No dia seguinte, me levanto, tomo meu banho e saio do quarto. Caminho pelo corredor e ouço vozes no andar de baixo.

Vou até a escada e olho lá de cima quem é a visita.

É um homem de cabelos grisalhos, alto, barba rala. Extremamente lindo. Porém com aparência de uns 35 à 40 anos.

— É um prazer recebê-lo aqui Ely - disse Justin fazendo sala para o rapaz. Pelo pouco que conheço Justin, ele estava sendo falso e estava na verdade odiando essa visita.

— Obrigada Bizzle - agradeceu o rapaz com sua voz grossa e formal.

Me sentei e fiquei espiando eles. O que aquele cara poderia querer? Eu poderia pedir ajuda a ele? Ou ele é só mais um da gangue?

— A que devo a "honra"? - perguntou Justin, dando ênfase, sendo ironicamente irônico.

— Bem... Receio que nossa última conversa não tenha acabado muito bem - estalou a língua no céu da boca. -, porém, quero lhe fazer uma proposta. 

Justin deu um suspiro pesado e se aconchegou no grande sofa e olhou para cima, sentando-se imediatamente quando  me viu, escondida mas ele sabia que eu estava ali. Seus olhos estalaram.

— Ahn... Ely, vamos conversar em meu escritório, é por aqui - disse ele maneando a mão para o lado do escritório e Ely seguiu em frente.

Justin olhou para mim e fez sinal para que sumisse dali.

Justin entra no escritório, fecha as persianas e fica trancado lá com aquele cara. Para ser sincera, poderia gritar, fazer qualquer coisa pedindo ajuda ao cara, mas não senti firmeza nele. Ele me faz sentir falsidade de sua parte. Espero que Justin tome cuidado com ele.

Voltei para o quarto e fiquei por lá. Não queria saber sobre a conversa. Talvez fosse até melhor para mim. Já basta correr perigo com Justin por saber seu nome, correr mais perigo por saber de outras coisas? Não, obrigado!

Tomei minha insulina e fui até a janela quando ouvi o barulho do carro de Ely partindo.

Desci para a sala e Justin veio em minha direção com um pote se sorvete de um litro, fazendo meus olhos saltarem. Eu comia um desses sozinha quando morava com meus pais. Light, claro.

Ah... Isso me fez sentir uma saudade de casa.

— Tome - disse ele. - Já que você gostou tanto do outro sorvete, coma esse também - disse e eu estranhei sua repentina bondade.

— Obrigada.

— Mas é para comer tudo... Não deixar nem uma gota derretida - disse malévolo e só então entendi que ele queria me torturar, achando que eu não conseguiria comer aquilo tudo sozinha.

— Mas... É muito Bizzle, eu não aguento. Não é nem Light... - disse o enganado. Se ele souber que eu estava amando esse castigo, provavelmente descobriria que o pior castigo seria ele comer todo esse pote e me fazer ficar só olhando.

— Mas vai ter que aguentar, princesa. O outro estava tão bom não é? Esse deve estar melhor ainda! - sorriu de canto.

Com certeza está!

— Tudo bem - suspirei desanimada.

— Pode se sentar no sofá. Eu vou te fazer companhia. Quero ver você comer tudinho.

— Tudo bem...

Abri o pote e faltei vomitar arco-íris. Era napolitano.

Pelo sabor, ele parecia estar sendo bonzinho. Esse é o melhor sabor de sorvete, três em um só.

Enfiei uma colher na boca, seguida de várias outras.

— Quer um pouco? - perguntei.

— Não... - disse ele, mas seu olhar dizia que suas lombrigas imploravam pelo MEU sorvete.

Ele revezava seu olhar entre mim e a TV. Quando estava quase no final, comecei a comer mais devagar, fazendo cara de quem não queria mais.

Na verdade eu não queria mesmo, estava satisfeita, mas terminar não seria problema nenhum. Quem sabe quando vou ter outro castigo como esse não é mesmo?

Faltava três bocados para acabar. Ele me olhou e eu suspirei desanimada olhando para a colher, antes de colocá-la na boca. Agora só faltavam dois.

Terminei e lhe mostrei o pote vazio.

— Isso não me pareceu um castigo descente... - disse ele me encarando. - Você pareceu gostar demais.

— Do que está falando? Não cabe mais nada dentro de mim! Eu vou explodir. Sem contar que eu vou ganhar vários quilos a mais graças a você - me defendi. - Onde já se viu... - disse indignada. - Dar um pote de sorvete de um litro, sabor napolitano, para uma menina como eu comer sozinha... Por favor... Nunca mais repita esse castigo - pedi fazendo cara de triste e colocando as mãos na barriga.

— Viciada... - disse ele com os olhos semicerrados me encarando. - Você amou isso... Esta louca para comer mais um pote desse sozinha - disse indignado, negando com a cabeça.

— O que? - disse rindo. - Está louco! De onde tirou esse absurdo.

— Olha a sua cara... - ele riu. - Cara de quem é viciada em sorvetes.

— Tá bom... Eu amei comer todo esse sorvete. Amei mais ainda comer o seu, porque foi escondido. Tudo que é escondido é mais gostoso - ri, mas ele fechou a cara. Tava bom demais para ser verdade, ver ele rindo comigo pela primeira vez desde que estou aqui... O que faz o que? Um mês mais ou menos? Ou mais?

— O que você estava fazendo escondida na escada? - perguntou seco.

— Não sei... Eu ia descer, mas preferi ficar lá em cima quando vi que você tinha visita.

— Sentada na escada, querendo escutar nossa conversa?

— Não... Minha mãe me deu bons modos sabia? Eu não queria escutar a conversa de vocês - menti. - Aliás, como sabia que eu estava lá? Eu estava escondida!

— Chama aquilo de estar escondida? Para um cara como eu, mostrar o cabelo como você estava mostrando, é se mostrar inteiro.

— Sabe qual é o seu problema Justin? - disse sussurrado pelo seu nome. - Você presta atenção demais nas coisas.

Ele me olhou surpreso e logo um sorriso se formou em seu rosto. Ele não vai surtar por eu ter dito seu nome?

— Ah, garotinha linda! - disse me dando um selinho e saiu apressado  direção ao seu escritório.

   O que foi que eu disse?!