Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 39
Capítulo 35 ➳


Notas iniciais do capítulo

O sol sorri para mim, mesmo ante as adversidades diárias.
Estou imensamente feliz em estar aqui mais uma vez, para que possam aproveitar mais um capítulo de SASL ♥



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Sempre ao Seu Lado 

↠ .Renesmee. ↞ 

 

“Para que os vossos servos possam cantar livremente as maravilhas dos vossos feitos, tirai toda mácula do pecado dos seus lábios impuros...” 

 Meus olhos pesavam sobre a canção francesa à devoção ao santo João, o batizador, trilhando cada curva assertiva do relevo gráfico passado para o papel estruturado do livro das histórias das partituras em minhas mãos, se eu possuísse algum poder inflamável, nem a capa do livro sobraria entre as dobras das minhas mãos. 

 

— Você é apaixonada por esse livro, dificilmente o desintegraria. — ouvi meu pai cochichar uma resposta aos meus pensamentos. 

 

“Talvez sim, se eu também tivesse a habilidade de regenerar qualquer matéria.” 

 

— É, se nesse caso... — concordou. 

 

 O pouco assunto que tivemos foi o suficiente para que eu pudesse largar o livro sobre a mesa de cabeceira e zanzar pelo meu quarto, aguardando que os minutos do dia corressem um pouquinho à mais. Decidi agir mais humanamente, retirando itens de decoração das prateleiras, limpando um por um até que estivessem recolocados em novas posições e lugares. Mesmo sem necessidade, troquei a roupa de cama por completo, afofei os travesseiros e almofadas e fiz questão de me sentar bem no meio da cama. 

 Vi as horas no visor do celular, calculei quanto tempo a organização durou e me decepcionei. Sequer chegou a uma hora. Enchi minhas bochechas de ar, me sentindo um pouco aflita de ansiedade, joguei o celular à minha esquerda. Deitei minha cabeça sobre as almofadas e travesseiros e passei a encarar o teto, esperando que as horas corressem só um pouquinho à mais. 

Soltei uma longa respiração por entre meus lábios, sentindo o ar contrair a pele sensível da minha boca; um pensamento decisivo me fez saltar da cama, ajeitar o cobre leito sobre o colchão, afofar as almofadas e travesseiros mais uma vez, vesti uma blusa mais pesada e com bolsos apenas para ter onde guardar o celular e nem fiz questão de fechar a porta do quarto, apenas segui pelo corredor, indo diretamente para a sala para dar um beijo no rosto de meu pai e sair de casa. Não me movi lenta o suficiente para me despedir do ar quente e aconchegante que estava no interior de casa, o ar frio que rodeia a floresta me cercou como um orvalho. Olhei para o céu escuro de um novo anoitecer com a ideia concreta na minha mente: eu tenho que ver o Jake. Apenas um passo à frente foi o suficiente para que eu já estivesse em alta velocidade entre a humidade, musgos, samambaias e árvores imensas, percorrendo um caminho que eu sabia trilhar de olhos cobertos, não foi muito difícil ou exaustivo de chegar aos limites tão conhecidos por mim das praias de La Push, eu já sabia onde encontrá-lo. 

 O vento estava mais forte contra o meu rosto no despenhadeiro, o corpo enorme e peludo da forma lupina de Jake estava assentado sobre a rocha, a cabeça do lobo estava inclinada na direção da vista abaixo de si, dando-lhe um aspecto de um ser compenetrado. Me aproximei dele sem receio ou manifestar algum, ele sabia que eu já estava aqui. Corri minhas mãos por sua pelagem me aconchegando na maciez, afundei minhas mãos a fundo nos seus pelos até sentir a pele febril do lobo e passei minha lembrança de cada rosto que havia esperado na casa dele, vividos a poucos dias atrás: alguns estiveram inquietos sim, um ou outro se encontraram apenas curiosos. Passei minha lembrança sobre o ocorrido com Cole tentando aliviar algumas partes para que isso não ficasse mal interpretado; principalmente porque eu havia enrolado sobre esse dia o máximo possível e não era novidade alguma, para ninguém, que eu nunca fui boa o suficiente para esconder alguma coisa de Jake e agora, eu estava sempre me autoavaliando se poderia ter sido mesmo uma boa ideia Amberli já estar ciente da sua ligação intensa com Cole através do imprinting. Naquele dia então, eu pude sentir os medos que ele continha, o medo da possibilidade de ser tarde demais gritava mais alto de que as circunstâncias positivas de que ela saberia sobre o imprinting nas próximas semanas ou meses. Eu forcei o Cole homem a convencer o Lobo sobre isso. 

 Falta de insistência dele para que o contrário acontecesse não faltou. E resistência minha, também. 

 Senti o celular vibrar dentro do meu bolso. Afastei minha mão da maciez dos pelos de Jake para pegar o aparelho e ler a notificação recebida: 

 

— Olha, minha tia mandou mensagem... — comentei mesmo sabendo que ele não tinha interesse algum de saber, principalmente quando dizia a respeito de Rose. Li as breves palavras do texto — Hum... Ela também não está na casa dos meus avós ainda. Foram caçar. —  guardei o celular de volta para o bolso esquerdo do casaco que estou usando — Você acha que eu deveria expressar um pouco do ciúme que eu senti dela com a Amberli em todos aqueles dias? 

 

O som que chiou dentro do tórax do lobo deu a entender que isso seria uma atitude idiota. E não era pra menos, ele sabia que eu não estava falando sério. 

 

— Eu também achei isso, mas é a primeira vez que minha família se responsabiliza por uma mulher e uma bebê humana e uma recém-nascida híbrida de uma só vez... Claro que eles tiveram que ficar de olho na minha mãe quando ela era humana, — revirei meus olhos, assim como o lobo ao meu lado — mas agora é diferente... E até mesmo mais triste. Tem duas crianças no meio, uma que é completamente dependente de qualquer coisa, e uma híbrida que mal sabe andar, e eu andei em tão poucos dias sem que ninguém precisasse me estimular muito para isso, eu apenas precisei entender como minha tia Alice mexia seus pés tão bem... — sorri com a lembrança mesmo que a circunstância atual fosse contrária — Me lembro das palmas! — acrescentei risonha — E depois vocês me disseram que ficaram apavorados... Hoje sou eu que estou apavorada. 

 

Tornei a ficar em silêncio apenas me atentando a vista do mar cinzento abaixo dos meus pés, deixando que meus pensamentos vagassem nas memórias do momento em que conheci Amberli Scott. Era uma jovem adulta, uma humana bonita que fará vinte e cinco anos em breve, apesar de ser tão nova ela já havia perdido muito em pouco tempo, uma filha, uma mãe e um matrimônio. E apesar de todas essas eventualidades, o ganho de sua filha Hilary a fez viver de novo; eu nem precisei estar com ela nesses momentos para perceber o quão claro isso demonstra ser. Ela é bem mais do que a feição serena é capaz de apresentar, o que surpreendeu tanto a mim, quanto ao Jake. Principalmente a ele.  

Senti saudade da presença ativa dela, e sem perceber transmiti a sensação doída que parecia pesar sob meus pulmões e coração para ele, o choramingo incomodado do lobo me fez recuar as mãos de sua pele lupina, afagando apenas o comprimento do pelo espesso. 

Suspirei mantendo a tristeza da saudade apenas para mim. 

 

 Amberli permanece no coma induzido sem qualquer sinal de resposta. Minha mãe, que decidiu juntamente com meu avô se manter a frente do caso dela, tentou no decorrer dos dias diminuir a sedação, mas tão logo quando decidiam diminuir, precisaram voltar com os equipamentos e medicamentos que a mantinham estável. Minha mãe estava integralmente responsável por ela por suas próprias motivações, e convenceu meu pai a participar apenas quando ela achasse necessário, pois meu avô ainda precisava manter a aparência da família e compromisso com o hospital e Alice distribuía tarefas para cada um de nós em benefício de Amberli, até porque, ela tinha uma vida ativa e esforçada antes de vir para cá, e precisava de garantias e direitos para o futuro próximo, principalmente financeiramente. 

 Tirei meus dedos dentre a pelugem do corpo do lobo e cruzei os braços, assim evitaria transmitir meus pensamentos para ele ante minha distração. 

 Minha mãe me concedia um acesso ilimitado à UTI da mansão, não que eu montasse acampamento lá dentro com frequência, mas sempre que dava eu estava por perto, auxiliando e dando-lhe companhia, atenta a qualquer novidade que Amberli pudesse apresentar. Nos dias em que minha mãe diminuía as funções de alguns equipamentos e medicamentos na esperança de poder aplicar outros medicamentos que estimulassem o despertamento da Amberli, eu ficava com os sentidos aguçados sobre ela, esperando ansiosamente. Nesses momentos de testes esperançosos minha mãe deixava as pálpebras dos olhos dela livres e seus olhos hidratados, e aguardávamos juntas a eficácia das medicações. É inegável que houve dias que chegou a dar certo, Amberli chegou sim a abrir os olhos, mas não respondia aos comandos simples, como quando a chamávamos pelo nome, e nas outras vezes quando ela parecia ter chances de despertar, estimulávamos sua atenção visual, mas não havia reação reflexa de acompanhar o movimento ocular ou foco do sistema óptico.  

 Minha mãe não insistia todos os dias, dava pausas e descanso para o corpo da Lee; nesses momentos ela pedia a presença do meu pai para colher minuciosamente algo que não podíamos, mas por enquanto ele não conseguia captar interação mental ativa de forma clara para que pudéssemos guiá-la de alguma forma. Isso significava dia após dia, que tínhamos que agir um pouco de cada vez, sem forçar ou estender as tentativas, os estímulos eram realizados durante a manhã para que Cole não ficasse sabendo. Ou melhor, não precisasse acompanhar os procedimentos. Minha mãe o mantinha informado dos avanços, quando havia algum animador, mas como num hospital humano comum, não apresentava detalhadamente os métodos aplicados, até porque, Cole ainda precisava resolver suas negociações e pendências portuárias, e se portar de maneira saudável e estável diante dos humanos. Não excluindo o fato de que ele estava cumprindo seus horários de ronda por vontade própria, Jake havia flexibilizado sua ausência perante a situação, mas até hoje ele não se ausentou nem um dia sequer. 

 Apertei meus dedos contra o tecido do casaco, me agradecendo de não estar com as mãos em contato com o lobo. Esses pequenos detalhes não podiam escapar por minhas mãos, eu sabia que nesse horário Cole já deve estar terminando de cumprir seu horário de ronda, isso não poderia chegar a ele de forma alguma. Pelo menos não agora.  

Cada intervalo de dias realizávamos um estímulo, a grande maioria eram frustrados, porém não desistiríamos; meu avô chegou a aplicar estímulos de dor e mesmo assim não havia reações do seu corpo. Os exames e as máquinas de monitoração mostravam atividade cerebral, mas até agora não estávamos obtendo respostas a nada, ela não mexia um dedo sequer, nenhum espasmo, até agora nada, nem mesmo com a voz da Hilary. Não que tivéssemos levado a menina para um local delicado como esse, mas nada que vídeos e áudios não pudessem me ajudar... 

 A pequena sentia uma falta imensa da mãe, era de apertar o coração. Não pude deixar de fazer algo pela pequena, durante a tarde, pelo menos uns trinta minutos antes de seus cochilos eu me atrevia a tocá-la e transmitir ilusões de interação com a mãe. Essa ideia partiu de mim, para poupá-la pelo menos um pouco da dor da separação que ela sentia de maneira inocente e profunda pela falta de contato com a Amberli, eu elaborei a situação por uma tarde inteira, reimaginando sentidos e ações da maneira de falar e movimentar da Amberli, para que eu pudesse reimaginar sua maneira de agir e passar o mais natural e conhecido para a cabecinha dela. A primeira vez que pus essa situação em prática e que da qual hoje chamo de “Terapia da Hilary”; eu recriei minha interação de quando minha mãe me acolhia em seus braços e me ninava para poder dormir junto com um vídeo recente da Amberli com a Hilary, me concentrei em deixar muito evidente a maneira mental de sentir o acolhimento, e de uma maneira bem pensada eu fiz com que para Hilary, mantida com os olhinhos fechados, pudesse me identificar como sua mãe. Esme a preparava para dormir com o auxílio de algo que Amberli nunca havia precisado oferecer para a filha: a chupeta. Minha avó deixava-a num estágio sonolento para que eu pudesse assumir; primeiro eu a tocava, despertando seu sentido natural de reconhecimento materno, para que depois Esme pudesse colocá-la em meus braços, e assim eu mantinha ativo em sua mente infantil de que ali, naquele momento, era Amberli que a amparava. Nas primeiras duas vezes, quando eu a deixava no berço, me senti com pesar e lágrimas nos olhos por ter que enganá-la sendo tão novinha e inocente, mas minha avó me fez perceber que eu estava ajudando-a a não sofrer tanto com a ausência materna que a afetava durante todo o tempo diurno. Tia Rose estava responsável pela recém-chegada, Helena. Quando minha iniciativa em Hilary havia tido êxito, me senti entusiasmada para poder ter coragem em desenvolver algo parecido para a Helena também, mas algo me repelia. Não conseguia me aproximar dela nessa intensão, talvez seja por ela ser tão chorona? Eu não sabia explicar, mas já havia instintivamente entendido que não estava em minhas mãos a oportunidade de ajudá-la. 

 Meu pai está analisando a incógnita que Helena Adhara é. O primeiro ponto é que de acordo com ele, ela tem pensamentos oprimidos, que são externados pela única maneira comunicativa que ela interage com a gente, que esteve sendo através do seu choro ininterrupto enquanto se mantém acordada e pela desenvoltura de sua mente, isso têm acontecido desde a gravidez, ela tem limitado a si mesma, dificultando grande parte do seu desenvolvimento intelectual, retardando seu crescimento híbrido. Com os dias de vida que ela tem, eu estava triplamente mais adiantada e nutrida. 

 

 Se fôssemos estabelecer uma tabela de prioridade, Helena estaria logo após sua mãe e quem estava ajudando todos da família a conciliar isso, sendo médicos ou não, é o tio Jasper. 

 Meu tio estava sendo a coluna de equilíbrio das famílias envolvidas em período integral e isso me deixava extremamente grata e orgulhosa dele. Seu dom alcançava níveis que eu jamais ousei imaginar serem possíveis, até porque, ele tem estado cuidando de nossas emoções a todo o momento por muitos anos, agora sua habilidade se estendeu além do cotidiano, fortalecendo e aprimorando o vínculo materno entre as duas meninas com a Amberli, e estruturando os fios frágeis das emoções de cada uma de modo prioritário; não me esquecendo de Cole e sua extensão familiar, Jasper tem dado uma atenção especial para ele também.  

 Eu nem sei o que teria sido de cada um de nós se meu tio não estivesse por aqui em todos os momentos. Cada ação nossa que foi movida em prol, tanto da Amberli, quanto da Helena e Hilary, foram observadas de perto por ele; inclusive a minha iniciativa em também estimular emoções na Amberli por meio das técnicas de ilusões que tenho usado na Hilary de uma maneira bem mais intensa. 

 Junto com ele, no curto período em que Hilary dormia, ele dividia cinco minutos da sua atenção para compartilhar as emoções de maneira intensa, para que eu pudesse gravá-las mentalmente, nesse método eu conseguia o teor suficiente para ser transmitido para dentro do cérebro da Amberli assim que possível. Fiz o que estava ao meu alcance para que tudo desse certo desde a primeira vez. Vasculhei seus álbuns de fotos, aspirei seus perfumes, com a ajuda de tia Alice, consegui um arquivo em nuvem onde ela tinha armazenamentos de fotos e vídeos. Que se por um acaso ela chegar a saber, que possa me perdoar, pois tive acesso a todos os vídeos que ela tinha da primeira filha e mãe falecida e até mesmo do seu ex-marido, vídeos amadores e caseiros para o próprio entretenimento. Me esforcei para memorizar cada tom de sua voz em diferentes ações e reações para que eu conseguisse recriar alguns momentos de fortes emoções que ela já viveu, como o vídeo do nascimento das filhas, e também eu mesma criei situações conflitantes que elevariam seus sentimentos e emoções. Eu daria um jeito de prová-la, para que seu cérebro pudesse fazê-la reagir de volta para a realidade externa. Estive até mesmo desenvolvendo cenários tensos como de filmes de terror e pesadelos, capazes de poder deixar seu corpo alarmado. Pesadelos podem fazer um humano acordar mesmo que ele tenha um sono pesado; tio Jasper esteve me auxiliando em cada minuto possível para que após uma semana de testes, eu pudesse projetar sem tanto desconforto e dificuldade. 

 Não que eu me sentisse bem. Eu tinha que intensificar mentalmente as alegrias, as iras, os medos e terrores e as vezes isso no começo acabava me afetando também, mas em momento algum pensei em desistir da esperança de que através de mim eu pudesse ajudar a Amberli a despertar do coma. Eu me sinto auspiciosa e confiante cada vez que tenho entrado no escritório para realizar mais uma sessão, mesmo que esteja me consumindo, deixando minha própria mente um tanto cansada. 

 

O vento gelado jogou meus cachos para trás com violência, deixando-os atrás dos meus ombros. Contive um suspiro entre meus lábios, mudando o foco da minha divagação, repassando na memória todo o pandemônio acontecido na residência dos meus avós, a reação imprevista do estado de saúde de Amberli, a tensão e preocupação que pairaram no ambiente foi sufocante. Eu queria ter feito mais por ela naquela noite de terça-feira, ou até mesmo por Cole, porém minhas alternativas foram reduzidas a nada e não me restou nenhuma opção além de ter que dormir e aguardar por boas notícias nas horas seguintes. A espera era angustiante, tanto que até dormi no sofá de casa e sonhei que estava sentada na poltrona em que estive tantas vezes com Amberli na sala dos meus avós, esperando pelo momento infinito, para que alguém me desse alguma notícia. Foi um sonho esquisito que tem se repetido nos últimos dias. 

 Introduzi meus dedos de modo intencional entre os pelos do lobo mais uma vez, transmitindo mais um pensamento para a mente de Jake, perguntando-o se gostaria de saber das últimas notícias pelo meu ponto de vista. Um ganido lupino saiu de sua bocarra. Sem dúvida alguma, significava uma confirmação. 

 

— Hoje Helena chorou quinze minutos à menos que ontem. Estamos tendo mais avanços entre os intervalos do sono e ela está quase virando a noite dormindo. — deixei que minha voz ecoasse até seus ouvidos, para que soubesse que a introdução do sono com métodos humanos e a participação influente do dom do meu tio em ação estavam dando resultados. Permiti que pudesse vê-la dormindo, as mãozinhas fechadas com força e suas pálpebras inchadas e vermelhas em evidência eram o sinal claro de que ela havia resistido até sucumbir à exaustão — Ela finalmente está ficando esgotada, tem resistido menos. 

 

 Não a mantemos muito próxima da Hilary, cuidamos das duas integralmente e achamos justo não influenciar a sede da recém-nascida com o cheiro da sua própria irmã ao seu alcance, as bolsas de sangue estão suprindo-a muito bem já que, nas palavras da minha mãe e confirmação do meu avô ela não tem muito apetite. 

 Transmiti um acontecimento mais alegre que voltou a encher nossa rotina de esperanças, para a mente do lobo; O som do riso contagiante de Hilary repercutiu pelas nossas ondas cerebrais causando alacridade em nós. O logo expeliu a respiração, reagindo positivamente ao que compartilhei com ele. Estendi a cena mais alguma vezes, apreciando Hilary gargalhando de alguma brincadeira com Emmett, fazia dias que Hilary não ria dessa maneira. 

Jake remexeu seu corpo, movendo sua traseira contra a rocha abaixo de nós, sua enorme cabeça se virou na minha direção, os olhos castanhos de seu lobo externavam questionamentos específicos. 

 

— Amberli teve melhora. — a notícia saltou dos meus lábios como uma pipoca, Cole não estava ativo como lobo e eu teria quinze segundos livres para que apenas ele soubesse do que está escutando — Hãn, pelo menos é o que os últimos resultados de exames têm nos garantido. — meus lábios se moviam rápido, o vento levava minha voz para diferentes direções. Intensifiquei meu toque contra ele mais uma vez, mostrando as máquinas e arquivos de exames — Melhora mínima, mas de grande valia; os mais aguardados, como o avanço das atividades cerebrais mais ativas, ou despertamento e resposta aos estímulos físicos e sensoriais, ainda sem progresso. 

 

 Sem contar com a frustração que tivemos no início dessa semana. Meu avô separou a membrana amniótica para que ele pudesse separar os possíveis componentes celulares para saber mais sobre a espécie, no momento não havia outro lugar mais adequado para deixar as partes do órgão do que no próprio hospital, que comporta um laboratório muito bem equipado, seguro e acessível para ele. 

Só não contávamos que ele não estava seguro o suficiente, já que tudo que ele armazenou lá, simplesmente desapareceu. Simples assim. Não havia nenhum registro nas câmeras do local alguma imagem que comprovasse um furto, era como se jamais houvesse existido coisa alguma trazida por ele naquele lugar. Carlisle não nos autorizou a intervir nessa situação, já temos situações mais graves do que as membranas recolhidas do corpo de Amberli, que ele tanto ansiou em poder estudar. Aceitei sua decisão, nem fazendo questão de insistir muito, a vida dela realmente vale muito mais. 

 

 Fiquei fazendo companhia para Jake por mais algumas horas, ele sempre estava de prontidão durante todas as noites em que Cole se mantinha comprometido a cumprir seus horários de ronda, mesmo que Cole consiga voltar para a sua casa com o temperamento estável, ele continuava ativo entre seus irmãos, pronto para quaisquer situações que possam aparecer. Nos locomovemos por mais três pontos diferentes que cercavam tanto a reserva, quanto Forks, os lugares pertenciam ao agrupamento de cada contagem de lobo que estavam escalados para assegurar mais uma noite tranquila na nossa região.  

Às vezes eu me perguntava se Cole conseguia mesmo descansar, ter um sono tranquilo para manter a cabeça no lugar e enfrentar mais um dia de trabalho, ditando comandos e fechando negócios. Talvez ele esteja sim dando conta, caso contrário, Jake já teria comentado sobre isso comigo... Ou não, caso Cole pedisse para que não fizesse. De uma forma, ou de outra, eu manteria essa dúvida só para mim. 

 Quando mais um turno de ronda terminou, acompanhei Jake na sua vistoria, verificando todas as rotas guardadas de cada turno que ele acompanhou, farejando se as terras estavam intactas sem a presença de alguém desconhecido. Essa é a maneira de todos saberem que ele não estaria mais ali com eles como lobo, era nossa hora de descansar. 

 

 

 

➳ 

 

 

 

Cole foi mais ligeiro essa manhã, conseguiu a proeza de aparecer na mansão antes mesmo da minha mãe e eu chegarmos para fazer mais um dia de testes; não que ele soubesse disso, mas minha avó disse que ele apareceu ali antes mesmo do céu cinza clarear e desde então estava no escritório vigilando o sono da amada. 

 

 — ...E deu uma folga a si mesmo pois precisava ver como ela está, acordou espontaneamente sentindo que precisava estar aqui com ela... A sensação mais forte do que da última vez. — minha avó repassava as palavras dele — Ele não soube me dizer quando exatamente foi a última vez que ele sentiu esse desejo intenso, além da angústia pela espera dela acordar, então ele está lá dentro com ela. 

 

— Acha uma boa ideia eu já subir? — meus olhos olharam brevemente para a escadaria, ela acenou positivamente. 

 

 — Sim, eu deixei claro que você e sua mãe chegariam. Você não vai pegá-lo de surpresa, ele já deve ter sentido seu cheiro aqui. — me incentivou a subir — Eu estarei no quarto, com a Hilary. 

 

Acenei em concordância, zarpando na direção das escadas. Pisei ambos os pés no último degrau da escada e hesitei em continuar sentindo-me tentada a mover minhas mãos à frente do meu corpo para fazer o sinal da cruz e elaborar uma prece silenciosa de que os resultados fossem melhores. Reuni coragem e respirei fundo, adentrando ao ambiente. 

Era mais um dia em pedíamos silenciosamente para que o cérebro de Amberli pudesse deixá-la consciente. Caminhei a passos mudos pelo corredor até parar a frente da porta de madeira do escritório do meu avô ouvindo claramente a diversidade de sons frequentes que preenchem todos os cômodos da mansão.  

Se antes Amberli achava que isso se parecia um centro de tratamento intensivo, era porque não tinha noção da proporção de aparelhagem hospitalar que estava ao seu dispor nestes dias. Entrei no cômodo sem hesitação alguma, trabalhando a minha mente. Faltava alguns pequenos detalhes e sentimentos que eu precisava reimaginar para que a cena ficasse viva em minha mente; olhei para a tela do meu celular, reproduzindo mais uma vez o vídeo, no mudo, o último momento que Hilary havia tido com sua mãe durante a preparação do parto, captei os mínimos detalhes da cena pobremente gravada por minha mãe, para que eu pudesse reproduzir por outro olhar. O olhar dela. Contive um suspiro de angústia, esse era intenso demais, talvez eu ainda não consiga expressar o sentimento à altura. Na verdade, eu não queria... 

 Soltei o ar quente por meus lábios, desistindo de passá-los para sua mente, seria mais prático reciclar algo que eu já havia elaborado nos dias anteriores. Prático, mas não menos angustiante. 

 

 Cole estava ao lado da maca, inclinado em silêncio sobre a guarda, sequer moveu-se quando eu entrei. Ele encarava Amberli como se a qualquer momento ela fosse se espreguiçar e abrir os olhos. Não que ele fosse o único a desejar que isso acontecesse, é claro. 

 

— É a minha vez. — falei devagar para que minha voz pudesse soar tranquila e amável com ele. 

 

 Ele fez questão de se mover para me olhar. Estava sofrendo. Sua pele abaixo dos olhos estava mais escura e ressecada, seu corpo não era capaz de definhar seu físico, mas sua feição, apesar de séria, continha desespero.  

 

— Me deixe ficar. — sua voz sussurrou um pedido. Não era a primeira vez que ele me pedia isso. 

 

— Me desculpe Cole, mas não consigo me concentrar com mais alguém aqui dentro além de nós duas. Eu estou tentando usar diversas situações para... Nem sempre transmito coisas..., felizes... — olhei para seus olhos puxados, mas não consegui manter o olhar por mais de dois segundos, havia tanta aflição dentro dele... Preferi olhar para o rosto da Amberli, mesmo que seja desconfortável encará-la com o tubo de oxigênio ocupando toda a sua boca e cateteres no pescoço, não apenas por isso também... 

 

— Me deixe ver. — pediu. Sua voz sobrepondo-se sobre todos os sons que meus ouvidos eram capazes de captar. E não eram poucos — Eu quero ver o que você mostra para ela. 

 

Suspirei ignorando seu pedido, evitando torcer minha feição em uma careta. Me aproximei da maca, quase tocando em seu corpo, apoiando minhas mãos na guarda do leito, retirei os tampões dos olhos dela, lubrificando e hidratando a região, tocando suas pálpebras com o máximo de cuidado possível. Cole não se moveu nem um centímetro ao meu lado, continuei a fazer os pequenos procedimentos enquanto repassava a cena sentimental que montei na minha mente e mesmo sem querer, virei meu rosto e firmei contato visual com Cole. 

 

— Não sabe como é difícil simular um sentimento que não seja seu. — comentei baixinho — Dessa vez eu vou deixar Cole, mas não volte a me pedir isso novamente. Por favor. — Cole pareceu despertar com meu consentimento, endireitou sua postura assentindo de modo esperançoso. 

 

— Eu apenas quero ouvir a voz dela. — confidenciou com dor. Senti meu coração se apertar em ouvir sua voz assim mais uma vez. Ele apenas sussurrava, pois se tentasse falar com propriedade, sua voz embargaria — Sei que você pode reproduzir. 

 

Anuí a cabeça, preparando meus pensamentos, evitando falar. Toquei em Cole, pedindo para que trocássemos de lugar, assim eu estaria mais próxima da cabeça de Amberli, sua testa era um dos poucos lugares acessíveis para tocar sem que esbarrássemos em algo. Respirei fundo fechando os olhos e simultaneamente os toquei. 

Aos olhos de Amberli, ela estava no escritório de Carlisle, as máquinas piscavam e apitavam em intervalos alternados registrando os resultados obtidos do funcionamento de seu corpo. Ela estava com um daqueles aventais coloridos que a família deixava a sua disposição sempre que precisava estar ali, mas ela se sentia incompleta, a mansão estava silenciosa demais; não ouvia a voz doce e infantil da sua filha e muito menos conseguia se lembrar da última vez que havia visto a menina. 

 

— Olá?! — ela ouviu sua voz soar no ambiente silencioso. Sentia um aperto no coração, se sentia solitária — Cadê todo mundo?! — um riso nervoso escapou dos seus lábios. Piscou suas pálpebras sentindo lágrimas quentes deslizarem pela pele de suas bochechas, livres de qualquer sonda.  

 

Seus olhos analisaram o lugar com certo desespero, sentia que não conseguiria sair de cima do colchão onde repousara, mas não era apenas por isso que se sentia desesperada. Soluçou, deixando que um choro alto fosse ouvido por qualquer pessoa que estivesse por perto, e com essa constatação ela permitiu chorar mais desesperada que antes por saber que estava sim sozinha naquele cômodo. Com lágrimas escorrendo dos olhos e o peito doendo pela sensação pesada de um aperto no coração, ela moveu seus braços para envolver uma parte do seu corpo onde sabia que era um refúgio, não para ela, mas sim para seu bebê, sua próxima criança. 

 Seus membros travaram. 

 Sentiu um gelo horrível quando seus braços abraçaram um vácuo, engoliu em seco e tentando não se entregar ao pânico; olhou para baixo. Seus olhos se arregalaram em horror. Não havia mais nada ali. Nenhuma barriga protuberante, nada que evidenciava uma gravidez. 

 Sua boca se escancarou num grito agudo cheio de dor e pânico. Ela não conseguia parar de gritar horrorizada com o choque da completa solidão que estava vivendo. Seu grito continuava ecoando pelo ambiente, ardendo sua garganta e incomodando dolorosamente seus ouvidos. Suas pernas se debatiam sobre o colchão numa luta invisível contra a pressão esmagadora que a mantinha ali, seus olhos continuavam a produzir lágrimas que escapavam pelas bordas.  

 Amberli se negava acreditar que estava sozinha naquele lugar, se negava o suficiente para acreditar que seu corpo estava reagindo contra o que seus olhos constatavam. Suas mãos, suas unhas transcorriam por sua cabeça gerando ardência por onde passavam. Ela se negava a acreditar...” 

 

 

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! — abri meus olhos assustada pela conexão interrompida. Cole amassou minhas mãos contra as suas. Apesar de não ter me causado dor, eu estava bem consciente da força exercida. Seus olhos claros estavam vermelhos e brilhantes por lágrimas não derramadas. 

 

Não consegui encontrar coragem para respondê-lo, de repente sentindo-me culpada. Suas mãos ainda mantinham as minhas presas e não parecia que iria me deixar tocá-la novamente tão cedo, pelo menos não enquanto ele estivesse aqui. O que era quase frequente. 

 

— Estou tentando usar diversas situações para acordá-la! — me justifiquei — Todos os dias! — minha voz soou exasperada — Todos os dias eu formulo uma situação de escape para ver se ela responde... 

 

— Preste a atenção Nessie! — ele me cortou muito zangado, quase me encolhi pela agressividade de sua voz — Ouça! — ordenou. 

 

Um pouco assustada com sua abordagem, eu imediatamente me atentei aos sons reproduzidos a nossa volta, à volta de Amberli. Nossos ouvidos já estavam habituados com as sequências dos registros sensoriais dos aparelhos que monitoram ela, não foi difícil eu perceber que eles estavam registrando alterações do corpo dela, a máquina que mais se destacava ali, era a ECG que mostrava a grande elevação cardíaca que Amberli estava tendo. A máquina de oxigênio aumentou a distribuição de gás devido a reação do corpo dela. 

 

— Não é a primeira vez!... — me ouvi dizer a Cole — Não é a primeira vez que reproduzo essa mesma circunstância nela, estou tendo um desgaste muito grande para gerar novas situações conflitantes e não poderia reordenar outros momentos para mandar pra mente dela. 

 

— Você expôs uma fragilidade! Ela se sente insegura justamente com a solidão! — ele continuava irritado comigo. 

 

— Mas é a primeira vez que ela reage! — anunciei com espanto e alívio olhando para a mulher inconsciente no meio de toda a parafernália hospitalar. Cole soltou minhas mãos do seu aperto de ferro. Massageei minha mão por um breve instante, ainda olhando para ela, minhas sobrancelhas se franziram quando algo no rosto cheio de fios e tubos me chamou a atenção. Hesitante me inclinei sobre a guarda da maca me aproximando do seu rosto — Cole!... — o chamei num sussurro urgente — Olhe... — apontei para o rosto adormecido, com temor; as batidas aceleradas do meu coração pesaram dentro de mim — Ela, e-ela está!... 

 

— Sim, — sua voz tornou a soar, parecia ter reparado bem antes de mim — ela está chorando. 


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Notas finais do capítulo

Um beijo no coração um abraço na alma! ♥



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