Carpe Noctem escrita por pnsyparkinson


Capítulo 5
The Devil Within




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Centro da Cidade, 17:49h

Nem tudo é o que parece. 

Era isso que estava martelando nos pensamentos de James enquanto o rapaz ouvia sua amiga falar sobre o quão estranho era o fato de ter conhecido uma menina cujo o sobrenome era o mesmo de uma antiga linhagem de bruxas. Na realidade dois, se contar o Sibley. 

Segundo Dorcas, aquela cidade era mesmo mágica. James apenas acenava com a cabeça enquanto seus olhos se distraiam com o belo jardim de flores mais a frente. A rajada de vento fez com que Potter acordasse de seu transe, suspirando ao que interrompia o monólogo de Meadowes.

— Ela não é uma ancestral dessa família e você sabe disso, só está impressionada. Evans? É um sobrenome comum, qual é Dorcas, esse lance de bruxaria é bobagem. - resmungou, impaciente. 

A menina parecia incrédula, uma expressão de indignação presente em seu rosto quando soltou um muxoxo. Para ela, esse "lance de bruxaria" como dizia James, era realmente importante. Desde criança sua mãe lhe ensinou tudo que sabia, mostrou a ela alguns livros e contou sobre as lendas antigas que passavam de geração em geração, deixando a pequena Dorcas de dez anos completamente fascinada. Elise era uma entusiasta quando se tratava de magia e ficou realizada ao ver que sua filha, assim como ela, também era. 

— Sabe o quanto isso é importante pra mim e continua fazendo pouco caso. - e essa foi a vez da menina revirar os olhos, mordendo o lábio. — Isso é pela minha mãe, no fim das contas.  

E James se sentiu culpado. 

Elise havia falecido assim que a filha completou quinze anos e Dorcas havia prometido a sua mãe, enquanto segurava sua mão no leito de morte, que provaria ao mundo que bruxas eram reais. E era isso que ela estava fazendo desde então, estudando cada vez mais e procurando indícios. 

— Desculpe, eu sei que... - mas antes que pudesse continuar, a menina sorriu e fez um gesto com a mão. Deixar pra lá, era isso que ela lhe dizia pelo olhar. 

— Não estou falando que ela é uma bruxa de mil e quinhentos anos, sabe? Só que talvez tenha o sangue deles ou algo assim. - seguiu entusiasmada. E James apenas concordava. — Lily parece legal, acha que se encontrarmos com ela e eu perguntar sobre, ela responde? - disse claramente curiosa. 

E Potter respirou fundo ao olhar para a frente, esboçando algo parecido com um sorriso quando apontava com a cabeça.  

— Parece que você tem sorte ou elas estão nos seguindo. - completou, os olhos atraídos pelos verdes que mesmo de longe lhe observavam.     

E menos de cinco minutos depois as duas jovens estavam ali, em frente ao casal de amigos.

— Ora, nos encontramos novamente. - sorria Marlene, segurando o que restou de seu sorvete — Parece que decidimos tomar sorvete na mesma hora, isso é obra do destino. - disse risonha, recebendo um leve cutucão como resposta. — Ouch, Lily! Não seja bruta, você queria vê-lo novamente não é? Aqui está sua oportunidade. - exclamou falsamente empolgada, fazendo a ruiva revirar os olhos e Dorcas dar um risinho. 

— Não liguem pra ela, o açúcar a deixa pior que o normal. - respondeu calmamente, os olhos nunca deixando o contato com James, que retribuía de forma intrigada. — Vimos vocês e pensamos em dar oi, sabe como é. - sorriu doce, mordendo o lábio em seguida. — Estamos atrapalhando? Talvez devêssemos ir embora ou-

— Não! Na realidade é ótimo encontrar vocês, quer dizer, eu realmente queria isso e aqui estão as duas. - explicou Dorcas, um sorriso largo no rosto. — Estava na biblioteca e acabei descobrindo sobre famílias antigas e nossa, tem seu sobrenome Lily! Você é descendente ou algo do tipo? Não precisa responder se achar inapropriado ou intrometido da minha parte é que eu amo esse negócio de bruxas e... - respirou fundo, sentindo as bochechas quentes de vergonha. — Desculpe, acho que me empolguei. - disse por fim, ouvindo risos das duas meninas e um leve bufar de James, seguido de uma risada baixinha. 

—  Ah tudo bem, posso responder o que quiser. Talvez possamos sentar e conversar? - apontou para a pequena mesa da sorveteria. — Adoro essas histórias também. 

— E sobre a biblioteca nós sabemos que estavam lá vimos vocês chegan-SAINDO. Vimos vocês saindo. - respondeu McKinnon, fazendo um gesto com a mão. Potter a olhou estranho.  — Tenho ótimas histórias, talvez conte se você se interessar. 

    ☾☾☾☾    

Ficaram conversando por algum tempo até que Marlene decidiu pegar mais sorvete, já que Lily apenas contava coisas superficiais sobre bruxaria e aquilo era um saco. Enquanto se dirigia ao balcão, ouviu a garota Dorcas rir e viu Lily a encarar sorrindo, como se estivesse gostando de vê-la daquele jeito. Patético. Quando já estava com sua taça cheia novamente se pôs a caminhar até a mesa que os outros estavam, os olhos faiscando quando Evans encontrou seu olhar. 

—  Sobre o que estavam falando? - pergunta a loira, um sorriso brincando em seus lábios vermelhos. 

Lily conhecia aquele olhar e sabia que a loira ia aprontar alguma coisa, ela sempre sabia.

— Sua amiga estava contando sobre livros de feitiços ou algo assim. - respondeu James, entediado. — Algo de runas também. Parece que temos duas amantes de leitura aqui. - murmurou, levando a colher cheia de sorvete até os lábios. 

McKinnon arqueou a sobrancelha, sentando-se ao novamente ao lado de Evans. Estalou a língua no céu da boca e escorou o rosto na mão, enquanto seu cotovelo estava apoiado na mesa. 

— O que foi? Estou querendo ouvir as histórias que vai contar... ou você não vai? - indagou com uma falsa expressão de espanto. — Lily, sabemos que ela vai amar saber mais sobre as famílias antigas. Dorcas, não é? - viu a garota assentir, os olhos brilhando em expectativa. — Vou te contar sobre... Marlene... McKinnon. - e a ruiva fechou os olhos em negação, enquanto a loira fazia gestos exagerados com as mãos e o moreno apenas observava revirando os olhos. — Sobre como ela, uma bruxa poderosa, matou Sirius Órion Black. Um caçador.

— Caçador de animais? - disse James, um pouco mais interessado do que aparentava.

— Não, um caçador de bruxas, claro. - disse McKinnon, um sorriso medonho adornando seu lindo rosto. — O ano era 1786, na cidade de Salem... 

1786, Salem - Massachusetts

Era uma quarta-feira nublada em Salem e Sirius Black seguia seu caminho até o centro do pequeno povoado em busca de alguns elixires e plantas. A estrada era tortuosa devido aos inúmeros buracos, mas os cavalos aguentavam bem a viagem. Ele cantarolava alguma canção comemorativa, a noite havia sido difícil, matar um clã inteiro de bruxas era algo memorável e o jovem Black se gabava por ter acabado com a mais poderosa delas. 

A velha nem teve tempo de recitar algum de seus encantamentos e a espada já estava cortando sua cabeça fora em um show cheio de sangue e espanto.  

Lembrava-se de como o choro daquelas aberrações havia lhe feito sorrir. Bruxas mereciam morrer e era isso que ele e sua família faziam. Acabar com o mal pela raiz. 

Apesar de ter sido uma boa noite para todos, seu pai havia sido ferido por alguma coisa e necessitava de remédios. Rapidamente desceu da carruagem, endireitando sua postura ao que caminhava até a frente, falando com o cocheiro. 

— Você pode ir, minha família virá a noite e voltarei com eles. Avise-os que estarei na loja das poções, mamãe sabe onde é. - falou calmo, o olhar frio como gelo. 

O caminho até a pequena loja das poções não era longo, menos de cinco minutos após a carruagem partir, Sirius já se encontrava em frente a porta. Se tivesse sorte, encontraria a jovem moça que atendia ali algumas vezes e poderia contar-lhe sobre seus grandes feitos, com certeza ela ficaria impressionada e acabaria indo para a cama com ele. Fácil como deve ser. 

[...]

Marlene varria o chão de sua pequena loja enquanto pensava várias maneiras de vingar aqueles que havia perdido, a dor em seu coração era tão forte que por um momento pensou em acabar com sua própria vida. As lágrimas ainda estavam presentes em seus olhos, fazendo com que a jovem os secasse com frequência. O tintilar do sino sinalizava que alguém havia entrado pela porta, fazendo com que ela recuperasse rapidamente as feições alegres, virando-se para dar bom dia ao visitante. 

Ah, o destino é um grande aliado algumas vezes.

O jovem bonito de roupas escuras e cabelos longos que estava em sua frente, ela lembrava-se dele. Mais precisamente, de suas mãos sujas com o sangue de sua família. Sirius Black estava ali e nem parecia saber quem ela era. Isso era bom e ela usaria a seu favor. 

— Em que posso ajuda-lo, senhor...? - perguntou com a voz doce, um sorriso encantador nos lábios rosados. 

— Black. Sirius Black. - disse ele. 

Os lábios dela esticaram ainda mais. Atrair aquele homem seria tão fácil quanto irritar Emmeline e Marlene era boa nisso.

Estava escuro e a maioria dos habitantes de Salem já estava no conforto de suas casas, o medo de encontrar com alguma bruxa estava maior desde que os boatos surgiram. Aqueles que ficavam até tarde perambulando pelas ruas eram motivo de preocupação. 

— Você não tem medo de ficar caminhando nessas horas? - questionou McKinnon, passando a língua pelos lábios secos, mordendo-os logo em seguida quando percebeu o olhar de Sirius preso naquele movimento. — Quer dizer, com essa história de bruxas... não tem medo de ser capturado?  Ouvi dizer que elas matam homens bonitos como você. - ri. 

— Minha querida, não tenho medo de nada. - sorriu, sentindo-se confiante para contar sobre suas conquistas. —  Além de que, como um cavalheiro, nada mais nobre que leva-la até sua casa. Também devo dizer que minha família e eu acabamos com um clã inteiro ontem, não restou ninguém para contar história. - respondeu, o tom de voz tão calmo que deixou a garota irritada. — Sabe doce, talvez devêssemos ir para um lugar mais reservado e conversar mais de perto. 

Marlene concordou com um aceno, puxando o rapaz pela mão e indo com ele até a floresta. Não demorou muito e Black já estava com as costas apoiadas em uma árvore enquanto a loira beijava seu pescoço de forma lenta, deixando algumas mordidas pelo caminho até chegar em seus lábios. 

— Conte-me mais sobre seus feitos, querido. - sussurrou, o olhar carregado de luxúria. — Quero saber mais sobre o homem com quem vou passar a noite. 

Inflar o ego de um homem como Sirius Black era uma tarefa fácil, tão fácil quanto seduzi-lo a ponto de tê-lo em suas mãos. 

— Cortei a cabeça da mais poderosa delas. - se gabou com os olhos fechados, não percebendo a fúria que a loira dirigia a si enquanto se afastava. — Você devia estar lá para ver o espetáculo de horror, doce. 

Eu estava, pensou Marlene. Eu vi você matar minha família, seu imbecil. 

— Ah querido... - sua fala foi interrompida pelo rapaz, que em um movimento rápido retirava o colete e a camisa fina de linho que cobria seu corpo. — O que pensa que está fazendo? 

E ele riu.

— Você vai conhecer a minha magia. - desdenhou Black, puxando o cinto de couro pesado que mantinha suas calças presas, o corpo perdendo contato com a árvore.

— Tão rápido assim? Bom, estragou minha brincadeira. Tsc. - respondeu McKinnon, as mãos cerradas em punhos. — Já que insiste querido, você vai conhecer a minha. - murmurou Marlene, abrindo um sorriso largo e um tanto assustador, fazendo com que ele desse um passo para trás e batesse suas costas na madeira novamente. Como se fosse mágica, sentiu mãos macias lhe apertando as laterais do rosto. Mãos que lhe abriram a boca e puxaram a língua, deixando-a exposta. Sorriu satisfeita, retirando de um bolso escondido uma pequena faca de prata — O que foi, Sirius? O gato comeu sua língua? Ou devo dizer... a bruxa? - um riso estrondoso ecoou pelas árvores que cercavam o local, lágrimas grossas corriam pela pele morena de Black, que se debatia insistentemente.  — Aquela gente era minha família e você os matou, nada mais justo que retribuir o favor. 

    ☾☾☾☾    

— Uou, isso foi.. - exclamou Dorcas, ainda absorvendo a história que havia escutado. 

— Incrível, é eu sei. - disse Marlene, suspirando. — Esqueci de dizer que a família dele acabou encontrando a... Marlene... sobre o corpo morto do Sirius provando o sangue dele e nossa, surtou. Ainda bem que a família da moça apareceu na hora. 

— Sim, apareceu para salvar a pele dela como sempre fazia. - disse Lily, impaciente. — Acabaram matando o restante dos Black e fugiram da cidade, pelo menos é isso que minha mãe nos contou quando éramos mais jovens. 

—  E vocês sabem isso tudo de forma detalhada porque.... - indagou James, as sobrancelhas arqueadas de forma estranha.  

— Histórias que passam de geração em geração, como falei antes. Temos livros contando isso lá em casa se você quiser ir ver algum dia. - sorriu de forma gentil para Dorcas, que acenou rapidamente com a cabeça.  

— Seria bom, gostaria de ver a fofinha novamente. - sorriu doce, lembrando-se da gata de pelos negros.      

☾☾☾☾

Casa dos Sibley, 00:00h

— Você não precisava contar aquela coisa toda, sabe disso não é? - perguntou Lily, enquanto segurava a xícara fumegante. — Sei que queria impressionar a garota e talvez assustar James mas... ainda dói em você Marls. 

— Não me arrependo, se quer saber. - respondeu simples, deitando a cabeça no sofá enquanto sentia o olhar da ruiva quase perfurar seu corpo. — Sirius foi uma bela distração. 

— E graças ao seu jogo tivemos que ir embora. - bufou Evans. — Eu gostava de lá. 

— Não, você gostava da vida que tinha com Emmeline. - pontuou a loira, ouvindo a gata, que até então estava quieta, miar baixo. — Não foi um simples jogo Lily e você melhor do que ninguém sabe disso, eles tiraram de mim o que eu tinha de mais precioso então nada mais justo que responder na mesma moeda. - suspirou, pondo o antebraço sobre os olhos. — De qualquer forma gostaria de agradecer por ter transformado Emme em um gato, gosto mais dela assim. - sorriu. 

Saturno apenas baixou as orelhas, um olhar de puro desdém em seu rosto felino. 

— Não posso mais usar magia Marlene, mas minhas garras são bem afiadas e adoraria crava-las em seu rosto. - murmurou, com o pelo arrepiado.    

McKinnon riu e sentiu uma almofada bater em seu corpo, ela não estava tão sozinha no fim das contas.


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