Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 44
37. nenhum traço do que é teu




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  "Meu jeito rima com o teu

O tom de noite da tua pele me contrasta

Teu toque até me aprendeu

Em ti fiz minha casa."

tua  - ANAVITÓRIA

 

37|

Una Bersani Stark

Fui empurrada até um banheiro pelas mãos de Alvo Potter em minhas costas.

— Eu falei sério sobre ser hora do seu remédio, Una.

Revirei os olhos para meu despertador  em forma de homem-ambulante.

— Não achei que estava brincando, Alvo. Você anda parecendo um relógio comigo. Não me diga que está com o remédio aí?

Olhei incrédula quando sua palma retirou o comprimido de dentro do bolsa da calça e me estendeu, sorrindo de lado.

— Fala sério, cara, isso tá virando perseguição!

— Não reclama. Sei que precisa de alguém pra ajudar e posso fazer isso, qual o problema? - ele deu de ombros e me empurrou um copo com água para me fazer engolir o remédio.

Fiquei calada depois de engolir porque, de fato, ele estava certo. Com a terapia, meus pensamentos, minha rotina, sozinha nisso seria difícil continuar.

A médica em Londres havia me recomendado alguns comprimidos e eu tinha que cumprir horários, porém era péssima com eles. E para meu espanto (e desejo?), a última pessoa a quem eu pensaria em me ajudar é quem mais me ajuda.

— Você está se sentindo melhor? - os olhos verdes esmeraldas me fitavam e quase engasguei. Balancei a cabeça em afirmativa e ele relaxou.

— Podemos voltar agora pra festa, meu enfermeiro? - tentei fazer uma piada para que aquele súbito clima se dissipasse, porém não surtiu o efeito desejado.

Alvo não sorriu, só deu de ombros.

— Não está abrindo. - ele resmungou após tentar várias vezes a maçaneta.

— Como assim não está indo? - minha voz subiu umas oitavas. Empurrei Alvo para o lado para tentar também.

— Eu disse que não estava abrindo e, tecnicamente, sou mais forte que você, Una, então é meio...

— Inútil! - gritei, chateadíssima. A bendita porta tinha quebrado. - Quais as probabilidades de ficarmos presos até a festa acabar?

— Não precisa choramingar, calma - Alvo colocou a mão em meu ombro e me empurrou de volta para longe da porta. - Vão sentir nossa falta e então procurarão, relaxa. Você devia evitar estresse, não é?

— SE alguém sentir nossa falta, Alvo, ai meu Deus, minha respiração está falhando... - arregalei meus olhos e tentei não pensar que aquelas paredes estavam diminuindo e, inevitavelmente, iriam nos esmagar.

— Ei, Una! Una, não brinca comigo, é sério? - de repente o rosto de Alvo estava grudado no meu, porém eu não conseguia falar nada. Sua boca se mexia e eu não escutava nenhuma som.

Apertei os olhos, não era possível que eu não conseguisse o controle de meu próprio corpo... Aquele pensamento só me desesperava ainda mais.

Como se estivesse saindo do meu corpo, a sensação leve de ser puxada, deslizando pela parede até o chão e então estava protegida em um abraço.

— Vai ficar tudo bem... - a voz estava como em um final de um túnel. Ainda fazia ruído para eu respirar e não controlava os espasmos do meu peito. - Shii, estou aqui...

— Você está voltando, Una? - Alvo me olhava enquanto passava o polegar de leve em minha bochecha. Os sons foram voltando e minha percepção também.

— Eu...

— Não precisa falar nada. Só respira.

Segui seu conselho e normalizei minha respiração. Meu Deus, eu só tinha tido um episódio desse uma noite... Uma noite em que passei sozinha em casa após a morte de meus pais. Achei que tinha sido um raro caso de desespero, e normal, visto que eu estava sob muita pressão, porém voltava a acontecer, do nada, e isso me preocupava.

— Pronto, você já está melhor e, graças a Deus, mais rosinha. 

Sorri fraco com seu comentário.

— Rosinha, Alvo?

— É - ele abriu o sorriso. - Estava branca demais e me apavorou. É a primeira vez que acontece?

Eu não queria que mais alguém pegasse os fardos que eu carregava. Já bastava tudo que Alvo estava fazendo por mim, então menti.

— Sim, é. Deve ser sido um medo irracional, não sei. Mas obrigada por me ajudar.

Quando estive sozinha, para sair daquele terror foi um verdadeiro inferno, eu percebia agora.

— Como você disse, sou quase um enfermeiro particular. - Alvo deu um sorriso amargo e tive a impressão de que me escondia algo.

Mas me concentrei em sentir meu corpo relaxado e desfrutar dessa sensação. Não era real aquele terror, não era e não era...

Eu estava repetindo esse mantra na cabeça até Alvo me interromper.

— Mas então, já que estamos aqui sem tempo definido... Como você está? - e aquela pergunta foi como se quisesse ver minha alma.

Não respondi de imediato, até porque eu deveria fazer um verdadeiro reflexo de tudo porque Alvo não se contentaria com um simples 'sim' ou 'não'.

— Você está falando do tratamento da bulimia? - falei baixo, ainda tentando dar força à voz.

— Bom, também. Não é nada fácil, mas vejo que você está comendo melhor.

— Sim... É mais psicológico que acaba interferindo no físico. Tem sido difícil sim, principalmente quando tenho culpa em me alimentar. - confessei aquilo e baixei a cabeça porque era difícil me expor.

— Não fica com vergonha, Una... - seus dedos delgados tocaram meu queixo e o levantaram. - Olha pra mim, não fica com medo de falar algo que você vai achar que vou te olhar como uma maluca. Nunca mais, ok? Eu te disse, pedi desculpas por um erro idiota há tanto tempo que hoje só tenho vontade de me redimir com você. Valorizo você e não diminuo sua dor, principalmente a psicológica.

— Não me fala essas coisas... - a voz fraquejou novamente. - Droga! Hoje era um dia de festa e agora estou com vontade de chorar.

— Desculpa. - soprou a palavra e depositou um beijo para cada lágrima que caiu do meu rosto. - Precisava que você soubesse disso.

— Às vezes... tenho medo de passar por um espelho e me encarar. As pessoas não entendem que não consigo ver outra coisa em mim ou me satisfazer com a minha imagem... Acham que é brincadeira ou exagero meu, quando na verdade estou em um pesadelo e adoraria sair dele. Me culpo por comer, mas me culpo se deixar tanta gente preocupada comigo sem que eu mereça tanto... amor. Durmo pensando nisso e acordo com medo de mais um dia, sabe? - eu nem tinha percebido que chorava na frente dele. Seus olhos verdes que não piscavam e me davam toda atenção. Passei os dedos para limpar o rosto e respirar fundo. - É uma batalha diária e tenho medo de perder essa guerra. Não por mim, mas por vocês, que tanto olham por mim e se decepcionariam comigo se desse tudo errado.

Quando consegui fitá-lo depois de desengasgar tudo, ele continuava impassível. O maxilar anguloso trincado, os olhos ainda pairando em mim e em minha deprimência. Já não me acariciava na mão e só tinha o barulho de nossas respirações, se é que isso era possível de ouvir.

Então se levantou, devagar, enquanto me deixava no chão, sentada, tão pequena diante de toda sua altura. Olhou para frente e depois entendeu a mão. O braço forte, marcado em relevo por músculos sob a camisa, estendido para mim. Sem saber o que queria, aceitei a mão e foi içada de uma vez só. Rápida e indolor.

— Vem cá. - disse, com um teor de ordem imperando na voz misturado com cuidado.

Posicionou-me entre seu corpo e a bancada da pia, me deixando de frente para o espelho e ficando atrás de mim.

— Não, Alvo, não quero e...

— Fica, Una. - me interrompeu, me prendendo em seus braços e impedindo-me de sair daquela prisão. Minhas costas acompanhavam o ritmo de sua respiração, grudado em mim, estava arfando. - Olha pra você nesse espelho. Só tem nós dois, faz isso.

Relutante, tendo consciência de que aquilo só acabaria quando ele se satisfizesse, fiz como foi pedido.

E lá estava minha imagem pairando, o que eu tanto temia e me trazia tristeza, ódio e repulsa. 

Meu rosto estava um pouco vermelho e molhado pelas recentes lágrimas. Minha pele era tão branca que eu odiava seu tom. Diferente de todas as visões, dessa vez, o corpo de Alvo estava por trás. Suas mãos pousadas em meus ombros, mãos fortes que tentavam me confortar. Era mais alto que eu, por isso conseguia ainda ver partes de seu corpo no espelho. E me olhava no espelho também.

Ele era lindo, em cada nuance e as linhas que se juntavam ou misturavam para seu formato que o deixava lindo.

— Você está se vendo? - cochichou em meu ouvido. Quente, me arrepiava.

— Estou te vendo...

— Olhe pra você e tente se ver como eu te vejo, Una. - Alvo deslizou as mãos por cada lado de meu corpo e pousou sobre minhas mãos na bancada. Era quente e me fazia sentir protegida.

— Você é linda e não percebe o quanto. Peso é um detalhe que se pode mudar ou manter, Una. Isso não te define. - ele deixou um beijo no vão entre meu pescoço e o ombro. - Peço desculpas em nome da nossa sociedade vil que julga os outros pelo peso e não pensa o quanto isso pode humilhá-lo, até mesmo pelas pessoas que fazem isso de propósito. Por isso, não deixe que te atinjam porque você é mais do que isso. Somos mais do que isso e devemos mudar o pensamento das pessoas.

Eu já estava respirando superficialmente, colada com ele e me derretendo com suas palavras em meu ouvido. As mãos voltaram a se movimentar. Um pousou na base da minha cintura e a outra em meu pescoço, inclinando minha cabeça.

— Você é linda e quando souber desse poder, ninguém mais vai ser capaz de te fazer menor, entende? Sempre achei sua pele bonita... Imaginei que fosse macia. - Alvo dedilhou o espaço de meu pescoço e me acariciou na cintura.

— Alvo... - suspirei, tentando, sei lá, ou pararmos antes que eu me desintegrasse.

— Shii... Você é macia, sim, e tenho vontade de dar um beijo e sentir seu cheiro. - ele fez conforme disse e faltei morrer ali mesmo. - Tenho vontade de te fazer carinho no cabelo toda vez que você fica triste. Tenho vontade de te trazer para meu colo e te fazer dormir porque tudo vai ficar bem.

A mão que estava na cintura foi subindo até a barriga. O dorso de sua mão era grande, sobre minha barriga, a visão no espelho me deixava quente.

— Eu sempre gostei de olhar fixamente pra você. Pode achar que a cor dos seus olhos é comum, mas eles parecem conter um segredo que ninguém seria capaz de descobrir. Por isso me perco neles. Suas medidas são ideais pra você e não tem como ficar melhor, Una.

Alvo voltou a depositar beijos em meu pescoço. Afastou meu cabelo para o lado e então beijou a nuca. Cheirou, senti seu nariz riscar minha pele.

— E a sua boca. - ele soltou uma leve risada, senti seu peito vibrar. - Como olhar e não ter vontade de te beijar, Una?

Pelo espelho, eu observava com atenção o deleite de Alvo. Ele fechava os olhos e, com todo carinho e desejo, me beijava molhado onde tinha pele nua. Até parar com as carícias e voltar a me fitar pelo espelho. Arfávamos juntos.

— Quero que olhe pra essa garota do espelho e não esquece de todas as coisas boas que ela me traz.

Então me virou e ficamos frente a frente. Uma mão na base das minhas costas e as minhas entre seus cabelos.

— Fico feliz com essa garota também. - sussurrei para seus lábios e ele sorriu.

— É assim, garota. - e me beijou, nos tirando por minutos de qualquer realidade.

 

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Notas finais do capítulo

GENTE, ME PERDOEM A DEMORA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

foram tantas coisas acontecendo comigo que não sei por onde começar. Primeiramente boas vindas a quem está chegando e sei que tem bastante gente nova! Vamos mudar o rumo dessa historia! Outra coisa, demorei porque agora eu sou acadêmica de Medicina, meu sonhooooooo real e nem acredito! Muito obrigada pelo apoio e pela preocupação!

AMo voces e no meu perfil eu deixo geralmente noticias sobre mim. BEIJOS







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