou-se para longe.

Ben levantou-se e limpou a grama de sua camisa amarela, para logo depois pegar o escudo e prendê-lo no braço. Estava sendo interessante aquele treino, além da conversa séria que tiveram, o fato de estar ajudando Carlos estava lhe divertindo. E o mais novo parecia sentir o mesmo.

— Prepare-se.

Carlos respirou fundo e inclinou o corpo para frente, preparando-se para começar a correr.

Depois de sua conquista com o bloqueio, ele poderia conseguir o giro.

Talvez ele tivesse uma chance agora.

Ledo engano.

O giro falhou e o impacto fora doloroso. Muito doloroso. Carlos caiu no chão, a mão esquerda segurando o braço direito que fora atingido em cheio pelo escudo de Ben.

— Carlos! – Benjamin puxou a fita para soltar o escudo do braço, mas não estava conseguindo afrouxá-la. Carlos gemeu no chão. – Me desculpe, eu tentei desviar, mas não foi rápido o suficiente. – Livre do escudo, Ben levantou e foi em direção ao garoto caído. – Me desculpe!

— Tudo bem. – Carlos tentou sorrir, mas a única coisa que conseguiu foi fazer uma careta. – Estou bem. – Repetiu, piscando os olhos para focar a face preocupada do Príncipe, ergueu a mao direita e apontou para o vazio ao lado do loiro. – Eu não sabia que você tinha um irmão gêmeo, Ben.

Apesar da situação, Benjamin riu. Estendeu a mão e ajudou o garoto a se levantar.

 

...

— Mal, eu tenho que te contar uma coisa. – Evie irrompeu pela porta do quarto, a procura da amiga. Deitada de bruços na cama, um lápis em sua mão direita e um caderno aberto com algumas folhas sobressaindo, Mal nem mesmo movera os olhos em direção a garota que acabara de entrar. Evie fechou a porta silenciosamente. – Está desenhando.

— Constatando o óbvio, Evie. – Mal respondeu semicerrando os olhos, ainda concentrada em seu desenho.

— Mal-humorada. – Evie murmurou, colocando a mochila de Chad ao lado de sua cama. Aproximou-se da amiga, disposta a descobrir o motivo – pelo menos o mais importante – para aquele mal humor totalmente inesperado. – O que te deixou assim?

Mal não respondeu, apenas continuou com seu desenhar frenético. Ela estava inspirada, e atiçando a curiosidade de Evie. A filha da Rainha Má olhou para a garota sobre a cama e pode vislumbrar um pedaço do desenho que esta fazia. Era algum tipo de animal que ela desenhava? O que quer que fosse, era estranho.

Aquele principezinho. – Mal sussurrou entredentes, apertando o lápis verde.

— O que disse? – Evie questionou, inclinando-se em direção a Mal. Mesmo já estando próximas, a garota não havia entendido o que a de cabelos roxos havia sussurrado.

— Não é da sua conta.

Mal segurou o caderno e levantou-se da cama.

— Nossa! – Evie abriu a boca, surpreendida ao ver Mal deitar-se na outra cama apenas para evitá-la de ver o desenho. – Okay, vou te deixar desenhar. Não libere sua raiva em mim.

Guardando a informação que acabara de conseguir para si, Evie decidiu que era melhor deixar a amiga se acalmar por enquanto.

 

...

— Ainda quer continuar o treino? – Ben perguntou enquanto anotava o progresso que tiveram até agora.

— Sim. – Carlos confirmou, deitado de braços abertos sobre o gramado, lugar onde esteve nos últimos minutos para se recuperar da pancada que recebeu. – Mas acho que devíamos ir para alguma coisa mais leve.

— Podemos continuar com uma corrida simples, o que acha?

— Parece inofensivo para mim. – Carlos concordou, erguendo-se do chão. – Devo ir para longe?

— Por favor. – Ben acenou para o garoto e tirou o cronometro que carregava no bolso. – Vou medir seu tempo.

Carlos ergueu o polegar, confirmando que entendera e se posicionou.

— Você poderia ter sugerido isso antes, não? – O de Vil gritou arrancando risos de Ben.

— Tudo bem. – Ben abaixou a prancheta e encarou o garoto afastado. – Carlos, vamos dar uns piques. – Avisou, preparando o cronometro na mão esquerda. – Pronto?

Carlos acenou em afirmação e Ben iniciou a contagem no momento em que ouviu latidos ao fundo. Observou o garoto de cabelos brancos correr em sua direção, numa velocidade que surpreendeu o loiro. Entretanto, o mais surpreendente fora a expressão aterrorizada exibida pelo corredor.

— Ah! Não, não! – Carlos gritava, correndo o mais depressa que conseguia para fugir da besta que o perseguia. – Espera!

— Isso! – Ben comemorou, parando o cronometro no momento em que Carlos passara ao seu lado. Ele fora incrivelmente rápido! Ainda ouvido os latidos, virou-se para ver onde o garoto estava. – Carlos?

E para sua surpresa, o garoto corria desesperado em direção a mata, com o pequeno Dude acompanhando-o.

— Carlos! – Lembrando-se do que o garoto dissera sobre não gostar de cachorros, Ben correu em direção a ele.

Carlos só percebera que entrara numa mata quando um dos galhos mais baixos da arvore quase acertara-lhe o rosto. Mesmo isso não fora o suficiente para que ele reduzisse sua velocidade.

Aquela fera sanguinária havia surgido do além para o perseguir, e não saia de sua cola por mais rápido que o garoto corresse.

Avistou um tronco mais à frente e se jogou sobre ele, subindo o mais rápido que conseguia.

— Não! – Carlos apontou para o cachorro que havia parado bem próximo de onde estava. – Para!

— Carlos! – A voz de Ben chegou em seus ouvidos.

— Ben? Ben, me ajuda! – O cachorro passou a língua sobre o focinho, provavelmente antecipando o sabor que sentiria quando devorasse Carlos. – Ele querendo me pegar!

Ben não pode evitar surpreender-se ao ver Carlos agarrado ao tronco da arvore, sua expressão aterrorizada enquanto Dude o encava.

— Ele vai me caçar e me estraçalhar! – Carlos repetia o mesmo que sua mãe uma vez dissera. Sua mão tremia enquanto apontava para o animal próximo de Ben. Seus olhos estavam atentos e seu corpo ainda estava elétrico, esperando pelo momento em que o cão iria se mostrar realmente e o atacar. – É um animal cruel que transmite raiva!

— Hey, quem te falou isso? – Ben segurava Dude com uma mão, enquanto estendia a outra, procurando acalmar o jovem alterado.

— A minha mãe. – Carlos respondeu, agarrando-se mais ainda ao tronco de árvore.

Cruella?

— Ela é especialista em cães. – Carlos disse em tom obvio. Não havia ninguém que conhecesse cachorros melhor do que Cruella de Vil, e ela fizera questão de detalhar cada periculosidade daquele animal para o filho. Isso sem contar a especialidade da mulher. – Uma maltratadora.

Maltratadora? Ben sorriu sem jeito.

— Por que está segurando ele? – Carlos exclamou frenético. Não entendia porque Ben não largava logo aquele cachorro ou o prendia de uma vez. Ao invés disso, ficava fazendo carinho, a mão perigosamente próxima da boca do animal.  – Ele vai te morder!

— Carlos, você nunca chegou perto de um cachorro, não é?

— É claro que não. – Admitiu, observando o Príncipe que, por algum motivo desconhecido para o mais novo, acariciava o pelo do cachorro.

— Dude, conheça o Carlos. – Ben apresentou o animal ao aterrorizado garoto na árvore. – Carlos, esse é o Dude. É o nosso mascote.

Ben continuava a sorrir e afagar Dude, esperando que pudesse tranquilizar Carlos de que o cachorro era inofensivo e não iria atacá-lo.

— Olhe bem para ele. – Ben pediu, erguendo uma das patas do cachorro. – O que parece para você?

— Ele... ele não parece nada com um animal cruel que transmite raiva. – Carlos por fim admitira, o pavor exagerado dissipava-se ao perceber que durante toda aquela conversa, o animal nem mesmo fizera um movimento ameaçador sequer. Lentamente, largou a arvore e desceu, analisando a reação de Dude sobre sua aproximação hesitante. O cachorro poderia até estar fingindo, afinal as aparências podem enganar. Porém, se fosse isso, o Príncipe não se arriscaria desse modo ao segurar aquele animal com tanto afeto quanto demonstrava agora. – Nossa, você é bonzinho, não é?

Benjamin sorriu quando Carlos se aproximou. Ali, ele não viu um jovem da Ilha dos Perdidos ou um filho de vilão. Ali, na sua frente, estava apenas um garoto que tivera coragem e confiara o suficiente para vencer um medo que o consumira em pânico. Ben ficou orgulhoso de si mesmo por ter ajudado, assim como ficaria muito mais feliz se conseguisse garantir essa adaptabilidade para todos os outros.

Seria seu dever como Príncipe, Rei e, até mesmo, amigo.

Carlos ergueu a mão e a levou para o topo da cabeça do cachorro, hesitando em acariciá-lo. Ficou surpreso com o gesto de Dude de querer ir para seu colo. Segurou o cachorro em seus braços, uma satisfação lhe preenchendo. O pelo do animal era incrivelmente macio, e quando olhou para aqueles pequenos olhos, um sorriso surgiu em seu rosto.

— Você é bonzinho. – Carlos declarou, rindo ao perceber o quão bobo havia ficado. Nem parecia que poucos minutos atrás estivera fugindo enlouquecidamente do amável cachorro em seus braços.

— Imagino que seja bem difícil na Ilha.

— É. – Carlos abaixou a cabeça, recordando-se das muitas vezes em que tivera que dormir no armário de casacos de sua mãe. Ou as várias vezes em que era empurrado e espancado pela escola. Não eram recordações muito agradáveis, e por isso dificilmente esquecidas. – Digamos que ninguém coça a nossa barriga.

Desconhecendo as tristes memorias do filho da Cruella, Benjamin ainda assim notou seu semblante cabisbaixo.

— Bom garoto. – Ben sorriu e apertou o ombro de Carlos, apoiando-o. Carlos o encarou sem entender o porquê do elogio. – Quer dizer, você corre bem, você é rápido, sabe?

Ambos riram fracamente e Carlos voltou a acariciar Dude, que pacificamente permanecia em seus braços.

— Eu vou dar um tempo para vocês dois. – Ben avisou, começando a se afastar. Seria bom aquele momento para que Carlos perdesse o que restava de medo em seu interior. Dude era realmente uma excelente companhia. – Podem ir se conhecendo e depois venham me encontrar.

— Certo.

Ben se afastou.

Ben queria que Auradon se tornasse o lar que eles tanto procuravam. Uma promessa. Ele faria de tudo para que aqueles jovens se sentissem bem em morar ali. Isso era o mínimo que deveria fazer para compensar a falha de não oferecer opção de escolha para eles.

Olhou para trás e viu Carlos sentando no tronco caindo, acariciando entre as orelhas de Dude. Ele era apenas um garoto, não importava de onde vinha, precisava se sentir... em casa.

Prometo que darei meu melhor para garantir isso, Ben garantiu a si mesmo.

 

...

— Você não é uma besta sanguinária, não é? – Carlos perguntou, erguendo o cachorro na altura de seu rosto. Dude começou a lamber o rosto do garoto, que fechou os olhos temendo a próxima ação do animal. Porém, Carlos não pode evitar rir depois de receber tantas lambidas e sentir seu rosto molhado. – Você está me babando todo!

Carlos colocou o cachorro no chão e tentou secar o rosto com a camiseta. Dude latiu e apoiou a pata na perna do garoto, chamando sua atenção. Carlos divertiu-se com o gesto e abaixou-se, passando a mão na cabeça do cachorro.

— Acho que estou começando a gostar de você. – Carlos confidenciou, fazendo carinho no pescoço do cachorro. O garoto ficou surpreso quando viu o cachorro desabar, deitando de patas para cima assim que recebeu carinho na barriga. – Você gosta de carinho aqui?

Carlos continuou fazendo carinho na barriga do cachorro e viu quando ele moveu a pata levemente. O de Vil interrompeu o carinho e pata parou de se mover também.

— Oh, oh, você mexe a patinha quando eu faço carinho! – Exclamou rindo ao esfregar novamente a barriga do cachorro. – Que divertido!

 

...

— ...ou você pode correr e deixar cair seu sapatinho. – Evie sugeriu, apoiando o braço direito ao lado da máquina de costura.

Uma meia hora atrás, de forma surpreendente, duas garotas haviam invadido o quarto de Mal e Evie. A primeira fora a filha da Fada Madrinha, Jane, que passara bons minutos se lamentando e reclamando por sua mãe não a ter deixado sequer mencionar a Varinha Mágica, antes de começar um sermão sobre magia e beleza. E logo após, uma garota asiática, Lonnie, filha da Mulan, apareceu procurando por Mal e uma forma de melhorar o cabelo com mágica.

De alguma forma, depois de Mal ter feito o feitiço – a contragosto, mas pelo menos conseguiu dinheiro –, as garotas haviam iniciado uma conversa sobre qual seria a forma mais fácil de ser chamada para sair. Mal, é claro, tinha se excluído da conversa enquanto que Evie sugeria várias opções, que provavelmente não funcionariam em Auradon. O assunto da conversa era sério no começo, mas depois as sugestões se tornaram apenas divertidas relembranças do que já acontecera na história, incluindo o fato de ser trancada numa torre, a história da Cinderela e o sapatinho, e até mesmo se transformar em sapo.

— “Deixar o sapatinho cair”. – Jane repetiu, pensativa. – Cinderela fez isso e funcionou muito bem.

Mal riu. Apesar de não ligar para aquele assunto, era uma oportunidade que ela não podia deixar passar, tinha que comentar alguma coisa.

— Tenta isso com o filho da Cinderela, Ev. – Mal disse a Evie. – Mas certifique-se de que ninguém mais calça o mesmo número que você.

Evie revirou os olhos, mas depois acompanhou a amiga nas risadas. Aquela parte da história era realmente engraçada. Qual é, não era possível que o rei Henry não tivesse encontrado nenhuma outra garota com o mesmo número de Cinderela em sua busca pela garota.

— Espera. – Lonnie, sentada ao lado de Jane na cama de Mal, ficou surpresa com a fala da garota. Ela encarou a filha da Rainha Má: – Está interessada no Chad?

— E quem não está? – Jane pronunciou-se antes que Evie pudesse responder. – Ele é lindo.

— E totalmente idiota. – Lonnie retrucou, dando de ombros. – Não consigo entender o que a maioria das pessoas enxergam nele.

— Pode ser que ele ainda não tenha encontrado a princesa perfeita. – Evie comentou, um sorriso convencido brincando em seus lábios.

— E seria você? – Evie ergueu uma sobrancelha ao ouvir o tom irônico que Jane usara em sua frase. Em consequência, a filha da Fada Madrinha corou pela intensidade do olhar que recebeu por sua frase. – C-claro que... Você é linda, tipo muito, muito linda.

Evie não aguentou e começou a rir, desviando o olhar e pode notar Lonnie a acompanhando nas risadas.

— Desculpe, Jane. – Lonnie apoiou a mão no ombro da outra garota, esforçando-se para exterminar o sorriso em sua face. – Mas sua expressão foi hilária!

— Tudo bem. – Jane respondeu timidamente.

— Não seja tão tímida. – Evie aconselhou, fitando a garota. – Você poderia ser mais...

— ... como você? – Mal interrompeu a amiga, completando a frase.

— Ninguém é como eu. – Evie piscou, sorrindo marotamente.

— Eu sei o que você quer dizer. – Jane respondeu, seu tom de voz baixo e consternado. – Mas eu não consigo deixar de ser assim. – Admitiu, e Lonnie a abraçou de lado, em compaixão a expressão triste da filha da Fada Madrinha. – Não tenho nem a capacidade das pessoas me notarem, quanto mais fazer um garoto me chamar para sair.

— E precisa esperar o cara te chamar para sair? – Mal indagou perplexa, desviando a atenção daquele momento angustiante e tedioso que se formava. – Se quer tanto sair com alguém, vai em frente.

— Okay, Mal. – Evie virou-se para a amiga e a questionou, curiosa: – Como você chamaria um cara para sair?

— Fácil! – Mal fechou o caderno e sorriu cinicamente. – Você abre a porta e diz: “Saia, você está me irritando”.

— Por que você é assim? – Evie revirou os olhos enquanto as outras garotas riam.

— Oh, desculpe, meninas. Eu tenho que ir. – Lonnie avisou olhando a mensagem que havia acabado de receber em seu celular. – Meu irmão está me esperando para irmos à cidade. – Explicou e logo depois fitou Mal com um semblante agradecido. – Obrigada de novo por ter aceitado-

— Sem problemas. – Mal interrompeu, sorrindo falsamente para impedir mais uma onda de agradecimentos tediosos.

Lonnie franziu a testa, mas nada disse. Despediu-se e atravessou o batente da porta, saindo do quarto e seguindo seu caminho.

— Acho que eu já vou também. – Jane anunciou, levantando da cama. Antes de se despedir, entretanto, virou-se para a garota com o caderno sobre as pernas cruzadas. – Mal, você não cobrou nada por ter feito, sabe... isso. – Jane sorriu constrangida ao indicar o próprio cabelo. – Quanto eu devo te pagar?

— Não se preocupe, Jane. – Mal fitou a garota e inclinou a cabeça, seu olhar vulpino indo em contraste a suas seguintes inócuas palavras. – Eu não vou cobrar nada.

Evie olhou de relance para a amiga, suspeitando daquele gesto tão contrário a filha da Malévola.

— Sério? Obrigada, Mal!

Jane avançou com a intenção de abraçar a garota de cabelos roxos, mas esta fez uma careta ao perceber a intenção e estendeu a mão, interrompendo o gesto.

— Não precisa. – Mal falou, ainda com a palma estendida.

— Liga não. – Evie tratou de explicar ao ver a face sobressaltada de Jane. – Mal não gosta de pessoas abraçando ela.

Mal apontou para Evie e acenou, confirmando as palavras da amiga.

— Mas para ficar justo... – A garota de cabelos roxos retomou ao assunto do pagamento pelo feitiço. Ela tinha que ganhar algo em troca, não é mesmo? Nada era feito sem um preço. – Você ficará me devendo uma, que tal?

— Por mim, tudo bem. – Jane deu de ombros, sorrindo agradecida. Ambas as garotas da Ilha dos Perdidos não eram nada do que ela imaginara. – Ah, vocês vão... na sala de jantar depois?

— Claro. – Mal confirmou, um largo sorriso em seu rosto. – Nos vemos lá.

Assim que a porta fora fechada, Mal se jogou para trás na cama, deixando um suspiro alto de alivio escapar de sua boca. Evie riu da ação da amiga e levantou-se de onde estava para se aproximar da garota.

— Está conseguindo fazer amizades. – Evie observou Mal revirar os olhos pela sua fala. A filha da Rainha Má apoiou-se da cabeceira da cama e ergueu uma sobrancelha ao questionar: – Vai parar de criticar as minhas, agora?

— Sabe que eu faço isso porque você é a minha melhor amiga.

— Esse é um pedido de desculpas pela briga de mais cedo?

Mal não respondeu, apenas fez uma careta para Evie que soltou uma risada divertida.

 

...

— Que tal uma corrida? – Carlos se sentira estupido ao fazer perguntas a um animal, mas ver o cachorro balançar a cauda e o fitar com a cabeça inclinada o deixou curioso. – Você entende o que eu digo? – O cachorro latiu e balançou a cauda com mais energia. – Vou considerar isso um sim.

O de Vil acariciou o animal mais uma vez e ergueu-se, apontando para a saída da mata, exclamou:

— Caça ao Príncipe! – Dude latiu e Carlos coçou a cabeça, percebendo o que acabara de dizer. – Acho que eu não devo dizer isso, não é? – Esperava que ninguém tivesse ouvido ou seria ele que ia ser caçado, pelos guardas e pela Mal por estragar as coisas. – Okay, cãozinho, corrida até o Ben. Um, dois e-

O cachorro saiu em disparada, deixando um Carlos boquiaberto para trás.

— Ei! Você trapaceou! – Carlos começou a correr atrás do cachorro, rindo ao desviar dos galhos que quase lhe acertavam o rosto. – Estamos indo pelo lado errado!

Continuaram a correr por um curto tempo, Carlos tentava acelerar o passo para acompanhar o cachorro à sua frente, mas não adiantava. Ele estava se divertindo. Nunca na sua vida imaginara que um dia estaria correndo atrás de um cachorro, quanto mais brincando com um. Sua mãe estava completamente errada, afinal.

— Olha isso. – O garoto desacelerou, admirando o lugar que tinha acabado de chegar. Era como se as enormes e espaçosas árvores tivessem se disposto a abrir mão de uma parte da mata apenas para abrigar as belíssimas flores naquele jardim escondido. – Evie vai amar isso aqui!

Dude teve que latir três vezes para conseguir chamar a atenção de Carlos. O garoto balançou a cabeça e logo reiniciou sua corrida atrás do cachorro. Atravessou o campo florido e passou novamente entre as arvores e os galhos que ameaçavam atingir seu rosto. Logo saiu da mata e Carlos se surpreendeu ao perceber que estava na parte de trás do castelo. Haviam pegado um atalho incrivelmente proveitoso.

— Ali está o Ben. – Carlos apontou para o Príncipe que seguia para a frente do castelo, mas Dude nem estava mais ao seu lado. O cachorro já havia iniciado mais outra corrida até o loiro. – Por que você não me espera?

— Ah, entendi. Muito obrigado, Jack. – Benjamin falava ao celular, quando ouviu latidos em sua direção. Virou o rosto e pode ver Dude aproximando-se com o jovem de cabelos brancos correndo atrás do animal.

O senhor estará na entrada?

— Sim, vou esperar na porta do castelo. – Ben respondeu e logo se despediu, encerrando a ligação. Guardou o celular e abaixou-se para fazer carinho atrás das orelhas de Dude. Carlos parou ao seu lado, ofegando levemente. – Como foi?

— Ele é legal. – Carlos respondeu, fitando o cão abanar o rabo pelo carinho recebido. – Pelo menos não tentou me comer até agora.

— Ele não vai fazer isso. – Ben garantiu sem conseguir evitar uma risadinha. – Eu já guardei o equipamento, então está liberado do treino hoje.

— Sério? – Carlos relaxou o corpo. Ele já estava cansado de todas aquelas corridas. – Okay. Onde eu deixo ele?

— Tem uma casinha perto do campo. – Ben respondeu, fazendo um último carinho no cachorro antes de levantar-se. – Pode deixar que ele vai sozinho quando quer.

— Tem certeza?

— Absoluta. Dude é um cachorro muito inteligente. – Dude latiu para confirmar as palavras do Príncipe, o que fez ambos os garotos rirem. – Mas pode acompanhá-lo, se preferir.

— Okay. – Carlos estralou o dedo e Dude balançou a cauda, animado. – Obrigado pelo treino.

Ben acenou e o garoto e o cachorro se afastaram, alegres em direção a casinha perto do campo.

 

...

“O seu sorriso é o vírus que infectou meu coração.”

Evie inevitavelmente sorriu ao ler a mensagem que acabara de receber. Era do mesmo número desconhecido. Ela já havia tentado ligar, mas apenas chamava e ninguém atendia.

Poderia ser Chad, talvez? Mas o garoto havia dito que perdeu o celular, então não poderia ter mandado a mensagem de mais cedo. A não ser que ele estivesse usando o telefone de um amigo...

Era instigante não saber o autor daquelas mensagens.

— Evie, a porta! – A voz de Mal, vinda do banheiro, a assustou.

Segundos depois, ouviu batidas na porta. Devia ser a isso que Mal se referia.

— Já estou indo! – Evie deixou o celular em cima da mesa, ao lado da máquina de costurar, e abriu a porta. Do lado de fora do quarto não havia ninguém, apenas uma pequena caixa embrulhada como presente no chão. – Mal?

— O que? – A porta do banheiro abriu-se e por ela passou uma Mal devidamente vestida e com os cabelos pingando água sobre o carpete.

Evie virou-se para a amiga e mostrou a caixa que encontrara.

— Devia ter uma caixa do lado de fora do nosso quarto?

— Que eu saiba não.

Estavam com receio de abrir e descobrir o que quer que estivesse lá dentro. Afinal, é estranho receber uma caixa em frente ao seu quarto, completamente desconhecida. Na Ilha aquilo com toda a certeza seria uma pegadinha, e não das engraçadas.

Mal aproximou-se para analisar melhor o “presente” e viu um pedaço de papel embaixo do laço.

— Tem um cartão. – A garota desfez o laço com cuidado e pegou o papel.

“Assim você não precisa mais pegar o meu.” — Evie leu quando Mal abriu o pequeno envelope. – Não tem assinatura. – Evie olhou confusamente para as palavras escritas naquele pequeno papel, mas quando fitou Mal, sua confusão deu origem a desconfiança. A expressão da garota de cabelos roxos havia se tornando uma de pura descrença. Ela, com a mais absoluta certeza, sabia o que era aquilo. – Você sabe de quem foi, não é?

— Finja que nunca viu isso. – Mal rasgou o bilhete e se jogou em sua cama.

Evie, rindo da atitude da amiga, abriu a caixa e encontrou um celular completamente novo, muito parecido com o que Mal havia quebrado pela manhã.

“Assim você não precisa mais pegar o meu”. Evie relembrou as palavras escrita no bilhete espalhado pelo chão e lembrou-se de mais uma coisa: o celular que Mal estivera durante todo o dia, o mesmo que a fizera sorrir despercebida e que recebera uma ligação curiosa.

Mal estava escondendo alguma coisa, porém Evie nem precisava pensar muito para ter uma ideia do que se tratava. O modo como a amiga havia dito o nome dele mais cedo, quando pensou que Evie estivesse interessada nele... era a confirmação de que precisava.

Sorriu de lado, adorando que aquilo estivesse acontecendo com Mal. Inesperado, talvez, mas ela estava feliz. Aproximou-se da amiga deitada com a cabeça afundada nos travesseiros e colocou a caixinha do lado dela.

Evie não pode evitar o que diria a seguir:

— Você sabe que eu vou te provocar e muito quando finalmente admitir.

Do mesmo modo, Mal não pode evitar seu rosto esquentar levemente com aquelas palavras. Mesmo assim, retrucou:

— Não tem nada para admitir.


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Notas finais do capítulo

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Deem uma olhadinha lá, tem ligação com o capitulo e outros futuramente ^.^



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