O horizonte não passava de uma miragem. Não mais se podiam ouvir conversas alegres ou suspiros profundos de romances efêmeros. Não mais se podia sentir a fluidez da passagem da vida. Havia apenas a luz, a sombra e o ruído do vento. O maldito ruído do vento.

E ela estava tão cansada... Fora deixada para trás, abandonada consigo mesma em um emaranhado de pensamentos que já não lhe pertenciam. A esperança finalmente se esvaíra.

No fundo do céu, a luz se punha vagarosa. Sempre tão vagarosa. Deixava o rastro de sua ida através da abertura pela qual o mundo entrava. Dia, noite, luz, sombra, dia, noite, luz, sombra, dia, noite, dia, noite, dia, noite... Contá-los passara a ser uma tarefa inútil.

Debruçou-se para encarar a quietude das compridas silhuetas de janelas escuras outra vez. A última vez. Não podia dizer se o chão existia, nunca conseguira enxergá-lo de tão alto.

Seus cabelos agora dançavam com a melodia que o vento impunha. Podia senti-la em seu rosto, em seus braços... Em suas veias, pulsavam trechos de um passado esquecido. Se não houvesse alguém para recordar, será que ele ainda existiria?

Quando finalmente seus pés alcançaram o vazio, já não importava mais.