The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 9
Capítulo 9




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Ao chegarmos no navio, meu estômago doia de tanto rir. Gregory me acompanhava, sentado no convés ofegando e rindo.

— Ainda não acredito que você fez aquilo! Você praticamente mandou num oficial!

— bom, não é algo a que não estou acostumada.

— Sim, verdade. Mas agiu como uma moça de rua de verdade! Eu nunca imaginaria que você é quem é.

— Isso é bom? – perguntei.

— Não sei ao certo. – ele disse e se levantou – agora, é sério, deixe-me ver sua cabeça. Levou uma pancada seria. Pode ter sido algo grave.

— Não foi nada, já estou melhor.

— Você tem uma habilidade incrível para fazer loucuras, sabia? Onde estava com a cabeça? Entrando no meio de uma briga de bar, o que achou que ia acontecer?

— não sei. Não sei porque fiz isso, na verdade. Eu poderia ter fugido. Mas não o fiz. Não sei por que.

— ainda bem que não fugiu. Salvou minha pele. E rasgou a sua, pelo visto. Esta bem mesmo? Já se machucou tantas vezes conosco que temo que o problema seja nos. Eu, aliás.

— como o problema poderia ser você?

— eu estou de guarda. E até agora não te protegi de nada.

— Não seja ridículo, Gregory. Você sempre faz a coisa certa.

— hoje não fiz.

— você estava estressado. Aquele homem te provocou ao falar sobre sua mãe.

— Na verdade, o que me irritou foi falar sobre meu pai.

— seu pai?

— Sim. Ele foi...bem, um momento difícil da minha vida. Eu não estava na pirataria nessa época.

— Você já viveu fora então?

— Ah sim. Vivi um tempo na casa de primos distantes, na Vila Central.

— Você morava do lado do castelo? – perguntei, estupefata.

— sim. Meu tio era um nobre da região. Me acolheu na tentativa de me fazer mudar de vida. Não deu muito certo.

— Bem, acho que não. – eu ri – Mas então, o que houve com seu pai?

— O que acha de fazermos a segunda parte daquele seu “aquilo” – Ele mudou de assunto.

Eu respeitei e concordei.

— Sabe, me estranhou um pouco esse seu pedido. Digo, sei que quer saber se defender. Mas por que aprender a lutar agora?

— Porque eu quero estar preparada. Depois do ataque eu percebi o quanto eu sou dependente de outras pessoas, sejam criados ou não. E eu não quero isso para mim. Quero fazer algo de verdade. Me virar sozinha. Começando pela defesa.

— Entendo. Mas uma dama sempre deve vir acompanhada de um cavalheiro que a defenda.

— Mas enquanto ela não tem seu cavalheiro, ela precisa fazer algo a respeito, não acha?

— Sim, é verdade. Diga-me, Katherine, você já tem seu cavalheiro?

— Não sei. – disse após pensar um pouco – por um tempo achei que sim, não sei como as coisas serão agora. Parece que faz muito tempo desde que vocês me pegaram. Quem foi, aliás? Rupert? Ou Betrus?

— Fui eu e Pinsley. Não confiava que eles a trariam intacta. E Pinsley, bem, foi ele que te apagou…

— Oh.

Comentei e divaguei um pouco, pensando no dia que tinha sido raptada. Pareciam séculos atras, mas havia menos de uma semana. De repente, Gregory mudou sua postura e ficou serio.

— Meu pai  era bom. Quando eu era pequeno. – ele disse – vivíamos numa família perfeita. Minha mãe costurava, e meu pai ajudava numa alfaiataria. Éramos pobres, mas felizes.

— O que aconteceu?

— O negócio fechou. Meu pai perdeu o emprego numa época de crise, e dependíamos da minha mãe para comer. Ele se revoltou com a situação, e alguma coisa nele mudou. Ele começou a beber, não nos tratava do mesmo jeito. Gastava tudo que tínhamos nos bares e não nos considerava mais como família. Quando eu tinha doze anos, vi ele batendo na minha mãe. Ela fazia tudo para ele, sempre servindo, atenta a todos os pedidos dele. E ele, revoltado, usava dela para descontar a raiva. Numa noite, ele tinha passado dá conta na bebida. Chegará em casa no meio da madrugada e começou a gritar com a minha mãe, por motivo algum. Ela se exaltou também é tentou ir de frente com ele. Só piorou as coisas. Ele começou a espanca-la. Com um ódio que eu nunca vira antes. Chegou ao ponto de eu ache que ele ia matá-la, e ele não ia parar por aí. Então eu  peguei um pedaço de madeira e tentei livrar minha mãe dali. Bati na cabeça dele com toda a minha força. Eu tinha quinze anos e já não era uma criança. Meu pai morreu na hora.

Eu soltei uma exclamação de susto com a narração.

— Sim. Depois disso foi um caos. Por pouco não fui enforcado. Passei uns meses na prisão e depois fui solto. Minha mãe trabalhava na taverna que fomos e fez algumas amizades. Dividíamos um apartamento com várias outras mulheres, num bairro muito pobre. As condições dali não fizeram bem a ela, e alguns meses depois, ela adoeceu e morreu. Foi quando encontrei Pinsley. E imagino que você já saiba o resto.

Eu concordei com a cabeça, sem saber o que dizer. Eu estava sentada no banco, e Gregory escorado na amurada do barco, numa posição falsamente relaxada. Eu podia ver a tensão em seu pescoço e a dor nos seus olhos. Não era um assunto fácil.

— P-por que me contou isso?

— Porque você me lembra a minha mãe. Tem a mesma coragem e proatividade dela. Você diz o que pensa, faz o que acredita e não tem medo de dar a cara a tapa. Isso me surpreendeu totalmente. Além disso, é porque você olha para mim como se eu fosse puro. Você me trata como um igual. E na verdade não é isso. Você é uma princesa, da mais alta nobreza. E eu sou apenas um pirata patrícida e sem futuro. Você precisava saber da verdade.

Não tive como segurar a risada.

— Isso é o que você acha? Que somos nobres e superiores?

— Bem, não acho que sejam superiores, mas nunca tive motivo para pensar o contrário, .

— Não teria como, tampouco. Todos no castelo se esforçam ao maximo para esconder tudo o que acontece ali.

— E o que acontece?

— Para começar, não vivemos só eu, o rei, e a Rainha. Há cerca de mais duzentas pessoas que vivem no palácio e compõe a corte. Um bando de ociosos e fofoqueiros que só querem a desgraça alheia. A maioria ali odeia meu pai e quer que eu assuma logo o trono para tomar medidas mais elitistas. Alguns homens tentam subornar os conselheiros para terem minha mão em casamento. E alguns até chantageiam o rei para conseguirem o que quiserem, como títulos e terras. Mas o pior eh que todos sabem o que acontece. E temos de agir naturalmente, cumprimentar com três beijinhos, fazer elogios às roupas, perguntar da família e convidar para um chá. Além de dançar uma ou duas músicas com a pessoa. É uma corte composta de mentiras. Quase todos ali já dormiram com todos, tem filhos fora do casamento, brigas, segredos, passados. E ainda assim, insistem em cobrir tudo. É revoltante.

— Bem, realmente não é isso que deixam transparecer. Mas faz sentido. Me diga, se eu tivesse continuado com meu tio, teríamos nos conhecido?

— Provavelmente.

— E como seria uma encontro desses?

— Bom, no próximo grande evento que tivéssemos no palácio, seu tio seria convidado e ele levaria você. Iria até mim é minha familia, e o apresentaria como seu novo pupilo. Depois faria uma longa lista de qualidades suas, tentando vendê-lo para mim.

— E o que você faria?

Pensei um pouco e me levantei. Em seguida adotei minha postura nobre.

— Oh, sr. White, deve ser maravilhoso assisti-lo numa partida de esgrima. E, realmente, a habilidade na estratégia e na perspicácia é algo muito valoroso.

— Ah, obrigada, hum...Vossa Alteza. – ele respondeu.

Eu estiquei minha mão pra que ele a beijasse

— Então o rei o convidaria para uma partida de xadrez, para testar mesmo suas habilidades. É minha mãe elogiaria sua classe e elegância. E depois, você agradeceria e pediria, ousadamente para dançar comigo.

— Eu pediria?

— Sim. Provavelmente seu tio o incentivaria a tentar me conquistar de todas as maneiras.

— E eu conseguiria?

— Não tenho como saber isso, tenho?

— Bom, vamos ver então. Onde você tinha parado? Ah sim, muito obrigada Vossa Majestade. Será uma honra ter uma partida de xadrez com vossa senhoria. E, se me permitirem, eu ficaria lisonjeado em ter uma dança com Vossa Alteza. – ele esticou a mão para mim.

— Oh, é claro, sr. White. O prazer é meu. – Eu aceitei, escondendo o riso.

Não sabia ao certo o que viria a seguir. Gregory me puxou para junto de si, posicionou-se à minha frente.

— Valsa veneziana? – ergui uma sobrancelha.

— A visita ao meu tio teve suas vantagens. – ele brincou.

Colocamos nossas mãos quase encostadas. Nossos peitos a centímetros um do outro. E eu me vi obrigada a encara-lo nos olhos. A principal característica dessa dança era essa. Olhar nos olhos do outro a dança inteira. Ser guiada pela melodia e resistir a tentação de se tocar. Demos um passo para trás, e outro para o lado, e depois outro para frente. Sem música, seria a coreografia mais básica. Eu estava preocupada com a situação, mas com um movimento de sua cabeça, Gregory se aproximou ainda mais de mim, sem encostar. Seus lábios se contorceram em um meio sorriso raro, seus olhos inspiraram confiança. Respirei fundo e fitei seus olhos, concentrando-me nas pequenas manchas douradas, no contorno castanho e nos pequenos raios escuros que saiam da íris. Suas pálpebras se fechavam levemente, como se estivesse se divertindo com a situação no geral. A sobrancelha escura era grossa e lhe dava um ar sério, mas que agora estava bem sexy.

Quando percebi, estávamos dançando, devagar, mas ainda assim. Nossos passos estavam meio desordenados, e eu perdi a concentração. Acabei trombando com ele.

Mas Gregory tinha mais habilidade do que eu pensava. Aproveitou que eu me desequilibrara e me segurou pela cintura. Juntou nossas mãos e emendou uma valsa tradicional. Agora era mais fácil, ele me guiava, e nos movíamos mais rápido. A proximidade me afetava mais do que eu imaginava, e tentei colocar um espaço entre nós, mas Gregory me prendeu a ele.

— Você pode querer mandar em muitas coisas, mas aqui, eu guio e você segue. – Disse, autoritário.

Eu acabei cedendo e relaxei ainda mais em seus braços.

— Como foi viver na cidade? Você odiou muito? – perguntei.

— Não odiei, na verdade. Só não me identifiquei. Depois de um tempo, percebi que meu tio me levava a muitos bailes por semana e me apresentava a mais garotas que eu podia contar.

— Ele queria uma esposa para você.

— Sim, e uma bem rica. Mas todas pareciam iguais.

— bem, não é culpa delas. – Eu girei – são educadas para serem assim desde o dia em que nasceram, a única coisa que as diferem são o tipo de instrumento que tocam, ou se gostam mais de seda ou de tiffon.

— Mas você não é assim. E duvido que tenha sido criada diferente delas.

— Bem, é verdade. Mas não sei. Na verdade, é só aqui que sou assim. Em casa tenho uma média de dez palavras por dia.

Gregory riu alto.

— Não consigo imaginar isso.

— Engraçadinho. Devia ir mais, você fica bem com sorriso.

— Bem, não tenho muitas razões para sorrir normalmente.

— Uma média de dez por ano?

Ele riu novamente, me virou e me jogou para o chão, finalizando a dança.

— O senhor dança lindamente, sr. White. – Fiz uma mesura.

— Não o bastante para estar a altura de vossa Atleza, suponho.

— Pode me chamar de Katherine, apenas.

— Certo, Katherine. Tenho duas coisas para você.

— duas coisas? Presentes?

— Não sei se podemos chamar assim. Só sinto que é algo que lhe devo desde o dia em que nos conhecemos. – Ele disse e foi até um canto do convés, voltando com uma rosa e uma espada na mão. – Isto, é para o que vamos fazer agora. – ele me entregou a espada – Quando você aprende a usar uma arma, é uma coisa, mas quando você a usa, você vira uma outra pessoa. E é muito provável que depois que eu te ensine, você use essa espada.

— E para quê a flor?

— Ah, não é apenas uma flor. É uma rosa. E ela lhe pertence desde o dia que eu te achei.

— Oh, sim, eu me lembro. – Recordei do momento do sequestro.

Ele torceu seu caule e a colocou presa no meu cabelo.

— E também é para que você nunca se esqueça desse seu lado.

— Meu lado planta?

— Seu lado Katherine. Seja lutando com piratas ou dançando com lordes esnobes, lembre-se de quem você é.

— E de você?

— Sim. E de mim também. – ele sorriu tranquilamente – Muito bem, vamos ao trabalho agora.

Eu sorri e me preparei para as lições de luta.


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