Crônicas Mitológicas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 4
Teseu


Notas iniciais do capítulo

Com muita satisfação, eu apresento o primeiro cavaleiro de ouro da história, excetuando o prólogo. O lendário Rei de Atenas Teseu, herói mitológico famoso por ter matado o Minotauro.



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Seu corpo estava encharcado de suor. Saiu da cama e buscou uma jarra de água. Notou que sua amante admirava suas costas musculosas, por onde corriam seus desgrenhados cabelos negro, enquanto ele servia os copos. Mesmo após horas juntos, ela ainda o devorava com o olhar – gostava disso nela. Depois de matarem a sede, voltou a deitar-se. Segurou a mão dela enquanto encarava o teto e aguardava a respiração voltar ao normal. Ela também, ao seu lado, ainda estava ofegante. Teseu matava a saudade de compartilhar cada uma dessas sensações com sua mulher. Como Amazona de Prata, Antíope permanecera em missão, distante de Atenas, por vários meses.

— Conte-me de novo sobre como você perfurou o coração daquele marina — pediu, enquanto alisava os cabelos loiros, quase prateados, de sua esposa.

— Já te contei essa história duas vezes — respondeu rindo.

— Eu sei, mas você fica muito sexy contando histórias de batalha — brincou, antes de beijá-la no pescoço.

— Ai, que grude! — protestou, empurrando Teseu. — Me deixa respirar, estou com calor!

— Você vai ter muito tempo para respirar quando sair em missão de novo — insistiu.

— Não, por Zeus! Se o Santuário me mandar ajudar os gêmeos de novo, eu mesma me mato antes da guerra acabar. Aqueles dois são insuportáveis! Um mais arrogante que o outro. Eu já sabia que vocês eram cheios de si, mas nada se compara aqueles dois! — Teseu se matava de rir. Não havia companhia mais divertida do que a de sua jovem mulher. Aos 21 anos, ela era 10 anos mais nova que Teseu, contribuindo para manter seu humor alegre e juvenil.

— Quem dera eu pudesse sair em missão mais vezes. Não há nada mais tedioso que defender esse cerco sem fim. Vez ou outra aparece um oponente digno, mas a maior parte do tempo eu só enfrento insetos. Não importa quantos atlânticos eu mate, eles continuam se multiplicando como baratas.

Já faziam 5 anos que durava o cerco naval atlântico contra o Golfo Sarônico, tempo esse em que Teseu não se afastou de seu reino uma única vez. Desde que o Cavaleiro de Touro perdeu sua sanidade mental e abandonou as batalhas, essa frente passou a contar com apenas dois cavaleiros de ouro, o que equilibrou as forças helenas[1], situadas em Atenas, Salamina e Egina, e as atlânticas, ocupadas no Cabo Sunio. Nem um lado nem o outro conseguia avançar mais.

— Não diga isso. Você tem uma grande responsabilidade defendendo a principal cidade da Hélade! — salientou, arqueando-se sobre Teseu e massageando seus ombros. — Aquiles não daria conta dessa frente sem você — Teseu concordou. Nem mesmo o grande Aquiles, campeão dos helenos, daria conta sozinho de defender o Golfo Sarônico, a região mais contestada pelos atlânticos desde o início da guerra. Eles sempre almejaram, sem sucesso, destruir a potência naval do reino de Atenas.

— Sou muito grato por você estar de volta — declarou-se, com olhar apaixonado. — Eu achei que fosse morrer de tédio depois que Pirítoo foi embora.

— Ai! Não me venha com esse seu melhor amigo de novo. Você só fala nele — revirou os olhos. — Por que é que ele te abandonou mesmo? — zombou.

— Foi esse novo Cavaleiro de Virgem... — o nome fugiu-lhe da mente. — Ele disse que tinha uma missão secreta no norte e, ao passar por Atenas, requisitou um Cavaleiro de Prata para acompanhá-lo. Pirítoo era o único disponível.

— Como era o nome dele, mesmo?

— Era...

Um fulgor branco interrompeu a conversa. No canto do quarto, recostada em uma grande urna dourada, havia uma espada prateada que começou a reluzir intensamente, surpreendendo Antíope.

— O que está acontecendo com sua espada? Que cosmo é esse?

— Ah, eu não te contei. Ela tem feito isso nos últimos dias — respondeu despreocupado.

— E você fala como se fosse normal? Por que ela faz isso?! — Antíope continuou incrédula. A princípio, ao sair da cama, enrolou-se no lençol, mas desistiu de atá-lo ao corpo e deixou-o deslizar para o chão, revelando seu nu escultural conforme caminhava em direção à espada. Conforme ela analisava a arma, Teseu admirava as sombras que a luz mágica produzia em suas curvas.

— Quando meu pai a passou pra mim, ele já tinha me contado sobre isso. Mas eu não acreditava até ver com meus próprios olhos.

— Que ela fica piscando de um jeito engraçado por vontade própria? — zombou, fitando Teseu sobre o ombro enquanto brandia a espada.

— Não é por vontade própria... — suspirou. — Ela reage em resposta ao seu portador original. — Antíope continuava com a expressão de quem não compreendia. Pelo visto ela havia se esquecido da história por trás da espada. — O deus Hermes — esclareceu finalmente. — Foi ele quem deu essa espada ao meu ancestral.

— O quê?! — assustou-se, derrubando a arma, que ao cair mergulhou a lâmina no chão de pedra, penetrando-o como manteiga. — Agora eu me lembrei da história... Mas é absurda a ideia de que ela ainda estaria sincronizada a um deus. Que provas você tem disso? — indagou, enquanto fazia força para arrancar a lâmina do piso.

— Meu pai me contou que há mais de dez gerações, durante a Guerra Olímpica, a Espada de Mercúrio permaneceu num estado similar a esse durante anos, ressoando a manifestação do cosmo de Hermes durante toda a guerra. Lógico, eu não levei a sério algo que eu não pudesse ver com os meus próprios olhos... Até que 15 anos atrás, no exato momento em que Atena era raptada do Santuário, a espada começou a manifestar um cosmo muito enfurecido. Desde então eu passei a acreditar na possibilidade dela ter uma ligação com um deus no Olimpo. Aliás, foi graças ao alerta da espada que Édipo, que estava junto comigo naquela noite, encontrou o traidor tão rápido. E quando perdemos Atena, o cosmo da espada tornou-se triste, como se estivesse sofrendo...

— Você nunca me contou isso tudo. Para mim ela só era uma espada muito poderosa — Antíope finalmente conseguiu remover a espada da rocha. — E esse cosmo que ela está manifestando agora, o que você acha que significa?

— Eu ainda não tenho certeza, Antíope, mas se estas são as emoções de um deus... — Teseu levantou-se e tomou a espada para si, no instante em que a arma parou de brilhar. — É muito difícil de compreendê-las, mas eu diria que, nos últimos dias, Hermes tem estado... Ansioso. Quase entusiasmado. Mas a verdadeira questão é: por quê? O que tem acontecido de tão importante no mundo ou no olimpo para a Espada de Mercúrio estar assim?


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Notas finais do capítulo

[1] Hélade é o termo pelo qual os gregos antigos, autodenominados helenos, se referiam ao seu mundo, que englobava muito mais do que o atual território da Grécia, como, por exemplo, a cidade de Troia, na atual Turquia.



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