Rubbergeddon escrita por Samuel Schiavoto


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

AAAAA olá, leitor!
Desejo a você, de coração, uma excelente leitura. Não se esqueça de deixar sua avaliação nos comentários: é muito importante!



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As pernas dos quatro membros da Estrela Vermelha já estavam fatigadas de tanto correr. Ao alcançarem um beco sem saída, a quase um quilômetro da mansão, decidiram que já era hora de parar para descansar um pouco.

Julie sentou-se no chão e abraçou os joelhos. Will, Dylan e Gabriel também se sentaram, à frente dela. Os quatro ofegavam pesadamente, lutando para recuperar o fôlego. Não poderiam ficar parados ali por muito tempo.

— Precisamos... de um lugar... para nos abrigar... temporariamente — disse Will, arfando, totalmente sem fôlego.

Dylan, que era o mais atlético dos quatro, já estava quase se recompondo.

— Eu conheço um lugar — disse ele, engolindo saliva. — Pode ser útil, porque eu conheço o dono do estabelecimento. Ele talvez possa nos ajudar a achar um abrigo.

— “Talvez” — resmungou Julie, afundando o rosto entre os joelhos.

— Esse lugar é um bar que eu costumava frequentar — explicou Dylan, já recuperado.

— Um bar? — disse Gabriel, erguendo as sobrancelhas, salivando com a vontade de beber.

— Eu conheço o dono desse bar — disse Dylan. — Ele sempre foi gente boa comigo e possui umas casas bem interessantes que servem de abrigo para fugitivos, principalmente. Ficam dentro dos muros menores ao sul do grande muro.

— Bom — falou Will, a respiração ainda entrecortada —, podemos dar uma olhada nesse bar.

Alguns minutos depois, quando todos estavam descansados e prontos para seguir em frente, Dylan guiou seu grupo até o não tão longínquo bar. Eles foram caminhando tranquilamente, embora um pouco apreensivos, e, dentro de trinta minutos, já estavam chegando ao destino.

O quarteto da Estrela Vermelha estava ao lado dos muros baixos que isolavam a zona sul de Wendlyn — a área mais rica da cidade, contendo as mais caras e luxuosas casas. Para entrar e sair da área, era necessário pagar um preço imposto pelos Kaiser, com a finalidade óbvia de enriquecê-los mais ainda.

— Nós não temos dinheiro — disse Will, enquanto passavam ao lado dos muros. — E a entrada não é para lá? — ele apontou para trás, porque eles haviam ultrapassado a entrada.

— O bar fica do lado de fora dos muros — disse Dylan, liderando o grupo. — Ali, olha ele lá. E, sobre o dinheiro, eu dou um jeito.

O pequeno bar se destacava por dois principais motivos: primeiramente porque era desagradavelmente feio e malcuidado, e segundamente porque era desagradavelmente feio e malcuidado na zona mais rica de Wendlyn, mesmo que fora dos muros. Diferentemente das casas luxuosas que já apareciam do lado de fora da zona sul, o bar era tão repulsivo, hediondo e vil que parecia ter sido posto ali por acidente. A fachada já dizia tudo: a pintura descascada e gasta, as portas e paredes engorduradas e grudentas; três letras do letreiro estavam apagadas, e as restantes falhavam e piscavam com frequência.

Mas o que mais chamava a atenção — de forma negativa — era o cheiro fétido e desagradável de álcool e gordura que impregnava até o lado exterior do bar, causando uma intensa repulsa nos quatro membros do grupo rebelde, eliminando totalmente a vontade deles de entrar.

— Não podia ser um lugar mais cheirosinho, não? — reclamou Will, fechando as narinas com os dedos.

— Tem cheiro de morte, eu sei — admitiu Dylan, coçando a nuca. — Perdão. Mas é só respirarem pela boca que vocês ficarão bem. Não vamos demorar muito.

— Certo... — murmurou Julie, já respirando como o amigo a instruíra.

Então Dylan empurrou a porta rangente do bar. Se o cheiro do lado de fora já era repugnante, o do lado de dentro era insuportável.

Uma televisão na parede exibia um clipe musical de death metal com uma vocalista de longos cabelos azuis cantando com uma assustadora voz gutural; a música era audível por todo o pequeno estabelecimento. Homens desagradáveis estavam sentados às muitas mesas de plástico espalhadas pelo pequeno bar. E todos eles imediatamente passaram a encarar Julie, a jovem e atraente garota, enquanto ela passava.

Tudo estava bem, até que um homem agarrou o braço dela com sua mão peluda de dedos gordos.

— E aí, gatinha — disse ele, completamente embriagado, as bochechas coradas. — Quer uma bebida? Depois podemos sair para...

Julie puxou o braço com força e deu um tapa certeiro na bochecha redonda do homem.

— Porco nojento — rosnou ela, completamente enojada e impaciente. — Não ouse tocar em mim!

A jovem correu para perto de Will antes que algo pior acontecesse.

Dylan sentou-se numa banqueta e apoiou os cotovelos no balcão do bar. O barman, um homem velho, barbudo, careca e gordo, que estava limpando um copo encardido com um pano ainda mais encardido, encarou o rapaz com desprezo.

— E aí tudo bem? — cumprimentou Dylan, totalmente descontraído.

— O que você quer? — rosnou o barman.

Dylan inclinou o corpo para a frente.

— Será que você poderia me descolar um abrigo? — pediu, convencido de que sabia o que estava fazendo.

O barman cuspiu no chão e bateu o copo com força no balcão, então agarrou Dylan pela gola da camiseta, puxando-o para perto de si.

Não. Você me deve dinheiro. Muito dinheiro — esbravejou ele, sacudindo o rapaz que apenas sorria, completamente despreocupado.

— Calma, meu amor. — Dylan apontou para Will e Julie, atrás de si, dizendo, a seguir, uma desculpa há muito tempo utilizada por ele: — Tá vendo aqueles dois ali? Eles são pessoas procuradas. Valem muito dinheiro. Se eu entregar os dois para os Kaiser, posso te pagar — sussurrou.

— E se eu matar vocês? — O barman sacudiu ainda mais o garoto. — Dessa forma, vou ganhar a recompensa e nunca mais terei problemas com você! — Ele cuspiu a última palavra no rosto de Dylan.

— Essa seria uma atitude completamente cruel e desagradável — disse o rapaz, sem perder a calma. — Sem mencionar que assassinato é crime. Você seria preso e jamais conseguiria recompensa alguma.

O homem pareceu se conscientizar, porque, após pensar durante alguns segundos, ele largou a gola da camiseta de Dylan e voltou aos seus afazeres.

— Você é incrivelmente persuasivo, garoto — disse o barman, como sempre chamando Dylan de “garoto”, como se não o conhecesse.

Então, nesse momento, o velho homem virou-se para procurar uma bebida nas prateleiras atrás de si. Foi o tempo necessário para Dylan abrir a gaveta do caixa e pegar todas as notas de dinheiro que conseguiu, fechando a gaveta bem a tempo.

— Quer uma bebida? — resmungou o barman, enquanto pousava no balcão um copo cheio de cerveja que ele pegara para si mesmo.

— Aceito aquela famosa aguardente.

Assim que o homem voltou a virar-se para pegar a bebida de Dylan, o garoto tirou do bolso da camisa um frasco cheio de um pó peculiar. Então, imperceptivelmente, ele abriu a tampinha do frasco e derramou o conteúdo na cerveja do homem; o pó imediatamente se dissolveu no líquido amargo.

O barman voltou para o balcão e encheu um pequeno copo com uma dose da bebida requisitada por Dylan, que virou o conteúdo em um gole e fez uma careta ao estalar os dedos. O velhote pegou o seu copo de cerveja.

— Quer um gole? — ofereceu ele, estranhamente amigável.

— Não, obrigado. Estou bem com a minha companheira aqui. — Dylan deu um peteleco na garrafa.

O barman estalou a língua e entregou um jogo de chaves ao garoto.

— Você pode ficar com o abrigo de luxo, moleque. Mas não ouse quebrar nada.

Assim que Dylan desceu da banqueta para chamar seu grupo, se deparou com diversas cenas estranhas ao mesmo tempo.

Gabriel estava sentado a uma mesa, conversando com — paquerando — uma mulher loira enquanto bebia. Julie estava sorrindo ao ter os ombros gratuitamente massageados por uma mulher que ela provavelmente acabara de conhecer (na mesa, havia uma plaquinha com os dizeres “MASSAGEM GRÁTIS”), e Will — maldito Will — estava encolhido, protegendo o rosto com o braço, porque, aparentemente, havia provocado um homem descerebrado de quase dois metros de altura com bíceps grossos como pernis.

Dylan correu até o amigo em perigo.

— O que você fez? — questionou, preocupado.

— Nada! — exclamou Will com voz fina. —  Eu só disse o quanto o cabelo dele era estranho e incomum, mas ao mesmo tempo atraente!

Os cabelos do homem eram bem desagradáveis, pelo menos aos olhos de Dylan. Eram duros, como dreads, loiros e presos em um rabo de cavalo relativamente longo.  E ele ergueu o braço monstruoso para bater em Will, mas a briga não chegou a começar: o barman saíra de trás do balcão, furioso, segurando um grande cutelo de cortar carne.

— Ninguém vai tocar nesses quatro! — afirmou ele, fincando seu cutelo em uma mesa aleatória, quebrando-a ao meio. — Eles são meus co...

O barman parou de falar; parecia prestes a vomitar. Então, ele começou a cambalear pelo bar, tentando se apoiar em qualquer coisa, derrubando e quebrando copos sobre mesas de pessoas aleatórias, e, quando finalmente conseguiu ficar estável e olhou para Dylan, seus olhos se reviraram e ele caiu no chão, como se tivesse morrido.

Nem três segundos se passaram e o homem que Will supostamente provocara socou o rosto de outro homem completamente aleatório que estava ao seu lado, tranquilamente segurando uma garrafa de cerveja.

Então o caos se instaurou — coincidentemente no mesmo momento em que a música destruidora que tocava no rádio alcançou seu ápice.

Dezenas de homens levantaram de seus assentos e começaram a lutar entre si, sem motivo algum; alguns partiam para cima daquele que começara a briga, o homem loiro e desprovido de raciocínio. Gabriel, assustado, levantou-se da cadeira onde estava sem nem se despedir da mulher, e Julie, que já estava tirando a meia para receber uma massagem nos pés, olhou assustada para a algazarra que tão repentinamente se propagara pelo estabelecimento e rapidamente calçou seu tênis e se levantou também.

Dois homens cercaram Dylan, encarando-o com fogo nos olhos enquanto o garoto andava para trás. Então, ele sentiu uma mão tocar seu ombro, e, sem pensar, virou-se e deu uma cotovelada no nariz de quem quer que o tivesse tocado.

Mas era Gabriel.

— Droga, me desculpe! — disse Dylan, ajudando o amigo a se pôr de pé. — Fogo amigo.

Dylan correu e agarrou Julie pelo braço. Depois correu para segurar o braço de Will, que já dera a mão para Gabriel, e então puxou-os para trás do balcão.

— Para trás do balcão? — indagou Gabriel, abaixando-se para se esquivar de uma garrafa de vidro que passou voando por ele.

— Preciso pegar uma coisa antes de sairmos. Sei de uma saída pelos fundos — respondeu Dylan. Ele correu para a prateleira de bebidas e pegou uma garrafa de tequila, junto de um frasco contendo um misterioso e suspeito líquido laranja.

— O que é isso? — perguntou Julie, agachando-se para não ser atingida pelas latinhas de cerveja que passavam voando.

— Tequila — respondeu Dylan, pegando-os pelo braço e correndo até a porta dos fundos.

Mas não antes de olhar para trás e ver uma mulher muito suspeita. Magra, de cabelos e pele morenos, vestindo uma saia que só cobria uma de suas pernas, ela lançou um olhar mortal para Dylan antes de se levantar e sair tranquilamente pela porta da frente, sem interferir na confusão da briga coletiva de maneira alguma.

Dylan preferiu ignorar, e apenas levou os três para um local próximo. Eles sentaram-se na grama macia para descansar, próximos ao lado externo do muro da zona sul de Wendlyn.

— Will, você me deve uma massagem nos pés por ter me interrompido quando estava prestes a receber uma — resmungou Julie, certificando-se de não transparecer total seriedade ao falar.

— Posso pensar no assunto depois que você tomar um banho — retrucou o líder da Estrela Vermelha. Ambos riram, descontraidamente.

— Dylan, ainda não sabemos o que tem nesse frasco — disse Gabriel, tirando um caco de vidro dos cabelos.

— Ah. — Dylan tirou o frasco contendo um líquido laranja do bolso. — Isto foi um “presente” que meu velho amigo que nos forneceu abrigo me deu. Ele disse ser a toxina da borracha tóxica em sua forma líquida. — Ele encarava o frasco enquanto explicava. — Podemos usá-la como arma, fabricar mais ou até desenvolver um antídoto.

— Isso pode ser bom — disse Will. — E esse abrigo, é bom? Preciso tomar um banho — admitiu.

— É ótimo — afirmou Dylan. — É um abrigo de luxo que ele usava há muito tempo. Um lugar totalmente seguro. — Ele se levantou. — Vamos, precisamos continuar a caminhada. Estamos perto.

Eles deram a volta no muro até chegar no que parecia ser uma portaria. Dylan foi o primeiro a se adiantar e pagar uma quantia para a porteira, equivalente ao que os quatro teriam que pagar, e todos passaram pela catraca.

A zona sul era como diziam: luxuosa. Pelo menos se comparada ao resto da cidade. Era como um condomínio: as casas eram postas lado a lado, sem a interferência de estabelecimentos industriais, como mercados e afins. E foram necessários alguns minutos de caminhada sob o luar até que eles finalmente chegaram ao abrigo, na rua menos luxuosa da zona sul — afinal, era apenas uma rua de abrigos.

Era o primeiro local aparentemente seguro que os quatro já haviam encontrado até o momento. A fachada da casa era protegida por um grande portão de metal, e Dylan subiu a pequena rampa para destrancá-lo. Então eles entraram, sendo recebidos por um quintal à frente de uma garagem. Era um sobrado. Os quatro caminharam até a porta principal, e Dylan novamente usou uma das chaves para destrancar a porta.

A casa possuía uma atmosfera agradável, mas nada de tão luxuoso: somente uma grande televisão de tela plana, um computador e um grande sofá em formato de L, no qual Gabriel imediatamente se jogou e se acomodou para tirar um cochilo.

— Não tem nada de tão luxuoso aqui — comentou Julie, fechando e trancando a porta atrás de si. — Mas é bem confortável.

— É luxuoso para um abrigo — disse Dylan. — A maioria das pessoas ficam em casas pequenas, apertadas e feias quando tentam alugar um abrigo com aquele cara.

— Falando naquele cara — falou Will, imprevisível —, ele morreu?

— Ah. — Dylan novamente coçou a nuca, um tanto envergonhado, falhando ao conter o riso. — Eu coloquei um pó na cerveja dele. Era só para deixá-lo desnorteado, mas... — ele foi interrompido pelo ronco de Gabriel. — ...mas acho que usei o pó errado. Na verdade, acho que acabei usando cianureto de potássio.

Cianureto de potássio? — exclamou Will. — Não é aquele veneno que mata na hora?

— É, tipo isso.

— Você me assusta às vezes — murmurou Julie, e se dirigiu à cozinha.

— Vou tomar um banho, volto já — disse Will, e subiu as escadas para o banheiro.

 

— Eu não entendo a incapacidade esdrúxula desses homens imundos e inúteis! — berrou o líder dos Kaiser, sem paciência para sequer piscar.

Trevor sentia a inexplicável necessidade de chutar tudo o que via pela frente. Enfurecido, ele berrava qualquer coisa que lhe viesse à mente enquanto seus lacaios recolhiam os corpos dos soldados abatidos. Esbravejando e socando as paredes, ele tentava, sem sucesso, compreender a incompetência de seus soldados por mal conseguirem vigiar três míseras pessoas durante algumas horas.

— Acalme-se — sussurrou Angel, tentando amenizar o problema, mas não ousando tocar no irmão.

Acalme-se? — repetiu Trevor, a voz falhando. — Como eu poderia me acalmar? Três das pessoas mais importantes desta cidade estavam na palma de nossas mãos — ele cutucou a palma da mão de Angel com o dedo — e agora simplesmente fugiram. Nossa briga contra uma futura rebelião voltou à estaca zero!

Então, uma pobre e assustada empregada se aproximou do líder, vacilante. Ela estendeu um telefone para ele.

— Se-senhor? — gaguejou, com medo. — Tem alguém na linha querendo falar com o senhor... diz ser importante...

Trevor levou a mão à testa, respirando fundo, tentando se acalmar pelo menos um pouco.

— Certo — ele suspirou. — Dá aqui. — O líder pegou o telefone e encostou a saída de áudio na orelha. — Alô?

Era uma voz feminina.

Alô. É o Sr. Trevor?

— Correto.

Meu nome é Christine. Christine Abott. Eu estava em um bar próximo à zona sul de Wendlyn e avistei as quatro pessoas que eu sei fugiram de suas garras. — A mulher fez uma pausa. — Estou me oferecendo para caçá-los.

— Se oferecendo? — rosnou Trevor. — Quanto isso vai custar?

Depende.

— Depende do quê, mulher?

Depende da dificuldade para realizar a tarefa e do tempo que eu levar para realizá-la — respondeu Christine, um pouco convencida demais para o gosto do líder.

Trevor respirou fundo. Era arriscado, mas na atual situação de puro desespero pela qual os Kaiser passavam, qualquer ajuda era bem-vinda.

— Certo — respondeu ele, por fim. — Você terá a sua recompensa assim que bater na porta da minha mansão trazendo os quatro consigo. Vivos. Se falhar ou se matá-los, reze para que eu esteja de bom humor. Caso contrário, não vai ser só a sua recompensa que você vai perder.

Muito bem — disse Christine, indiferente. — Considere feito.

Ela desligou a ligação. Trevor entregou o telefone à empregada e saiu andando furioso pelos corredores da mansão, como se isso fosse apaziguar a raiva que dominava seu corpo e mente.

— Trevor!

Ele se virou ao ouvir a voz da irmã. Angel, acompanhada de Jake, veio correndo ao seu encontro; os dois pareciam estar estranhamente assustados, com medo de alguma coisa.

— Quê? — disse o líder.

Angel engoliu em seco, olhando para o amigo ao seu lado.

— O chefe quer nos ver — falou Jake, compreendendo a mensagem da mulher. — Agora.

Trevor arregalou os olhos, e seus aliados já sabiam o porquê. Era evidente — afinal, havia alguém superior ao líder dos Kaiser: o chefe do líder dos Kaiser. O único naquela maldita mansão que tinha poder sobre ele, que poderia até executá-lo, se quisesse. Então, amedrontados, os três se dirigiram à sala de Ratbag, e, hesitante, Trevor bateu à porta três vezes.

— Entrem — disse o chefe, de dentro da sala.

Trevor, Jake e Alice entraram na sala e fecharam a porta atrás de si. Eles se posicionaram em frente à escrivaninha de Ratbag, que, aparentemente, não estava nada calmo.

— Vocês devem imaginar por que eu os convoquei aqui — disse o chefe, lentamente —, não é, Trevor?

— Sim, eu imagino — respondeu o líder.

Imagina? — Então Dante Tacanna perdeu totalmente a paciência. Nem parecia ele mesmo. O chefe se levantou de sua poltrona e socou a mesa com uma força tremenda. — Você IMAGINA? VOCÊS TIVERAM A CHANCE DE MATAR AS TRÊS PESSOAS MAIS PERIGOSAS PARA NÓS, E NÃO NEGUE, ELES SÃO PERIGOSOS, E VOCÊS OS PERDERAM! VOCÊS SÃO MAIS INCOMPENTENTES DO QUE OS MEUS SOLDADOS! — berrou ele; Angel sentiu pena da garganta do chefe. — E você, Trevor, com suas listinhas de execução bestas, e sua incrível mania de tratar as coisas com seriedade, agora deixou escapar nossa chance de acabar com o possível início de uma rebelião. Você é uma decepção.

Mas Trevor também estava impaciente. Totalmente impaciente. E a raiva e a indignação que ele sentia, somada à sua crescente impaciência, deu-o coragem para fazer algo que ele nunca fizera, ou nunca mais ousaria fazer.

— Não está contente? — o líder estava retrucando; pela primeira vez em muito tempo, não estava simplesmente abaixando a cabeça como uma cadelinha submissa. — Então levante a bunda da cadeira e vá matá-los você mesmo!

Um perturbador silêncio pairou sobre o local enquanto líder e chefe se encaravam. Então, Ratbag deu um maldito sorriso de canto de boca e sentou-se na poltrona, com calma, lentamente.

— Você ousa — disse, girando a cadeira, ficando de costas para os três. — Vocês estão dispensados, e completamente fora de cogitação para capturar os três.

O quê?  — exclamou Jake, indignado.

— Hoje mais cedo, eu contratei uma velha conhecida de um dos três rebeldes. É uma das melhores mercenárias que eu conheço — explicou Ratbag —, e ela chegará em breve, substituindo vocês na caçada pelos três. Quatro. Aquele amiguinho deles que os ajudou a fugir também entrou na minha lista negra.

— Então qual será o nosso trabalho? — perguntou Angel, incrivelmente sendo a única que manteve a calma durante toda a discussão.

— O mesmo — rosnou Dante —, só que sem ir cidade afora e falhar em capturar os rebeldes. Agora, saiam. Estão dispensados.

Os três reverenciaram Ratbag levemente — Trevor com relutância — e se dirigiram à porta da sala do chefe. Angel e Jake saíram primeiro, e quando o líder movimentou o corpo para sair também, Ratbag o chamou.

— Ei, Trevor!

O líder respirou fundo e encarou Dante, que já estava de frente para a mesa novamente.

— Sim? — disse Trevor, baixinho.

— Ouse erguer o tom para falar comigo novamente e eu não hesitarem em puni-lo de forma mais agressiva. Fui claro?

— Sim, m-es-tre — rosnou Trevor lentamente, quase soletrando a última palavra.

Ele saiu da sala e se certificou de não bater a porta — não queria mais problemas com Ratbag. Então, o líder se dirigiu ao seu quarto.

Uma mercenária. Interessante.

 

 

A paz predominava a cozinha do abrigo de luxo enquanto os quatro rebeldes jantavam pacífica e silenciosamente. Julie e Dylan prepararam a comida: a casa estava abastecida com alimentos, bebidas e roupas.

Então, quebrando o silêncio, Will disse:

— Acho que não podemos descansar por muito tempo.

— O que quer dizer? — questionou Julie, fitando o amigo.

Will comeu um pedaço de carne.

— Estamos em uma situação crítica — respondeu, após engolir a comida. — Não podemos simplesmente relaxar agora.

— Eu concordo — disse Gabriel, pousando seus talheres sobre o prato vazio.

— Então sugere que façamos o quê? — indagou Dylan, erguendo as sobrancelhas.

— Sugiro que vamos atrás de pessoas — disse Will. — Pessoas que nos apoiem e que lutem ao nosso lado.

Dylan apertou os lábios.

— Sou obrigado a concordar — disse, enchendo seu copo de cerveja. — Mas como você pretende fazer isso?

Como? — Will parecia pensar que era algo óbvio. — Indo atrás de pessoas nesta cidade que estejam cansadas dessa maldita opressão. Cansadas de viver sob cores e bandeiras que as privam de liberdade. Que nos privam de liberdade.

— Acredito que possa dar certo — disse Gabriel enquanto se levantava da mesa.

Dylan respirou fundo.

— Você é muito ousado para uma pessoa de meio metro.

— Obrigado, eu acho — disse o líder do grupo.

— E quando pretende começar com isso? — questionou Julie outra vez.

— Não sei — Will suspirou —, talvez assim que nos recuperarmos.

— Certo.

— É bom que vocês saibam — continuou o líder — que a partir de agora talvez estejamos entrando em guerra. E é possível que não tenha mais volta.

— O que quer dizer? — perguntou Gabriel, lavando seu prato no outro lado da cozinha.

Will respirou fundo, esvaziando seu prato.

— A caça e a procura por nós vai se tornar mais intensa quando os Kaiser perceberem que a rebelião está crescendo — explicou Will. — Mas vai valer a pena. Não temos chance de acabar com eles sozinhos, de qualquer forma.

— Espero que saiba o que está fazendo — disse Dylan, esvaziando o conteúdo em seu copo e se juntando a Gabriel.

Will sorriu, olhando de relance para Julie.

— Eu não seria o líder deste grupo se não soubesse, não é?

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥



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