Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 14
Capitulo 12 - Are You Ready


Notas iniciais do capítulo

(quase que eu coloquei como titulo a musica ...Ready For It? da Taylor ^.^)

Se tiver algum erro, me avise, por favor. Eu revisei o capitulo, mas minha visão começou a pesar de sono e eu já não estava enxergando mais nada kkkk (isso que dá passar mais de 24h acordada >.<)

Aproveitem o capitulo
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Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um

Contagem regressiva para a mudança na vida que está logo por vir

Você está pronto? Você está pronto?

Para o que está por vir? Oh, eu disse: Você está pronto?

 

Ten, nine, eight, seven, six, five, four, three, two, one

Count down to the change in life that's soon to come

Are you ready? Are you ready?

For What’s to come.... Oh I said: Are you ready?

— Are You Ready (Creed)

 

Local: Auradon Prep., arquibancadas

Hora: 12h25m, segunda-feira

 

— Me diz novamente – Jay pediu, parado ao lado das arquibancadas e encarando alguns dos jogadores correndo de um lado ao outro no campo. – Por que temos que ir pra lá?

Carlos suspirou. Era a terceira vez que o amigo fazia aquela pergunta e seria a terceira vez que o filho da Cruella responderia.

— Porque a Fada Madrinha praticamente nos obrigou e nossas amigas ainda a apoiaram.

Quase não dera tempo de Mal revelar seu plano – de fazer a filha da Fada Madrinha roubar a Varinha Mágica – quando a própria Fada interrompera seu almoço para dar a notícia de que havia inscrito Jay e Carlos para participar do treino do dia. Claro que eles recusaram firmemente, mas foram traídos por suas próprias amigas que colocaram pressão para eles aceitarem.

Não havia nada que eles não pudessem fazer perante a expressão persuasiva de Evie e o verde ameaçador do olhar de Mal.

— Traidoras. – Jay murmurou, mas não estava completamente chateado por causa delas. Mas, sim, porque teria que passar mais tempo com aqueles príncipes frescos. Estava até começando a imaginar que tipo de esporte eles praticavam e isso já entediava o moreno. – Vem, vamos logo acabar com isso.

Carlos recuou dois passos e se virou, pronto para ir embora. Jay, vendo o movimento do amigo, segurou na parte de trás da camiseta do garoto de cabelos brancos e o levou em direção ao campo.

— Jay, Jay! Você me enforcando! – Carlos reclamava enquanto era arrastado. Jay apenas o soltou quando já estavam no meio do gramado, para a infelicidade do mais novo.

Enquanto Carlos arrumava sua roupa, um homem moreno se aproximava, usando um colete amarelo, um apito entre os lábios e uma prancheta em mãos.

— Vocês são os garotos da Ilha dos Perdidos, estou certo? – O homem perguntou ao parar em frente aos dois jovens. Boa parte dos jogadores que estavam aquecendo ali próximo pararam para prestar atenção aos recém-chegados. – A diretora me falou sobre vocês dois. Tem certeza que querem participar do time?

Carlos ergueu a mão. Era a chance que precisava para dizer que não servia para praticar esportes e, além do mais, ele não queria aquilo. Independentemente do tipo de jogo que era praticado naquela escola, Carlos pode perceber que ele era o garoto mais baixinho presente naquele campo e isso já era o suficiente para deixá-lo nervoso.

Na Ilha dos Perdidos, sempre gostou de participar das badernas e confusões que seus amigos causavam, mas no colégio Dragon Hall, vivia se escondendo para não ser vítima de todos os valentões que implicavam com ele quando não havia ninguém por perto.

Na Ilha sempre fora assim, é uma ação muito comum. Porém, não queria dizer que Carlos curtia e aprovava ser alvo de gozação e piadas. E, agora, ele teria a chance de evitar acontecer novamente, fazendo o possível para não ser notado.

— Na verdade, eu n-

— Já estamos aqui mesmo. – Jay interrompeu a negativa do amigo. Sabia dos temores do mais novo, porém tinha que fazê-lo enfrentar suas fraquezas, nem que para isso Jay tivesse que jogar o garoto de cabelos brancos numa água cheia de tubarões. E ele já havia feito isso. – Sou Jay e esse é Carlos.

— Eu sou o treinador Jenkins. – O treinador estendeu a mão direita e cumprimentou ambos os garotos. Ficou impressionado com o aperto firme que Jay demonstrara. – Vejo que você é confiante.

— E forte. – Jay acrescentou pretensioso, enquanto que Carlos apenas queria sair daquele campo antes do jogo começar e ele ser massacrado.

— Estou precisando de jogadores assim. – Jenkins anotou alguma coisa na prancheta e arrancou uma folha, entregando-a para Jay. – Vão até o vestiário. O capitão lhes explicará como se joga Tourney.

Jay pegou a mochila no chão e puxou o braço de Carlos, indo em direção a entrada do vestiário – uma construção a parte da escola, no lado direito do campo.

— Treinador Jenkins! – Um jovem de aparência oriental vinha correndo em direção ao treinador. Este usava uma camiseta amarela e uma bermuda branca, um apito balançando em seu pescoço.

Jenkins suspirou. Seria o primeiro dia de seu novo assistente, Lil Shang, e o garoto já chegara atrasado.

— Atrasado, Shang.

— Estava conversando com minha irmã, desculpe. – O rapaz colocou o boné amarelo na cabeça e observou quando Jay e Carlos passaram pelas portas do vestiário. – Aqueles eram os garotos da Ilha dos Perdidos?

— Sim, vão fazer teste para o time. – O treinador informou e levou seu apito aos lábios, soprando-o para chamar atenção dos jogadores em campo. – Quem terminou o aquecimento, vão para o vestiário!

— Interessante. – Lil Shang comentou para si mesmo, sem se abalar pelo som agudo do apito ter sido soprado bem ao seu lado. – Soube que um deles atormentou a professora Primavera o suficiente para que ela abandonasse a classe no meio da aula.

— Vamos, chega de fofoca. – Jenkins bateu no ombro do jovem assistente. – Temos um time de príncipes para treinar.

 

...

Evie inclinou levemente a cabeça, seus olhos fitando seu incrível reflexo pelo espelho de mão que segurava em frente ao rosto. Ela e Mal ainda estavam sentadas nas mesas exteriores da escola, apenas esperando o tempo passar. E, enquanto isso, a filha da Rainha Má admirava-se, fazendo o máximo possível para esquecer a estranha sensação que sentira mais cedo.

Desviou o olhar por alguns segundos e viu a expressão concentrada de Mal, analisando o que quer que fosse na tela do celular em suas mãos. Evie ficou surpresa ao ver um sorriso discreto surgir no rosto da amiga.

— Mal? – Evie chamou a filha da Malévola, mas esta nem lhe deu atenção. – Mal, o que está fazendo?

— Ah? – Mal desviou a atenção do celular para a amiga. Antes, estivera procurando alguma informação que poderia se tornar útil para a concretização de seu plano, mas depois restou apenas a curiosidade em saber o que o jovem Príncipe de Auradon escondia em seu celular. A garota tinha encontrado várias mensagens de Audrey, de Doug, um tal de Chad e de outras pessoas; encontrara também a agenda pessoal dele – ela ficou com preguiça até de olhar, tamanha quantidade de eventos que o Príncipe tinha para comparecer. No final, encontrou o horário de aulas dele e percebeu que teria no mínimo três aulas com o garoto. Mal olhou novamente para a amiga que a encarava com um olhar questionador, à espera de uma resposta. – Só estou vendo quais serão as próximas aulas.

— Aham, sei. – Evie sorriu maliciosamente ao se inclinar em direção a outra garota. – E esse sorrisinho que surgiu no seu rosto foi por que...?

Mal franziu a testa, confusa. Ela não se lembrava de ter sorrido em momento algum.

— Não sei do que está falando. – Mal guardou o celular na mochila e sob o olhar atento da amiga, resolveu mudar de assunto. – Vamos assistir ao treino dos garotos?

— Sério? – Evie perguntou, um tom desanimado mal disfarçado em sua voz. Ela voltou a mirar seu reflexo no mini espelho e completou: – Eu até gostaria, mas tenho aula.

Mal riu pela resposta da amiga.

— E? – Mal perguntou ironicamente. Ela se levantou e jogou a mochila sobre os ombros. – Eu tenho aula livre agora e podemos aproveitar pra matar a última aula também.

— A última não. – Evie disse baixinho e depois fitou a amiga, sorrindo. – Passa protetor, antes de ir.

— Você podia, sei lá, parar de dizer isso? – Mal perguntou exasperada. Ela não precisava ser lembrada daquilo a cada segundo, mesmo que começasse a sentir sua pele ardendo levemente.

Evie apenas riu perante a exclamativa da amiga. Sabia que Mal odiava aquilo, mas provocar a garota era sempre divertido. Na verdade, tanto Evie quanto Jay e Carlos gostavam de fazer pequenas provocações para com a filha da Malévola, a expressão entre enfurecida e surpresa da garota de cabelos roxos era realmente uma coisa engraçada de se ver.

— Ninguém manda ser branca igual a neve. – O riso desapareceu do rosto de Evie assim que a garota percebeu o contexto da frase proferida. Mal ergueu a sobrancelha, debochando ao também compreender que aquela quase fora uma referência a maior inimiga da Rainha Má.

— Você percebe-

— Não. – Evie levantou e apontou o espelho na direção da garota de cabelos roxos. Sabia o que a amiga iria dizer e não tinha a mínima vontade de ouvir. – Mencione esse nome e nossa amizade acaba por aqui.

— Okay, okay. – Mal ergueu as mãos em sinal de rendição, rindo pela expressão desgostosa de Evie. A garota resolveu não provocar a filha da Rainha Má, afinal não queria passar por outra discussão. Uma por dia era o suficiente. – Vamos guardar esses livros antes que eu coloque fogo neles.

— Não duvido nada. – Evie murmurou, começando a recolher o material espalhado pela mesa. A diretora havia entregado todos os livros que iriam utilizar durante todo o semestre e era uma quantidade absurda de livros.

Com o material seguro em seus braços, ambas as garotas da Ilha dos Perdidos se direcionaram à pequena escada que levaria até a ala dos armários.

— Então... – Mal empurrou de volta a mochila que escorregava por seu ombro direito e olhou de lado para Evie, refazendo sua pergunta anterior: – Bora ver os meninos?

— Por que você quer tanto ir lá? – Evie perguntou abruptamente. Não entendia o interesse repentino e a insistência para que fossem ao campo de jogo. Evie parou e encarou a amiga a sua frente. A não ser...— Quer ver alguém em especial?

Mal parou, com um pé sobre o primeiro degrau da escada. Ela riu e se virou para a garota de cabelos azuis.

— Não começa com isso, Evie. Não sou você pra ficar de “esquemas secretos”. – A garota respondeu, ainda rindo. Evie revirou os olhos pelo modo como a amiga lhe acusara, mas não disse nada. Em parte, era verdade. Mal deu de ombros e cessou o riso, antes de continuar: – Não tenho nada para fazer e quero ver se o Jay vai aprontar alguma.

— Okay, eu vou então. Alguém tem que vigiar você, mesmo. – Evie sorriu, esbarrando propositalmente no ombro da filha da Malévola quando subiu as escadas, continuando seu caminho até os armários.

Mal revirou os olhos e seguiu a amiga. Lançou um olhar raivoso para a filha da Rainha Má quando se pôs ao lado dela, abrindo seu armário logo em seguida.

— Eu não preciso de babá. – Mal reclamou, jogando seus livros dentro do armário azul. – Não é como se eu fosse sair usando magia a toda hora, Evie.

— Por falar nisso... – Evie interrompeu-se em seu ato de arrumar os livros e deu uma olhada ao redor, encontrando alguns grupos de alunos próximos as mesas, outros na ala dos armários; tudo calmo e tranquilo. Evie voltou seu olhar para Mal e ergueu a sobrancelha. – Como é que você ainda não destruiu essa escola?

Mal fechou o armário e soltou uma risada divertida.

— Isso se chama paciência, princesa Blueberry. – Mal explicou, ajudando a amiga com os livros. – Ninguém sabe que eu posso fazer magia e isso é ótimo já que não podemos chamar tanta atenção pra gente.

Evie sorriu pelo apelido. Mal costumava chamá-la daquele modo na época em que a considerava uma inimiga. Agora, era apenas mais uma parte da amizade que se desenvolveu entre elas.

— Claro, entendi. – Evie fechou seu armário, com todos os livros já organizados. – E depois que pegarmos a Varinha, você vai destruir tudo.

— Isso ai! –  Mal sorriu vitoriosa, já considerando o plano um sucesso sem nem mesmo ter iniciado. Encarando os armários completamente azuis de Auradon Prep., ela comentou: – É tão sem graça.

— O que é sem graça? – Evie questionou, olhando para o mesmo ponto que a amiga e não entendendo o que ela queria dizer.

— Esses armários. – Mal respondeu com uma careta de aversão. – Tudo azul e arrumadinho.

Evie revirou os olhos. Não tinha uma coisa em Auradon que não fizesse a filha da Malévola começar a reclamar. Era engraçado, mas já estava começando a ficar cansativo.

— Você prefere os da Dragon Hall? – Evie questionou, lembrando-se dos asquerosos armários de sua antiga escola. – Encontrávamos de tudo lá dentro, menos os materiais da escola.

— Lembra daquele desenho que eu fiz no seu?

— Como eu podia esquecer? – Evie havia gostado tanto do desenho que passou a inclui-lo em quase todas as roupas que fazia. Um coração vermelho com uma coroa dourada; havia se tornado o símbolo da garota. – Pelo menos podíamos decorar como quiséssemos.

Mal abriu a mochila e enfiou a mão em seu interior, um sorriso malicioso despontou em seus lábios assim que seus dedos tocaram nos objetos que ganhara de Jay no café-da-manhã.

— E quem disse que não podemos fazer isso aqui? – A garota ergueu a mão e mostrou a lata de spray que segurava.

Evie riu e balançou a cabeça, sem surpreender-se com o gesto da amiga.

— Por que será que eu não me impressiono em você ter spray de tinta na sua mochila?

— Do mesmo modo que eu sei que você sempre tem um espelho na bolsa. – Mal retrucou, começando sua obra de arte na porta do armário.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa a respeita da opinião da amiga, Evie ouviu um toque agudo e rápido vindo de sua bolsa. Abriu e pegou o celular, encontrando uma mensagem no mínimo estranha destacada no visor.

“Você tem curativos?”

Curativos? Evie questionou a si mesma, estranhando a mensagem recebida. Achando que fora apenas um engano, decidiu ignorar. Mas assim que ia guardar o aparelho, outra mensagem chegou:

“Porque eu machuquei meus joelhos caindo de amores por você.”

Evie abriu a boca surpresa. Leu a mensagem novamente, não acreditando nas palavras ali exibidas. A garota não resistiu, fechou os olhos, pôs a mão sobre a boca e riu.

Que mensagem era aquela?

— Mal. – Evie chamou pela amiga, interrompendo-a de seu desenho. Estendeu o celular para a garota de cabelos roxos ler a mensagem. – Olha isso.

— Que tosco. – Mal gargalhou ao terminar de ler. Ainda com um sorriso divertido, devolveu o celular. – Quem mandou?

— Sei lá. – Evie respondeu rindo. Ela leu novamente a mensagem: – “...caindo de amores por você”. Essa foi a pior cantada que eu já recebi.

 

...

Jay e Carlos estavam sentados no chão do vestiário masculino, encostados na parede e tentando não se importarem com os olhares desconfiados que recebiam. Estavam ali há poucos minutos, mas foram o suficiente para que Jay começasse a perder a paciência ao ser fitado por todos aqueles príncipes frescos.

— O que estão olhando? – Jay perguntou friamente, enfrentando os olhares recebido. – Se estão me admirando, saiba que não gosto da mesma fruta que vocês.

Carlos começou a rir ao ver as expressões chocadas no rosto de cada garoto daquele vestiário. Ele estava se sentindo incomodado com todos aqueles olhares antes, mas, como sempre, o filho de Jafar sempre estava ali para ajudar.

— Estamos tentando entender o que vocês dois estão fazendo aqui. – Um dos garotos resolveu expor o pensamento que todos os alunos de Auradon compartilhavam. Era o mesmo garoto que havia levado um soco de Jay durante a aula anterior.

Jay bateu as mãos sobre os joelhos, respirando fundo e se levantou. Andou até o meio do vestiário, sua expressão determinada fitando o jovem de cabelos pretos que o encarava de volta.

— Olha, sabe que eu não sei. – Jay respondeu em um tom de voz irônico. Ele ergueu a cabeça, apoiou a mão direita embaixo do queixo e fingiu pensar. – O que será que dois garotos vieram fazer na hora do treino? Já sei! – Ele estralou os dedos como se tivesse pensado em algo. Um sorriso provocante surgiu em seus lábios enquanto dizia: – Deve ser dançar balé. Já se inscreveram?

O auradoniano à sua frente avançou em sua direção e Jay ergueu a cabeça, o desafiando. Sério que o garoto seria burro o suficiente para lhe enfrentar?

— Ei, o que está havendo aqui? – Ben perguntou, fitando o círculo que havia se formado em volta de Jay e Taylor. Havia acabado de conversar com o treinador e ele havia lhe dito para explicar o conceito básico do jogo para os novos alunos, e, agora, ele encontra todos do time naquela confusão estranha. Colocou o saco que carregava no chão e bateu palmas para chamar atenção. – Temos um treino, pessoal. Querem resolver seus problemas, resolvam no campo. Nada de brigas no vestiário.

Aos poucos, os jogadores iam se afastando em respeito ao Príncipe e capitão do time. Benjamin aproximou-se do garoto de cabelos brancos – que ainda permanecia sentado no chão – e abaixou-se ao lado dele.

— O que aconteceu aqui?

— Isso não foi nada, Príncipe. – Carlos bateu a mão sobre o ombro do loiro e levantou-se. – Você ainda vai ter muitas coisas com que lidar.

Ben franziu o cenho, confuso pelas palavras do baixinho.

O som do apito invadiu o ambiente assim que o treinado Jenkins passou pelas portas do vestiário.

— Coloquem suas proteções, o treino irá começar.

Cada jogador dirigiu-se a seus determinados armários a fim de pegar seus equipamentos. A surpresa, porém, foi que ao invés de luvas, ombreiras e chuteiras, eles encontram o armário completamente vazio.

— Ei, treinador... – Aziz chamou o homem e apontou para seu armário vazio.

— Onde estão as proteções? – O treinador gritou para ninguém em particular. Quase todos os olhares foram direcionados para Jay e Carlos.

Aziz apenas revirou os olhos, já sabendo que o autor daquela brincadeira provavelmente fora o filho de Robin Hood. O amigo estivera ali pela manhã e parece que resolvera aprontar mais uma das suas.

— Ah, sobre isso... – Ben lembrou-se. Foi até a entrada do vestiário e pegou o saco que antes carregava. Abriu-o e mostrou ao treinador. – Encontrei na área das piscinas.

Jenkins suspirou, pegando o saco das mãos de Ben e virando-o, seu conteúdo espalhando pelo chão. Já era a terceira vez que os equipamentos simplesmente sumiam, só para serem encontrados em outro canto qualquer da escola.

— Ben? Explica o básico do Tourney para os dois. – O treinador pediu e soprou o apito, chamando a atenção do time para si. – Enquanto o resto do time, dois minutos pra estarem no campo!

— Sim, treinador!

 

...

Cinco minutos de explicação fora o suficiente para que Jay entendesse o que teria que fazer quando entrasse em campo. Carlos ainda estava receoso, mas apenas acenou confirmando que entendera. Juntos, os três seguiram em direção ao campo, onde o treinador os esperava.

— Ben e Jay, time azul. Baixinho, você fica no amarelo. – O treinador anunciou assim que viu os três garotos se aproximando. Se dirigindo ao resto dos jogadores, gritou: – Todo o time sentado no banco!

Tão logo os jogadores obedeceram seu treinador, Lil Shang começou a distribuir os tacos e escudos. Jay recebeu apenas um taco – assim como Ben – e ficou satisfeito ao perceber que ele seria um dos que atacariam. Já Carlos, recebera junto com o taco, um escudo que era quase maior que ele.

— Vocês vão jogar normalmente e eu irei analisar cada atitude de vocês em campo. – O treinador comunicou, fitando cada um dos garotos. – Domínio de bola, receptividade, habilidade de desvio... basicamente tudo que fizerem em campo.

— Baseado nisso, vai ser definido os titulares e reservas para o próximo jogo. – Lil complementou a fala de Jenkins. – Bom treino a vocês.

Jenkins soprou o apito e os jogadores levantaram do banco, seguindo cada um para suas posições de costume.

— Jay, Ben, ataque. – Jenkins os lembrou, indicando o lado do campo que os garotos deveriam se posicionar.

Ben tocou o ombro de Jay e, quando este virou-se para encará-lo, aconselhou:

— Vai com calma. Ninguém aqui é inimigo.

— Como quiser. – Jay sorriu malicioso ao responder o que preocupou o Príncipe.

— Chad, você é a defesa. – O treinador continuou a lembrar a posição de cada jogador. Apontou para o moreno que discutira com Jay no vestiário e indicou sua posição: – Taylor, você é o lançador.

— Beleza. – O garoto correu até o canhão – que era utilizado para o lançamento de discos que impedia os jogadores de avançar para o campo adversário e marcar pontos. Jogar naquela posição favorecia Taylor, já que o garoto possuía uma mira perfeita e ainda poderia aproveitar para atingir aquele garoto da Ilha dos Perdidos.

— Ei! – Jenkins tentou chamar a atenção de Carlos, mas o garoto apenas ergueu seu capacete sem saber como colocar aquilo. – Ei, você ai, menino perdido! – Ao aumentar o tom de voz, o treinador conseguiu fazer com que Carlos escutasse seu chamado. O garoto de cabelos brancos o olhou com sua expressão confusa, sem se lembrar do que teria que fazer. – Coloque o seu capacete e saia da zona da morte. Anda!

Peraí, sair de onde? – Carlos murmurou consigo mesmo, seguindo para o lado que o treinador apontava. Ele havia mencionado alguma coisa relacionado a morte ou havia ouvido errado?

— Pega, coloca, com as duas mãos. – O treinador continuou dando ordens para o baixinho confuso. – Todos em suas posições!

Carlos atrapalhou-se com o capacete, escudo e taco em mãos.

— Ei, Carlos. – Aziz o chamou, parando ao seu lado. Indicou o capacete do garoto de cabelos brancos e avisou: – Você tem que prender o fecho senão fica folgado.

— Ah, obrigado. – Carlos agradeceu, jogando o escudo e taco no chão para fazer o que o moreno lhe aconselhara.

Do outro lado do campo, Jay apertou o taco em suas mãos e inclinou o corpo para frente, preparando-se para correr. Próximo ao garoto, estava Ben. O Príncipe equilibrou a bolinha sobre sua chuteira direita à espera do som do apito.

Percebendo que cada jogador já se encontrava em suas devidas posições e prontos, Jenkins soou o apito e a partida de treino teve início.

Ben jogou a bola para cima e a pegou com seu bastão, avançando em direção ao jogador a sua frente. Antes que o garoto de amarelo tivesse a chance de desviar, o Príncipe jogou a bola para seu parceiro ao lado e derrubou o rival de jogo. Enquanto via o garoto cair, ergueu a cabeça e percebeu que seu parceiro de time não havia conseguido receber o passe e agora a bola estava em posse do time de defesa. Rapidamente se pôs a correr para recuperar a vantagem.

Mal ouvira o apito soar e Jay encontrou-se cercado por dois jogadores. Avançou em cima do mais próximo e na segunda batida contra o escudo do jogador de amarelo, conseguiu derrubá-lo. Virou-se para o próximo e correu atrás dele – que começara a se afastar ao perceber a violência com que Jay jogava. Chad ainda tentou usar o escudo para se defender, mas não fora o suficiente para impedir que caísse desastrosamente com suas costas no chão e suas pernas erguidas.

Jay riu gostosamente, adorando aquele jogo. Quem iria imaginar que os príncipes frescos praticavam um esporte daquele estilo? Urrando de empolgação, apertou o taco em suas mãos e começou a correr.

O treinador e seu assistente entreolharam-se surpresos ao ver Jay avançar, derrubando todo e qualquer jogador que passasse a sua frente.

 

...

— Vai, Jay! – Evie gritou animada.

Ambas as garotas já se encontravam nas arquibancadas, assistindo ao treino do time de Tourney. Evie empolgara-se na torcida e estava agora em pé, com as mãos ao redor da boca para seus ocasionais gritos eufóricos a cada movimento do amigo.

— Isso porque não queria vir. – Mal provocou. Ela se divertia rindo a cada pulinho excitado da amiga.

— Cala a boca, Mal. – Evie respondeu rindo ao sentar-se novamente ao lado da garota. Sua expressão se tornou confusa ao ouvir um som insistente soando bem próximo. – Está ouvindo isso?

— O que? – Mal questionou e logo passou a ouvir o toque também, porém o reconheceu imediatamente. Parecia que a todo segundo aquele celular recebia uma mensagem ou ligação. Revirou os olhos e colocou a mão dentro da bolsa, em busca do tão requisitado aparelho. – Arg, isso já está me irritando.

— MÃE!? – Evie exclamou confusa ao ler a palavra “mãe” no visor do aparelho. Encarou a amiga, sem conseguir disfarçar sua confusão e um pouco de seu receio. Não era possível...— Como...?

— Não é nada. – Mal desligou e jogou o aparelho de volta na mochila, evitando encarar Evie ou ter que explicar o porquê daquilo.

— Olá, meninas. – Roland surgiu de repente, assustando ambas as garotas e interrompendo o que viria a ser uma conversa complicada de se explicar. O garoto estava parado em pé, de frente para elas, e com uma bacia de tamanho médio em mãos. Ele sorriu de lado e, usando de uma voz charmosa, perguntou: – Lembram de mim?

— Não. – Mal respondeu friamente sem nem mesmo fita-lo uma segunda vez. Diferente dela, Evie piscou para o garoto.

Ela sorriu, impressionando-se ao analisar as roupas dele. Roland vestia uma calça em tom colorado e uma camiseta simples de cor cinza. Mas o que acrescentava o charme em seu vestuário era a jaqueta sem mangas em couro negro e a touca cinza que usava. Isso sem mencionar a pulseira de espinhos e o coturno que Evie adorou.

O garoto tinha estilo.

— Como puderam esquecer tudo isso? – Roland perguntou, se fazendo de magoado. Encorajado pela piscadinha de Evie, ele sentou-se no espaço entre as duas garotas e observou o campo abaixo e seus jogadores. – Oh, parece que encontraram o equipamento, que pena.

Ambas as garotas encaram Roland, não acreditando em seu gesto. O que ele estava fazendo ali? Quando fizeram o convite de que ele poderia se juntar as duas?

Mal respirou fundo, revirando os olhos quando ele estendeu a bacia para ela.

— Pipoca?

 

...

— Será que encontramos nosso principal jogador? – Lil perguntou ao treinador, maravilhando-se ao assistir o garoto da ilha jogar.

Assim que Jay colocou os pés sobre a área do campo pintada de vermelho e branco – conhecida como zona da morte—, Taylor fez seu primeiro lançamento. Jay apenas parou por milésimos de segundo, o suficiente para o disco passar a sua frente sem atingi-lo. Cerrando os dentes, Taylor começou a disparar discos em direção ao garoto da ilha.

Saltando, inclinando-se, girando, abaixando-se... Jay desviava com extrema facilidade. Taylor simplesmente não conseguia atingi-lo.

O filho de Jafar jogou a bola para mais longe e rolou sobre a grama, desviando do último disco e saindo da zona da morte. Livre, pegou novamente a pequena bola e a jogou para cima no momento em que Aziz parou a sua frente. Jay abaixou o corpo e esticou o braço, empurrando fortemente o garoto ao chão. Sem perder nenhum segundo, movimentou seu taco pronto para o próximo ataque a equipe amarela.

— Jay, sou eu! Sou eu, Carlos! – Carlos exclamou, assustado ao ver o movimento do amigo. Jay sorriu e ameaçou que iria atacar, mas deixou a bola quicar sobre a grama. Carlos não achou graça nenhuma naquilo, só aumentou seu desespero. – Espera! Não, não, para!

Desesperado, Carlos jogou o taco nos pés do amigo com o intuito de fazê-lo parar. Não funcionou já que Jay lançou a bola em seu escudo e avançou sobre ele. Carlos foi ao chão, erguendo o escudo para proteger seu corpo e servindo de apoio para Jay pisar e seguir atrás da bola.

Príncipe Ben vinha acompanhando o parceiro de time e, ao ver a bola parar próxima da área do goleiro, correu em direção a ela. Quando estava quase com a posse, sentiu seu corpo ser empurrado violentamente e estendeu as mãos para aparar a queda.

Jay tomou posse da bola, girou e rebateu. A bola passou pelo goleiro e estufou as redes do gol.

Com a adrenalina pulsando em seu corpo, Jay avançou mais uma vez contra os amarelos. Porém, parecia que o goleiro fora mais esperto e resolveu se afastar para não se machucar.

— Aê! – Exclamou, jogando o taco no chão e tirando as luvas. – Vamos lá, agora sim!

O filho de Jafar estava cheio de energia. Eufórico. A sensação que sentia era quase a mesma de quando roubava ou participava das bagunças com seus amigos pela Ilha dos Perdidos. Só que dessa vez fora maior. Muito maior.

Ben, ainda caído no chão, tirou seu capacete e suspirou ao ver o filho de Jafar comemorando. Atrás do loiro, Chad levantava-se reclamando.

O apito do treinador Jenkins interrompeu a comemoração de Jay e chamou a atenção dos atordoados jogadores.

— Você! – O treinador apontou para Jay e o chamou com sua voz firme. – Venha até aqui.

Jay encarou os outros jogadores caídos e viu o amigo de cabelos brancos ser levantado por Ben.

— Foi mal, baixinho. – Jay sorriu ao passar ao lado do garoto em direção ao treinador e seu assistente.

— Do que você chama aquilo? – Jenkins perguntou severamente assim que Jay parou a sua frente; o resto dos jogadores aproximando-se vagarosamente. O treinador apontou para o campo e sorriu orgulhoso. – Porque eu chamo de talento bruto.

Jay sorriu satisfeito pela fala do treinador. Era a primeira vez que alguém de Auradon apreciava o que ele fazia com seu jeito “Ilha dos Perdidos” de ser. O garoto não iria mentir para si mesmo: depois de participar daquele treino, queria sim entrar para o time.

— Fala comigo depois, eu vou te mostrar uma coisa que nunca viu antes: o livro de regras. – Jenkins continuou, a expressão alegre por finalmente ter encontrado um jogador que se preocupava mais em jogar com tudo que tinha do que se ferir em campo. Bateu no ombro do garoto, saudando-o: – Bem-vindo ao time, filho.

Alguns dos jogadores atrás de Jay reviraram os olhos, incluindo Chad que encarou o treinador, surpreso. Não era possível que ele ia permitir aquele selvagem no time.

O treinador olhou para o baixinho da Ilha e suspirou. Diferente do amigo, o garoto não possuía nenhum talento para o Tourney.

— Já pensou em entrar numa banda? – Perguntou, fazendo o de Vil sorrir ironicamente. Jay não aguentou e começou a rir, zombando do amigo.

— Vou trabalhar com ele. – Ben ofereceu-se, pondo a mão sobre o ombro de Carlos e surpreendendo o garoto pela ajuda.

— Beleza. – Jenkins murmurou sem convicção de que adiantaria alguma coisa, mesmo com o capitão do time treinando Carlos. Fitou o rosto dos outros jogadores e viu alguns com a mão apoiada sobre o braço, barriga, peito... todos lugares onde foram atingidos por Jay. – Vamos voltar ao treino!

— Wow! – Jay bateu as mãos ao ouvir o apito do treinador. Estava pronto para mais uma partida. Virou-se e deu de cara com um loiro o fitando de forma desafiadora. O encarou de volta e bateu fortemente com seu ombro no garoto, fazendo questão ainda de olhar para trás e o ver gemer de dor pelo impacto.

 

...

— O que a gente ainda fazendo aqui? – Evie perguntou de forma retórica. O treino já havia terminado há alguns minutos e ambas as garotas ainda permaneciam nas arquibancadas. Evie guardou seu espelho – no qual ela passou os últimos minutos se admirando – e levantou-se. – Tenho aula de química daqui a pouco.

— Nós podíamos dar uma volta na cidade. – Mal pronunciou-se, largando o celular e segurando o braço da amiga para impedir que ela saísse.

— Mal. – Evie suspirou e cruzou os braços, fitando firmemente a outra garota. – Eu disse que não ia matar a última aula.

— Vamos sair com os garotos, que acha? – Mal continuou insistindo e fez com Evie sorrisse ao perceber o que a amiga estava tentando fazer, mas falhava miseravelmente. – É bem mais interessante do que qualquer aula que você possa ter agora.

— Tenta na próxima. – Evie respondeu, seu sorriso presunçoso presente em seus lábios. – Mel, não vinagre. Um dia você chega lá.

Mal cruzou os braços e suspirou dramaticamente, frustrada por não ter conseguido convencer a amiga.

— Como é que você consegue fazer isso tão bem? – A garota perguntou, sua voz soando em tom de lamento. – Não é justo.

— Charme natural. – Evie sorriu e mandou beijinho para ela antes de virar-se e ir embora.

— Fazer o que? – Roland perguntou, confuso. Ele havia saído por alguns minutos e voltara a tempo de ouvir a conversa final das garotas. E não entendera nada do que aconteceu.

Mal virou-se para ele, mudando drasticamente sua expressão para uma de resoluta frieza.

— Você ainda está aqui?

— E onde eu estaria? – Perguntou retorico, sentado ao lado dela. – Mas você não me respondeu.

Ele tivera a ousadia de tocar o nariz de Mal e recebeu como resposta uma expressão furiosa. Roland podia jurar que viu os olhos verdes de Mal se intensificarem, isso logo antes de ela segurar seu dedo e o torcer sem piedade.

— Faça isso de novo e fica sem a mão. – Mal ameaçou entredentes, enquanto que Roland apenas acenou, uma careta de dor presente em seu rosto.

— Nunca mais faço nada com você, prometo. – Roland ergueu a mão, sua expressão assustada, e fez o sinal de promessa de escoteiro. Mal o soltou e ele suspirou aliviado, passando a mão sobre os cabelos. Logo depois, avistou seu amigo aproximando-se com uma expressão nada amigável. – Oh-oh. Ele está vindo.

— Quem? – Mal virou-se e viu um garoto moreno caminhando sobre a arquibancada em direção a eles. Ela o reconheceu da noite anterior.

— Você tem que para com isso, Roland! – Aziz bradava furioso para desgosto de Roland.

— Estou saindo fora. – Mal comunicou para ninguém em particular e saiu calmamente para o mais longe daqueles dois.

 

...

— Evie! – Mal chamou pela amiga, apressando o passo para acompanha-la. – Espera!

— Que foi? – Evie riu ao ver Mal correr em sua direção. Assim que a amiga estava próxima o suficiente, questionou risonha: – Desistiu de matar aula?

— Não. – Mal respondeu, respirando fundo. Havia corrido todo o caminho entre o campo e o prédio escolar até acompanhar a amiga. A distância não era tão grande, mas era o suficiente para perder uns bons cinco minutos. A garota de cabelos roxos lançou um olhar mal-humorado para Evie, antes de responder. – Você me deixou sozinha com aquele garoto esquisito.

— Ah, Mal. Qual é?! – Evie entrelaçou seu braço com o de Mal e recomeçou a andar.  Já estavam no pátio da escola, o corredor de armários à vista. – Ele não é nada esquisito. Muito bonito, na verdade.

— Fica pra você.

— Por enquanto, não. – Evie respondeu, um sorriso misterioso surgindo em seus lábios enquanto seus olhos permaneciam fixos a sua frente. Mal ergueu a sobrancelha e fitou a amiga à espera de uma resposta para sua pergunta não dita. – Estou pensando em outro.

— Como? – Mal questionou, desconfiada. Não era possível que Evie estivesse realmente decidindo se envolver com o filho de Dunga. Ele não era nem mesmo um príncipe, era o que provavelmente a Rainha Má diria se soubesse.

— Nada, M. – Evie riu e permaneceu sem revelar a identidade de sua próxima conquista.

— Evie... – A filha da Malévola disse ainda com seu tom desconfiado. Conhecia a amiga bem o suficiente para saber que alguma coisa havia acontecido entre ela e o nerd.

— Mal... – Evie imitou o tom da amiga, em ironia.

— Espero que não esqueça do plano. – Mal avisou. Não era preciso outra discussão, apenas precisava fazer Evie entender que eles não ficariam ali por muito tempo.

— Como eu poderia? Você não para de dizer isso.

— Se eu não fizer isso, você me abandona e vai atrás dos seus príncipes. – Mal murmurou, seu tom de voz manhoso – poucas vezes usado pela garota.

— Eu nunca vou te abandonar, M. – Evie abraçou a garota de lado e sorriu. – Lembra? I’m your girl...

 

...

— Ben! – Audrey chamou pelo garoto que passara a sua frente. Estava próxima a entrada do vestiário masculino, esperando pelo Príncipe. Como não houve uma resposta por parte dele, chamou novamente. – Ben, espera!

— Ah, Audrey. – Ben virou-se e passou a mão sobre o cabelo, sem graça. – Desculpe, nem te vi.

— Tudo bem. – Audrey fez um aceno em descaso e ergueu o celular, exclamando: – Mas isso não está nada bem!

Ben afastou-se levemente ao ter o celular da garota quase colado ao seu rosto. Encarou o visor sem entender o que a namorada queria lhe mostrar e foi quando percebeu a mensagem: “Não, não tente. Ele está ocupado demais para você.” Seu nome marcado em azul confirmava que fora enviado de seu celular.

O Príncipe riu, para desagrado de Audrey.

— Eu perdi meu celular ontem na festa, Audrey. – A voz de Ben saiu calma e tranquila, disfarçando a inverdade que acabara de contar. Não gostava de mentiras, mas sabia que se contasse a verdade para Audrey, a garota enlouqueceria. – Quem o encontrou resolveu brincar com você.

— Como assim você perdeu seu celular? Tem que avisar a Fada Madrinha! – Audrey o encarou, pasmada pela calma do garoto perante a situação. – Não pode deixar que ninguém ponha as mãos em seu celular, você é o Príncipe de Auradon!

— Audrey. Audrey, calma! – Ben pediu, segurando os braços agitados da garota. Inclinou a cabeça e a fitou, tranquilizando sua expressão. – Eu já falei com a pessoa que encontrou e ela vai me devolver depois das aulas.

— Ah, okay. Menos mal. – Audrey sorriu e Ben a soltou. A garota fechou os olhos e respirou fundo, abrindo-os em seguida para fitar o namorado. – Temos assuntos sérios a tratar.

— Eu também acho. – Ben falou rapidamente, interrompendo o que a garota iria dizer. Audrey semicerrou os olhos e o garoto limpou a garganta, cruzando os braços atrás das costas. – Mas... pode começar.

— Precisamos decidir se eu irei usar uma tiara que combine com sua coroa.

— O que? – Ben perguntou, perdido na linha de pensamento da garota.

— Para a coroação. – Audrey o lembrou, balançando a cabeça em descrença do esquecimento do Príncipe. – Temos que combinar em tudo.

A coroação. Ainda estava duvidoso sobre terminar aquele relacionamento antes da coroação no fim do mês, mas seria justo consigo mesmo? Ele estaria preparado para isso?

— Sobre isso... – Benjamin respirou fundo, expressando-se seriamente. Não havia ninguém próximo a eles e havia conseguido a atenção da garota. Agora era a hora de resolver aquela situação de uma vez por todas, preparado ou não. – Audrey, temos que conversar sobre nós dois. Sei que esperar até depois da coroação seria o correto, mas.... Acho que devíamo-

— Não acredito que o treinador colocou aquele selvagem no time. – Chad interrompeu, saindo do vestiário e indo em direção ao casal. – Como isso é possível?!

Ben baixou a cabeça, suspirando derrotado. Quase. Por muito pouco, quase que ele conseguira. Se não fosse por Chad... não! Ele não podia culpar o amigo. A falta de coragem e determinação em resolver as coisas antes vinha dele e não de Chad.

— Você devia fazer alguma coisa Ben. – Chad bateu no ombro do Príncipe, despertando-lhe de seus pensamentos. – Não dá pra recusar a entrada dele ou algo do tipo?

— Não posso e nem devo proibir a entrada de alguém no time, Chad. – Ben respondeu, virando-se para observar o amigo. – É para isso que temos um treinador.

— Ele não fez nada. – Chad deu de ombros. Olhou rapidamente em celular para ver as horas e perguntou aos amigos: – Vamos voltar pra escola?

— Tenho aula com o professor Arthur agora. – Ben lembrou-se, começando a encaminhar-se ao prédio escolar. – E você?

— Química. – Chad revirou os olhos. – Odeio.

— Pelo menos o Doug vai estar lá.

— Eu assisti ao treino. – Audrey revelou, interrompendo o dialogo dos garotos. Estivera analisando o Príncipe, tentando decifrar o que este queria lhe dizer. Por hora, pelo menos, iria ignorar. Se fosse algo sério, ele irá dizer em outro momento. – Aquele garoto foi muito violento. Vocês se machucaram?

— Acho que torci o ombro. – Chad reclamou, massageando o ombro esquerdo.

— Não foi nada. – Ben respondeu, batendo no ombro de Chad que soltou uma reclamação acompanhada de uma careta de dor. – Jay foi muito bem. Nem parecia que era a primeira vez que ele jogava Tourney.

— Ele vai acabar com o nosso time, isso sim. – Chad lamuriou-se, não demonstrando a mínima intenção de admitir o quanto Jay arrasara em campo.

 

...

Evie fechou o armário e se virou para a garota ao lado.

— Então...

— Lá vem. – Mal revirou os olhos ao observar o rosto da amiga, notando o sorriso malicioso desta.

— Aquele celular não é seu. – Evie afirmou, habilmente erguendo apenas uma sobrancelha.

— Não. – A garota limitou-se a responder, folheando o livro de feitiços dentro de seu armário.

— E você vai me contar de quem é? – Evie inclinou a cabeça, mirando a amiga com seu melhor olhar inquisidor de “sei que está me escondendo alguma coisa e vou continuar perguntando até me contar” que conseguiu.

— Vai me contar quem é o garoto que está interessada? – Mal devolveu, lançando um olhar desafiador para Evie.

A garota riu.

— Você é muito curiosa, Mal.

— Como se você fosse diferente, Evie.

— Achei vocês! – Carlos exclamou, atrás das garotas. Ele já havia trocado o uniforme de treino por suas roupas normais e estava com sua mochila pendurada em um dos ombros. Ergueu a mão e fez uma careta ao pedir: – Por favor, não perguntem nada sobre o jogo, já foi humilhação suficiente por um dia.

— Tudo bem. – Mal respondeu lentamente, olhando para Evie em busca de uma ideia do que fazer. A filha da Rainha Má era mais adequada a esses casos em que necessitavam de uma conversa.

E para Evie, o correto agora seria fazer o que Carlos pedira. Nada de conversas sobre o jogo em si, mas sobre os jogadores...

— Viu aquele loiro no campo? – Evie perguntou, direcionando-se a amiga.

Benjamin?

Carlos suspirou, agradecido por suas amigas não terem insistido em saber mais sobre o verdadeiro vexame que havia passado em campo.

— Não, esse é seu. – Evie afirmou, fazendo Mal desviar o olhar pela extrema convicção imposta na voz da garota de cabelos azuis. – O outro, que jogou na defesa.

— Nem reparei.

— E você conhece ele? – Carlos perguntou, intrometendo-se na conversa.

Evie abraçou o caderno que segurava e, sorrindo, respondeu:

— Ainda não.

Carlos balançou a cabeça em negação. Ele não sabia muito bem quem era esse garoto, mas estava receoso. Por mais encantadora que Evie fosse, os príncipes daquela escola eram todos uns babacas terríveis – pelo menos os que Carlos vira em campo e pelas conversas que ouviu no vestiário.

— Cuidado para não encontrar o príncipe errado, Evie. – Carlos avisou e virou-se para sua aula de Habilidades da Vida Sem Magia, que Jay dissera ser a pior coisa que já participara em toda a sua vida.

— Tchau, Mal. – Evie despediu-se e se pôs a seguir o amigo.

Mal virou-se para a amiga ao ouvir seu nome. A verdade é que ela parara de prestar atenção na conversa momentos antes. Estivera folhando seu livro de feitiços e lendo os títulos rapidamente – feitiço do amor, do sono, energia, visual... E sua mente havia se dispersado, apenas para relembrar o treino de momentos antes.

A grama verde contrastando com o azul céu límpido; a expressão eufórica de Jay ao fim do jogo, depois de uma incrível vitória; o rosto de todos os jogadores, mesclando surpresa e admiração...

Precisava desenhar.

Mas por ora, a garota apenas suspirou. Teria muito tempo para desenhar depois que concretizasse o plano de sua mãe.

 

...

Ei, Sr. Herói, andando sobre uma estreita linha curta

Lembre-se de suas raízes meu amigo

Elas estão logo ali embaixo

Porque heróis vem e heróis vão

Hey, Mr. Hero, walking a thin, fine line

Remember your roots, my friend

They're right down below

'Cause heroes come and heroes go

Ben suspirou, evitando prestar atenção nas piadas sem graça que Chad fazia a todo momento. Gostava do amigo, mas simplesmente odiava os momentos em que o loiro agia de modo tão arrogante. Ben e Chad se conheciam desde a infância, na época em que ambos ainda eram apenas crianças e não príncipes em pré-coroação.

O jovem Príncipe ainda se lembrava daquela época. Audrey, Chad, Kyle e Melody. Eram inseparáveis.

Audrey e Chad foram os primeiros a se conhecerem devido a amizade de suas mães, Aurora e Ella. Em uma das reuniões no castelo da Fera, os dois amigos conheceram o tão famoso descendente da Rainha Bela e do Rei Adam: Benjamin Florian, de apenas cinco anos. Os três se tornaram amigos imediatamente.

Depois disso vieram Kyle e Melody. O garoto acompanhava sua mãe quando esta viera a capital abrir seu segundo restaurante. Este foi o lugar onde todos se conheceram. As famílias reais de quase todos os reinos vieram prestigiar aquela inauguração. Melody passeava na capital com sua família nesta ocasião, e o rei Eric tivera a ideia de ir no Palácio da Tiana e, assim, todos as cinco crianças se conheceram e estabeleceram uma amizade intensa e divertida.

Não podia esquecer-se, claro, de Anxelin, a filha mais velha de Rapunzel. A pequena loira sempre acompanhava seus pais nas visitas a capital, para que assim pudesse se encontrar com a turminha de amigos.

Melody era um ano mais nova que eles, mas esse fato não a diferenciava de seus amigos. O espirito aventureiro da pequena garotinha de cabelos pretos despertava curiosidade em todos os cinco. Ben conhecia os melhores lugares para se esconder, enquanto que Chad e Kyle eram os mais brincalhões do grupo. Audrey e Anxelin eram quase como irmãs, sempre andando juntas e fazendo dupla em qualquer que fosse a brincadeira.

Eram apenas crianças inocentes vivendo suas infâncias em meio a brincadeiras e diversão.

Isso até iniciar o treinamento.

Audrey e Melody desapareceram quase que no mesmo tempo. A filha de Aurora, com doze anos na época, mal saia das propriedades de seu castelo enquanto que Melody fora “isolada” no reino de Atlântida.

As visitas de Anxelin foram se tornando cada vez mais raras, antes quatro vezes por semana, depois apenas duas e logo a garota loira vinha uma vez por mês. Até chegar ao ponto de encerrar por completo.

O treinamento fora intenso e cansativo para aquela idade. Para todos os amigos, mas principalmente para Benjamin. Com Ben fora dois anos mais cedo, quando o garoto tinha apenas dez anos. Ele foi o primeiro a começar o treinamento, já que iria assumir os Estados Unidos de Auradon, o Reino de todos os reinos.

O único dos seis que não sofreu a pressão do treinamento fora Kyle. O moreno havia decidido não assumir o trono de seu pai, ao preferir auxiliar sua mãe com a rede de restaurantes. Naveen, felizmente concordou, passando assim o título de herdeiro do trono para seu filho mais novo.

Às vezes Ben sentia pena de Mino. Sempre rodeado pelos mais velhos, sem poder se divertir e agir de acordo com sua idade.... Agora mesmo o pequeno garoto estava no castelo da Fera, recebendo aulas particulares ou participando como convidado de alguma reunião real.

De qualquer forma, depois que o treinamento começara, a amizade dos seis não fora mais a mesma. Ben e Audrey iniciaram um namoro por conveniência, sendo apoiados por seus pais; Anxelin se tornara mais reservada e mal conversava com nenhum dos antigos amigos, assim como Kyle que preferia evitar até mesmo compartilhar a mesma sala que qualquer um outro. E Melody... essa não era vista pelos antigos amigos há pelo menos um ano e meio.

Dos seis, a personalidade mais alterada fora a de Chad. O garoto mudara completamente. Agora era exibido, suas atitudes se tornaram egocêntricas, beirando a arrogância. Sempre querendo ser superior aos outros. Ben percebia suas atitudes e apesar de desaprová-las, não podia fazer nada. Não dependia dele.

Sentia saudades da época em que sua única preocupação era encontrar o melhor lugar para poder esconder o “tesouro” das brincadeiras e correr feliz com seus amigos.

— Eu sei, eu sei. – Chad dizia ainda rindo de provavelmente mais uma de suas piadas sem graça. Assim que viraram o corredor, porém, seu sorriso desapareceu. Chamou a atenção de Ben e apontou na direção dos jovens da Ilha dos Perdidos que acabara de ver. – Essa galera não presta.

Ben olhou para onde o amigo apontara, esperando ver os filhos de vilões destruindo os armários ou atormentando os alunos. Era o mínimo que podia-se esperar pela expressão de Chad e Audrey. Ao contrário, a única coisa que Ben encontrou foi a garota de cabelos roxos se despedindo de seus amigos e procurando alguma coisa em seu armário. Simples assim. Não havia acontecido nada para que Chad fizesse aquele infeliz comentário.

— Pera lá, Chad. – Ben deu de ombros, tentando forçar um sorriso despreocupado em seu rosto. – Dá uma chance.

Audrey riu, não se surpreendendo com a ingenuidade do namorado.

— Sem ofensas, Bennyzinho. – Audrey começou com um sorriso gentil forçado, segurando as mãos do namorado. – Mas você é muito ingênuo.

Ben riu fracamente pelo tom de voz que a garota usara. Como se estivesse conversando com uma criança.

— Eu sei que sua mãe se apaixonou por uma fera horrível que por acaso era um príncipe. – O riso do garoto sumiu. Não acreditava que Audrey havia dito aquilo sobre seu pai, o homem que ele tanto amava e admirava. Sem perceber o incomodo do Príncipe, a filha de Aurora continuou: – Mas, com a minha mãe, a Fada Malvada era só a fada malvada. Ela é igual a mãe.

— Está errada sobre eles. – Respondeu por fim. Ben tinha que confiar em sua escolha e para reforçar suas palavras, sorriu para os dois. – Não julgue um livro pela capa, Audrey. Até mais.

Audrey balançou levemente a cabeça, encaminhando-se para o próprio armário com Chad em seu encalço. A inocência de Benjamin era cômica.

Ben respirou fundo, esvaziando de sua mente aquele pequeno dialogo desagradável. Será que seria tão difícil assim fazer as pessoas confiarem nos jovens da Ilha dos Perdidos? Confiarem na escolha do futuro Rei de Auradon?

Se não conseguia conquistar a confiança de seus próprios amigos, como Ben achava que iria conseguir garantir paz e amizade com seu povo? Essa era uma questão para a qual ele ainda não havia encontrado uma resposta.

Em primeiro caso, tinha que garantir que o projeto descendentes desse certo e, para isso, precisava se manter informado de todos os acontecimentos tanto de como para com os filhos de vilões. E se ele não ficara sabendo de nada até agora, as coisas estavam indo muito bem.

Pelo menos era o que esperava, já que não estava com seu celular em mãos para receber as notícias de forma mais rápida.

E foi ao olhar para a jovem garota de cabelos roxos concentrada em seu armário, que Ben criou coragem para se aproximar e iniciar uma conversa. Pelo menos a desculpa ele já tinha.

Aproximou-se silenciosamente e observou o desenho pichado na porta aberta do armário. Seria uma ótima obra de arte se não fosse pelo fato de ser a... Malévola, pensou admirando a arte feita pela garota.

Mal pegou o livro de feitiços e fechou a porta, virando-se para encarar o jovem Príncipe encostado nos armários, observando-a. Era a segunda vez que os dois se encontravam naquele dia e a garota estava suspeitando que era de propósito.

— Oi. – Ben disse, sorrindo de lado.

— Oi. – Mal respondeu desconfiada ao fitar os olhos brilhantes do garoto. Um esgar de um sorriso despontou em seus lábios ao fitar a expressão encantadora do Príncipe, porém a garota ainda permanecia cautelosa sobre o porquê de ele estar ali.

— Como foi hoje? – Benjamin perguntou sorridente.

Mal lançou um olhar enigmático para o rapaz, antes de responde-lo com menos ironia do que esperava.

— Demais.

Ele sorriu pela resposta e fitou o desenho no armário. O contorno em preto delineava o desenho e a pintura tão realista impressionou o garoto.

Ben conhecia as características artísticas graças as aulas de Mégara.

Por falar nisso...

— Belo desenho. – Comentou sorridente e a viu inclinar a cabeça e estreitar os olhos. A garota fitava o rosto dele, tentando enxergar alguma explicação para suas palavras; não era possível que ele tivesse gostado mesmo do desenho. – Devia considerar levar esse talento do armário para a aula de artes.

Aula de artes... Finalmente uma coisa que interessasse para Mal. Não tinha aula de artes na Ilha dos Perdidos, ou melhor dizendo, desenhar era um completo desperdício de tempo.

 

Mamãe! – A pequena loirinha exclamou radiante ao descer as escadas do sombrio castelo.

Que foi, praguinha? – Malévola virou-se a tempo de ver a filha correr até alcançá-la.

Eu fiz isso. – Mal não se importou com o tom de voz da mãe e estendeu a folha manchada que encontrara para distrair-se.

O que é? – Malévola questionou, fitando o papel.

Um desenho, mamãe.

Desenhado ali, Malévola podia ver um castelo com uma placa escrito: Palácio da Malévola – entre e sofra. O céu fora pintado de azul-claro e sombras pretas desenhadas como pássaros voando, indo contra a frase escrita e a natureza da garotinha. Era um desenho muito bem elaborado para uma criança de apenas sete anos.

E uma completa perda de tempo.

Se tem tempo para desenhar, devo imaginar que já terminou todos os seus afazeres.

Não, mamãe. – Mal abaixou a cabeça e cruzou as mãos, desapontada com o modo de agir de sua mãe. A garotinha achou que ela ficaria feliz pelo desenho. Se Mal conseguisse melhorar, talvez a mãe pudesse gostar. – Mas eu-

Gaste seu tempo com alguma coisa mais útil. – Malévola amassou a folha de papel e jogou atrás de si. Colocou a mão no queixo da filha e ergueu seu rosto para fita-la. – Depois não reclame por ser ignorada pelas outras crianças. Elas se interessam por coisas reais e não por... desenhos.”

 

— ... eu posso te inscrever.

Mal piscou, ouvindo a voz do Príncipe traze-la para a realidade. Havia “viajado” de novo, pela segunda vez naquele dia.

— E aí? – Ben perguntou, um sorriso sugestivo em seus lábios. Ele nem mesmo percebera que a garota não havia prestado atenção quando ele explicou sobre a maneira de ensinar da professora Mégara. O que acha?

Mal abriu a boca para responder, mas sua atenção fora desviada novamente. Dessa vez era para a filha da Fada Madrinha que acabara de virar o corredor. Mal fitou a garota passar ao seu lado e um sorriso maldoso despontou em seus lábios. Aquele seria o momento perfeito para pôr em pratica seu plano.

Para isso, precisava segui-la. E se livrar do Príncipe.

Virou-se de volta para o garoto e sorriu, inocente.

— Nunca tinha pensado nisso.

Ben riu de forma contida. A observou fazer uma careta – no mínimo fofa, para ele – antes de virar-se e sair.

Ela maldosamente lhe deu as costas e o deixou falando sozinho.

Simples assim.

Ben riu consigo mesmo ao lembrar-se de que devia ter pedido seu telefone de volta. Mas naquele momento, despareceu de sua mente todas as coisas que acontecera em seu dia.

Tudo por causa do verde. Aqueles incríveis olhos verdes... Ben não conseguia parar de encará-los. Pareciam tão ameaçadores, mas para ele eram apenas... encantadores. Hipnóticos. E aquela expressão que Mal fazia, decidindo se agiria de forma arrogante e sarcástica ou apenas responderia normalmente...

Ele adorava observar aquilo. Adorava observá-la. Ela era muito mais bonita pessoalmente do que em seus sonhos estranhos e confusos.

Talvez Doug estivesse certo, afinal. Ben estava caindo em um precipício que poderia não ter mais volta.

E ele não tinha medo do que poderia encontrar no final.

 

...

Jane suspirou mais uma vez desde que entrou naquele banheiro. A garota tinha aula livre agora e, como não havia nada para fazer ou com quem ficar, ela preferia estar em aula.

Devia ser a única a pensar desse modo. Assim como também devia ser a única aluna a não participar de nenhuma atividade extracurricular.

Tourney: só aceitam garotos. Nem se ela fosse boa com esportes, poderia entrar.

Banda: ela não conseguia tocar nenhum instrumento. E sua voz era péssima para se quer cogitar a ideia de participar do coral.

Natação: nunca que ela ia ter coragem de participar. Exibir seu corpo naquelas piscinas não era o desejo de humilhação que queria.

Líder de torcida: apesar de querer muito entrar, o sentimento não era compartilhado pelas outras garotas da equipe. Não tinha muita desenvoltura para ser uma líder de torcida, era o que diziam.

A única opção que restara fora sugerida pela própria garota: mascote do time. Nada extravagante ou de alguma importância, mas ainda a fazia se sentir necessária. Ela representava o time de Tourney e sempre viajava com todos os jogadores e a equipe de torcida, apesar de nunca ter sido notada por nenhum dos outros alunos.

Jane fitou seu reflexo no espelho e passou as mãos sobre seus cabelos curtos. Com certeza sua “invisibilidade social” devia-se ao fato de sua completa falta de beleza. Já havia tentado mudar sua aparência, mas o resultado? O desastre atual. A coisa mais louca que ela tinha feito – e Jane se arrependeria disso eternamente – foi ter cortado o cabelo. Tudo bem que antes não era nada encantador, não chegava a se comparar com o de Audrey ou da Ally.

O que a deixava mais para baixo era perceber que os jovens da ilha já estavam sendo a “sensação do momento”. Talvez fosse por causa da curiosidade em receber pessoas tão diferentes dos que já estavam acostumados, tanto no modo de vestir quanto no de agir. Ou, mais provável, chamavam mais atenção por causa do medo que alguns sentiam – incluindo a própria Jane.

Jane estava no refeitório quando a garota da Ilha dos Perdidos passou por aquelas portas, desfilando com seus exóticos cabelos azuis. A garota parecia acostumada a ser alvo de tantos olhares, caminhava com confiança e um olhar superior em face. Invejável.

E ainda havia a outra garota, a de cabelos roxos. A aparência dela contrastava com a da amiga, porém não deixava de chamar atenção. Jane tivera aula de matemática junto com ela e o amigo de cabelos brancos. Os dois riam e pareciam bem unidos, mesmo quando a garota da ilha se revoltou contra o professor. Ainda achava que havia acontecido alguma coisa de estranho com aquela calculadora...

Jane interrompeu seus movimentos ao ver, refletida no grande espelho, quem ela menos esperava.

Mal entrou no banheiro com seu melhor sorriso de “garota boazinha” e parou no meio do cômodo, fitando a jovem filha da Fada Madrinha.

— Oi. – Mal cumprimentou, inclinando a cabeça e exibindo seu sorriso. – É Jane, não é?

Jane arregalou olhos ao virar-se para a outra garota. O que ela estava fazendo ali? A filha da Fada Madrinha engoliu em seco ao notar que Mal dera um passo à frente; um passo em direção a ela.

— Ah, eu sempre adorei esse nome. – Mal continuou a falar – mentir –, evitando fazer uma careta ao pronunciar o nome da garota. – Jane.

Jane continuava fitando Mal, assustada sobre o que possivelmente levou a garota da ilha a iniciar uma conversa com ela. Não poderia ser nada bom.

Na melhor das hipóteses, era bom sair dali. Por isso, apertou as mãos e se virou, se despedindo apenas com um:

— Legal.

— Não vá embora. – Mal vociferou, erguendo a mão para impedir a garota de sair.

Jane parou, virando a cabeça lentamente em direção a mão estendida de Mal, lembrando-se da aula de matemática e temendo que a outra fizesse alguma coisa perversa consigo.

Se controla, Mal. Repreendeu-se internamente, abaixando a cabeça. Não pode assustar a garota. Era melhor usar do mel e guardar o vinagre por enquanto.

Sendo assim, Mal forçou seus olhos a lacrimejarem – o que fora fácil de se fazer, bastava apenas relembrar a dor que sentira quando fora pega por uma das armadilhas de sua mãe, alguns anos atrás. Percebendo sua visão embaçando-se pelas lágrimas de crocodilo, adotou uma expressão forçadamente entristecida para completar o quadro de menininha indefesa e perdida que tanto queria transparecer para a outra.

— Acho que eu só estava querendo fazer amizade. – Mal continuou, orgulhando de si mesma quando ouviu sua voz sair baixa e fragilizada. – Mas já deve ter todos os amigos que precisa.

— Nenhum. – Jane confidenciou timidamente.

— Sério? – Mal imitou um tom de surpresa em sua voz e começou lentamente a se aproximar da bancada. Continuou falando, mesmo que visse Jane afastando-se ainda receosa. Evie fazia aquilo parecer tão fácil!— Mesmo com a sua mãe sendo a Fada Madrinha e a diretora...

É, aí estava um dos motivos dela não ter amigos.

— Ah, sei mencionar a sua própria... – Mal apontou para a garota e por pouco não conseguiu se segurar. A maneira da garota se vestir era tão sem graça que até ela – que não gostava dessas frescuras igual a Evie – tinha que admitir o desastre “fashionista”. Jane sorriu à espera do fim da fala de Mal. –... personalidade.

— Preferia ser bonita. Seu cabelo é lindo.

Mal segurou uma mecha de seus cabelos roxos e uma ideia surgiu em sua mente. A garota lembrou-se de ter visto um feitiço relacionado a mudar o cabelo ou coisa assim. Não queria ter que revelar seu segredo mágico, mas seria perfeito para enganar aquela garota. Elas ligavam muito para aparência e isso se tornaria uma vantagem para Mal.

— Quer saber? – Mal sorriu para a garota; um sorriso levemente travesso. – Eu tenho a coisa certa para isso.

Jane se sobressaltou quando Mal ergueu seu livro e bateu ele em suas mãos, um ruído seco ecoando pelo banheiro. O sorriso de vitória mal disfarçado no rosto de Mal não fora o suficiente para afastar a curiosidade da filha da Fada Madrinha. E Mal percebeu isso.

— Está... – A garota de cabelos roxos abriu o livro a procura do feitiço certo, folheando pelas páginas. Ali não havia um sumario ou uma ordem correta, era mais bagunçado do que os corredores de Auradon Prep. – Ah, aqui.

Mal sorriu satisfeita e olhou rapidamente para Jane, antes de conjurar o feitiço:

Olhe bem, preste atenção. Que o cabelo feio, vire um cabelão.— Mal esticou um dedo em direção a Jane assim que terminou sua fala. Movimentou a mão para a esquerda, direita, para cima e depois para baixo, a cabeça da garota mais nova seguindo os gestos. Ao fim, Mal ergueu sua mão e Jane levantou a cabeça, seus cabelos completamente diferentes do que eram alguns poucos segundos atrás.

Jane sentia um leve ardor na cabeça e ficou com medo de saber o que Mal havia feito consigo. Mal indicou o espelho e Jane virou-se lentamente, temerosa sobre o que iria encontrar.

A garota suspirou maravilhada, passando as mãos sobre seus mais novos cabelos. Estavam lindos, grandes e brilhantes. Assim como desejara em toda a sua vida.

— Uau. – Mal apoiou a mão esquerda nas costas da outra garota e a fitou através do espelho. Ela havia feito um bom trabalho, tinha que admitir. – Quase não dá para notar... – Segura a língua, Mal. Pensou, travando em sua fala. Mas Jane nem pareceu perceber, estava mais ocupada admirando seu novo visual. – ... os seus outros traços.

Jane virou-se para Mal, maravilhada com que a garota fizera. Se sentia boba pelo medo que sentira antes pela garota de cabelos roxos. Se ela quisesse, poderia tê-la ferido, mas preferiu ajudar, e isso fascinou Jane.

Jane bateu o dedo insistentemente sobre o livro marrom de Mal, curiosa sobre o que mais poderia ser feito para melhorar sua aparência. Afinal magia não é tão ruim assim, certo?

— Faz o meu nariz. – A filha da Fada Madrinha pediu ansiosa.

— Ah, eu não consigo. – Estou melhorando, Evie. Mal pensou, rindo internamente ao ver que Jane estava caindo em sua armadilha. Mal inclinou a cabeça, sua voz a fazendo soar arrependida. – Eu andei treinando, mas, sabe, eu não posso fazer mágicas grandes.

Mal fez um gesto de sua mão englobando o rosto de Jane e viu o sorriso da outra garota desaparecer. Agora iria direcionar aquela conversa para onde ela realmente queria.

— Não como a sua mãe e a Varinha. – Mal não disfarçou a animação em sua voz, o que só a fez parecer mais disposta a ajudar Jane – pelo menos na visão ingênua e ludibriada da filha da Fada Madrinha. – Tipo, um toque daquela coisa e você ia ter os traços que quisesse.

Jane entristeceu-se. Aquilo não seria possível, nem se quisesse. Sua mãe havia aposentado a Varinha, assim como sua própria magica, e a usava apenas em ocasiões realmente necessárias.

— Ela não usa mais a varinha dela. – Jane revelou, para a completa surpresa de Mal. – Ela acredita que a mágica verdadeira está nos livros. Não nos de magia. Livros normais, de história e essas coisas.

— Mas que bobagem. – Mesmo estupefata pela revelação, Mal não deixou sua expressão abalar-se. Apenas riu e prosseguiu: – Ela usou magia na Cinderela, que nem era filha dela mesma.

Jane desviou o olhar. Não devia se sentir incomodada com aquilo, mas o modo como Mal falara a fez hesitar.

— Ela não ama você? – Mal perguntou, procurando atingir os sentimentos da garota. Que maneira melhor de manipular alguém do que por seus sentimentos? Mal aprendera isso na aula de Maus Esquemas e Tramas Desagradáveis, uma de suas aulas favoritas, mesmo que fosse ministrada pela insuportável da Lady Tremaine.

— Claro que ama. – Jane respondeu, confiante de sua resposta. Sabia que a mãe a amava. – Mas é amor bruto, trabalhe por dentro e não por fora. – Sua voz desvaneceu enquanto confundia-se em sua explicação. – Esse tipo de coisa.

Mesmo que a própria Cinderela tratasse a Fada Madrinha como uma mãe, isso não significa que elas fossem mesmo mãe e filha. E nem que Jane era menos amada que a outra.

Pelo menos era o que achava.

— Essa é a cara. – Mal exclamou, apontando para o rosto abatido da garota. Jane assustou-se com aquela reação inesperada, mas Mal continuou falando, gesticulando de maneira teatral. – É e depois faça a cara de que o seu coração vai despedaçar.

Jane a fitou sem entender e Mal ergueu um dedo, em sinal de “espere e atenção”. Mal inclinou a cabeça para o lado e segurou suas próprias mãos, suspirando melancólica do mesmo modo que vira uma vez na televisão – em uma das ocasiões em que Carlos conseguira fazer o sinal durar por tempo suficiente para assistirem a um dos melosos filmes auradonianos, que fez Mal se arrepender de ter visto pelo resto da noite.

— Ah, mamãe. – Mal choramingou, baixando o olhar para dramatizar melhor sua interpretação. – Não entendo porque você não pode me fazer bela também.

Ao fim, sorriu satisfeita por sua atuação.

— Acha que funciona? – Jane perguntou, esperançosa.

— Sim. – Mal riu, em parte fingimento, mas ainda sim feliz por como as coisas estavam seguindo exatamente do jeito que ela queria. – Foi o que a velha Cindy fez, ? E a sua mãe mandou um bibidi-bobidi-boo irado pra cima dela.

Agora era a hora de jogar a cartada final.

Evie dissera uma vez que a chave para conseguir convencer as pessoas a fazerem o que ela quisesse, era simplesmente acreditar que a escolha pertencia a elas. Fácil na teoria, difícil na pratica, claro.

Mas Mal já tinha conseguido antes mesmo de pronunciar sua frase final.

— E aí, se a sua mãe decidir usar, tipo... a boa e velha Varinha. – Mal sentou em cima da bancada da pia e ergueu os ombros, soando inteiramente despreocupada. – Me convida.

— Se eu convencer a mamãe, você dentro. – Jane mal podia conter a empolgação. Pela primeira vez, alguém a havia ajudado de verdade e poderia ajuda-la mais ainda!

Mal bateu palmas com um sorriso malicioso no rosto enquanto fitava a filha da Fada Madrinha pegar sua bolsa no chão e se despedir.

— Tchau. – Mal acenou e gargalhou maleficamente assim que a outra garota saiu do banheiro.

Se tudo continuasse correndo bem, em breve estaria em posse daquela Varinha Mágica e o plano iria se concretizar.

Queria que visse isso, mamãe. Mal pensou, fitando o dragão fixado na capa de seu livro de feitiços. E eu só tive que fazer um feitiço bobo de cabelo!

Eu conseguiria ter roubado quando estava no museu! Era o que provavelmente Malévola iria dizer para a filha. Mesmo assim, esse pensamento não desanimou a garota.

Iria conseguir orgulhar sua mãe e mostra-la que não era fraca igual seu desconhecido pai.

Assim que estiver com a varinha em mãos.

Mas, por hora, devia apenas esperar.

 

...

Jay virou o corredor e suspirou aliviado ao encontrar o de Vil mais à frente.

— Carlos! – Chamou, acenando para o amigo. – Vem cá!

Carlos segurou a alça da mochila e balançou a cabeça, desanimado ao encaminhar-se até o mais velho.

— Tenho aula agora.

— Não importa. – Jay passou o braço sobre o ombro do rapaz e começou a seguir pelo caminho que viera, forçando Carlos a segui-lo. – Temos um ladrãozinho para encontrar.

— Mas você já está aqui. – Carlos fitou o amigo, confuso.

— Eu não, idiota. – Jay bate na cabeça de Carlos e o garoto só pode reclamar. Por que todo mundo tinha que bater nele?, questionava-se enquanto o filho de Jafar iniciava sua explicação. – Tem alguém roubando os equipamentos do time e ninguém descobriu quem é.

— Como sabe?

— Aqueles príncipes frescos estavam comentando sobre isso.

— E para que precisa de mim? – Carlos indagou, não entendendo qual seria sua colaboração naquela procura.

— Tem uma câmera na entrada do vestiário. – Jay respondeu, sorrindo maliciosamente. – Como estão suas habilidades em hackear?

— Melhores do que nunca. – Carlos respondeu, um sorriso surgindo lentamente em sua face em virtude do sentimento de confiança que sentia pela primeira fez naquele dia.

 

...

Sorrindo consigo mesma por ter conseguido convencer a ingênua filha da Fada Madrinha, Mal saiu pela porta do banheiro. Talvez devesse procurar por Evie para contar que o plano estava começando a dar certo. Se bem que a filha da Malévola não sabia que aula a amiga estava tendo.

— Você me evita.

Mal deixou o livro de feitiços cair, tamanho susto que levou. Abaixou-se para pegar o livro e olhou atrás de si, vendo o jovem Benjamin encostado na parede, com os braços cruzados.

— Me seguiu?

— E se eu te disser que sim?

Mal mordeu os lábios para evitar um sorriso ao lembrar-se de uma frase parecida dita pelo garoto na noite anterior.

— Eu diria que você é louco. – Mal levantou-se e abraçou seu livro de feitiços junto ao peito. – E psicopata.

Ben riu, levantando as mãos em rendição. Ela lhe dera a mesma resposta da outra noite.

— Só vim pedir que você devolvesse meu celular.

Mal ergueu o pé direito e puxou o celular de dentro da bota que usava. Ben franziu a testa quando a garota começou a aproximar-se.

— Não se preocupe. – Mal estendeu o objeto de volta para seu dono original. – Está do jeito que você me entregou.

Ben pegou seu celular e aproveitou para segurar a mão de Mal.

— Se divertiu?

— Com o que? – Mal perguntou asperamente, puxou a mão e se afastou. – Não tem nada aí que me interesse.

— Sabe... – Ben desencostou da parede e sorriu de lado, fitando o aparelho em sua mão direita. – Tem uma função no celular que nos mostra o que foi aberto recentemente.

Mal não conseguiu disfarçar sua surpresa momentânea. Ben inclinou a cabeça assim que percebeu a mudança de expressões da garota a sua frente.

— Não me importa. – Mal virou-se e saiu sem mais uma palavra, deixando apenas um príncipe sorridente para trás.


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Notas finais do capítulo

Roland, elegante como sempre ♥.♥



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