As ruivas são mais quentes escrita por vênus
Notas iniciais do capítulo
Oiiii, como vocês estão? Estou tão feliz porque recebi um comentário no Previw ONTEM, e ok eu sei que eu sou muito tolinha mas mesmo assim não deixo de estar muito feliz por isso. ♥
Sem saudade, sem apego e sem melancolia. A ordem é desocupar lugares e filtrar emoções.
Quem me visse naquele momento acharia que eu estava apenas irritada com a pressão da mudança, mas na verdade era algo a mais do que isso; já devia ser a quarta, senão a quinta, vez que meus pais e eu arrumávamos as malas e zarpávamos para um outro país – e tudo isso em um período aproximado de sete longos anos desde que eu dei início a minha vida escolar. Começamos na Inglaterra direto para o Quebec, no Canadá, depois fomos passar um tempinho na Bulgária, demos a volta para a Nova Zelândia, onde eu devo acrescentar que valeu muito a pena gastar quase quinhentos galeões para visitar a vila dos Hobbits e ter um acesso exclusivo as criaturas mágicas escondidas lá, e viemos parar um ano depois em um velho bar no coração da Inglaterra.
Já foram tantas as vezes que eu me acostumei e tive que desacostumar com um local que eu simplesmente comecei a aceitar que talvez eu nunca chegasse a chamar um lugar de lar, ou que talvez eu nunca tivesse amigos verdadeiramente para chamar de meus, e na mais triste das certezas, um namorado – mesmo que eu tivesse um ou dois casinhos aqui e ali – como qualquer garota normal de dezessete anos.
Se bem que eu nunca fui uma garota normal e duvidava muito que um dia fosse atingir tal normalidade.
Vamos aos porquês: em primeiro, o meu nome. Quem em sã consciência coloca o nome da filha de Memphis, e se coloca por que você quer fazer essa coitada sofrer? E principalmente, quem diabos se chama Memphis? Devemos ressaltar em segundo lugar o fato deu ser bruxa, assim como todos os outros da minha família. Agora me digam que pessoa pode ser considerada normal e bruxa ao mesmo tempo? Isso mesmo, nenhuma. E em último lugar, mas não menos importante, a minha aparência singular. Diferente de todo o resto da minha família, eu sou a única ruiva a gerações. Sou dona de uma cabeleira ruiva e de olhos tão verdes que minha mãe me apelidara de “a garota com esmeraldas no lugar dos olhos”, estranho eu sei.
Mas, o que ser ruiva tem de anormal? Ah, nada demais, além dos meus pais terem cabelos tão ruivos quanto a pelagem de uma Pumaruna, ou Pantera Negra, como queiram chamar. Como eu já disse, eu sou a única ruiva da minha família a umas dez gerações atrás.
— De todos os lugares no mundo, por que aqui? – perguntei com uma careta, esquadrinhando centímetro por centímetro do hotel/bar que estávamos nos hospedamos.
Pelo que a placa enferrujada no lado externo do estabelecimento dizia, o hotel – bar se chamava Caldeirão Furado e parecia ter saído de uma reforma de anos. Era grande, mas tão acolhedor como a velha Dama de Ferro (se vocês são desinformados em história, isso já não é problema meu) – era frio, escuro e tinha uma clientela um tanto suspeita.
— Acredite, querida, já foi pior – mamãe riu, dando uma tapinha de incentivo nas minhas costas.
— Isso era o quê? Um mausoléu? – virei – me para encara – la.
Minha mãe era uma mulher e tanto para a idade dela, não que ela fosse velha, mas com certeza parecia ter doze anos a menos do que realmente tinha. Ela era linda, na mais rasa das descrições; tinha cabelos platinados até a cintura, um sorriso meigo e olhos âmbar que transmitiam uma paz absurda. A cicatriz acima de sua sobrancelha esquerda ainda lhe dava um charme especial.
— Anna e Neville melhoraram muito esse lugar – papai acenou a cabeça em concordância.
O total oposto da minha mãe, que era pequena e magricela, meu pai parecia mais com um lutador de MMA arrogante do que com o dócil magizoologista que ele era; alto e corpulento, cabelos negros e longos geralmente amarrados em um rabo de cavalo, olhos azuis celestiais além das várias cicatrizes cobertas por tatuagens e das queimaduras da época em que ele cismou que criar um explosivim seria divertido – só não sei para quem.
— Não se preocupe, são só alguns dias até nos estabelecermos em uma casa. Além disso vamos visitar sua avó e um conhecido – meu pai explicou quando nos aproximamos do balcão.
Um jovem esguio, de cabelos castanhos escuros e feições gentis se aproximou, e com um simples aceno de varinhas, as pesadas cortinas do bar se abriram iluminando bem mais o local com a luz natural da lua, e dos lampiões que iluminavam a ruela ao lado. Admito que eu quase voltei atrás com o que eu disse antes, depois de ver que o bar era quase todo decorado com vasinhos de plantas exóticas. Como eu disse, quase.
— Boa noite – disse nervoso, provavelmente intimidado com a aparência do meu pai – O que desejam?
— Dois quartos, por favor – meu pai pediu em um tom dócil, o que pareceu acalmar o menino.
— E por que viemos para cá mesmo? – perguntei após um bocejo.
— O Ministério da Magia precisa de magizoologistas com muitos anos de prática para trabalhar na sessão de Controle de Criaturas Mágicas – mamãe começou explicando, enquanto papai pegava as malas – e o Sr. Scamandder nos indicou por nos achar capacitados o bastante.
— E por nos conhecer a anos, claro – papai completou com um sorriso descarado, que fez mamãe rir.
Meus pais eram naturais da Inglaterra, e pelo que me contaram, se graduaram dois anos depois do fim da Segunda Guerra Bruxa e anos depois, por volta de agosto de 2004, eles me tiveram. Anos depois, quando eu tinha por volta dos cinco anos de idade e já sabia o suficiente para enlouquece – los, começaram a viajar pelo mundo atrás de aprimorar seus conhecimentos em criaturas mágicas; eles eram magizoologistas, e decorrente disso acabaram adotando diversas espécies diferentes para criação. Eu, particularmente, os achava geniais.
O que minha avó chamava de loucura, eles chamavam de Abraço, uma quimera de duas cabeças com problema de rinite.
— Eu sei que está aborrecida – mamãe me abraçou pelos ombros, me encarando com seu olhar terno – mas prometa que tentara ok?
Pensei em retrucar, dizer que preferia estar na Nova Zelândia com os meus amigos e o cara que eu gostava em um barzinho qualquer e rindo, e não ali sem saber exatamente o que me aguardava nos meses que se seguiam, mas ao ver que ela me fitava com aqueles olhos âmbar, acabei me dando por vencida:
— Eu vou tentar, prometa – suspirei melancolicamente – Mas é difícil, mãe.
— Eu sei, meu bebê – por favor, finjam que ela não me chamou de meu bebê – é só um ano, e se quiser voltar para a Nova Zelândia depois da formatura eu não vejo motivos para não deixar.
— E os planos de vocês? Vão se estabelecer aqui ou vão para o Japão, sei lá? – perguntei com ar da dúvida. Mamãe resmungou, papai riu.
— Japão me parece meio radical – respondeu meu pai, com um sorrisinho.
— Papai, nós já fomos para o Quebec – arqueei uma sobrancelha para ele – tem certeza que o Japão é radical?
— É, a pirralha está certa – mamãe sacudiu os ombros – vamos nos instalar, e amanhã de manhã vamos comprar os materiais dessa mocinha.
Papai me estendeu a chave, que eu fiz questão de apanhar com o maior prazer da minha vida. Um tempinho a sós comigo mesma era a única coisa que eu precisava naquele momento para refletir. Meu quarto era o último no terceiro andar, bem ao lado de um janelão que tinha uma vista incrível para uma rua na diagonal com diversas lojinhas de vitrines coloridas e animadas, e com um feitiço silenciador, nada no mundo poderia me perturbar naquele momento. Minhas malas já estavam encostadas a um canto, perto de um móvel de madeira. Retirei os tênis, as meias, e me enfiei dentro do banheiro – que era bem mais limpo e menos empoeirado do que o resto do quarto. Encarei meu reflexo no espelho, e com um suspiro comecei a retirar minha maquiagem.
Mudanças nunca foram minha praia, por mais que eu fosse obrigada a viver delas. Sempre parecia que quanto mais apegada eu ficava a um local, as pessoas que viviam nele, mas o risco de mudança era proveniente. E acontecia, sempre acontecia. O último lugar que eu realmente me afeiçoei foi a Nova Zelândia, porque foi o primeiro país em que eu tive realmente tempo de conviver com as pessoas sem ter que passar de cidade em cidade atrás das criaturas de estudo dos meus pais – não que eu reclamasse de viajar, porque eu adoro – mas era meio cansativo ter que me acostumar com as pessoas e depois dá as costas para elas e sair sabendo que nunca mais as veria de novo. Fiz amigos realmente bons na Nova Zelândia, como a Amélia e o Philippe, e cheguei até a me apaixonar por um cara da minha antiga escola, o Devon. Chegamos a namorar por um tempo, mas quando comecei a perceber o afastamento dos meus pais das tarefas domesticas e de mim, tratei logo de terminar porque eu sabia o que aconteceria em seguida.
O que sempre acontecia.
Respirei fundo. Soltei meus cabelos, deixando a juba ruiva se espalhar como quisesse, retirei o restante das minhas roupas e as substitui por um pijama leve. Escovei os dentes, e deitei com o intuito de dormir. Mas, sabe quando sua cabeça fica tão sobrecarregada de coisas que a última coisa que você consegue é dormir? Era exatamente assim que eu me sentia.
— Amanhã é um novo dia, Memphis – murmurei para mim mesma, tentando em vão, dormir.
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