Winterfall escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Yoooooo! Eu voltei cedinho ^^
Não sei o que me deu nesse último final de semana, mas me peguei escrevendo tão rápido essa história que já tinha até o segundo capítulo pronto.
Quero agradecer de coração a toda recepção que eu recebi e os lindos comentários que já enviaram em tão pouco tempo. Fiquei até surpresa por não receber tanto puxão de orelha por postar outra história ao invés de atualizar as já em andamento, por isso, sem mais delongas, vamos ao segundo capítulo de Winterfall!
Divirtam-se...



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Seu humor não estava dos melhores naquela manhã, principalmente ao despertar em sua cama desarrumada após mais uma longa madrugada lendo um dos grandes livros de contabilidade dos negócios do seu falecido irmão, onde não encontrou nada além de mais perfeitas transações feitas e descritas pela letra cursiva feminina.

Sabia que seus últimos dias dedicados àquela tarefa eram em vão. Tudo girava cada vez mais a favor daquela mulher que ele por vezes viu transitando pela residência, distribuindo doces ordens, ou preparando algum novo documento ou se arrumando para mais um passeio pelo condado próximo onde cultivava conhecidos de longa data.

A Baronetesa fazia tudo com destreza, não deixando margens ou pontas soltas para que o novo Baronete tivesse justificativas para a taxar como incapaz de comandar os negócios e aquela grande residência. Até mesmo pensou na ideia de justificar que os afazeres masculinos a impediam de ter uma vida social, mas as saídas e os encontros com as amigas como ela mesmo comentava, era a prova que Sakura tinha a capacidade incomum de conciliar a vida doméstica e pessoal com a profissional.

— Se ela ao menos tivesse tido uma criança com o meu irmão – praguejou baixo escondendo seus olhos com o braço forte e desnudo. – Talvez ela não conseguisse conciliar tão bem tudo – lamentou deixando o braço cair ao seu lado, encarando o dossel de rica estampa acima de si.

Ou talvez ela conseguisse. Acrescentou em pensamentos não admitindo aquilo em voz alta por causa do seu característico orgulho.

Ele desistiu de permanecer em ócio naquela grande cama, sabia que aquilo só seria pretexto para sua mente divagar em direção a sua atual situação e mais precisamente, em direção à mulher que o estava tirando do sério nos últimos dias.

Se vestiu com roupas apropriadas de maneira mais lenta que o habitual. Sabia que mesmo com toda a aparente demora, ainda encontraria a Baronetesa sentada em uma das pontas da grande mesa desfrutando do desjejum e por vezes acompanhada de um exemplar de um folhetim de Londres.

Aquela típica imagem fez seu humor matinal ruir mais que o habitual enquanto saia do quarto e se perguntava como seu irmão foi capaz de colocá-lo naquela situação.

Sempre imaginou que seu pacato irmão contraria matrimônio com uma moça caseira e de gênio tranquilo, algo semelhante a ele, e Sakura era o oposto daquela visão adequada ao seu irmão. Ela poderia ser educada e prendada como ele pode perceber nas tantas atividades que ela fazia em casa, mas os olhos verdes daquela mulher era um mar tempestivo e ele podia sentir a áurea insubmissa emanando nela.

Ela era bonita? Tentadora como mulher? Sim, ele admitia, mas não via seu irmão casando-se com aquela mulher apenas por sua beleza incontestável e esse pensamento preencheu sua mente mais uma vez ao entrar no grande salão alvo onde encontrou os olhos verdes erguendo-se de um folhetim para si.

— Bom dia, Baronete – ela ofertou um educado sorriso como todas as manhãs enquanto observava-o se sentar na outra ponta da mesa.

Sasuke, como todas as vezes, resmungou algo incompreensível, mas que a mulher já estava habituada a interpretar como um bom dia repleto de um azedo humor.

O Baronete viu um princípio de sorriso sarcástico nascer na boca feminina, sendo disfarçado com a porcelana levada aos lábios para esconder o crime ao decoro.

A raiva inflava em seu peito enquanto tentava se concentrar no farto café disposto à sua frente.

— Tem tido uma boa estada, Baronete? Os livros de contabilidade estão do seu agrado? – Ela questionou retoricamente fazendo Sasuke fechar os olhos por alguns instantes pedindo por paciência naquela péssima manhã.

— Por enquanto, satisfatório – se limitou a dizer encontrando os olhos verdes estreitados para a sua resposta.

A verdade é que eram muito mais que satisfatórios, mas ele nunca admitiria sua derrota em tão poucos dias e essa verdade que ambos sabiam fez com que a mulher desviasse o olhar entediado para os ovos dispostos em seu prato.

Ele tomou aquilo como uma trégua para desfrutarem em silêncio o desjejum, mas poucos minutos se sucederam até a senhora daquela residência quebrar o silêncio com o anúncio:

— Recebi um convite hoje cedo para um jantar na companhia de amigos na casa do Mr. Hozuki – ele escutava com pouca atenção, não entendendo porque ela lhe contava aquilo, já que sempre acabava descobrindo para onde Sakura ia por intermédio dos tantos empregados quando ele perguntava onde ela se encontrava. Porém, a simples explicação veio sem intermédio de uma pergunta retórica. – Parece que sua estada em Winterfall alcançou o conhecimento dos condados e eles também acrescentam ao convite o desejo de conhecer o irmão do falecido e querido conhecido deles.

Sasuke permaneceu alguns segundos encarando Sakura sem proferir qualquer resposta. Seu primeiro impulso foi dizer que não iria, pois não tinha a intenção de perder tempo em encontros sociais enquanto ainda tinha livros empilhados para ler e isso o impedia de voltar a Bath o quanto antes, mas em uma segunda e criteriosa análise, percebeu que apenas continuaria a encontrar a perfeição e inteligência transpostos nos livros de contabilidade. Se ele fosse à tal reunião, quem sabe poderia descobrir mais sobre a mulher que parecia desejar tanto quanto ele que o novo Baronete fosse embora de Winterfall.

Por isso, adotando uma postura muito mais sociável do que seu recente humor, ele anunciou:

— Adoraria acompanhá-la nesse jantar, Baronetesa.

A mulher não demonstrou qualquer alteração na expressão, apenas continuou com aquele olhar analítico no homem enquanto sua mão remexia o garfo nos ovos.

— Sairemos assim que o sol estiver baixo no poente.

Ele assentiu voltando-se para o desjejum com um humor melhor do que antes e com a mente de um perfeito empreendedor maquinando as possíveis possibilidades que viriam com o tal jantar.

 

***

 

Ele já se encontrava ao pé da rica escadaria bifurcada vestido elegantemente com um dos melhores dos seus trajes que trouxe juntamente consigo na viagem.

O perfeito alinho do seu fraque contrastava com o eterno desalinho dos seus cabelos que conferia um ar mais rebelde e opressor nos traços fortes daquele homem que já havia passados dos 35 anos.

Viu o sol rente ao poente através de algumas vidraças e se questionou se sua cunhada demoraria mais que o imprevisto ou se seu velho hábito de pontualidade o trairia fazendo-o esperar mais, porém, suas divagações foram postas de lado quando ele escutou passos vindo do topo da escada atrás de si.

Ele se voltou para a direção sempre com sua postura ereta e braços cruzados para trás, tendo em sua face a eterna inexpressão, não deixando que a mulher notasse que ele a admirava completamente com seus olhos negros que disfarçadamente deslizavam por toda a figura esguia e perfeitamente vestida com um elegante vestido bufante negro, mas que se tornava vinho dependendo da incidência da luz.

— O fiz esperar por muito tempo, Baronete? – Ela questionou quando já se encontrava nos últimos degraus, onde Sasuke estendeu a mão como um perfeito cavalheiro para conduzir a dama com seus braços cruzados.

— Nada para se tornar um incômodo – respondeu sentindo o cheiro de sais e rosas que despontava da pele leitosa agora próxima de si, algo que antes ainda não havia acontecido.

A mulher de grandes e inteligentes olhos verdes sempre voltados a si, assentiu, deslizando o olhar para as grandes portas que os empregados abriam revelando a pomposa carruagem que os conduziria para a residência dos amigos da Baronetesa.

Sasuke a guiou em silêncio e até mesmo ofertou sua mão para que a dama subisse elegantemente na carruagem antes que ele próprio se acomodasse no assento de frente para aquela senhora.

Sakura não o olhou, apenas manteve seu olhar na paisagem que se distanciava após a fechada da portinhola pelo cocheiro da sua residência.

O céu, banhado com as infinitas cores do crepúsculo, se tornava cada vez mais escura e repleta de estrelas, enquanto o único som que perpetuava era do relinche dos cavalos, os comandos do cocheiro e do cascalho sendo açoitado pelas rodas da carruagem.

Sasuke, taciturno, por vezes manteve o olhar em Sakura, observando o desenho das joias com pedras de safira vermelha que desenhavam seu colo, orelhas, pulsos e até mesmo no penteado, deixando transparecer de todas as formas o poder que ela não negava ter. Até mesmo o discreto decote que ela exibia dava-lhe a impressão de dominação ao invés de fragilidade.

Ele sabia que ela sentia seu olhar em si, mas em nenhum momento durante a viagem demonstrou se abalar com tal estudo demorado sobre sua aparência e ar superior. Diferente das outras pessoas, ela se portava inabalável diante do olhar opressor do Baronete – algo que era capaz de oprimir seus iguais.

A penumbra o assolou completamente até que a iluminação pública parca do condado a que se dirigiam iluminou temporariamente o interior daquele veículo, até que após mais algumas trotadas pelas ruas campestres, terminou em frente a um grande palacete.

Sasuke estudou tal estrutura iluminada pelas vidraças esperando que o cocheiro abrisse a portinhola, assim que feito, ele foi o primeiro a descer e ofertar sua ajuda à Baronetesa.

Como antes, ela aceitou e até permitiu que seus braços se cruzassem enquanto seguiam a subida da escadaria para a entrada da residência.

Um empregado de longa data já esperava com as portas abertas e pronto para guardar os sobretudos dos recém-chegados. No meio do processo, foram abordados pela recepção calorosa da senhora daquela residência, que também era amiga próxima de Sakura.

— Baronetesa! – A voz saiu dois tons mais alto do que o adequado, enquanto contornava os finos braços entorno da recém-chegada. – Finalmente chegou! Todos já estão presentes e perguntando pela senhora.

— Desculpe-me pelo atraso, Karin. Não foi intencional – a outra se desculpou mantendo suas mãos unidas mostrando cumplicidade de longa data.

Sasuke anotou tal tratamento como um lembrete mental, enquanto estudava a figura também rica da bela ruiva, porém caracteristicamente inferior financeiramente à amiga devido as joias mais discretas.

Seu estudo discreto ganhou a atenção dos olhos castanhos que mostraram surpresa ao ver a presença impetuosa do homem alto de porte forte. A falta de palavras da ruiva foi sanada pela Baronetesa que foi ao socorro da amiga:

— Este é o irmão do meu falecido marido que lhe falei e que atualmente está hospedado em Winterfall – apontou delicadamente para Sasuke com a mão enluvada. – Mrs. Hozuki, quero lhe apresentar o Baronete Sasuke Uchiha de Winterfall. Baronete, esta é uma grande amiga minha, esposa do Mr. Hozuki.

— Mrs. Hozuki – ele fez uma mesura beijando a mão da anfitriã estendida para si, antes que a mesma correspondesse com uma mesura e o retórico "encantada".

Feita as apresentações, a anfitriã animada os instruiu a entrarem e assim que chegaram na ampla sala que recebia inúmeros amigos, Karin usou uma taça e um talher de prata para chamar a atenção de todos os convidados para a chegada dos recém-chegados.

— Tenho a honra de informar que nossa querida Baronetesa de Winterfall acaba de se juntar a nós nessa discreta reunião de amigos, acompanhada do mais novo Baronete de Winterfall, Mr. Sasuke Uchiha, irmão mais novo do nosso querido e falecido Baronete de Winterfall.

A boca da anfitriã exibia um largo sorriso repleto de orgulho inflado ao apresentar aqueles exemplares enquanto todos os convidados muito bem vestidos sorriam para o casal e erguia suas taças com espumante em um pedido silencioso de boas-vindas.

Sakura permaneceu ao lado de Sasuke pelo tempo necessário para se fazer todas as apresentações. Tantos nomes que ele julgou incapaz e sem propósito decorar todos, pois, quando partisse, pouco importaria tais nomes de burgueses prósperos daquela região tranquila.

Ele notou que todos recebiam Sakura com fervor, sem distinção de sexo ou idade; a Baronetesa parecia ser uma presença muito apreciada naquele meio social, não só pelo título, mas por seu humor, educação e interessantes conversas que todos buscavam ter sua parcela em meio a tantos convidados, mas, a pessoa que mais parecia deter a atenção daquela estimada convidada, era a anfitriã e uma jovem senhora loira que tinha um menino pequeno e sonolento nos braços da ama sentada em um dos sofás.

— Pelos Céus, Inojin está crescendo cada vez mais rápido e cheio de saúde – Sakura mostrou seu espanto ao ver o pequeno que bocejava.

A mãe sorriu largamente com o comentário, fazendo com que Sakura saísse do lugar que ocupou por tanto tempo ao lado de Sasuke e caminhasse sem ao menos se importar de deixá-lo para trás com outros homens de fraque e cartolas altas.

O Baronete seguiu o percurso dela com os olhos de rapina, até mesmo se questionou se a seguiria, mas uma risada e o chamado do animado Mr. Uzumaki, o fez voltar a atenção para os homens que o acompanhavam e admiravam as senhoras sentadas nos floridos estofados conversando sobre as crianças pequenas que a acompanhavam naquela noite.

— Ah, como é bom ver a Baronetesa de Winterfall tão resplandecente e feliz esta noite. É uma mulher de muita fibra e interessante, não acha Baronete? – O loiro questionou com um sorriso largo demais para ser considerado indicado pelo decoro.

— Ela me parece muito bem – se limitou a dizer com o tom controlado antes que o anfitrião da casa que tinha cabelos pálidos, quase confundíveis com grisalhos, apesar de jovem, continuasse a conversa que desandava sobre a Baronetesa inerte aos comentários daqueles homens:

— Sim, a vivacidade retorna à nossa estimada Baronetesa. É satisfatório vê-la tão firme depois de toda a reclusão em Winterfall quando se dedicou com tanto afinco ao marido.

— Uma grande lástima sua perda – o loiro lamentou. – O Baronete era uma companhia encantadora em nossas reuniões – explicou para Sasuke que se tornou atento a conversa.

— Uma grande lástima a perda da Baronetesa. Tão jovem e já posta em viuvez – o outro moreno que atendia pelo título de Mr. Yamanaka, lamentou com pesar.

— Sim, uma mulher tão jovem e bela não deveria ser posta em viuvez tão precocemente. É alguém para se admirar e apreciar a companhia. Já começo a prever os homens solteiros e até mesmo casados aprumando-se diante da Baronetesa nos futuros bailes que ela vier nos ofertar companhia – ele riu da própria fala sendo acompanhado pelos amigos enquanto Sasuke se mantinha sério deslizando seu olhar para a mulher de porte elegante que agora tinha a pequena garotinha, filha de Karin, brincando em seu colo.

Só ali ele se deu conta do fato de que apesar da viuvez – fato este que em geral se mantinha fixo até o fim da vida das mulheres inglesas, já que a sociedade não via com bons olhos um segundo casamento de uma viúva – Sakura continuava sendo uma jovem e tentadora mulher. Era claro como água que ela teria pretendentes cortejando sua companhia por onde passasse, deixando-a sujeita a possíveis paixões insustentáveis.

Aquilo era inadequado e um perigo à fortuna e negócios do seu irmão caso algum aproveitador usasse a solidão e viuvez daquela senhora ao seu favor.

Seu olhar voltou mais escuro para aqueles senhores que continuavam a conversar com liberdade.

— Ora, Mr. Uzumaki, mas veja bem, os homens nunca pararam de se aprumar diante da Baronetesa, mesmo após casada com o antigo Baronete de Winterfall. A diferença é que agora podemos voltar a vivenciar o sarcasmo nos comentários da Baronetesa ao dispensar mais um homem apaixonado pela sua figura – Mr. Hozuki comentou com um sorriso sarcástico.

— Sarcasmo nos comentários? – Sasuke se pegou perguntando com dúvida.

— Ah, o senhor não convivia conosco em nossa mocidade – Naruto foi ao socorro de Sasuke esclarecendo a situação –, mas crescemos em uma roda de bailes em comum quando jovens. Fui ao baile em que a Baronetesa foi apresentada à sociedade em seus tenros 15 anos. Ela estava magnífica e nunca os jovens se aprumaram tanto diante de uma jovem moça agora apresentada à sociedade com o intuito de alguém desposá-la.

— Não negue, meu bom amigo, Mr. Uzumaki – o outro moreno deu tapinhas amigáveis na costa do conhecido enquanto sorria – você foi um dos que mais se aprumaram e ofertaram uma dança.

— Também fui o homem que conseguiu uma dança e uma dispensa recheada de sarcasmo – o loiro acrescentou rindo da lembrança. – Os senhores também não podem negar, quando solteiros também se mostraram completamente interessados na Baronetesa.

— E como todos os homens erámos dispensados com cordialidade e sarcasmo pela mulher que todos questionavam quem seria capaz de conquistar seu coração – o anfitrião concluiu assentindo pensativo.

— Por um tempo pensei que a Baronetesa nunca se casaria – Mr. Yamanaka comentou sendo acompanhado pelo assentir afirmativo dos amigos.

— Até que o Baronete de Winterfall apareceu em um baile e pouco tempo depois foi anunciado o noivado de ambos – o loiro comentou.

— Incrível como aquele homem nem ao menos esbanjou alguma declaração em direção àquela que seria sua futura esposa naquele baile – o anfitrião refletiu bebendo um pouco mais do espumante antes de pegar outro que o servo ofertava.

— Mas não podemos negar que até mesmo Mr. Itachi teve seus olhos presos na jovem moça solteira que já passava da idade de se casar durante aquele baile – o outro moreno comentou.

— Ora, meus amigos, o Baronete de Winterfall fez exatamente aquilo que nenhum outro homem havia feito até ali em relação à jovem srta. Sakura – Naruto iniciou olhando para todos antes de fixar seus olhos azuis no calado Sasuke. – Ele não a bajulou ou declamou seu amor na primeira vez em que se viram. Ele a tratou diferente de como os outros homens a tratavam. Ele era diferente, um desafio e posso dizer, em nome da longa amizade que nutro com a Baronetesa, que ela prefere um homem que não declame seu fascínio pelas suas belas faces a cada segundo do que mil homens declamando seu amor. Ela prefere uma boa e desafiante conversa do que retóricos poemas sobre sua aparência de anjo.

Todos os homens concordaram bebericando seus espumantes, menos Sasuke que permaneceu ereto absorvendo tudo o que haviam dito para si.

Os olhos negros desviaram mais uma vez para a sua cunhada que tinha as costas para si, mas como se ela soubesse ou alguém houvesse lhe contado – ele não sabia ao certo – ela o olhou por cima do ombro demonstrando nada além da aparente indiferença.

Ele sustentou aquela troca de olhares antes de dar a desculpa de que iria ao toalete para escapar das conversas daqueles homens que agora comentavam sobre burgueses que Sasuke não conhecia.

Com passos firmes ele deixou a sala barulhenta repleta de conversas e adentrou a casa até alcançar o que tanto procurava. Se isolou do mundo com uma batida silenciosa da porta e pôde ver sua expressão tão séria como de costume, porém com um fundo sulco entre suas sobrancelhas.

Ele retirou rapidamente as luvas e enxaguou as mãos e o rosto antes de usar a toalha bordada para se enxugar.

Saiu daquele toalete com o intuito de voltar às rodas de conversa, mas a voz conhecida da anfitriã e de sua cunhada no cômodo iluminado seguinte que o separava da sala, o fez parar e encostar as costas na parede com o intuito de tentar compreender o que elas falavam, ainda mais quando descobriu que o teor da conversa era ele próprio.

— Como você pôde se esquecer de dizer que seu cunhado é um homem extremamente saudável – Karin arfou abanando-se com o leque, deixando mais em evidência nas bochechas vermelhas, olhos salientes e trejeitos, sua opinião sobre o misterioso homem que atualmente residia na casa da sua melhor amiga.

Sasuke não estava surpreso que uma mulher exibisse tal opinião sobre si, na verdade já estava acostumado a ser o centro das atenções de jovens solteiras, mães casamenteiras e até de pais que ofertavam suas jovens filhas em Bath. Até mesmo mulheres casadas se insinuavam para o astuto empreendedor de jeito tão taciturno. Mesmo que não fosse o mais sociável dos homens, sua peculiar beleza transportava qualquer impressão negativa para o puro desejo.

Mas, naquele lugar privilegiado pela penumbra e a imagem de perfil das duas mulheres que pareciam se arrumar diante de um espelho de bordas douradas, ele pode ver o aparente desinteresse no assunto por parte da sua cunhada que apenas ofertou um olhar de canto para a amiga antes de se prostrar diante da outra com as mãos na cintura.

— Isso importa, Karin? – Questionou simplesmente.

— Claro que importa – a outra parecia ofendida com a falta de interesse da amiga. – Olhe para aquele homem, Sakura, você tem que admitir que ele é superior em beleza aos homens que convivemos e conhecemos, e bom, conhecemos muitos. Todas as mulheres, e até mesmo os homens, seguem o novo Baronete com o olhar. Até mesmo a Sra. Inuzuka me questionou se tal homem é solteiro. Presumo que é capaz que você receba a visita inesperada de algumas mães de filhas solteiras nos próximos dias com a desculpa de lhe fazer uma visita enquanto só desejam entrar em Winterfall para sondar sobre o solteiro e rico Baronete.

Sakura suspirou e desviou o olhar para um ponto qualquer do cômodo ocupado apenas por elas antes de admitir de uma só vez:

— O quanto ele tem de robusto, tem de orgulho prepotente – foi direta fixando seu olhar repleto de desgosto na amiga, sem ao menos perceber que o homem de quem falava com franqueza estava a poucos passos de si, inexpressivo. – Caso alguém lhe pergunte, diga para perder as esperanças. Ele logo partirá para Bath e não voltará tão cedo ou talvez nunca. Ora, por que ele continuaria a vim à Winterfall se nem quando o próprio irmão estava prostrado em uma cama ele teve a decência de fazer uma visita à um dos poucos familiares que lhe restava na Terra? – Foi mordaz, um exemplo típico do cinismo cru repleto de reprimendas.

— É um homem tão desagradável? – A outra questionou com pesar e receio.

— Não sabe o quanto – a Baronetesa enfatizou. – Ainda está aqui apenas para transferir os custos de Winterfall e os negócios de Itachi para sua residência em Bath – disse em um tom ofendido. – Ele é um homem orgulhoso incapaz de acreditar que sou capaz de cuidar dos negócios de maneira tão criteriosa como venho fazendo há anos.

Sasuke ergueu uma sobrancelha percebendo que outros além dos empregados da casa sabiam que quem tomava conta dos negócios de seu falecido irmão era uma mulher.

Ele reprimiu um impropério ao imaginar como isso poderia manchar a imagem da Companhia do seu irmão se isso se espalhasse para mais além das fronteiras daquele pacato condado rural.

— Um homem de mente diminuta e atrasada – Sakura acrescentou com toda a sinceridade e veneno que poderia destilar com tanta liberdade diante da sua maior confidente. – Mas, se ele acha que poderá me subjugar e me tirar tudo, está cometendo um grande engano. Não lhe darei os negócios com facilidade e se preciso provar mais do que já provei mostrando toda a contabilidade, eu provarei – fez seu ultimato. – Ele voltará para Bath e não precisarei mais ver ou ter sua abominável companhia em Winterfall.

— Sempre estarei ao seu lado, sabe disso, não sabe? – A ruiva segurou com carinho os ombros da amiga que assentiu em acordo. – Tudo o que desejo é que seja feliz. Talvez a melhor saída seja vocês serem parceiros nos negócios ao invés de inimigos disputando a posse.

— Ele não aceita tal condição, Karin. É mesquinho ao ponto de possivelmente pensar que uma mulher serve apenas para ser um suvenir produtora de seus herdeiros – falou com grande desgosto fazendo a outra suspirar cansada.

— Você sempre teve essa mente ousada e incapaz de aceitar a ordem e posição das mulheres na sociedade.

— Cresci vendo minha mãe ser o exemplo de mãe e esposa que toda a sociedade aceita e venera, mas tudo o que sentia era asco ao ver que teria que pertencer à uma posição tão submissa quando também casasse.

— Sakura... Sakura...

— Eu sei. Não precisa repetir o que minha mãe sempre me falava quando demonstrava minha oposição à forma como a sociedade era. Sei que não posso sair por aí dizendo tais coisas ou esbanjar para aqueles idiotas burgueses das grandes cidades que eu sei administrar uma Companhia muito melhor do que eles enquanto o máximo que sabem fazer é encarar o meu corset ou meu colo ao invés de me olhar nos olhos como pessoa e não como um objeto de suas fantasias infames – disse em um tom mais baixo servindo-se de uma só vez de uma taça de vinho que um empregado ofertou às damas quando passou por perto.

 – Admiro toda a sua astúcia, inteligência e esperteza, Sakura. Mas apenas não quero que se esqueça de ser feliz, você merece mais do que ninguém depois de tudo... – a mulher suspirou. – Agora está viúva, jovem, linda e desimpedida. Deveria finalmente ser feliz e aproveitar os prazeres da vida. Quem sabe de uma paixão... – disse a última frase em um tom de segredo e um sorriso com segundas intenções.

A Baronetesa fez um barulho com os lábios em claro desgosto.

— Tudo o que eu não preciso é de outro homem para querer controlar a minha vida. Já tenho distrações demais.

— Quem disse que tal homem precisa entrar em sua vida ao invés de ser apenas a diversão de uma bela e jovem viúva? – Karin sorriu com malícia. – Se seu cunhado não fosse tão desagradável aos seus olhos, até diria para ele ser esse tal confidente. Os olhos dele não paravam de seguir em sua direção durante as conversas no salão para o desagrado de muitas senhoras que também notaram tal fato.

Sakura nada respondeu de imediato, apenas buscou outra taça do vinho que a deixava mais leve e propensa àquela sinceridade diante da sua amiga.

— Devo alertar ao Mr. Hozuki para que fique de olho na esposa e no seu próprio irmão? – Foi sagaz com um sorriso zombeteiro para a feição torta de Karin.

— Eu amo e estou muito satisfeita com o meu marido, minha querida amiga. Meu cunhado nada mais é do que o irmão do meu marido.

— Assim como Mr. Sasuke é para mim, a diferença é que o seu cunhado é mais agradável que o meu – ela sorriu antes de rumar para o salão onde as rodas de conversas continuavam mais animadas com o teor de álcool que corria nas veias dos convidados, dando por finalizada aquela conversa sem futuro.

Sasuke deixou a cabeça cair contra a parede e seu olhar permaneceu preso no teto de detalhes de rosas daquele cômodo escuro, sorvendo tudo que havia escutado vindo daquelas duas confidentes.

Não o surpreendia a opinião tão negativa que sua cunhada nutria em relação a si, algo que em parte era recíproco.

Ele fechou os olhos por um momento e se permitiu relaxar antes de achar que já estava tempo demais longe das rodas sociais, por isso, a contragosto, voltou para o salão a tempo de ver a anfitriã convidar a todos para se dirigirem à grande mesa de jantar coberta por uma rica ceia e bebidas à vontade ofertadas pelos empregados que não deixavam nenhuma taça ficar vazia por mais que alguns poucos instantes.

Sasuke sentou ao lado de Sakura, próximo aos homens de negócios alegres que a introduziam na conversa buscando sua opinião, enquanto Sasuke, muito tolerante à grande dose alcoólica, permanecia em seu silêncio, vez ou outra desviando o seu olhar para a sua acompanhante sempre solicita a responder quando solicitada.

— Ah Baronetesa, estávamos em discussão sobre as grandes potências. Acredita que o Mr. Yamanaka ainda acredita no Reino da Espanha? – Indagou um alegre Naruto com bochechas já coradas pelo álcool ao lado da esposa tão diferente daquele homem.

Sakura sorveu um pouco mais de vinho e Sasuke se questionou quanto ela já havia ingerido ou se ainda estava adequada para manter o decoro, mas com segurança a mulher disse, por mais que ele já pudesse ver os sinais da queda do pudor naquela senhora:

— A Espanha é uma grande potência, mas seus dias de glória já se passaram. Dificilmente voltarão aos seus dias dourados, Mr. Yamanaka – sua fala foi recebida com risos dos amigos que tinham o apoio em opinião até mesmo da estimada Baronetesa.

— Então é uma legítima patriota que acredita no potencial único de sua terra natal? – Questionou o anfitrião da noite.

— Sou patriota e acredito no potencial de minha Nação, mas também não me deixo cegar para as possibilidades que despontam a Oeste – foi perspicaz chamando a atenção dos homens e até mesmo de Sasuke que voltou seus olhos totalmente para sua segura acompanhante.

— Oeste? – Foi Naruto a questionar o que dançava na mente de todos atentos às palavras dela.

— Sim, mais exatamente os Estados Unidos.

— A antiga colônia da Coroa? – Questionou Sai, o Mr. Yamanaka.

— Sim. Pode parecer contraditório a prosperidade surgir de uma colônia, mas os progressos que aquele país está fazendo após sua independência, expandindo seu território e até mesmo seu comércio, é algo que não se deve passar tão despercebido. Não me surpreenderia se em não muitos anos, ela viesse a ser um aliado vantajoso. Os que se aventuram em investir em tal lugar, terão poderosos frutos no futuro – finalizou com todos os olhos masculinos em si.

Sasuke por um momento imaginou que alguém a repreenderia pela liberdade de mostrar sua opinião, por mais que no fundo ele soubesse que ela se baseava em fatos verídicos e que até mesmo era ponto de discussão entre os comerciantes menos conservadores e preconceituosos quanto a ex condição de colônia daquele país, mas de maneira que ele não esperava, ele viu curiosidade nos olhos daqueles homens entorpecidos pelo álcool.

Naruto foi o primeiro a pedir que ela continuasse explanando sua opinião e por outros ¾ de hora Sasuke foi o expectador de uma Baronetesa que debatia com igualdade sobre rotas comerciais, filosofia e possibilidades prósperas de negócio, até mesmo opinou quando algum daqueles homens pediu conselho sobre um problema no próprio negócio ao mesmo tempo que mais taças de vinho eram viradas.

No fim, uma música alegre reverberou pelo pianoforte. Alguns até dançaram no pequeno espaço e até mesmo a Baronetesa arriscou uma ou duas danças mostrando o quanto dançava bem. Eles pediram para que ela tocasse da forma maravilhosa que tão bem fazia, mas a hora já estava avançada e ela ao ver seu acompanhante taciturno encostado em uma parede evitando qualquer contato com os outros convidados alcoolizados, se atendo a tarefa de apenas encarar sua cunhada, ela decidiu que era hora de partir.

Houve protestos, mas em meio a um cantarolar silencioso e a ajuda de um carrancudo Sasuke, ela se acomodou em seu lugar na carruagem.

O Baronete conseguia ver as bochechas coradas e o sorriso sobressalente que ela carregava desde a dança em que girava pelo salão nos braços do seu amigo e antigo admirador, Naruto. O cabelo feminino estava um pouco desarrumado, mas nada que a deixasse vulgar. Na verdade, Sakura continuava com a mesma áurea onipotente que sempre esbanjava.

Os olhos negros se mantinham fixos na mulher que admirava a paisagem como se fosse algo interessante, antes que a persistência do olhar negro a fazer sustentar com seus verdes desafiadores.

— Por que me encara tanto? – O intuito era destilar o sarcasmo, mas o efeito do álcool fez com que ela acabasse rindo, destruindo a seriedade da pergunta. – Não é adequado ficar observando uma solitária viúva do jeito que faz, mal-entendidos podem acontecer.

— Pouco me importa a opinião alheia.

— Mas se importa com a opinião que terão por ter uma mulher cuidando dos negócios do seu falecido irmão – ela foi mordaz ao dizer em tom acusatório.

Ele iria responder, mas o solavanco da carruagem por terem passado por um trecho defeituoso escondido pela escuridão da madrugada, fez seus pensamentos se alterarem ao ver a mulher com o rosto enjoado pelo chacoalhar repentino.

— Baronetesa, a senhora se sente bem? – Questionou se curvando em direção a mulher.

— Creio que não, Baronete – ela foi sincera ao dizer em um tom que ele não estava acostumado a ver ela proferir.

O chacoalhar, mesmo que natural, parecia pior na presente situação dela, por isso, quando outro defeito da estrada encontrou a carruagem, a mulher sentiu o corpo ir para frente, se segurando de forma ofegante nas coxas do homem à sua frente.

Em outra situação ou em outro momento ele classificaria aquela atitude como extremamente inadequada, mas naquele instante, ele só se importou em erguer o rosto suado e pálido dela, enquanto com a outra mão batia na parede para que o cocheiro parasse.

— Mantenha a cabeça erguida – alertou.

— Preciso de ar – ela pediu arfante já tateando cegamente em busca da saída.

Sasuke não esperou que o cocheiro descesse de sua posição. Ele mesmo abriu a portinhola e ajudou a descida da desesperada Baronetesa que correu com falta de ar para atrás de alguns arbustos, ocultando todo o corpo e tecidos bufantes com as árvores.

O cocheiro tinha uma expressão assustada para onde sua senhora havia corrido, enquanto Sasuke suspirava com cansaço para a situação inadequada de esperar sua cunhada vomitar toda a bebida e comida que havia ingerido naquela noite para que enfim voltassem para casa.

Era uma estrada escura rodeada de árvores que tornavam o ambiente mais frio. Ele ajeitou o sobretudo para se acomodar melhor ao lado da carruagem encarando o caminho que Sakura havia tomado, mas após alguns minutos sem o retorno da mesma, ele a chamou:

— Baronetesa! – Mas nenhuma resposta foi ofertada.

Ele pedia paciência enquanto adentrava aquele bosque procurando por ela ao mesmo tempo que a chamava, mas nenhum sinal dela era encontrado.

As árvores logo se abriram numa clareira onde existia um lago calmo, ele ignoraria este fato se não houvesse visto um aparente corpo de vestido bufante afundado no meio do lago.

Ele gritou um impropério antes de arrancar o sobretudo de si e se jogar com toda sua roupa elegante de festa no lago para buscar a mulher afogada.

A temperatura baixa da água era como agulhas de encontro ao seu rosto, mas ele pouco se importou com esse fato. A única coisa que preenchia seus pensamentos era o corpo feminino que ele abraçava e trazia junto de si para a superfície.

Sasuke a abraçou com força, inspirando profundamente quando pôde ao mesmo tempo que tentava chegar na borda, mas o grito assustado no seu ouvido o fez paralisar voltando o seu rosto para o feminino de olhos verdes evidentes e surpresos há poucos centímetros de si.

— O que pensa que está fazendo? – Ela questionou se debatendo nos braços dele.

A surpresa pela situação o fez ficar estático, nem ao menos percebendo que ainda contornava sua cintura com força, algo que não passou despercebido pela mulher que se debatia para se libertar.

— Você está viva? – Ele questionou fazendo com que ela o olhasse com olhos raivosos.

— É claro que estou viva! Esperava que eu estivesse morta? – Questionou um tom mais alto, sendo rebatido com outro tom alto não característico de Sasuke:

— Eu pensei que havia se afogado!

Ele a libertou com claro desgosto.

— Acha mesmo que eu tropecei e caí no lago sem nem ao menos saber nadar?

— Querer um mergulho em um lago gelado no meio da madrugada não é a primeira opção que se passaria em minha mente.

— Eu estava me sentindo mal, pensei que a água gelada seria algo bom para mim e por coincidência me senti muito melhor depois de entrar no lago e ali permanecer.

— E por isso resolveu mergulhar em uma água fria no meio da madrugada com toda a sua roupa do corpo? – Questionou com claro desgosto, repreendendo-a.

— Não lhe devo satisfação nenhuma. Você não é nada para mim – rebateu um tom mais alto empurrando-o antes de rumar para a saída daquele lago, completamente encharcada e com as roupas mais pesadas do que já eram.

A raiva inflava no peito de Sasuke que ainda permanecia imóvel em meio àquele lago abandonado. Ele olhou para si e praguejou pela sua situação de agora estar completamente encharcado e deixado para trás.

O Baronete rumou para fora da água sentindo o peso das roupas e viu a única peça enxuta na borda daquele lago. Com uma expressão dura, ele pegou seu sobretudo seco e rumou para a saída, mas antes que chegasse, ele ouviu o trote dos cavalos se distanciando do local.

— Não! – Gritou saindo de trás das árvores para encontrar apenas a Baronetesa encharcada olhando para a carruagem que se distanciava. – O que você fez? – Ele não conseguia controlar mais a sua raiva.

— Disse para a carruagem ir na frente, que nós dois iríamos andando já que estávamos encharcados – disse com calma já começando sua caminhada, ignorando a feição desacreditada do Baronete encharcado atrás de si.

— Você ficou louca?

— Olha – ela iniciou não parando os passos, pouco se importando se ele a seguiria ou não – eu realmente não quero voltar para dentro daquela carruagem. Não estou me sentindo bem e prefiro uma caminhada ao ar puro ainda mais que não estamos tão longe de casa.

— Mesmo assim, sua atitude é inconsequente! – Ele a repreendeu dando seus primeiros passos na mesma direção que a mulher segura dos seus atos. – Eu não escolhi ir andando.

— O senhor poderia ir de carruagem se não houvesse se jogado naquele lago.

— Só me joguei porque você parecia ter se afogado – ele disse em um tom baixo e frio, percebendo a risada baixa que ela exibia, uma afronta ao seu humor já tão desgastado.

— Isso é o mais próximo de genuína preocupação que o senhor já teve em relação a mim, Baronete – ela foi prepotente olhando-o por cima do ombro.

— Não consigo imaginar porque o meu irmão se casaria com uma mulher como a senhora – ele foi mordaz.

— Como a senhora? – Ela parou os passos se voltando para o homem. A estrada rodeada de árvores já se abria em um grande campo aberto.

— Sim – ele não mediu palavras. A raiva que inflava em seu peito e a falta de paciência o deixava mais falante que o usual. – Uma mulher inconsequente, sem modos, que pouco se importa em como seu falecido marido será visto se continuar querendo agir e atuar com os deveres masculinos, e claro, não posso esquecer, prepotente em suas falas recheadas de sarcasmo.

Sakura não se abalou com as palavras ou com o corpo masculino muito maior e mais alto, que agora a olhava de cima de forma opressora.

— Pelo visto não sou tão diferente do senhor – rebateu pausadamente.

— Claro, porque em sua opinião sou um orgulhoso prepotente. Um homem de mente diminuta e atrasada – citou o que ela tanto enfatizou para a amiga no jantar.

Aquelas palavras a desarmaram e os olhos verdes se tornaram evidentes ao perceber de onde ele havia tirado tais palavras, mas a surpresa foi logo substituída por um sorriso esnobe.

— Esperava tudo do senhor, menos que ouvisse conversas atrás da porta.

— Estava passando e escutei suas palavras. Imagino quantas mais pessoas já ouviram coisas inadequadas da sua boca, pela senhora não ter senso de decoro ou ao menos ser capaz de perceber que o motivo das suas falas está há poucos passos de si.

— Acredite, Baronete, você é o único a receber tais palavras ditas com tanto desgosto pelos meus lábios – ela desafiou nunca quebrando o olhar de encontro aos negros duros que transbordavam pura raiva.

— Devo me sentir privilegiado, Baronetesa?

— Certamente, meu senhor – ela finalizou lhe dando as costas para continuar sua caminhada em meio à madrugada fria. Talvez a culpa de suas atitudes e até mesmo a quebra de decoro com o novo Baronete, fosse o álcool ingerido em excesso, mas ela não gostaria de admitir seu erro e até no fundo se sentia mais leve por expor a verdade ao invés de guardá-la dentro de si.

Sakura já guardava coisas demais. Já reprimia sentimentos demais há anos, não precisava de um Baronete para ser outro motivo de desgosto reprimido.

Por isso, e encarando a construção de Winterfall ainda tão distante, ela continuou a caminhar com dignidade, não querendo admitir que estava com frio ao homem de olhar fixo em suas costas.

Ela caminhou mais alguns minutos em silêncio antes de parar e dizer em um tom forte e decidido, sem ao menos olhar para trás, mas ela sabia que ele também havia parado:

— Volte a Bath ao amanhecer, não há mais nada para o senhor fazer em Winterfall. Sei que estudou os livros de contabilidade e sou capaz de ver em seus olhos toda vez que acorda de manhã, que durante mais uma noite o senhor não encontrou motivos para me taxar como incapaz – ela se voltou para o homem encharcado, continuando com sua fala: – Eu já provei que sei cuidar dos negócios.

— O seu desespero para me enviar de volta a Bath é prova o suficiente de que me esconde algo – ele foi direto em seu tom baixo, vendo os olhos verdes se estreitarem para sua fala.

— O que acha que eu escondo do senhor? – Ela também foi direta.

— Quem sabe? Pode ser algo que me faça a julgar como incapaz de cuidar de tudo – foi sagaz.

— Se é isso o que procura, então está em uma busca sem futuro.

— Pode até ser, mas certamente há algo em Winterfall que a senhora não quer que eu saiba.

— O senhor não sabe nada sobre mim – o acusou em um tom frio.

— Estou disposto a saber se for preciso.

Sakura entortou o rosto com aquele ultimato, ainda mais quando Sasuke continuou:

— Você não amava o meu irmão, nunca o amou. Nem ao menos se comporta como uma tão recente viúva tomando altas doses alcoólicas e até mesmo dançando com homens que a cortejavam antes de conhecer o meu irmão. Não me surpreenderia de descobrir que na verdade a senhora tem um amante e eu não estou disposto a deixar tudo o que meu irmão lutou para construir nas mãos de uma mulher sujeita a paixões fugazes e aproveitadores.

Ela riu com escárnio antes de destilar o veneno:

— Interessante você julgar meu amor ao seu irmão enquanto você mesmo nada fez além de enviar cartas falando sobre seus negócios e vida em Bath, ao mesmo tempo que o seu irmão definhava em uma cama. Não me surpreenderia que o verdadeiro aproveitador seja o senhor disfarçando-se sob a sombra de um preocupado irmão em busca de cumprir o último desejo do seu irmão – ela puxou o ar para continuar: – E sobre eu ter um amante, pode ficar tranquilo Baronete. Se eu tivesse... olhando para todo o meu círculo social, o senhor é o mais propenso ao papel de amante da pobre e solitária viúva de Winterfall – foi direta. – Vejamos pela perspectiva maior, o senhor é jovem, solteiro, dono de uma elevada renda, além de ser muito robusto admito. Um homem completamente desimpedido residindo sem explicação nenhuma na residência da jovem viúva do seu irmão. Talvez ele queira apenas dar seus votos de pêsames – teatralizou – mas votos não precisam de tanto tempo assim. Então o que faria um homem jovem, robusto e desimpedido da cidade de Bath, permanecer por tanto tempo em uma grande residência no interior, nem ao menos se dispondo a sair para os condados próximos? – Fez uma expressão de dúvida antes de responder como se fosse alguém de fora observando os dois: – Será que este homem é amante da jovem viúva? Será que depois de se conheceram eles se envolveram em uma paixão ardente semeada de pecado entre as paredes impetuosas de Winterfall? Que pouca vergonha! – Ela riu da sua própria interpretação para o homem frio à sua frente. – Então, Baronete, a menos que nós dois sejamos amantes e vivamos uma paixão ardente e recheada de pecado entre as paredes de Winterfall e eu ainda não saiba disso, eu não tenho um amante.

— Suas palavras não provam nada.

— O que mais o senhor quer? – Gritou perdendo o controle. – Por que insiste em me tirar a única coisa que me resta? Por que insiste em querer me transformar em um suvenir que só tem a função de ver a passagem do tempo enquanto a casa e os negócios continuam perfeitos ao seu cuidado? Por quê? – Gritou mais uma vez antes de abaixar o tom: – Seu irmão pediu que cuidasse de mim, que me deixasse ser livre, então por que insiste em permanecer? Por isso, vá embora de Winterfall! Vá para sua querida Bath, volte para as damas que corteja ou pretendentes que os magnatas gostariam de lhe ofertar para que no futuro eu perca meu título de nobreza para repassar à sua esposa. Vá! Eu não me importo. Eu apenas quero ser livre, sem homens idiotas como o senhor para me incomodar. Sei que dependerei das suas assinaturas, mas eu não me importo, a única coisa que eu quero é minha liberdade e se para isso eu tenho que mover céus e terras para não perder tudo para o senhor, então eu moverei! – Deu seu ultimato antes de dar as costas e sair correndo com as saias erguidas, não querendo mais permanecer em uma lenta caminhada com o Baronete que permaneceu parado, vendo a mulher de vestido bufante correr de si em meio a madrugada.

Os olhos negros caíram no sobretudo seco que carregava na mão direita, o mesmo que ele estava planejando ofertar a ela enquanto caminhavam em silêncio, o mesmo silêncio que ela quebrou antes que ele tomasse coragem de ofertar o agasalho sujeito a sarcasmos como resposta.

Sasuke voltou a erguer o olhar e com passos firmes voltou a caminhar para Winterfall, não tendo mais a mulher às suas vistas.

Quando chegou, uma banheira de água quente já o aguardava em seu quarto de banho, uma ordem que Sakura havia dado ao cocheiro antes de mandá-lo ir a contragosto na frente.

Ele suspirou com a visão do mármore branco e impiedoso com o banho preparado para si. Não tardou em retirar gradualmente as peças de roupa caras e molhadas, até não restar nada além da nudez do homem forte e feito que se afundou na água morna e convidativa.

Só então o Baronete percebeu o quanto estava rígido e seus músculos pediam para relaxar.

O homem deixou-se afundar prendendo a respiração. Manteve os olhos abertos, podendo ver o mundo fora da água translúcida iluminada pelos candelabros, só então ele percebeu que Sakura deveria ter tido uma visão semelhante àquela enquanto se deixava afundar no lago, deixando que toda a tensão do seu corpo fosse levada pela suave correnteza.

O tronco masculino se ergueu de maneira súbita enquanto ele tentava normalizar a respiração do peito forte e arfante devido à privação de oxigênio.

Trincou os dentes ao perceber que sua mente estava sendo levada mais uma vez a pensar na mulher que em algum ponto daquela residência também se encontrava em uma banheira semelhante àquela, onde seu corpo nu estaria tentando relaxar e esquecer dos problemas de convivência com o desprezível cunhado.

Sasuke esfregou o rosto antes de alisar todo o seu cabelo para trás, impedindo que sua mente divagasse mais do que já havia feito.

Tinha que parar de se aproximar da sua cunhada. Essa atitude só seria um grande problema no futuro. Ele tinha que se focar no agora e ir embora para Bath o mais rápido possível, não voltando para Winterfall se não fosse extremamente necessário.

— Ela não negou que esconde algo – observou com os olhos estreitos percebendo que ela sempre respondia os questionamentos, mas naquele assunto em particular, ela só negou ter um amante com esperteza, porém a Baronetesa de Winterfall escondia algo e Sasuke tinha que descobrir o que exatamente era.

Algo importante que a fazia até mesmo pedir para que ele fosse embora para Bath o quanto antes...


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Notas finais do capítulo

Nossa... que confusão esses dois! hahahaha
Muito obrigada por lerem e espero que em breve eu possa redigir o terceiro (e provável último capítulo) para logo liberar para vocês e eu cumpri com a minha palavra que essa é uma fic curta que pretendo postar rapidamente.
Todo o enredo longo do terceiro capítulo já está estruturado na minha mente, agora só preciso de uma folguinha pra botar a mão na massa.
Boa noite pessoal! Tenham uma linda semana!

Qualquer novidade estarei transmitindo lá pela página no face:
https://www.facebook.com/gabyfanfiction/



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