O Fim escrita por Luna


Capítulo 2
II




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JANEIRO

Lily ficou surpreendida quando não houve uma única menção da carta que Potter lhe enviou durante toda a semana após o seu regresso a Hogwarts. Potter tinha-lhe olhado ansioso algumas vezes e, numa delas, Lily sorriu-lhe e acenou-lhe. Ele pareceu compreender a mensagem, pois os olhares pararam. A sua surpresa, porém, veio do facto de nem Mary, nem Marlene, nem mesmo Black, mencionaram alguma coisa que podia ser uma referência à carta, mas ela não se deixou focar muito nisso. Era melhor assim, de qualquer maneira.

O início do ano, porém, trazia novas responsabilidades. Ao entrarem no Salão Nobre no primeiro dia do período, logo após a viagem de comboio até Hogwarts, os alunos que voltavam de casa depararam-se com um salão com menos um quarto dos alunos que tinha em setembro e uma baixa no corpo docente. McGonagall falou com ela e com Potter essa noite.

— O Professor Dumbledore está a tentar perceber o que aconteceu. Alguns, os pais não deixaram voltar. Estão com medo que eles não voltem. — Lily podia ver na cara da professora que ela achava que eles não podiam estar mais a salvo em Hogwarts, muito mais do que em casa. — A maior parte dos nascidos-muggle que não regressaram foram mortos ou estão desaparecidos.

Lily não conseguia falar. Durante odo este tempo, ela esteve convencida que, enquanto estivesse em Hogwarts, nada os podia atingir. Percebia agora que isso era uma mentira.

— E os Slytherin? — Potter perguntou seriamente.

McGonagall pareceu ponderar se devia responder, mas acabou por dizer:

— Nós desconfiamos que a maior parte dos que não estão cá receberam a marca e foram pedidos que se juntassem já às tropas. — Ela reacendeu o fogo com a varinha. — Não todos, claro.

— Claro — Potter concordou. Ambos tinham visto Regulus Black, Rabastan Lestrange e outros sentados à mesa.

— Eu espero que tratem este assunto com discrição. Eu sei que isto pode ser pedir muito, mas nós não queremos preocupar o resto dos alunos até termos um plano de ação.

— Certamente, professora — Lily respondeu. — Eu não quero ser intrometida, mas sabe o que é que aconteceu ao professor Flitwick? Nós notamos que ele não estava à mesa esta noite.

— Oh, Evans! — McGonagall deixou escapar um suspiro de alívio. — Tenho o prazer de informar que o professor Flitwick sofreu apenas um acidente em batalha, mas ele estará de volta em Hogwarts até ao final do mês. O professor Dumbledore deverá fazer um comunicado já amanhã e nós informar-vos-emos da nossa decisão assim que houver um consenso.

 

O plano de ação surgiu cerca de duas semanas depois sob a forma de recrutamentos antecipados para o corpo de aurores e formações em técnicas defensivas e de ataque. Lily juntou-se a ambos, tal como Alice e várias outras pessoas do sexto e do sétimo ano.

As visitas a Hogsmeade também foram todas canceladas, por precaução, mas Hogwarts começou a organizar piqueniques semanais como compensação e, Lily suspeitava, método de descontração. Eram trazidas caixas de doces e cerveja amanteigada de Hogsmeade e a escola em peso juntava-se no Salão Nobre aos sábados à tarde para disfrutar da comida.

— Posso oferecer-te uma cerveja amanteigada? — Potter perguntou-lhe assim que ela entrou no Salão. Ela podia ver alunos de todos os anos espalhados pelo Salão a conversar e descansar.

Lily sentia que tinha perdido a sua capacidade de rir com tudo o que estava a acontecer, mas era bom ver os alunos mais novos a fazê-los. Eles eram demasiado novos para tudo aquilo.

Potter tossiu para chamar a sua atenção e encarou-a com as sobrancelhas levantadas.

— Acho que mal não fará — Lily concedeu. Potter sorriu-lhe levemente e afastou-se para pegar duas cervejas e uma pequena taça de doces. Lily viu-o a trocar umas palavras com Black antes de voltar para a beira dela.

— A que devemos brindar? — Potter perguntou.

— A tempos melhores — Lily respondeu, batendo com o seu copo contra o de Potter.

Eles beberam em silêncio, mas Potter parecia ansioso. Ela podia senti-lo a mexer-se constantemente, como se estivesse desconfortável.

— Potter — ela chamou-o. — Se tens algo a dizer, di-lo de uma vez — ela pediu-lhe.

Potter encarou-a durante alguns momentos. Ele respirou fundo e, sem tirar os seus olhos dos dela, perguntou:

— Aquela resposta que tu me enviaste. Tu realmente queres que isso aconteça?

Lily sorriu e olhou-o pelo canto do olho para responder:

— De todos os momentos em que o podias ter feito, estás a ter segundos pensamentos agora? — Potter riu-se, algo embaraçado. — Confesso que acho que o plano deixou de ser executável, mas estou aberta a sugestões.

Potter pareceu pensar durante uns momentos, antes de abrir um grande sorriso, contente e misterioso.

— Estás ocupada na próxima sexta? Eu tenho treino de Quidditch, mas eu consigo terminá-lo mais cedo e fazê-los ter treino outra vez no sábado de manhã.

Lily olhou-o, intrigada.

— Acho que estou livre.

— Ótimo! — Potter voltou a sorrir-lhe. — Deixa tudo comigo. Voltamos a falar durante a semana para combinarmos uma hora.

— Ok. — Lily sorriu.

— Eu adoraria ficar mais tempo, mas tenho uns assuntos para tratar. Até logo, Evans! — Potter sorriu-lhe outra vez e pousou a sua caneca vazia. Lily estava à espera que ele fosse embora, mas ele não se moveu. Eles ficaram a encarar-se durante alguns segundos, até que Potter se inclinou e lhe beijou a cara. Ele sorriu-lhe uma última vez e afastou-se, perdendo-se no meio dos mantos pretos.

 

FEVEREIRO

— Para que é que tu precisas do vestido, mesmo? — Mary perguntou pela quinta vez.

Lily revirou os olhos.

— Eu já te respondi a isso. Tenho um encontro. — Lily não tirou os olhos do espelho para responder, demasiado ocupada em pôr os brincos que a sua avó lhe tinha oferecido há tantos anos atrás, dizendo que ela os guardasse para uma ocasião especial.

— Pois, tu dizes isso, mas insistes em não dizer com quem é o encontro, por isso eu vou continuar a chatear-te.

— Tu não devias estar no treino de Quidditch? — ela perguntou, cansada e não querendo ter que lidar com Mary. Tinha tido aula com os aurores mais cedos, o que a tinha deixado de rastos. Ela não se lembrava de uma ocasião em que treinasse tantos feitiços em tão pouco tempo.

— O James deixou-nos sair mais cedo. — Mary sorriu-lhe. Lily começou a calçar os sapatos que tinha deixado de lado na noite anterior, quando ouviu um grito ao seu lado. Ela olhou para Mary para perceber o que se estava a passar, mas Mary olhava-a como se tivesse acabado de ter uma epifania. — Oh Merlin, como é que eu não reparei mais cedo? O James faz-nos sempre acabar uma hora mais tarde. Não haveria nenhuma razão para ele nos deixar sair mais cedo a não ser que ele tivesse um encontro contigo! — Ela olhou-a, claramente entusiasmada. — Eu tenho que contar às outras!

— A sério, Mary? — Lily perguntou, voltando a revirar os olhos. Mary acenou-lhe, ainda com uma expressão idiota de espanto na cara. — Bem, agora que descobriste o grande mistério, podes-me ajudar a escolher o colar que fica melhor?

Lily encontrou-se no lugar que ela tinha combinado com Potter cinco minutos antes da hora marcada, só para ver Potter já lá à espera dela.

— Eu consegui terminar tudo um bocado mais cedo — Potter explicou.

— Claro — Lily comentou, algo irónica. A risada de Potter foi confirmação mais suficiente para ela saber que a desculpa dele era apenas isso mesmo.

Potter guiou-a até à porta da sala onde eles tiverem Feitiços até ao quarto ano e abriu-a, revelando o que ele tinha preparado.

Lily sentiu a sua boca abrir de surpresa com o que encontrou. Potter tinha iluminado a sala com centenas de pequenas velas que flutuavam junto do teto e das paredes. Ele parecia ter usado algumas das decorações de Natal que sobraram para decorar as janelas. As mesas usadas nas aulas tinham sido afastadas para os cantos, e no centro da sala estava agora uma única mesa, decorada de modo simples mas que combinava perfeitamente com o ambiente.

— Eu ainda pensei em pedir ao Padfoot ou ao Wormtail que fizessem de nosso criado, mas depois pensei que tu preferirias que fossemos só nós — Potter contou-lhe enquanto a dirigia à mesa.

— Eu acredito que nós conseguimos desenrascar-nos — Lily concordou. Ela começou a tirar o manto que tinha usado por cima da roupa para não dar nas vistas nos corredores a sentir os olhos de Potter a acompanhar o movimento. Potter estendeu a mão para receber o manto e pendurou-o na porta à beira do seu quase sem tirar os olhos dela.

— Estás linda — ele disse finalmente, já depois de ambos se terem sentado.

— Também não estás nada mal — Lily concedeu —, embora eu tenha que admitir que pensava que ias pôr um bocado mais de esforço no cabelo.

Potter estava vestido com um lindo manto preto decorado com pequenas luas minguantes, estrelas e outros desenhos a dourado, mas o seu cabelo estava tão despenteado como sempre.

— Eu bem tentei! — Potter bufou. — Eu juro que ele está amaldiçoado.

Lily deixou ser Potter a iniciar a conversa enquanto eles comiam as entradas, claramente feitas pelos elfos de Hogwarts:

— Não tens tido nenhum encontro do Clube Slug? — Potter perguntou numa ocasião.

— Graças a Merlin que não — Lily respondeu. — Eu simpatizo muito com o professor Slughorn, mas ainda bem que ele finalmente percebeu que há coisas mais importantes.

— Provavelmente foi o Dumbledore que proibiu.

— Provavelmente — Lily concordou, rindo-se.

De prato principal, Potter tinha porco com batatas assadas e um prato que Lily nunca tinha visto, mas que cheirava divinamente.

— Tenho que admitir que estou bastante surpreendida — Lily revelou após um gole de cerveja amanteigada. — Eu bem sabia que devia esperar algo grande, mas não esperava nada assim.

Potter sorriu.

— Quando eu recebi a tua carta, eu pensei em levar-te a um dos meus restaurantes preferidos em Londres num dos dias em que fossemos a Hogsmeade, mas com isto tudo não deu. — Potter comeu um bocado do porco assado. — Bem, tentamos fazer o melhor das nossas circunstâncias, não?

— É a única maneira — Lily concordou.

Para a sobremesa Potter tinha bolo de chocolate e, para absoluto deleite de Lily, tortas de abóbora.

— São as minhas preferidas — ela informou-o.

— A sério? — Potter parecia surpreso. — Mas elas são servidas todos os dias!

— E eu fico contente com isso todos os dias. — Ela sorriu para Potter, antes de se lembrar de uma coisa. Ela fez uma careta ao dizer: — Eu odeio estragar o ambiente com isto, mas nós não podemos demorar muito se ainda queremos mudar de roupa antes das rondas.

Potter fez uma cara de desagrado.

— Por momentos esqueci-me que as tínhamos que fazer — ele confessou.

— Acho que ainda podemos ficar mais dez minutos, mas não muito mais.

Eles terminaram a refeição pouco depois e Potter ajudou-a a vestir o manto.

— Vai indo — disse-lhe, ainda demasiado perto dela. — Eu vou só dar um jeito aqui e encontramo-nos no sítio de sempre. — Ela sentia a sua respiração na sua cara.

Lily abriu a porta sem se mexer, mas perguntou-se se devia mesmo sair. Ela podia beijar Potter agora e o momento seria perfeito.

— Vai, Evans — Potter pediu. Lily suspirou.

— Estou a caminho.

Ela tinha só um pensamento na sua mente enquanto fazia o caminho até à torre dos Gryffindors e trocava de roupa. Estava tão distraída que nem sequer notou o olhar que tanto as suas amigas como os amigos de Potter lhe lançaram.

Potter e ela encontraram-se uma hora mais tarde na escadaria do quarto piso e começaram as suas rondas.

— Pareces distraída — Potter comentou. — Por favor, diz-me que a comida não te caiu mal. Fui eu que escolhi.

— Não te preocupes, a comida estava deliciosa — Lily tranquilizou.

— Então essa cara não é de arrependimento, certo? — Lily olhou para Potter a tempo de vê-lo fazer uma careta.

— Surpreendentemente, não — ela assegurou. Potter sorriu.

Eles continuaram a caminhar em silêncio. McGonagall tinha-lhes dito que o principal motivo pelo qual eles ainda faziam rondas, já que quase nenhum aluno queria andar nos corredores à noite, era para vigiar se entravam ou saíam Slytherins, visto que eles eram os mais prováveis de se revelarem Devoradores. Por isso, as rondas focavam-se nos pisos de baixo e eles ficavam lá até um professor aparecer, deixando os monitores fazer as rondas dos pisos superiores.

— Há uma coisa que eu penso que devia ter feito mas não fiz — Lily confessou finalmente. A professora Sprout tinha acabado de chegar e mandou-os subir imediatamente. Para além dos aurores virem outra vez amanhã, Potter tinha marcado um treino de Quidditch para as nove da manhã.

— Algo que queiras partilhar? — Potter perguntou.

— Não sei — Lily respondeu. — Acho que vou dormir no assunto.

 

Na manhã seguinte, Lily apanhou Potter quando ele estava a chegar do treino de Quidditch. Ela agarrou-lhe no braço e arrastou-o para um dos corredores desertos mais próximos.

Ela beijou-o no momento em que o largou e, após um segundo sem responder, Potter abraçou-a pela cintura e correspondeu.

— Valeu a pena a espera — ele disse contra os seus lábios.

— Concordo — ela respondeu, beijando-o novamente.

 

O dia de S. Valentim veio e foi. Hogwarts decorou-se em vermelho, rosa e corações dos pés à cabeça. Ela e Potter não fizeram muito para além de se encontrarem numa sala vazia para estarem juntos nos quinze minutos antes de terem que fazer rondas — Lily tinha confessado a Potter que gostava de fazer as coisas com simplicidade uns dias após aquela noite, pois isso fazia-a apreciar mais os acontecimentos grandes.

Lily e Potter pareciam ter chegado a um acordo sobre não anunciar a sua relação ao mundo, pelo menos por agora. Não parecia adequado a nenhum dos dois celebrar grandemente um acontecimento — que ela ainda não sabia se podia ser apelidado de tal — tão simples numa altura destas. Potter disse aos seus amigos e Lily disse às suas amigas, mas as novidades não saíram do círculo.

Eles encontravam-se duas vezes por semana na sala onde fizeram o trabalho para Defesa e Potter pedia a um dos elfos para trazer comida. Às vezes, um ou dois dos seus amigos juntavam-se a eles, mas eles estavam maioritariamente sozinhos.

Lily sentia que a situação tinha passado do oito para o oitenta demasiado rápido, e parecia-lhe certo dar um passo atrás — ou meio passo, visto que era comum os seus encontros acabarem com eles aos beijos em cima de uma das mesas, embora não passasse disso — e tentar conhecer melhor Potter, de modo a poder chamá-lo de amigo antes de lhe dar o título de namorado. Ele pediu-lhe novamente desculpas, desta vez cara-a-cara, num dos seus primeiros encontros. Lily sorriu ao se aperceber que não teve que lhe pedir que o fizesse.

 

— Não achas que está na altura de me começares a chamar de James? — Potter perguntou-lhe um dia.

— Estás a perguntar isso só porque queres poder chamar-me de Lily, não é? — Lily provocou.

— É um dos motivos, sim — Potter respondeu, roubando-lhe uma das suas batatas fritas, embora tivesse um monte delas no prato.

— Até podíamos. Mas eu acho que, a esta altura, já faz parte do charme, não?

Potter riu-se e Lily riu-se com ele.

 

MARÇO

Potter tinha tornado a sua vida mais simples e, ao mesmo tempo, mais complicada.

Por um lado, ela tinha agora todo o seu tempo completamente ocupado. Entre aulas, treinos, encontros com James, tempo com as suas amigas e as suas funções enquanto Monitora-Chefe, ela pouco ou nenhum tempo tinha para se deixar afogar nos seus pensamentos e medos.

Por outro lado, ela sentia-se a mudar a cada dia. Bem, talvez “mudar” não fosse a melhor palavra, mas ela sentia-se cada vez menos a pessoa que ela se tinha tornado nos últimos anos. Potter tinha-se juntado às suas amigas — e, ocasionalmente, Black — na lista de pessoas que conseguia fazê-la rir mesmo quando ela sentia que não devia e chateá-la até à exaustão sem a deixar realmente zangada.

Para além disso, James fazia-lhe perguntas. Muitas perguntas. Sobre a sua irmã e os seus pais, sobre como foi crescer no meio de muggles e quais são as coisas de que ela sente mais falta desse mundo, sobre quais são os seus planos para depois da Guerra. Algumas coisas ela sabia como responder e, mesmo que as respostas despertassem memórias e sentimentos que, num tempo como aquele, ela não se deixava reviver, elas não a incomodavam tanto como as perguntas para as quais ela não tinha resposta.

— Tens praticado o teu Patronus? — Potter perguntou certo dia. Eles estavam num canto do Sala Comum a conversar. Lily tinha os pés em cima do colo de James, mas ninguém parecia notar isso.

— Tenho tentado, mas não tenho muito tempo. Temos tido todas aquelas as aulas extras e também acho que há feitiços mais importantes e que eu devo aprender direito se quero sobreviver lá fora. — Não era totalmente mentira. Ela tinha, de facto, muito pouco tempo livre e estava cada vez mais cansada ao final do dia, mas isso não a impedia de ir para uma sala qualquer de noite, já muito depois do toque de recolher, e ficar horas a dizer “Expecto Patronum” para o ar. Ela sentia-se como uma idiota de cada vez que o fazia, mas se os outros conseguiam, então também ela o conseguiria. — E tu?

— Às vezes, se tiver um tempo livre e me lembrar, mas não tem havido grandes progressos — Potter suspirou. — O Mr. Baxter disse que era capaz de ainda fazer uma atividade com o Patronus, mas acho que já não a vai fazer. Com os NEWTs cada vez mais próximos e com toda a carga que nós temos tido, acho que mudou de ideias.

A conversa, felizmente, ficou por aí.

 

As férias da Páscoa não tardaram a chegar e, pela primeira vez, muita gente foi para casa nas férias. Quando Lily entrou pela primeira vez no Salão Nobre no primeiro dia de férias e viu o quão vazio ele estava, a primeira que coisa que perguntou foi:

— Quantos é que achas que vão voltar, desta vez?

Mary, Marlene e Alice levantaram as cabeças para olhar para ela.

— Não fales assim — Alice pediu.

— Mas é verdade, não? Eu perguntei-me isso quando cheguei aqui hoje e vi como é que as coisas estavam — Marlene disse.

— Só não acho que nos é útil pensar assim — Alice contrapôs.

— Lá nisso tens razão. Já houve demasiadas mortes e a Guerra não parece estar nem perto de acabar — Mary concordou.

— Achas que nós vamos estar todas aqui quando ela acabar? — Lily perguntou. Ela não gostava de ser existencial, mas eram raras as noites em que ela não ia para a cama a perguntar-se quantas mais vezes veria as amigas bem e com vida.

— Espero que sim — uma voz inesperada disse. Lily virou-se e viu Dorcas à beira da mesa delas. — Acham que faz mal se eu me sentar?

— Um dos professores é capaz de reclamar e os Ravenclaw são capazes de te chamar de traidora, mas não creio que haja mal — Marlene respondeu.

Dorcas sentou-se e pegou numa taça para se servir de sopa.

— Tens tido notícias do Frank? — Mary perguntou a Alice.

— Ele tenta escrever todos os dias. Pelo que ele diz, as coisas estão a correr bem — Alice respondeu com um sorriso.

— Ele não quer sair, então? — Marlene perguntou. — Da última vez que falamos sobre isto, dizias que ele estava com dúvidas sobre se devia ficar com os aurores ou ir para St. Mungus.

— Acho que as coisas estão a melhorar. Ele deixou de falar em sair, pelo menos.

— E como vão os preparativos para o casamento? — Dorcas perguntou.

Mary desviou a atenção do livro que estava a ler para prestar atenção à conversa.

— Nós decidimos que era melhor esperar. — Uma onda de perplexidade correu o grupo. — Não é nada do que estão a pensar! Nenhum de nós mudou de ideias. Apenas pensamos que não é certo fazermos isso durante a Guerra.

— Isso é tão ridículo! — reclamou Mary.

— Eu não acho — Lily disse. — Acho que não há mal em arranjarmos pequenas fontes de felicidade, mas estar a anunciá-la assim? Parece-me meio desrespeitoso, não?

— Claro que não! — Mary disse. — Nós não sabemos quanto tempo a Guerra vai durar. Do modo como as coisas estão, podemos estar em 1990 e ainda a lutar nesta coisa. Será que as nossas vidas devem parar por um tempo indeterminado só por causa da Guerra? Daquilo que falamos, todas nós vamos estar a lutar da melhor maneira que conseguirmos para acabar com isto, logo não será lógico que nós aproveitemos o tempo em segurança que vamos ter com coisas felizes?

— Estava só a dar a minha opinião — Lily disse, erguendo os braços em derrota.

— Eu não me importo nada com isso — Alice disse, pousando a mão no seu braço. — Mas acho que a Mary é capaz de ter alguma razão. Eu vou falar com o Frank. Não é como se isto já fosse uma decisão definitiva…

— Oi, James! — Marlene disse de repente. Lily olhou para cima para o ver vir na direção delas, desacompanhado de qualquer dos seus amigos. Ela tinha visto Black e Lupin a comer mais cedo, mas ainda não tinha posto os olhos em Pettigrew o dia todo. — Já sabes o que queres para os anos?

— Olá meninas! Não, mas falamos mais tarde. — Potter sorriu. Ele pousou a mão no ombro dela e baixou-se ligeiramente para lhe poder sussurrar: — Importaste de vires comigo? Quero perguntar-te uma coisa.

— Claro que sim. — Lily sorriu-lhe. Ela levantou-se e pegou nas suas coisas. — Vejo-vos mais tarde.

James guiou-a para fora do Salão Nobre e até lá fora. Não estava muito frio, mas Lily não tinha nenhum manto quente vestido e o vento estava gelado, o que a fez arrepiar-se.

— Eu devia já te ter perguntado isto, mas escapou-me — ele começou. — A minha mãe gostava de saber se te importavas de vir jantar connosco estas férias. Ela quer conhecer-te.

— Mas não vais passar as férias aqui? — Lily perguntou, confusa. Ela sentou-se à beira de James na relva.

— Estava a pensar ir a casa só um fim-de-semana. A professora McGonagall deixou.

— Não disseste nada — Lily comentou.

— Pois, porque afinal não vou. A minha mãe foi passar a Páscoa com uns primos afastados que ela tem na América.

— Eu não me importava nada de conhecer a tua mãe. — James sorriu, feliz. — Na verdade, gostava muito de te apresentar aos meus pais um dia.

— Talvez no casamento da tua irmã. Tenho a certeza que eu conseguiria fazer com que tu te divertisses. — Potter piscou-lhe o olho.

— Tenho a certeza que sim, mas não sei se a minha mãe ficaria muito feliz. — Lily riu-se. — Mas, se a tua mãe está para fora durante as férias, quando é que o faríamos?

— Em abril — Potter respondeu. — Falei com a McGonagall outra vez e ela disse que, já que temos dezoito anos e as visitas a Hogsmeade estão canceladas, que não faria mal se tirássemos um sábado. Eu escrevi isto à minha mãe, mas ela ainda não respondeu.

— Tudo bem, então. — Lily sorriu. James inclinou-se para a beijar e, quando se afastou, Lily perguntou: — Viria mais alguém?

— O Sirius, provavelmente. — James fez uma careta.

— Não faças essa cara — Lily repreendeu. — Acho que já me conheces bem o suficiente para saberes que eu não me importo. Ele é da tua família, e se eu vou conhecer a tua família, faz sentido ele estar lá.

— Eu amo-te, sabes? — James disse, sorrindo para ela. Pelo olhar dele, não foi sem querer. Lily suspirou. Não era a primeira vez que ele expressava o sentimento, mas era a primeira vez que ele dizia as palavras.

— Eu também acho que estou quase lá — Lily respondeu, com um sorriso amarelo. Potter sorriu-lhe sinceramente, como se isso não importasse. Parecia que ele a conhecia melhor do que ela esperara.

— Não me custa nada esperar — James respondeu.


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