Protection escrita por Mab


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, cara de boi. Voltei mais uma vez, novamente haha
Cheguei na data combinada, mesmo com o cap. 2 sendo uma surpresinha kkkk
E sim, senhores. Essa capítulo está ENORME, com quase o dobro de tamanho dos outros!
Mas acho que não está cansativo e não haverão grandes problemas em lê-lo.
Espero que vocês tenham uma boa leitura!!



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Shikamaru

Quando o sol terminava de espreguiçar seus raios dourados, nossa barraca já estava desmontada e nossa fogueira camuflada. Tínhamos comido uma barra de cereais que substituiu o café da manhã em silêncio e começado a trilhar os primeiros metros do dia. Temari estava terrível. Com certeza não ousaria dizer isso a ela, mas a Mandona realmente havia passado a noite toda em claro, mesmo quando aceitou me ceder metade do seu turno de guarda para que ela pudesse tentar descansar mais, tendo em vista que no meu turno ela também não havia conseguido pregar os olhos. Ela trilhava alguns metros com os olhos semicerrados, como se fosse desmaiar de sono a qualquer instante e, ao mesmo tempo, ela se recusava a entregar a ele. Estava procurando com os olhos algo na estrada que pudesse parecer suspeito.

—Tem certeza que não quer tentar dormir por uns 10 minutos, pelo menos? – Perguntei prevendo seu olhar desprezível.

—Tudo bem, eu preciso. – Mal terminou de dizer a frase e já procurou uma árvore para se apoiar.

Temari dobrou os joelhos e apoiou os braços sobre eles, posicionando a testa sobre os braços cruzados. Tenho certeza que ela apagou instantaneamente, parecia esgotada. Me sentei sobre uma pedra próxima a ela e massageei as têmporas com as pontas dos dedos. Precisava verificar o que tínhamos planejado e tentar calcular quanto essa letargia de Temari nos atrasaria. Por sorte, se ela dormisse por uns 15 minutos, se sentiria mais vitalizada e isso compensaria até chegarmos ao porto. Deixei-a descansar um pouco enquanto observava as poucas nuvens que cortavam o céu.

Quando notei que já havíamos perdido tempo o suficiente, caminhei até ela para acordá-la. Demorou alguns segundos para que ela entendesse o que estava acontecendo e logo me encarou perdida, piscando os olhos freneticamente.

—Vamos, dorminhoca. Ou iremos perder nosso barco. – Dei um curto sorriso e ela se levantou num pulo, fechando completamente sua expressão.

—Eu não estava dormindo! – Passou a mão na parte de trás do vestido para limpá-lo das folhas que poderiam ter grudado. Ajeitou o leque enorme as suas costas e suspirou pesadamente.

—Não se preocupe, Temari. Você realmente precisava dormir. – Eu sorri outra vez e peguei a mochila no chão – Agora precisamos ir.

—Isso não vai se repetir. – Ela evitou me olhar nos olhos e retomou o caminho enquanto se espreguiçava.

Revirei os olhos atrás dela e balancei a cabeça. Temari é orgulhosa demais para assumir qualquer fraqueza e isso aumentava consideravelmente minha preocupação em relação a ela. Não é que a voz dela tenha soado como um pedido de desculpas, mas dizer que sua atitude não iria se repetir era cruel. Afinal, qual era o crime em dormir? Suspirei pesadamente. Por favor, me diga que a Mandona não tenha achado que eu estava a repreendendo. Porque se ela tiver o feito, estou perdido.

Novamente o caminho foi silencioso e hoje o silêncio estava desagradável. O mau humor estava palpável no ambiente que cercava a Sabaku. Tenho certeza que parte dessa irritação é pela privação de sono e tenho suspeitas fortes quanto a outra metade. Provavelmente é porque ela acha que a repreendi por dormir durante a jornada. O que não era verdade. Eu reconhecia que ela havia passado boa parte, senão a noite toda, sem dormir e que isso seria cobrado pelo seu organismo mais cedo ou mais tarde.

Não nos tomou muito tempo até que Temari começasse a cerrar os olhos lentamente outra vez. Mesmo que já tivéssemos percorrido uma distância considerável em pouco tempo, não seria possível nos dar ao luxo de fazer outra pausa para a soneca real da Mandona do Deserto e ela parecia saber disso, porque chacoalhava a cabeça o tempo todo numa tentativa vaga de despertar.

Estava perdido em pensamentos, procurando uma solução para aquela situação quando notei algo se mexendo na moita ao lado direito, mas não parecia um animal. Observei em volta e vi reflexos no ar. Eram fios de chakra. Droga. Era uma armadilha.

—Temari... – A chamei com a voz baixa.

—O que foi agora, Nara?! – Ela se virou em minha direção com a cara feia.

—Estamos em uma emboscada. – Contei a ela enquanto olhava em volta, esperando por algum movimento.

—Ah, é mesmo? Não me diga que notou isso agora. – Ela cruzou os braços e estava batendo o pé no chão – Sinto muito em não ter avisado antes que também achei uma “bela” emboscada os Kages nos mandarem juntos. – Ela fez aspas no ar e enfatizou sua fala.

A irritação havia afastado um pouco o estado de sonambulismo dela, mas a letargia estava presente no ritmo de Temari hoje. Ela não notou um shinobi se aproximar por trás dela e continuou me encarando com as sobrancelhas unidas e a testa franzida. As coisas aconteceram numa velocidade considerável e eu comecei a fazer os selos como reflexo.

—Kagemane no Jutsu. – Fiquei parado enquanto movimentava os olhos, esperando alguma outra surpresa.

—Shikamaru! Por que me prendeu? – Temari estava me olhando com os olhos fuzilantes e arregalados.

—Mas eu não te prendi. – Respondi fazendo que ela observasse a sombra no chão e a seguisse com os olhos atrás de si.

—Essa não. – Ela deu um passo para trás enquanto observava um ninja empunhando uma espada no alto, como se quisesse partir Temari ao meio – Mas que droga.... – Então ela deu passos rápidos e se posicionou ao meu lado – Como eu não o vi?

—Você estava ocupada demais ficando brava comigo. – Respondi rapidamente fazendo-a olhar torto para mim.

Eu havia prendido o ninja e salvado a vida dela, mas não tinha a menor ideia do que fazer agora. Também não conseguia elaborar plano nenhum porque estava com medo de Temari cometer alguma loucura. Não sei o que a deixou tão esquisita assim a ponto de fazê-la perder o sono, mas isso não está sendo nada bom, ela está perdendo o foco.

Temari

Ok, talvez eu esteja alucinando agora, mas parece que Shikamaru acabou de salvar a minha vida enquanto eu criava inúmeras teorias sobre ele na minha cabeça e era tomada pela fadiga. Foco, Temari!

Senti um pouco da adrenalina que percorria dentro das minhas veias despertarem vários músculos do meu corpo. Meus olhos ainda estavam pesados, mas agora havia tensão demais para que eu os fechasse. Soltei o leque e me posicionei, abrindo-o atrás de mim. Respirei profundamente e sacodi o leque em direção àquele espadachim. Shikamaru o fez abrir a mão enquanto a rajada de vento levou sua espada para trás.

—Sempre tive curiosidade sobre essa técnica. – O ninja disse com um sorriso no rosto – Ouvi falar muito bem sobre os Nara, pelo jeito os boatos são verdadeiros.

—Quem é você? – Shikamaru estava com a voz firme.

—Sabe, eu sinto muito por ter interrompido vocês. Mas tive a impressão que estavam brigados, então pelo menos agora terão que lutar juntos. Acho que acabei ajudando vocês se reconciliarem. – Semicerrei os olhos e o encarei, o espadachim deu um sorriso debochado.

—Quem é você? – A voz de Shikamaru soou mais forte e ele repetiu pausadamente a pergunta.

—Isso não interessa. O que interessa é que vocês têm o pergaminho. E eu quero ele.

—Então você se enganou. Não temos o que você quer. – Shikamaru balançou os ombros e respirou fundo. Liberou o shinobi da sua técnica e, sem me olhar, ele brincou levemente com os próprios fios de cabelo, direcionando à mim o significado daquilo. Era um sinal.

—Ah. – O espadachim deu uma gargalhada maldosa e esticou a mão para trás, agarrando sua lâmina no ar, como se ela tivesse sido atraída – Claro que tem. E você acabou de cometer um grande erro. – Ele começou a correr em nossa direção.

Percebi que a situação havia se agravado e que eu deveria me mexer quando notei duas bombas de fumaças surgirem nas mãos de Shikamaru e logo colidirem com o solo, provocando uma névoa intensa e alta, que bloqueou nossa visibilidade. Apesar de já saber, senti uma movimentação ao meu lado, em direção à parte densa da floresta e tive certeza que o Nara fugiu. Por alguns instantes eu fiquei intacta, apenas observando o fato dele ter fugido e levou um pouco de tempo até que eu percebesse que deveria ter fugido também.

Droga, Temari!

A essa altura eu deveria estar na frente do Nara, correndo a velocidades altas e torcendo para não sermos perseguidos. Também estaríamos elaborando um plano em voz alta para caso a fuga fracassasse. Mas eu havia continuado parada no mesmo lugar.

O instinto de sobrevivência ativou o piloto automático, que me fez decidir que já que continuava ali era melhor conseguir enxergar algo. Agitei o leque com força e a rajada de vento inicial amenizou a névoa densa, notei que o espadachim estava sendo arrastado para trás mesmo com os braços cruzados na frente do rosto. Balancei minha arma mais uma vez, produzindo uma rajada mais forte, tentando mantê-lo ocupado por um tempo. Aproveitei a brecha e recuei um pouco, me preparando para executar um jutsu. Mas antes de eu pensar em fazer qualquer movimento eu senti a lâmina gelada contra meu pescoço e logo um braço me envolveu, apertando-me.

—Muito boa sua técnica também, mas vamos ao que interessa. Não gosto de enrolações. Onde está o pergaminho? – O ninja apareceu atrás de mim e falou com impaciência. 

—Não... Sei... – Falei com dificuldade e tentei usar o leque, mas o espadachim me apertou mais, impossibilitando qualquer movimento. Senti uma leve ardência no meu pescoço e a espada estava muito mais apertada também.

—Talvez você não esteja me compreendendo. – Ele riu, sarcástico – Eu quero o pergaminho. Se eu não o conseguir com você, irei te matar e logo irei atrás do seu namorado.

O corpo daquele shinobi às minhas costas me trouxe sensações ruins. Eu me senti sufocada e eu só queria que ele se afastasse. Minhas forças se esvaíram e eu não consegui ter reação nenhuma. Sentia a sua respiração muito próxima à minha nuca, fazendo com que me sentisse vulnerável, assim como Hideo fazia. O movimento que o corpo dele produzia durante a respiração estava refletido em meu próprio. Aquela proximidade estava mais assustadora do que sua lâmina contra meu pescoço, tudo o que pude fazer para não me entregar às lágrimas de desespero foi fechar os olhos.

— Onde está?!

Cansado de esperar por alguma reação minha, ele esbravejou e eu desejei de imediato que sua espada rompesse logo a ligação que havia entre meu corpo e minha cabeça. Isso me livraria para sempre de Hideo e de seus tormentos. Pelo menos Shikamaru estará a salvo com o pergaminho e poderá concluir a missão.

—Solte ela. – Aquela voz familiar me obrigou a abrir os olhos. O alívio e a ira me preencheram simultaneamente.

—Não. – O espadachim riu – Onde está o pergaminho?

—Solte ela e te entrego o que você quer. – Shikamaru estava com aquela cara de preguiça, como se não estivesse disposto a enfrentar problema nenhum.

—Não... – Tentei contrariar, mas mal conseguia falar pois a espada se mexia na minha garganta.

—Eu sabia que a garota seria útil. Mostre-me o pergaminho. – O ninja parecia empolgado.

—Shika... Não... – Falei com dificuldade e o espadachim apertou a espada.

—Aqui está. – Shikamaru levantou a mão mostrando o pergaminho – Agora solte-a.

—Se aproxime. – O espadachim soltou o braço que me envolvia, mas a sua lâmina gelada ainda estava no meu pescoço – Se isso for alguma armadilha, juro que não terei pena nenhuma de arrancar fora a cabeça da sua namorada.

Shikamaru arqueou uma sobrancelha desconfiado e deu alguns passos para a frente. Eu juntei as sobrancelhas, franzindo o cenho. O que diabos ele pensa que está fazendo?

—Ótimo! Mas eu quero tudo. Toda a mochila.

Nara arregalou os olhos e o shinobi distanciou sua espada de mim, como se indicasse que tomaria impulso para me acertar. Shikamaru arremessou a mochila aos pés dele e o espadachim tirou a lâmina do meu pescoço no momento em que apanhou a mochila. Eu me distanciei dele e puxei o ar com toda minha força. Shikamaru se aproximou de mim, me puxando pelo braço obrigando-me a correr com ele para longe do shinobi. Quando garantimos uma distância segura, fizemos uma rápida parada e eu fui trazida de volta à realidade pela voz do Nara.

—Você está bem?

—Como você pode fazer isso?! Idiota! A missão era nossa prioridade! Eu não faria diferença alguma se você concluísse a missão. – Cerrei os punhos me segurando para não o acertar com um soco.

—Jamais repita isso. – Os olhos de Shikamaru se endureceram – Ele te mataria. E eu não vou deixar nenhum companheiro para trás.

—Você deveria ter me deixado! – Senti meus olhos marejarem mais uma vez por causa da resposta dele – Do que adianta eu estar viva e a missão ter fracassado?

—Problemática. – Ele coçou a cabeça e soltou um suspiro longo. Me encarou fixamente por alguns segundos e apontou em direção ao meu pescoço – Você está sangrando, me deixe te ajudar.

Toquei meu pescoço e senti o corte superficial provocado pela espada. Procurei uma pedra e me sentei sobre ela enquanto o mestre das sombras retirou um pequeno curativo da bolsa que ficava presa à sua perna.

—O pergaminho está comigo. – Ele avisou, atento ao trabalho que fazia com o curativo. Soltei os ombros junto à um suspiro.

—Achei que o sinal tinha sido para fugir.

—E foi. Você sabe que eu evito ao máximo qualquer esforço.

—E o pergaminho que entregou?

—Era uma receita de bolo. – Ele se levantou e sorriu - Não acha que sai de casa sem nenhuma estratégia, não é?

—Eu achei, sim... – Lancei um sorriso sem graça.

—Vamos, precisamos chegar ao porto. – Nara estendeu a mão e me ajudou a ficar em pé. Ajustei o leque nas minhas costas e caminhei ao lado dele.

Não trocamos mais nenhuma palavra depois disso, o silêncio não me incomodava, mas logo os flashbacks daquela luta estúpida começaram a me perturbar. Se não fosse pela inteligência do Nara, eu poderia estar morta. Ele não venceria facilmente aquele shinobi em um combate físico.

—Obrigada. – Deixei escapar dos meus lábios um murmúrio baixo.

—O que está havendo com você, mulher? – Ele me olhou com curiosidade e eu devolvi um olhar confuso – Te deixei sozinha por pouco menos de dois minutos e ele conseguiu te surpreender? Você nunca está com a guarda baixa. Sem dizer que era evidente que não estava planejando uma fuga, estava apenas aceitando a situação.

Meus passos cessaram instantaneamente. Àquelas palavras acertaram-me como um tapa. Ele tinha razão. A voz de Shikamaru ecoava pela minha cabeça e agora eu via a luta com outros olhos. Idiota. Eu fui idiota! Como não pude perceber? Como não pude prever seus golpes, seus interesses? Eu teria conseguido me esquivar dele facilmente se ao menos tivesse tentado. Mas eu apenas aceitei a situação.

Hideo.

Houve uma explosão de lembranças naquele instante. Aquela frase se encaixava perfeitamente em todas as situações que eu vivi nos últimos tempos. Eu estava aceitando a situação, eu já não tentava mais lutar, eu apenas...

Apenas engoli o choro que ousava se formar e endireitei os ombros. Shikamaru murmurou um pedido de desculpas ao meu lado e eu voltei a caminhar. Inspirei profundamente o ar tentando afastar os pensamentos. A partir daí mentalizei todas as situações que presenciei que não me agradavam e eu me achava fraca demais para lutar. Percebi que eu sequer havia tentado e se em algum momento eu tivesse desejado, talvez eu pudesse dar um fim nisso tudo.

Pensar e recordar de Hideo é sempre delicado. Quando está afastado, eu me sinto forte, mas quando sua presença se manifesta, é como se sua aura sugasse toda a minha coragem. Eu havia percebido isso no início, quando tentei me livrar dele. Entretanto, depois disso, eu havia desistido de tentar. Agora cheguei a uma conclusão: não vou deixar de lutar.

Shikamaru

Depois do encontro com aquele shinobi, Temari pareceu voltar para sua concha protetora. Um longo período de caminhada nos obrigou a parar para repor as energias. Não tivemos nenhum outro impedimento, mas ela havia emudecido. Sua feição estava diferente e ela sequer me lembrava a Temari que conheço. A sonolência ainda estava com ela, mas não era isso que a impedia de falar. Talvez eu tenha ficado um bom tempo a observando, porque ela me lançou um olhar pouco amigável.

 -O que foi, Nara?

 -Não quer me dizer o que está te deixando assim? – Sustentei o olhar dela. Com certeza havia algo ali e ela tentava esconder.

—O que você quer dizer com isso?

—Por onde eu começo? – Suspirei e uni as pontas dos dedos – Você está estranha, Temari. Tenho certeza que algo aconteceu.

—Quer implicar comigo no meio da nossa missão? Eu não estou estranha, Shikamaru! – A voz agressiva dela indicava o inverso. Se Temari estivesse bem ela usaria sarcasmo. Era como se as sombras de sua voz implorassem por ajuda.

—Não estou implicando, mulher. Não faz o seu jeito passar a noite em claro sem motivos, muito menos quando isso te atrapalha durante uma batalha. – Ela murmurou algo e desviou o olhar – Além disso, você sempre está falando pelos cotovelos e dessa vez quase não pronunciou nada.

 -Vários motivos podem levar a isso, não concorda? – Arqueou suas sobrancelhas de modo desafiador.

 -Sei bem quais motivos está tentando usar como desculpa. – Suspirei – E já os descartei logo no começo dessa missão.

 -Não procure problemas onde não há, Nara.

 -Você sabe que é exatamente isso que eu evito.

 -Deixe de ser resmungão, Shikamaru! Eu estou bem! – A voz áspera de Temari foi acompanhada de um olhar duro e opaco.

—Não está. – A encarei fixamente – Você pode contar comigo, mulher. Desabafar não significa que você seja fraca.

—Não me compare a você, bebê chorão. – Então a Mandona arrumou sua postura e terminou de comer antes de se levantar. Ela não me dirigia mais um olhar duro, agora havia dúvidas dentro do par de íris verdes – Levante-se ou vamos nos atrasar.

—Problemática. – Suspirei mais uma vez e a vi fechar os olhos levemente enquanto um esboço de sorriso se formava nos seus lábios. Entretanto o sorriso não saiu e nós continuamos nossa jornada até o porto em silêncio.

Temari

A jornada até o porto levou grande parte da tarde. O barco comercial estava com quase todos os aposentos lotados e Shikamaru e eu concordamos em dividir o último, afinal, havíamos chegado poucos minutos antes da partida.

Suspirei internamente tentando afastar meus pensamentos. Tinha tanta coisa para processar que assim que entramos no aposento me deitei. Shikamaru me lançou um olhar desconfiado e eu não havia me tocado que isso era um comportamento suspeito. Depois do encontro com o espadachim à tarde muitas coisas começaram a borbulhar na minha cabeça.  Mais do que já estavam antes.

—Antes que você desmaie, queira fazer o favor de se sentar para eu trocar seu curativo. – Ele me pediu enquanto pegava outro curativo. Toquei meu pescoço procurando o curativo inicial que estava ali. O turbilhão da minha cabeça me fez esquecer muitas coisas, inclusive aquilo. Eu me sentei rapidamente e fiquei tonta, fechei os olhos para me estabilizar e logo a mão de Shikamaru removia o primeiro esparadrapo – Ainda não terminei, dorminhoca.

—Idiota. – Resmunguei e ele sorriu.

A troca foi silenciosa. O toque dele era gentil e fazia tudo com cuidado enquanto eu observava as coisas naquele cômodo pequeno. O balanço do barco não era comum para mim e eu temia que isso me afetasse mais. Shikamaru terminou seu trabalho e se pôs de pé, me avisou que iria pegar algo para comer e se ofereceu para trazer até mim. Eu assenti e ele logo deixou o quarto.

Soltei o suspiro mais pesado da minha vida. Ele estava preso na minha garganta desde que começamos essa missão. Me deitei lentamente e o silêncio do ambiente despertou a minha insanidade mental. Tentei observar a lua pela pequena janela do aposento, a essa altura ela estava brilhando no céu há algumas horas. Não adiantou nada. A minha mente não parou.

Shikamaru era definitivamente o que predominava aqui dentro. Cada detalhe dos gestos que ele fazia durante a missão me levantavam suspeitas quanto a finalidade. Ele não me deixaria para trás. Ele notou que eu sequer pensei em reagir. Eu sabia que o Nara era analítico, mas ele pontuou tudo que eu tentava controlar, como se me mostrasse o quanto fracassei em esconder algo dele. Ele sabia que não tinha nada certo acontecendo na minha vida. E eu sabia que precisava de ajuda. Talvez seja a hora, talvez eu precise dele.

Mas o que ele faria? Hideo era tão assustador. Ele nocautearia Shikamaru tão facilmente quanto me assombrava. E se Shikamaru tentasse fazer algo e Hideo ficasse mais bravo? Ele iria passar a me bater todos os dias! E se eu contasse e Shikamaru não fizesse nada? Eu teria me humilhado em vão.

Meus olhos marejaram. Eu fracassei tanto! Como me permiti chegar a esse ponto de não conseguir me comunicar? Tudo à minha volta era suspeito, eu estava sempre esperando que Hideo chegasse para me tirar a paz, para me torturar com palavras e seus punhos. Eu estava tão fraca. Eu sou uma vergonha.

Apertei os olhos com força para não chorar. Suspirei fundo engolindo o choro e Shikamaru voltou ao quarto. Tenho certeza que ele notou minha expressão deprimente porque ele logo me olhou com indagação, entretanto não fez nenhuma pergunta. Deixou ao lado do meu colchão uma embalagem e hashi e se sentou sobre o seu colchão, comendo em silêncio. Quando consegui conter as lágrimas também me sentei e respirei profundamente. Comecei a comer e fiz algumas perguntas sobre os demais passageiros, tentando voltar à normalidade. Eu não podia deixa-lo suspeitar de mais nada. Contudo, nada passava despercebido por ele. Shikamaru não tirava os olhos de mim, estudava cada movimento dos músculos do meu rosto, procurando por um vacilo para dizer que eu não estava bem.

Eu até acharia aquilo assustador se Shikamaru não me trouxesse tanto conforto. Quando ele estava perto de mim parecia que não existia mais nada no mundo, apenas sua preguiça e a minha vontade de insultá-lo. Quando cheguei a Konoha, ele foi capaz de me fazer esquecer o pesadelo que Hideo me trazia. Por causa das atitudes daquele Nara idiota foi que eu conseguir dormir verdadeiramente em meses. Ele se preocupou comigo de uma maneira que eu sei que estava o tirando da sua zona de conforto. Ele não faria isso se não se importasse. Eu sei disso.

Mesmo sendo assombrada ao passar pelos vilarejos, eu me sentia mais segura porque o Nara estava comigo. Aqui no barco, posso me sentir protegida porque ele está ao meu lado. Eu posso confiar nele, eu sei que posso. Então por que está sendo tão difícil aceitar isso?

—Acho melhor você dormir de verdade, Temari. – Ele me despertou dos pensamentos enquanto apanhava as embalagens para jogar fora – Parece estar dormindo sentada.

—Shikamaru... – Eu o chamei depois de alguns minutos de silêncio que fiz enquanto encarava fixamente a parede juntando forças para pedir ajuda. Ele me olhou preocupado, provavelmente percebendo como a minha voz havia soado melancólica e pesada – Podemos conversar?


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Notas finais do capítulo

Ufa! Que sofrimento pra chegar até aqui, hein?
Queria só dizer que foi bem pesado escrever isso e meus ajudantes que o digam! Capítulo estava escrito há séculos, mas toda hora a gente encontrava alguma coisa pra arrumar kk Mas no final, acho que valeu a pena, né? Espero que vocês estejam de acordo comigo kk
Não esqueçam de deixar suas opiniões, críticas e sugestões!
Vejo vocês em 15 dias!

Beijoss ♥