Foram 365 bilhetinhos dobrados e guardados em uma caixa colorida. Cada papelzinho tinha a sua letra, às vezes mais redonda, outras vezes corrida. O "a" parecia um "o", e se eu já não fosse acostumada, confundiria suas palavras e ela viraria um jogo a ser decifrado.

Não me impressionei por a maioria das cores de caneta ser lilás, afinal, você sabe que é minha cor favorita. E sabe também o quanto eu gosto de me sentir amada. Por isso fez a combinação perfeita de 365 bilhetinhos em lilás, dobrados para mim.

"Só um por dia" você me disse sorrindo enquanto eu a beijava. Graças aos céus que sua boca apagava a minha ansiedade e o dia seguinte era esperado como um hábito, só para saber o que foi escrito por você.

"Eu adoro as pontas laranjas do seu cabelo bagunçado"

"Eu amo cada fase existencial sua"

"O seu sorriso fica tão lindo com esse aparelho colorido"

Foram essas e mais 362. Imagino quanto tempo demorou para você escrever cada uma delas. E em todo esse tempo você estava pensando em mim, inacreditavelmente.

Como se eu fosse para sempre sua. Ou pelo menos durante todas aquelas frases sendo fisgadas e descobertas demoradamente. Dia após dias.

"Leia até quando estivermos brigadas", você gargalhada no meu ouvido e seu cabelo cacheado deixava um rastro de perfume em meu rosto. 

Eu li até quando ficamos brigadas. Muitas daquelas frases me fizeram ir atrás de você deixando o orgulho de lado. 

Agora me diz o que é que eu faço com os outros 22 bilhetinhos de amor que nem abri. 

Os bilhetinhos de uma pessoa que deixou de me amar antes do ano ter seu fim.

Quando se tratava de mim, era só eu ir ali e ler. Mas e quando se trata de você? 

Foi embora antes dos fogos explodirem nos céus e queimarem cada palavra sua.