Crônicas Mitológicas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 9
Hele


Notas iniciais do capítulo

Foi um desafio para mim entrar na cabeça de uma personagem feminina e transmitir todos os seus temores, anseios e desejos. Eu gostei do resultado final, e espero que agrade aos leitores, pois desejo fazer mais capítulos com o foco na nossa querida Hele.



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Durante a manhã e no decorrer da tarde, Hele finalizara o enorme bordado que havia planejado para esse dia. Sua colcha da titanomaquia, encomenda de um rico comerciante de Iolco, estava pronta. Concluído o trabalho, foi sentar-se à sombra, no gramado de um morro próximo, para descansar as mãos e observar a natureza. Já passava do meio da tarde e, apesar da brisa refrescante no terreno alto, o tempo ainda estava quente. Sua humilde casa parecia ainda menor olhando dali, mas dava para ver toda a extensão da plantação e do pastoreio de seus pais. Eles tinham uma pequena horta de nabo, cebola e outros legumes, e as plantações eram de cevada e trigo. Tinham ainda uma pequena vinicultura e, no pasto, sete ovelhas e uma cabra. A garota observava tudo com saudosismo, já que logo se despediria de seu lar. Mas nenhuma saudade seria maior do que a de Jasão.

                Desde criança, seu irmão sempre foi separado durante o inverno, sendo levado pelo tio para o outro lado do Monte Pélion para aprender a ser um homem. Sempre foram longos meses de saudade para Hele, que tinha no irmão seu único amigo. Porém, a espera sempre valia a pena, pois Jasão sempre retornava. Desta vez, no entanto, antes que ele voltasse, Hele já teria partido para viver reclusa na corte de Iolco, onde ela dificilmente poderia ter contato com sua família novamente. Com certeza seus pais sabiam que esse futuro a desagradava. Não era a primeira vez que a mão de Hele era pedida em casamento por um pretendente rico.

Desde seus 12 anos de idade, quando sua beleza começou a deflorar, vários homens começaram a se interessar por ela. Mas, com a ajuda de Jasão, Hele sempre conseguiu convencer seus pais a recusar os insistentes pedidos, por mais ricos que fossem os pretendentes, e por mais vistosos que fossem os dotes ofertados. Hele devia muito a Jasão por tê-la livrado de um casamento precoce. Quando ainda eram crianças, o irmão a tirou escondida de casa, a despeito da proibição dos pais, para conhecer a cidade – Jasão sempre prezou por atender seus anseios por liberdade. Foi assim que Hele conheceu a arte da tecelagem, assistindo a uma velha artesã trabalhando em Iolco. Foi paixão à primeira vista. Hele se interessou tanto pela arte, que o irmão conseguiu convencer a velha a ensiná-la, e depois Jasão gastou todas as economias para comprar as ferramentas próprias para Hele depois da idosa falecer. De início, Filêmon e Báucis até foram contra Hele se aventurar na tecelagem, pois queriam-na dedicando-se exclusivamente ao trabalho no campo. Mas Jasão, a quem os pais escutavam mais, sempre defendeu as escolhas da irmã, e com isso ela pode se aprimorar nesse ofício. Até que um dia ela se tornou boa o suficiente para prover uma renda, considerável, através desse trabalho. De certa forma foi graças ao irmão, portanto, que Hele conseguiu adiar um casamento durante tanto tempo, pois sem esse talento rendendo uma boa quantia de dinheiro, Hele jamais teria conseguido convencer os pais a recusarem tantos pretendentes por todos esses anos.

Mas agora seu tempo estava acabando. O atual pretendente era o Rei Pélias, de Iolco, e as constantes recusas aos seus pedidos de casamento estavam-no deixando impaciente – ele estava se mostrando cada vez menos disposto a pagar um preço justo pelo trabalho de Hele e pelos produtos da fazenda de seus pais, e ainda manter uma boa oferta no dote de casamento. A última esperança de Hele era que Jasão, que era quem ela realmente gostava, pudesse intervir em seu favor mais uma vez. Talvez, apenas talvez, se Jasão a pedisse em casamento antes, mesmo que de faixada, seus pais mudassem de ideia. Mas não... Isso nunca seria aceito. Como foi pensar que daria certo? Era uma ideia absurda. E se, ao invés disso, eles fugissem juntos, então? Seu irmão sempre a ajudou antes, por que agora seria diferente? Ele foi a única pessoa que alguma vez já se preocupou com a liberdade de Hele, liberdade essa que agora estava prestes a ruir. Hele não se importava nem um pouco com luxo ou riqueza. Ela não queria nada disso se significasse perder tudo o que mais amava – sua vida tranquila no campo e a companhia de sua família. Hele aceitaria qualquer condição para evitar o casamento e, principalmente, ter um dono.

Vai ver foi justamente sabendo que ela faria de tudo para fugir do casamento, que Jasão pareceu não acreditar em sua declaração mais cedo. Sim, era verdade que Hele só queria uma desculpa para se livrar do rei de Iolco. Mas, ao mesmo tempo, ela realmente gostava de Jasão. Como não gostar, depois de tudo o que já havia feito por ela? Ainda que fosse um sentimento proibido, era algo que ela não podia negar, ao ponto de nem se importar se não fosse plenamente correspondido – a amizade de Jasão, e o apreço por sua liberdade, lhe bastariam para ser feliz. Hele se arrependia por ter guardado seus sentimentos durante tanto tempo e não ter se declarado antes. Mas agora que Jasão já havia partido, não havia mais nada que pudesse ser feito.

                — Já está com saudade dele? — era Báucis, quem terminava de subir o morro às suas costas. Hele não a viu se aproximando.

                — Oi, mãe... — respondeu surpresa, evitando contato visual. Báucis, com alguma dificuldade devido às juntas doloridas, sentou-se ao lado.

                — O bobo do seu pai pode não perceber, mas eu sei que você gosta dele.

                — Do que você está falando?! — Hele corou-se.

                — Vocês sempre fizeram um casal muito bonito e se deram muito bem, não é? — Báucis fitava o horizonte como se sonhasse com uma cena impossível. — É normal que você goste muito mais dele do que de um estranho.

                — Mas nós somos irmãos...

                Báucis continuou contemplando, pensativa, a paisagem. Era como se ela quisesse confessar algo, mas ainda estivesse escolhendo as palavras certas.

                — Vocês dois já desconfiam da verdade há algum tempo — disse finalmente. Era como Hele suspeitava, Báucis estava revelando a adoção de Jasão. — Mas nós achamos melhor que o tio de vocês contasse para Jasão no inverno – e esperamos que Jasão fosse embora antes de conversar com você.

                — Então o meu irmão é mesmo adotado...

                — Me perdoe por não contar antes, mas com Jasão aqui, eu sei que seus sentimentos ficariam confusos. Você tem a oportunidade de se casar com um rei, Hele. Você não pode deixar isso passar.

                Hele não estava acreditando que deveria mesmo desistir de ver Jasão novamente. Uma vez casada com o rei de Iolco, Hele viveria isolada na corte de seu reino, e mais do que se casar com um estranho, Hele temia viver sem contato com sua família. Perder sua liberdade era algo que ela não estava disposta a abrir mão. Alguma atitude, mesmo que dela mesma, precisava ser tomada. Já era hora de parar de escorar-se atrás do irmão, superar sua timidez, e dizer tudo o que queria. Se esperasse mais, Hele nunca mais teria voz para contestar algo.

                — Mãe, eu sei qual é o meu dever como filha. E eu sei que você vai me criticar, dizendo que eu sempre fui rebelde. Mas eu não posso aceitar me casar com esse homem. Por favor, talvez se vocês me permitirem conversar com ele antes de confirmar o noivado, eu possa fazê-lo entender que não sou a esposa certa para ele. Mesmo com a minha beleza, eu jamais conseguiria cumprir todas as minhas obrigações matrimoniais, mesmo ao meu extremo desgosto! Eu não passaria de uma escrava! Isso seria um matrimônio desastroso para ambos os lados!

                Báucis fitava Hele com um pouco de espanto, mas também com lamento. A própria garota reconheceu que esse era um pedido impossível. Abaixou os olhos, e esperou pela repreensão da mãe. Já podia imaginar tudo o que ouviria. Sobre como honrar a vontade e as escolhas do pai era o mesmo que honrar a vontade de Zeus. Diversas vezes já haviam tido essas conversas nos anos anteriores, sempre que Hele implorava para dispensar um pretendente e adiar se casar. Mas desta vez, a própria Hele já sabia que não havia escapatória. Recusar o pedido de casamento do Rei de Iolco seria o mesmo que decretar a asfixia financeira da família – Pélias não deixaria barato. Amaldiçoado o dia em que Hele saiu para passear por Iolco e o rei botou os olhos nela! Não fosse seu descuido em pelo menos naquele dia cobrir o rosto com um lenço, ele jamais teria visto sua beleza.

                O tempo passava e, estranhamente, Báucis demorava a dizer algo, até que Hele finalmente voltou a encará-la. Foi aí que percebeu que sua mãe estava de olhos fechados e imóvel, sem fazer absolutamente nada. Como não respondia aos seus chamados, Hele a deitou no gramado e percebeu que ela estava apenas dormindo, já que respirava normalmente. Gritou por seu pai, procurando-o nos arredores da fazenda, até perceber que ele estava deitado no meio da lavoura. As ovelhas e a cabra também dormiam. Olhou em direção ao bosque às suas costas para procurar por qualquer um que a ajudasse a entender o que estava ocorrendo. Foi nesse momento em que percebeu uma luz estranha se aproximando.

                Do fundo do bosque, vinha uma luz dourada, mas que não era exatamente uma luz. Hele percebeu que mesmo quando piscava, olhava através de mais ou menos árvores, ou mantinha seus olhos fechados ou cobertos pelas mãos, a luz continuava igualmente visível. Era como se ela a enxergasse independente de seus olhos ou de qualquer obstáculo físico. Ao mesmo tempo, essa luz era acompanhada de um ruído silencioso e sutil. Era um som harmônico, como nenhum outro que há havia escutado, e que alguém só poderia supor que fosse a música produzida pelo correr dos rios celestiais ou outro fenômeno divino. Da mesma forma que a luz, esse gracioso sibilo ocorria independente dos ouvidos de Hele, não importando o quanto ela se esforçasse para tapá-los. Mas se enganaria quem pensasse que Hele estava assustada. Apesar de não compreender o fenômeno, aquela combinação de luz e som eram muito agradáveis, e lhe transmitiam paz e tranquilidade. Se fosse um deus se aproximando, ele certamente seria amigável, pensou ela.

                Atraída pelo brilho misterioso, Hele se levantou para ir em sua direção. Ele estava cada vez mais próximo. A garota foi até a entrada do bosque, e parou ali entre as primeiras árvores, à espera do imaginário deus que se aproximava. Seria Zeus? Hele já ouvira tantas histórias sobre as metamorfoses que o luxurioso deus empregava para se aproximar de donzelas virgens, que ele foi a primeira suposição que veio a sua mente. Essa ideia a assustou um pouco, mas a garota permaneceu determinada em descobrir o que era aquilo, e aguardou pacientemente. A luz e o som aproximavam-se muito devagar. No entanto, quando esse incrível fenômeno já estava bem próximo, quase visível por entre as árvores, desapareceu totalmente. Já não podia mais ser visto nem ouvido. Hele olhou com atenção por entre os troncos, e nada. Voltou-se para Báucis e chamou por ela, esperando que, pelo desaparecimento do suposto deus, ela fosse acordar, mas viu que ela continuava dormindo. Foi então que, ao voltar a olhar para dentro do bosque, se deparou com um jovem loiro se aproximando.

                A princípio seu coração disparou, pensando ser Jasão. Mas logo viu que se tratava de outro rapaz, mais maduro. Apesar de serem parecidos, esse homem tinha feições mais femininas que a de seu irmão, e carregava uma urna dourada nas costas e o que Hele presumiu ser uma lira nos braços. A garota ficou ressabiada, pois há tempos não via outros homens na região que não fossem da família. Mas tomou coragem e decidiu interrogá-lo sobre os fenômenos estranhos que acabaram de acontecer.

                — Quem é você? — indagou precipitadamente, antes que ele se aproximasse demais. O desconhecido parou de caminhar a uns dez metros, distância que Hele considerou segura.

                — Meu nome é Orfeu. Eu sou um bardo, viajante e músico. Conheci seu irmão, Jasão, há pouco tempo, e por causa dele, decidi vir conhecê-la pessoalmente. — A explicação sem muita cerimônia deixou Hele desconfiada.

                — Como você sabe que ele é o meu irmão?

                — Eu simplesmente sei — respondeu de forma vaga. Hele sentiu que ele estava omitindo alguma informação, mas que também não estava mentindo. Apesar da abordagem suspeita, havia algo em sua presença que fazia Hele crer que ele era uma pessoa confiável.

                — O que está acontecendo aqui? Meus pais e todos os animais começaram a dormir de repente. E depois eu vi uma luz e um som estranhos.

                — Estranhos como?

                — Não sei... Era como se fosse um deus.

                — Um deus? — perguntou parecendo surpreso. Realmente, essa não era a melhor forma de explicar. Hele teria que descrever melhor.

                — Sim. Era uma luz dourada, muito bonita, e o som parecia uma música que só o fulgor dos astros celestes poderia produzir. Não era nada como o que eu já havia visto ou ouvido falar dentre todas as coisas conhecidas da Terra. E não importava o quanto eu tentasse não enxergar nem ouvir... A luz e o som continuavam os mesmos. A única explicação possível é que se tratava de um deus — concluiu, explicando da melhor maneira que pôde.

                — Me diga... Por quanto tempo você viu essa luz e ouviu esse som?

                — Não sei... Foi bastante tempo pra mim. Se passaram alguns minutos. Eu já estava até acostumada com eles.

                — Isso é muito curioso — confessou, sorrindo. Hele não compreendeu, e pediu-lhe para explicar-se. — O que você viu e ouviu, era o meu cosmo. O mesmo cosmo que existe em todo o universo, e no interior de cada ser vivo. Só que eu só ascendi o meu cosmo por poucos instantes... Não mais que cinco segundos, tenho certeza. Mas você continuou o sentindo por muito mais tempo que isso. Somente alguém extremamente sensível teria essa capacidade. Nem mesmo eu tenho esse poder — Hele estava confusa. Seu tio, que conhecia muitas história, já havia lhe contado sobre a cosmo-energia dos deuses, dos monstros e dos cavaleiros. Mas isso era algo tão distante de sua realidade, que ela não conseguia acreditar que pudesse estar conversando seriamente sobre isso.

                — Então... Você é um cavaleiro? — falou sem acreditar no que estava perguntando. Orfeu sorriu, e voltou a caminhar em sua direção. Hele não sentia que ele fosse perigoso, então deixou-o aproximar-se.

                — Sim — afirmou, ajoelhando-se em frente à garota. — Eu sou um cavaleiro... O seu cavaleiro, minha deusa Atena.

                — O quê?! Não! Meu nome é Hele! Você deve estar me confundindo com alguém — retrucou assustada.

                — Eu não estou enganado. Você é a reencarnação de Atena. A quem nós cavaleiros procuramos há mais de quinze anos. Somente uma deusa como Atena poderia sentir o meu cosmo se aproximando com tamanha sensibilidade. Eu peço para que você olhe para dentro de seu peito, e sinta o seu próprio e grandioso cosmo. Sinta, e reconheça a divindade que habita em você.

                — Dentro do meu peito?

Hele estava constrangida com o que estava acontecendo, mas surpreendentemente, cada palavra daquele desconhecido era crível aos seus ouvidos, pois por reflexo a garota repousou as mãos sobre peito e, mesmo que por pouco tempo, pode sentir algo diferente naquele momento. Tocada pela curiosidade do que havia sentido, fechou os olhos e começou a prestar muita atenção naquela sensação, que começou a ficar cada vez mais perceptível e fascinante. Era como se aos poucos um calor brotasse de sua pele. Um calor que não queimava, e que não podia ser sentido com a pele, mas ainda assim um calor. E que também era uma luz. Uma luz que não podia ser vista com os olhos, e que não podia ser tapada, mas que definitivamente era uma luz. E ao mesmo tempo um som. Um som que não podia ser ouvido com os ouvidos, e que não podia ser abafado, mas que mesmo assim estava ali, presente, e tão belo quanto o som que ouvira antes, vindo do bosque. Dentro de seu peito, era como se um universo inteiro de galáxias e estrelas estivessem se formando, crescendo, se movimentando e explodindo, simplesmente... Vivendo. Era o mesmo conjunto de sensações que ela havia sentido aproximando-se do fundo do bosque, e que agora também estava ajoelhada ali, logo à sua frente, fundida na mesma entidade que Orfeu. Bastava que Hele relaxasse, e deixasse a sua consciência fluir, que ela podia sentir todos esses universos ao seu redor, dentro dela mesma, dentro de Orfeu, dentro de todos os animais e plantas que a rodeavam, e até dentro de seus pais que dormiam longe dali.

— Meus pais... Meus pais! — exclamou arregalando os olhos. — Foi você quem os fez dormir?!

— Como esperado da minha deusa Atena... Sim, fui eu. Me perdoe por isso. Para garantir a sua segurança ao me aproximar de você, usei o meu cosmo para lançar em um sono profundo todos os seres das redondezas. Mas não se preocupe. Eles estão bem e acordarão após alguns minutos. E o mais importante... A minha ação acabou sendo outra prova de que você é mesmo Atena, pois você foi o único ser não afetado pelo meu encantamento.

— Eu acredito, até sinto, na maior parte das coisas que você está me dizendo... Mas aceitar que eu sou a deusa Atena... Eu sou só a filha de um casal de fazendeiros. Isso não é possível. E todos sabem que Atena morreu quando foi sequestrada mandada para o oriente em uma estrela cadente. Antes da estrela chegar ao outro lado do mar Egeu, Atena caiu e se afogou. É por isso que os atlânticos querem se vingar, nos destruindo, pois eles queriam roubar Atena para eles. — Orfeu lançou-lhe um olhar de compaixão.

— Estavam todos enganados. Os próprios atlânticos passaram a duvidar que Atena estivesse mesmo naquela estrela cadente, e tentam conquistar nossas terras pois acreditam que vão encontrá-la escondida entre os aldeões. E eles estão certos. É você, Hele. Você ainda é jovem, mas eventualmente a sua consciência e memória como deusa Atena vão despertar. Não tenha dúvidas de quem você é. Sinta em seu coração.

— Mesmo que eu acreditasse em você... O que você quer de mim? Eu não acho que eu poderia fazer algo por alguém tão importante como você, um cavaleiro. Até hoje eu vivi apenas uma vida simples no campo.

— Atena, você é a enviada dos deuses para nos proteger contra a ganância do Império Atlântico e de Poseidon. Você é a deusa da guerra, da estratégia e da sabedoria. Nos tempos mitológicos, você nunca perdeu uma batalha. Com a sua liderança, poderemos finalmente pôr um fim a esta nefasta guerra, que tantas mortes e sofrimento já causou.

Apesar do cosmo reconfortante de Orfeu, Hele continuava insegura em relação ao que o cavaleiro lhe dizia. Ir à uma guerra? Liderar um exército? Ser uma deusa?! Isso tudo estava totalmente fora de sua realidade. Sua vida humilde de camponesa já era pacata demais para que ela pudesse encarar sequer um noivado com um rei; quem diria assumir os compromissos de uma deusa?! Em seu desespero, Hele negou tudo, deu as costas para Orfeu e correu, sem olhar para trás. Quando já estava chegando próxima à mãe, entretanto, foi atingida por uma forte pancada na nuca e desmaiou.

— Me perdoe, Atena — Orfeu retratou-se, já em seu encalço. — Mas não temos tempo para você se acostumar à ideia de ser uma divindade. — Carregando-a nos braços, Orfeu afagava seu rosto e cabelos, desculpando-se pela rudeza. — O tempo é curto, e os dias são perigosos. Temos urgência em retornar à segurança do Santuário. E quanto à sua família adotiva, não se preocupe. Vou lhes apagar a memória para que não sofram do seu desaparecimento. Cada lembrança sobre você será esquecida. E quando a sua consciência como deusa despertar, você também não sentirá mais a falta deles.


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Notas finais do capítulo

Descrever a maneira com que alguém enxerga o cosmo pela primeira vez também foi desafiador. Espero que tenham gostado. A introdução está quase acabando. Nos próximos capítulos as coisas ficarão mais agitadas.



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