The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Dentro do navio, era muito mais civilizado e habitável do que o convés, apesar de aquilo não significar mais do que uma sala ampla com piso de madeira e paredes com entalhes rebuscados e alguns móveis estofados gastos. Passamos por ela em direção a uma das várias portas do lugar. Ao nos aproximarmos da mais pomposa, pude ouvir duas vozes lá dentro.

— Alguma novidade?

— Ainda não. Talvez eles não tenham ligado os fatos Ainda.

— Sim, provavelmente. Mas de qualquer forma, precisamos da garota. Por enquanto mantemos o plano, vamos para....

A fala se interrompeu quando o brucutu ao meu lado bateu na porta. Esta se abriu com um ruído, mas eu ainda não conseguia ver lá dentro, pois o homem a minha frente tampava tudo.

— Ela está acordada. – ele disse.

Ouvi um movimento ao fundo da sala, como quem levanta da cadeira.

— Ela está aqui? – Uma voz perguntou.

O grandalhão respondeu saindo da minha frente. E me permitindo ver aquela estranha visão. Numa saleta menor que a anterior, mas ainda mais arrumada, dois homens me encaravam. Um deles deveria ser o capitão, pelas roupas pomposas e pelo chapéu com penacho. Tinha um olhar crítico e imparcial, com olhos negros como a noite é uma barba morena espessa caindo- lhe do queixo. O outro, mais ao fundo, me surpreendeu. Era diferente do que eu esperava encontrar. Um pouco mais novo do que os demais, tinha cabelos longos e castanhos, com um pouco de barba por fazer é uma pequena cicatriz ao lado da orelha direita. Vestia uma camisa de linho de mangas bufantes e sem costura, com calças de couro e um coltre com uma pistola e uma espada. Sua expressão era o mais intrigante, parecia surpreso e curioso. Tinha traços firmes e fortes, assim como seu físico alto e largo. Os olhos eram de um castanho que mostravam que ele poderia ser tanto gentil como um assassino sanguinário e violento. Só então me dei conta de que todos me encaravam, a mim e a meu pedaço de pau ridiculo.

— Vocês a machucaram?! – este último perguntou.

— Não tivemos escolha, - o brucutu ao meu lado disse- ela não veio por bem....

— Ah, claro, da próxima vez que eu ganhar uma Flor de alguém vou estar mais preparada para um sequestro. – ironizei, revoltada.

— Eu disse para não machuca-la! Ela deve estar toda tonta agora!

— Ela parece bem pra mim. – o brucutu respondeu.

Cansada de não saber nada, me dirigi ao capitão que só observava tudo.

— Quero saber exatamente o que está acontecendo aqui. Por favor.

— E saberá. Venha, sente- se aqui conosco. – ele me guiou até uma poltrona.

Fiz o que ele sugeriu, sentando-me com postura e com as mãos no colo, tensa sobre o que se daria por seguir. O capitão sentou- se  a poltrona em minha frente, o brucutu atras de mim e o bonitinho apoiou-se relaxadamente num móvel ali perto.

— Preciso que você envie uma carta à sua família, pedindo uma certa quantia de ouro para o resgate. Quero que você escreva exatamente o que eu disser e que assine. Quando seus pais nos entregarem o ouro, deixamos você  o porto mais proximo.

Eu não disse nada, apenas processei a informação lentamente.

— então basicamente, eu estou aqui como prisioneira e tenho que colaborar com tudo o que vocês disserem?

— Exato. – o bonitinho disse.

— E se eu não quiser?

— você está num navio com uma tripulação de 15 homens armados e sem piedade que não pensam  outra coisa além do dinheiro que você tem a nos render. Voce vai querer colaborar conosco.

— E eu aposto que você não vai querer tocar em mim, ja que perderia o seu poder de barganha. – declarei tentando parecer mais corajosa do que realmente era.

O capitão se irritou e bateu a mão na perna.

— Se você continuar com essa atitude e não escrever a maldita carta, não terá ninguém a seu resgate. Realmente não vejo problemas em aguentar um vermezinho a mais no porão até que ele aprenda a respeitar seu superior.

— Realmente não haveria problemas, se eu não fosse uma princesa e se toda a guarda real não estivesse atras desse mesmo navio em questão de horas. Eu não tenho nada a perder, já você tem uma bela fortuna em jogo, alem de colocar sua cabeça e a de todos aqui à preço! Então acho bom você entender logo que isso não será uma relação tão simples assim, o senhor pode ser o capitão deste navio, mas não se esqueça que eu sou a Governante legítima deste mesmo mar que navegamos.

— NÃO QUEIRA DISCUTIR PODER COMIGO MOCINHA! – O capitão esbravejou e eu lutei para conter as lágrimas de medo, raiva e tristeza – meros papéis e sangue não valem nada por aqui. E até você aprender seu lugar, vai continuar no buraco onde estava! – Fez sinal para o brucutu, que me puxou da cadeira sem esforço e começou a me levar para a saída.

— Espere! – O bonitinho se interpôs em nosso caminho

— White.... – o capitão rosnou.

— Capitão, as coisas não precisam ser desse jeito. Dê tempo a garota e logo chegaremos a um acordo.

— Não terá acordo nenhum enquanto esse senhor não reconhecer os meus direitos! – bradei

— Você. É. Uma. Prisioneira! Não tem direitos! – o brucutu gritou e eu pisei em seu pé como uma reação involuntária a minha prepotência mediante toda aquela força ruiva.

Ele urrou, o capitão se levantou e o que chamavam de White se aproximou para intervir nas demais violências que poderiam se seguir daquela situação.

— Pinsley, solte a garota. A partir de agora, White ganhou a guarda dela. Seja a baba que quiser Gregory, mas eu quero essa carta assinada amanha, ou faremos do meu jeito! – o capitão decretou, dirigindo-se ao bonitinho.

O tal Gregory White bufou pesadamente, mas tomou meus braços e me levou para fora daquela sala.

Enquanto saíamos às pressas, minha cabeça começou a girar, tentando processar tudo. Logo chegamos ao cômodo horrendo onde eu acordara, e Gregory me colocou sentada no colchão de palha, observando meu estado verde.

— Garota? – ele estreitou os olhos para mim.

Eu, finalmente sentada e acordada, comecei a sair do torpor de raiva e a sentir minuciosamente a minha situação. Havia um galo dolorido em minha nuca e sangue seco escorrido por meu pescoço, minha cabeça latejava e parecia querer implodir. Minhas mãos estavam brancas de tanta força que eu usará para segurar o pedaço de pai inútil. E acima de tudo, eu estava com fome. Morrendo de fome. Tinha pulado o desjejum contra a vontade de Anelize naquele dia, e não tinha ficado consciente o suficiente para almoçar. Deveria ser tarde da noite e eu não colocara mais que água em minha boca. Aquilo me atingiu com força e uma tontura tremenda tomou conta de mim, pontos pretos atrapalhavam minha visão e aos poucos, percebi que iria desmaiar. Antes de cair no colchão, um braço forte passou por meu pescoço e Gregory me chamava ao mesmo tempo que pedia ajuda de fora. Deu tapinhas em meu rosto para me manter acordada e não sei quanto tempo se passou até eu sentir um líquido gosmento e quente escorrer por entre meus labios. Uma sopa? Ou mingau? Fosse o que fosse, nunca tinha ficado tão feliz em ver comida. Quando ganhei forças, agarrei a tigela a minha frente e praticamente engoli direto tudo o que tinha lá dentro, clamando por mais.

— Caramba, essa estava com fome! – uma voz ecoou ao longe.

— também, magrela desse jeito não deve comer direito há dias!

— está melhor, garota? – distingui a voz de Gregory.

Assenti com a cabeça, mas aquilo a fez doer novamente. Tomei mais um pouco de mingau e como algumas lascas de pão, com uma plateia de brucutus que mal cabiam no cômodo mofado. Quando já estava melhor, Gregory mandou todos saírem e eu me joguei no colchao, apagando quase que imediatamente.

Acordei no dia seguinte com muita preguiça. Há tempos que não dormia tanto assim. Olhei em volta, lentamente percebendo que aquilo tudo era real e não um pesadelo. Um pouco mais conformada com a minha situação, e decidida a fazer alguma coisa para mudá-la, me levantei, reparando nos raios de sol a pino que entravam pela pequena escotilha.

Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Segundos depois, Gregory entrou com uma expressão divertida no rosto. Que se transformou em uma carranca quando me viu.

— Bom dia raio de sol. – provoquei-o.

Estava decidida a irrita-los a tal ponto que teriam de me jogar no próximo porto para se verem livres de mim.

Ele me ignorou e me jogou um prato de metal com a mesma gororoba da noite anterior. Não parecia nada apetitosa agora. Uma gosma amarela com cheiro de milho e trigo. Olhei para ele, incrédula.

— Não vai me fazer comer isso, vai?

— Pode desmaiar de fome de novo, se preferir.

— Eu simplesmente me recuso a comer isso. Nem mesmo lembra comida, essa coisa.

— Essa coisa é tudo o que temos, então trate de comer logo isso é escrever a maldita carta. Não gostamos disso mais do que você.

Cruzei os braços e sorri sarcasticamente. Então ele achava que eu ia ceder assim? Só por causa do sorrisinho charmoso dele? Há há há.

— Olha, é desse jeito que as coisas vão funcionar: você vai me levar até a cozinha para eu dar um jeito nessa meleca, depois vamos falar com seu capitão de novo para fazermos um acordo. Céus! –eu exclamei quando vi um borrão que parecia meu retrato, na colher de metal- E eu quero dar um jeito na minha aparência. Vocês podem não estar acostumados, mas é assim que as coisas funcionam na civilização.

— Olha, garota, não que alguém aqui tenha perguntado, mas nessa sua civilização você pode até mandar em alguma coisa. Mas aqui não. Agora coma logo isso e faça o que quiser com sua aparência. Depois eu e você teremos uma conversinha em que, quer você queira ou não, vai acabar com uma carta sua endereçada aos seus pais.- ele disse e saiu do quartinho.

Mas antes que a porta se fechasse totalmente, eu coloquei meu pé entre ela e o batente e a abri. Sai para o convés finalmente respirando um pouco de ar. Segui para dentro do navio onde esperava encontrar a cozinha. Lá fora, os homens nem se deram conta de minha presença, e Gregory, por cansaço ou curiosidade, deixou-me seguir meu plano idiota.

Empinado o nariz e inflando o peito em determinação, segui o cheiro de pão até uma área bagunçada e suja que parecia ser a cozinha. Um grupo de homens comia numa mesa ali perto, e outros dois mexiam em panelas e tigelas numa mesa, preparando mais daquela gororoba medonha. A conversa cessou e todos me encararam. Com a confiança um pouco abalada, segui para a parte da mesa bagunçada que não estava sendo usada. Procurei por qualquer coisa que parecesse comestível, mas tudo que encontrei foi pimenta, sal e um pouco de cebola. Suspirei, teria de servir e eu não voltaria de mais vazias. Peguei o prato de mingau que trouxera comigo e nele, joguei bastante sal, um pouco da pimenta, piquei algumas cebolas e também um pouco de salsa que encontrei jogada. Parti um pedaço de pão e coloquei-o do lado do prato. Satisfeita com a minha intervenção no almoço – não estaria delicioso, mas pelo menos comestível e com uma aparência agradável – peguei meu prato e olhei em volta. Sem chances de eu me sentar ali, então fui em direção ao caminho em que vim.

— Ei, Dona, porque  ao prepara um desses para mim?

— Garota, quero um pouco mais de cerveja, por favor! – um deles zombou e jogou a cerveja de sua caneca em mim.

O líquido amarelado e fedido caiu em meu vestido como uma mancha que não marcava apenas o tecido, e sim me traumatizava e me mostrou os maus bocados que eu passaria ali. Humilhada e arrasada, continuei andando e ouvindo  baboseiras e palavroes até voltar para meu quartinho e me fechar lá, sem olhar para ninguem. Comi em silêncio e passei o resto da tarde alternando entre choros de raiva e de autopiedade.

Apesar da fome,  ao fui jantar. Ignorei as batidas na porta e os chamados de Gregory. Não queria falar com ninguém, não queria olhar para aqueles homens horríveis novamente. Queria desesperadamente escreve a meus pais que me resgatassem logo, que me salvassem e me tirassem dali, mas aquilo era exatamente o que eles queriam, e eu não lhes daria o gostinho da vitoria fácil assim.

Passei a noite olhando para meu vestido manchado e me enjoando com o cheiro da cerveja. Olhando pela escotilha, podia ver algumas estrelas  o céu enquanto me obrigava a dormir. Mas como sempre, o sono não veio e eu não aguentava ficar naquele quarto claustofobico mais um minuto.

Torcendo para a porta estar destrancada, fui até ela é tentei abri-la, com sucesso. O vento lá fora estava forte e úmido, mas a noite estava bonita. Peguei meu manto e fui para fora. Não tinha ninguém  o convés aquela hora, estranhei um pouco mas agradeci por ter apenas a companhia das fracas lamparinas. Aproximei-me da beirada do navio e inspirei o maximo de oxigênio possível. A brisa fresca do mar clareou meus pensamentos. O que eu tinha de fazer? Um acordo. Precisava garantir algumas coisas antes de dar a eles o que eles queriam. Até então estávamos num impasse, e eu não podia perder a minha autoridade. No dia seguinte iria falar com o capitão. Faria algumas exigências e....

— Ei! Você! O que faz aí? – um homem perguntou me surpreendendo.

— E-eu? Nada, só estava....

— Rupert, Betrus! – ele chamou alguns companheiros.

— O que ela está fazendo aí?! Bem que eu disse ao White para não deixá-la destrancada! Amarre-a que eu vou chamar aquele frouxo! – o tal Betrus saiu para o interior do navio.

Os dois que sobraram se aproximaram de mim devagar e amarraram meus pulsos com um nó apertado.

— O que acha que ela estava fazendo? – Rupert perguntou.

— Não sei... tentando se matar talvez? – o outro respondeu.

— Ei! Eu não estava tentando me matar e eu estou bem aqui!

— Não gostou de como as coisas são por aqui, princesa? Acha que engolir água até morrer é melhor?! – Rupert me ignorou e eles continuaram com as piadas de mal gosto.

— Garota o que está fazendo aí? – Gregory chegou ao convés com cara de sono e cabelo desgrenhado.

— Tentando me matar, pelo visto. – Ironizei, mas Gregory acreditou – Não, não, calma! Estava tomando um ar, apenas! Esses cavalheiros chegaram aqui, me amarraram como um animal e ficaram fazendo brincadeirinhas sem graça! – eu reclamei, mas só então percebi quao infantil tinha soado, dedurando os brucutus para Gregory daquela forma.

Com raiva e envergonhada, abaixei minha cabeça e esperei que eles discutissem sobre mim mais um pouco, como se eu não estivesse ali, até que Gregory me levou de volta ao quartinho.

— Eu....sinto muito. – Ele falou.

— Sente? Pelo que?

— Pelos rapazes. Eles bem....você tem que entender que somos piratas. E eles passaram a vida nesse ramo.

— E você não? – perguntei, curiosa.

— Isso é história para outra noite. Por hoje tenha em mente que eles gostam de você tanto quanto você gosta deles.

— Acontece que eu não sequestrei nenhum deles.

— Sim, mas eles só estão tentando sobreviver. Nós estamos, na verdade. Ainda assim, foi cruel. – ele admitiu e tirou as amarras do meu pulso já marcado. – tente dormir um pouco e acordar menos temperamental, será melhor para todo mundo.

Eu nem me dei ao trabalho de responder. Apenas me joguei no colchão, olhando com dor para o meu vestido manchado mais uma vez e finalmente dormi, um sono bem desconfortável.

Os primeiros raios de luz entraram no quarto junto à Gregory. Ele estava animado e trazia muitas coisas em seus braços.

— Acorde, garota. Hoje o dia será cheio. – ele escancarou a porta.

Coma, troque de roupa e venha falar com o capitão. – ordenou, e saiu batendo a porta.

De mau humor, mas sem nada a fazer, eu peguei a maçã que ele deixara num canto e comi até o talo. A comida me fez tão bem que eu nem me queixei de tirar meu vestido Branco encardido e sujo para vestir um vestido marrom de tecido rude e detalhes em couro. Era muito apertado para mim, principalmente no busto. Eu parecia a capa de um livro velho. Com vergonha do resultado ridículo, vesti meu manto por cima e prendi os cabelos num penteado trancado e preso, como uma prova do fiozinho de realeza que restava em minha aparência.

Encontrei Gregory do lado de fora e fomos até o gabinete do capitão.

— Então, Alteza, vejo que apesar de mimada, você é uma garota forte e acredito que possamos chegar a um acordo. Me diga o que quer  troca da carta.

— Bom, sim eu concordo em fazermos um acordo, obrigada por perguntar. Para começar, quero novas acomodações, arejadas e decentes, com algo melhor que um colchão de palha. E eu sei que você tem lugares assim por aqui. Depois, chega de amarras, poderei andar livremente pelo navio, poderei comer o que eu quiser e quando quiser e não serei perturbada por nenhum de seus homens. Também quero ser tratada com o devido respeito que me cabe como sua princesa.

— Ah, mas é muito petulante! Você entende que está exigindo tudo isso por uma carta? Posso providenciar as acomodações e é tudo. Não se ganha respeito através do sangue, minha querida, e sim através de suas ações. Além do mais, meus homens e eu acabamos de sequestra-la, então não espere nenhum tratamento especial por nossa parte. Esta é minha oferta final, agora por favor, escreva carta!

— não, Ainda não estou contente. Quero as acomodações, a liberdade e a comida. Sabe muito bem que a negociação com meus pais pode demorar e eu não pretendo passar meus dias aqui como uma barata. E só pela sua ignorância comigo, agora quero condicoes básicas de higiene também. Quero me banhar quando possível e ter acesso ao que tiver aqui para não ficar parecendo um andarilho. Sei que isso pode ser demais, então me ofereço para ajudar no preparo da comida e pra tratar de alguns problemas de saúde básico, tenho certo conhecimento nessa área. Também vou respeitar a hierarquia daqui.

O capitão abriu a boca para rir ou recusar minha proposta, mas eu fui mais rápida.

— E acho bom o senhor não pensar em dizer não, pois sou irreduzível quanto às minhas exigências e, bem, você precisa de mim, não há outras princesas a bordo e como deve ter escutado, tenho certas tendências suicidas então escolha bem suas próximas palavras. – eu anunciei.

Gregory deixou escapar uma risada forte e eu me senti bem. O capitão me fitou por um instante e então assentiu uma vez.

— muito bem, faremos assim. Mas você ainda está sob a vigilância de Gregory, e não arranjará mais problemas com meus homens. – então fez um gesto para o meu vigia e me dispensou com um aceno.

Ao sairmos da sala, soltei o ar, aliviada, enquanto Gregory ria consigo mesmo.

— Deve ter achado muito engraçado, não é mesmo?!

— Bom, foi corajoso. Mas vindo de uma garota como você, bem...foi engraçado sim! – ele disse e continuou rindo.

Bufei e comecei a marchar para fora do navio, mas Gregory puxou meu braço com força, recuperando a expressão séria de sempre.

— Você ouviu o capitão. Estou livre agora.

— Sim, sim. Mas tem outra questão em jogo. Você colocou o vestido que eu lhe dei.

— Vesti. Onde o arranjou?

— Com uma das “amigas” do capitão. Elas sempre deixam alguns pertences aqui durante as visitas.

— Ah. – exclamei, entendendo o que ele queria dizer.

— Mas então, iremos passar por uma área com certo movimento de navios. E se algum de seus tripulantes te reconhecer, bem....teremos um problema.

— E....

— E que você precisa se disfarçar.

Fiz uma cara de ponto de interrogação, mas logo entendi. O vestido...As “amigas”.... Eu teria de me passar por prostituta.

— Não, obrigada.

— Então terá de ficar trancada no porão por um tempo.

Eu bufei e revirei os olhos.

— Que seja! Me mostre logo onde vou me instalar e eu banco a prostituta por um tempo.

Ele me levou por um corredor estreito e descemos uma escada, para o andar dos quartos. Era menos luxuoso, mas tinha cara de um lugar onde as pessoas podiam morar. Andamos até a terceira porta do corredor, a qual ele abriu para mim eme deu passagem.

Era um quarto pequeno. Mas era um quarto. Um quarto bem empoeirado, por sinal. Tinha uma cama pequena, uma cortina vermelha velha e papel de parede brega e gasto. Um jogo de uma mesa e cadeira de carvalho pousavam num canto. Sem utilidade aparente. E uma estante de madeira praticamente vazia ocupava uma das paredes. Na parede em frente à cama, havia um espelho grande e manchado é um baú entalhado, onde caberia até uma pessoa como Rupert. Ou seria Betrus?

— Hum, Gregory... – eu comecei a dizer, mas quando me virei dei de cara com ele desabotoando os botões de meu manto e esticando-o num cabideiro quebrado em um dia cantos, superei o susto e continuei – você poderia me fazer um favor? Não sei quem é quem por aqui e não sei onde são as coisas....Se você pudesse me mostrar....

— está achando que isso é uma colônia de férias? Onde vai fazer amigos e desfrutar o clima oceanico? Longe disso, garota, lembre- se de onde está!

— E eu poderia esquecer?! – ele dispensou meu comentário com um aceno.

— Agora vamos, arrume-se um pouco e eu vou pensar no seu caso. – ele disse, mandão como sempre, mas dessa vez tinha um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

Gregory me deixou sozinha e eu fui me aprontar. Ajeitei o vestido apertado que mostrava demais; abri o baú e encontrei alguns pertences femininos. Uma escova e um estojo de tinta para os olhos e batom. Não sabia se aquilo era mesmo necessário, mas na dúvida, passei a tinta  os cílios é um batom rosa nos lábios. Escovei os cabelos, que agora estavam armados e acobreados pela luz do dia. Prendi-os numa trança e estava pronta.

Enrolei para sair do quarto pois não achava que ia encontrar nada de amigável lá fora, então aproveitei para explorar. Achei um livro de mitologia e um mapa antigo e amarelado. Binóculos, velas, fitas e até um frasco de perfume meio vazio preenchiam o espaço da prateleira, entre teias de aranha e gravuras. Aquele lugar era bem antigo e não via a luz do sol há algum tempo também. Aumentei a frestinha da cortina que deixava a luz entrar, escancarando o tecido pesado e grosso. A janela não era muito grande e tinha os vidros embaçados, mas já estava de ótimo tamanho. Quando já tinha observado tudo, sai porta a fora para conhecer mais daquele lugar e dos piratas amigáveis que lá viviam.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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