Carpe Noctem escrita por pnsyparkinson


Capítulo 7
Sweet Dreams




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Centro da Cidade, 00h10

— O que? - questionou James, encarando a ruiva que lhe olhava séria.

Existem certos momentos em nossa vida que nos sentimos em nosso devido lugar, em casa. E era assim que James Potter se sentia ao ouvir aquele riso doce inundando sua mente. Lily Evans conseguia mexer com ele de formas inimagináveis e lá estava ele, tendo a garota como companhia enquanto sua melhor amiga dançava sua alma fora do corpo no meio daquele mar de pessoas. 

Esse tal destino que Dorcas tanto falava parecia odiá-lo. 

Passar um mês fugindo daquela mulher não havia adiantado nada.

— Estava brincando, querido. - murmurou a ruiva, o olhar fixo nos lábios do homem que constantemente os molhava com a língua rosada. — A menos que você queira sabe, que te morda... - sorriu de forma sacana, piscando os cílios longos. 

E James sentiu o ar ficar mais abafado, engolindo em seco.

— Acho que preciso sentar. - disse, seguindo caminho até o bar que havia sido arrumado perto do jardim colorido. 

— É engraçado como você fica sempre que falo algo desse tipo, vou dizer mais seguido. - Evans sussurrou, ou tentou, já que o barulho da música deixava esse ato quase impossível. Pegou uma das taças que James tinha em mãos e bebericou o líquido, sentindo queimar em sua garganta.

☽☽☽☽  

Marlene sentia seu interior ferver.

Dançava como se sua vida dependesse daquilo, os braços soltos a cima da cabeça enquanto Dorcas circulava seu corpo com as mãos, acompanhando os movimentos lentos da menina com um sorriso preguiçoso nos lábios vermelhos cereja. Precisava distrair a humana até o plano estar iniciado, só não esperava se divertir tanto enquanto fazia isso. 

— Tantos anos que não dançava assim. - reclamou McKinnon, quando a música parou. — Me sinto renovada. 

— Anos? Mas vocês foram para uma festa semana passada, lembra? Lily quem falou. - respondeu Dorcas, a testa franzida em confusão. Marlene devia ter bebido além da conta, claro. 

— Uh você sabe, maneira de falar. - desconversou, sorrindo enquanto seu olhar vagava pela multidão. Estava tudo bem até avistar algumas pessoas que lembrava de não ter convidado. Pessoas que deveriam estar longe, de preferência mortos. 

Merda.

— O que essa gente faz aqui, eles não foram convidados. - disse baixo, os olhos em fendas. — Dorquinhas, fique aqui, sim? - Marlene ia saindo quando sente um aperto firme em seu pulso, a impedindo. — Dorcas, preciso resolver isso antes que alguém acabe morrendo. 

 — O que tem de errado com essas pessoas? Deixe para lá, vamos dançar! - exclamou Meadowes, sorrindo de forma boba. — Marlene, ninguém vai morrer! Pare de assistir filmes de horror.

Marlene McKinnon poderia ser irresponsável algumas vezes, mas sabia quando agir de forma certa e essa era hora. 

— Eles vieram atrás de vingança e não vão sair daqui até terem minha cabeça e a cabeça da minha família em uma bandeja de prata. - explicou calmamente, respirando fundo. 

— Vingança? Você fez o que? Quebrou a unha de alguma daquelas mulheres acidentalmente? - perguntou curiosa, segurando a vontade de revirar os olhos. 

— Matei um deles alguns anos atrás e vamos dizer que... eu realmente matei? Sabe, sangue e essas coisas. - gesticulou, vendo os olhos da menina ficarem arregalados. — Sirius... - murmurou, na esperança de não ser ouvida. 

Mas não foi isso que aconteceu. Dorcas sentiu uma onda de entendimento bater contra seu corpo ao que ouviu aquele nome tão peculiar sair dos lábios de Marlene, era como se um quebra-cabeças estivesse se montando lentamente em seu cérebro. Bruxas. Como ela demorou tanto para perceber isso? 

— Você! - acusa, dando um passo para trás quando vê a loira tentando pegar seu braço. — O cara da história, foi você! 

— Marlene McKinnon, bruxa centenária, prazer conhecer. - retruca de forma sarcástica, sorrindo um pouco culpada. — Para alguém tão inteligente até que você demorou a juntar as peças, mas tudo bem, te perdoo por isso. 

☽☽☽☽    

00h30

Potter observava atentamente o corpo da ruiva se mover com graciosidade na pista de dança, os cabelos se espalhando para todos os lugares enquanto ela dançava de olhos fechados, sentindo a batida inundar seu peito. Ela sabia que estava sendo observada e gostava disso, aproveitando para rebolar um pouco mais que o necessário enquanto o refrão de I Putt A Spell On You soava alto. O show particular pareceu ter fim quando Agnes chegou perto de Lily, falando algo que a deixou visivelmente tensa, os olhos verdes se fixando nos castanhos de James enquanto acenava com a cabeça para que sua mãe falava. 

O plano teria que começar mais cedo. 

— Temos alguns convidados indesejados mas vamos lidar com isso,  não o perca de vista e suma com ele assim que conseguir, não podemos deixar passar a oportunidade. - disse Agnes de maneira firme, o olhar acompanhando o de sua filha e encontrando um par de olhos castanhos parecendo confuso. — Controle suas emoções e vá.

Lily xinga até a última geração daquela família, mascarando suas verdadeiras emoções ao que vai se aproximando de James que agora tinha o corpo virado para o balcão. Um tempo depois e ela já estava posicionada ao lado do rapaz, que bebia uma cerveja. 

— Vamos dar uma volta, doce. - sussurrou perto do ouvido de Potter, vendo os ombros do rapaz ficarem tensos.— Garanto que você não vai se arrepender. 

Se James estivesse em seu juízo perfeito saberia que aquilo era errado, mas seu corpo parecia não responder e sua mente se encontrava nublada, era como se apenas Lily existisse. Foram juntos até um lugar afastado perto do cemitério da cidade e então, após a menina sussurrar uma porção de frases estranhas em uma língua desconhecida, James sentiu-se sonolento e apagou. 

— Doces sonhos, querido. - disse a ruiva, pegando o celular do bolso e enviando uma mensagem de texto para Marlene, sua parte estava feita. 

O carro estava estacionado atrás de alguns arbustos e foi fácil encontra-lo e com ajuda de um feitiço carregou o corpo pesado e desacordado até o banco traseiro da caminhonete vermelha enferrujada. 

☽☽☽☽

1786, Salem - Massachusetts  

O povoado estava de luto assim como a poderosa família que agora se lamentava em frente ao túmulo recém coberto de Sirius. O jovem havia sido morto por uma das aberrações que caçavam com tanto afinco e sua mãe sentia-se desolada, perdeu seu filho e um dos melhores caçadores de seu bando. 

— Aquela meretriz matou o meu menino, mas isso não vai ficar assim. - decretou Walburga, debruçada sobre a terra enquanto sentia as lágrimas secarem em seu rosto devido ao vento frio. — O sangue dela vai ser meu. - sussurrou, olhando de relance para a lápide de pedra escura.— E nós vamos caça-las até o último dia de nossas vidas, é uma promessa. 

Um coro em concordância foi tudo que ela recebeu em resposta, olhou para o céu e reafirmou o seu pedido, acabaria com aquelas pessoas e só descansaria em paz quando seu precioso herdeiro fosse vingado. Suspirou, levantando seu corpo do chão e espanando a poeira do vestido longo, observando o rosto de todos os presentes. Pegou a adaga com seu filho Regulus e se dirigiu até a prisioneira, uma das criaturas que manteve viva para conseguir informações. Era jovem, bela e agora lhe devia um favor. 

— Nos deixe imortais e nos mostre para onde elas foram, caso contrário acabo com sua existência em menos de cinco minutos. - cuspiu as palavras, fazendo a jovem moça estremecer e murmurar algumas palavras em latim, os olhos ficando brancos por segundos antes de um raio cortar o céu. Uma rajada de vento passou por eles, arrancando as flores da terra.

Estava feito.

O pacto estava selado e agora eles precisavam procurar rastros.

☽☽☽☽

  — Se vocês são o que são... o que querem comigo e James? - questionou Dorcas, sentindo o estômago embrulhar. 

 — Ora, assim você  me ofende. Amizade, é claro. - respondeu McKinnon, bufando. — Somos pessoas normais nas horas vagas. 

— Não confio mais em você, Marlene. - falou Meadowes, revirando os olhos. — Talvez o fato de você ser uma bruxa tenha influenciado isso. - desdenhou. 

Marlene bufa e puxa a garota pela mão, a arrastando para fora da multidão de pessoas que ainda dançava. — Pode não acreditar em mim, mas sei que vai acreditar em Emmeline. 

— Ela é um gato! - exclama, contrariada. 

— Talvez nem tanto.. - ri, levando a menina até o carro preto. — Vamos para casa, James está seguro com Lily. - mentiu, vendo a menina concordar mesmo que ainda assustada. 

McKinnon enviou um sinal para Agnes avisando onde estaria e ligou o automóvel, seguindo caminho até a parte afastada da cidade, onde residiam. Quando chegaram, Marlene pediu para Dorcas fazer silêncio e segui-la. 

— Só para garantir que estamos sozinhas, caçadores são sorrateiros. - explicou, mordendo os lábios e suspirando aliviada ao constatar que estavam apenas as duas ali. — Certo, vamos entrar. 

Emmeline estava na sala de estar com um jogo de tarô aberto sobre a mesa de centro, concentrada. Percebeu a movimentação e o cheiro da loira, nada de perigo por enquanto. Miou quando Dorcas passou pela porta, tentando manter as aparências. 

— Ela já sabe, pode agir o mais normal que você conseguir, bola de pelos. - falou Marlene, tirando os sapatos. 

— Ótimo, não aguentava mais agir como um gato comum, é cansativo. Olá, Dorcas. - respondeu Saturno, mostrando as pequenas presas na tentativa falha de sorriso. 

Meadowes encarou a cena que se passava em sua frente espantada, sentindo o sangue deixar seu rosto e o coração falhar uma batida. 

— E-e-la.. ela... - apontou para Saturno, que agora tinha as orelhas baixas em sinal de confusão. 

Um baque surdo foi tudo que ouviram antes de Dorcas cair no chão, desmaiada. 

— Muitas emoções em um só dia. - murmurou Marlene, levantando o corpo da menina e deitando-o no sofá. 

— Acha que ela vai pensar ser um sonho? Quando acordar. - questiona Saturno, levemente preocupada.

 — Apagar a memória dela soa bom pra você? - diz McKinnon, com uma careta engraçada no rosto enquanto olhava para a menina desacordada no sofá.

— Nós não somos M.I.B para sair apagando memórias por ai, Marls. - bufa Saturno, caminhando até o encosto do sofá e deitando ali. — Lily conseguiu? - suspira aliviada ao que recebe uma confirmação vinda da loira, ao menos a morte que leu em suas cartas não era de sua amiga. — Vá falar com Agnes, eu cuido dela.

☽☽☽☽

  01h30

Os mundanos pareciam não perceber a briga que acontecia, ainda dançando e aproveitando a noite de Halloween. E isso era bom, assim Agnes conseguia resolver seus problemas sem precisar usar sua magia de forma desnecessária. 

— Minha menina conseguiu levar o garoto com ela e Marlene está chegando, deixou a menina com Emmeline em nossa casa. - explicou a matriarca, pensando no próximo passo e em como acabar com aqueles imbecis. Sabia o quão vingativos eles podiam ser, só não imaginava que eles ainda perseguissem sua família. 

— Pensei que estavam mortos, todos eles. - resmungou uma das bruxas mais velhas, fechando as mãos em punhos. — Você havia nos dito que estavam acabados e olhe agora, perdemos os Lupin apenas por um descuido seu! - acusou, apontando para Sibley. — Os Black estão na cidade a quanto tempo? Uma semana? E só agora somos avisados, como você quer que cuidemos uns dos outros sem preparação? 

— Basta! - gritou, quando as vozes se tornaram exaltadas. — Pensei que eles estivessem acabados, nós os matamos a alguns anos! Vocês estavam lá, viram isso acontecer! - retrucou Agnes. — Ao que parece os caçadores conseguiram uma maneira de se manterem vivos, assim como nós e precisamos descobrir como. - explicou, logo avistando uma cabeleira loira passar no meio dos anciões. — Você, Marlene. Você vai nos trazer a resposta. 

☽☽☽☽

Cemitério da Cidade, 03h00

A garota estacionou seu carro perto dos portões, saiu do veículo e sentiu seus coturnos baterem na grama verde quando foi até o porta-malas e retirou de lá uma pá. 

Agnes havia lhe dito que os caçadores haviam encontrado uma forma de se manter sempre vivos, assim como elas, e seria arriscado capturar algum deles nesse momento já que haviam perdido alguns dos membros mais antigos e poderosos, fazendo assim só sobrar uma opção viável. E lá estava ela, caminhando até um tumulo qualquer em busca de um receptáculo. Transferir mortos de lugar era algo fácil e McKinnon estava concentrada. 

Steven Parker, 1995 - 2017.

Ótimo e jovem, daria um bom resultado. 

Marlene cavou fundo até bater com a pá em uma estrutura de madeira, sorrindo. Limpou o suor do rosto com a camiseta e mordeu o lábio.

— Ok, agora vai. - disse para si mesma, respirando fundo e fechando os olhos. O encantamento fluiu naturalmente por seus lábios como música, foi feito com calma e maestria. Repetiu algumas vezes até ouvir o barulho da madeira sendo aberta. 

Agora não era Steven quem a encarava e sim Sirius Black. Meio podre e talvez um pouco fedorento, mas era ele. Ela confirmou isso quando a criatura a olhou e franziu o cenho, lhe mostrando o dedo em um sinal de raiva.

— Olá querido, sentiu minha falta? - sorriu, ouvindo os resmungos do cadáver que estava em sua frente. 


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