Rubbergeddon escrita por Samuel Schiavoto


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Boa leitura!



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UM DIA ANTES

 

 

Will tropeçou.

O garoto baixinho, magro, de cabelos castanhos de tamanho médio, quase foi de encontro ao chão quando seu pé bateu em um pedaço de tijolo solto. Correndo desembestado pelo corredor iluminado, segurando na mão direita uma pistola automática, ele deslizou no solo e se escondeu atrás de uma parede.

Ouvia, ao longe, os passos apressados dos capangas que corriam em sua direção. Invadira a base de Trevor. Péssimo erro, certamente, ainda porque Julie e Dylan, seus dois amigos que o acompanharam na invasão, foram capturados.

Will rapidamente tirou o pente da arma para checar a quantidade de balas que ainda lhe restava. Três. Não seria o suficiente, mas era melhor do que nada. Empurrou o pente de volta para dentro da arma, engatilhou-a e girou o corpo, apontando para os capangas que acabaram de se revelar no fundo do corredor.

Felizmente, Trevor era idiota o suficiente para obrigar todas as pessoas que trabalhavam com ele a usarem balas de borracha tóxica, porque tinha uma tremenda frescura e sentia nojo de sangue e sujeira. Will só tinha que proteger as partes do corpo onde sua pele estava exposta, ou seja, seu rosto e suas mãos.

Ele puxou o gatilho duas vezes. Apenas uma das balas atingiu o alvo, derrubando um dos soldados no chão. Acertou-o na cabeça.

Matei.

Tendo só uma bala restante, ele retomou sua corrida. Precisava escapar dali o mais rápido possível. Seu coração palpitava com intensidade e em alta velocidade dentro do seu peito.

Um frio repentino tomou conta do corpo do garoto quando ele sentiu uma mão agarrar seu ombro. Virou a cabeça tão rápido que seu pescoço estalou, e viu o soldado que o agarrara.

— Dá... um... tempo! — exclamou Will batendo com o cotovelo na têmpora do homem, que cambaleou para o lado. Will tirou o fuzil da mão do soldado e, sem pensar duas vezes, atirou na cabeça dele. Não podia desperdiçar as próprias balas. O projétil de borracha acertou a bochecha do homem e o matou imediatamente.

Guardando a pistola de qualquer jeito no bolso, o garoto jogou o cordão do fuzil em volta do pescoço a tempo de atirar no soldado que escapara de seu tiro mais cedo. Teve sorte de acertá-lo na testa.

Olhou para o fim do corredor. Uma porta de metal estava ali, trancada, com uma pequena grade no topo. Will sabia que as celas dos prisioneiros estavam atrás daquela porta.

Ele correu o mais rápido que pôde, ofegando; a porta estava cada vez mais perto, e seus passos cada vez mais rápidos... Ele conseguiria, chegaria lá e libertaria seus amigos...

PAF!

Um soldado que pareceu ter se materializado do nada acertou uma coronhada na nuca do garoto. Tudo ficou embaçado enquanto um zunido invadia seus ouvidos. Ele sentiu o cordão do fuzil ser puxado de seu pescoço e a pistola ser tirada de seu bolso enquanto outro par de mãos o colocava de pé.

Ele foi gradualmente recuperando os sentidos, sua visão se tornando mais focada. Apertou os olhos e encarou o soldado que o segurava.

— Vocês me pegaram de jeito...

— Calado — disse, serenamente, o homem, ao dar-lhe um tapa no rosto.

— Ai! Qual é a necessidade? — exclamou Will, levando a mão à bochecha.

— Eu disse CALADO! — E, tirando um papel do bolso do colete, o soldado disse: — Você é William Fowler, líder da Resistência?

— Acho que sou, até onde eu sei.

— Cale-se!

— Mas foi você que perguntou!

Você tem o direito de permanecer calado! — gritou o outro guarda, à direita de Will.

— E você tem o direito de parar de encher o saco! — retrucou o garoto, enraivecido, mas logo se arrependeu quando levou mais um tapa no rosto.

— Estava faltando o líder para completar — disse o soldado que acabara de estapear Will enquanto abria a porta de ferro. — Trevor vai ficar satisfeito. Espero que nos dê um aumento. Veja pelo lado bom, garoto: agora você vai se juntar aos seus amiguinhos. E agradeça ao Trevor por ceder a vocês a melhor cela da prisão.

A porta se abriu, revelando uma sala comprida e pouco iluminada. Por toda a sua extensão, havia muitas celas de prisão; dentro da maioria delas havia prisioneiros, pessoas algemadas e espremidas umas contra as outras como sardinhas enlatadas. Os soldados levaram Will até o fundo da sala, onde havia uma cela branca, duas vezes maior do que as outras. Quando os olhos do garoto se acostumaram à escuridão, ele enxergou, dentro da cela, três camas, três portas que pareciam levar a banheiros e um galão de água ao lado de uma geladeira prateada.

Mas antes que pudesse processar tudo isso, Will notou um homem pálido, alto e magro, de curtos cabelos crespos, e uma garota baixinha, igualmente pálida, de proporções corporais avantajadas e cabelos lisos, longos e negros.

Dylan e Julie, seus melhores amigos, que o ajudaram na invasão à base de Trevor, mas tiveram o infortúnio de serem capturados.

Um dos guardas abriu a porta enquanto os dois prisioneiros já dentro da cela se levantaram das camas num pulo ao ver seu amigo.

— Você também? Não... — murmurou Julie, levando as mãos à boca.

Will abriu a boca para responder, mas perdeu as palavras quando levou um empurrão nas costas que o fez tropeçar no rodapé da porta da cela. Ele cambaleou e quase caiu no solo de concreto revestido por um carpete vermelho-vinho muito macio, mas conseguiu se segurar na cabeceira de uma cama próxima.

Enquanto Dylan o ajudava a levantar, os guardas fecharam e trancaram a porta da cela.

— Trevor virá visitá-los em breve — anunciou um dos capangas, recolhendo a chave e prendendo-a à cintura. — Boa sorte: vocês vão precisar.

Will rangeu os dentes enquanto os soldados se retiravam. Ele, Dylan e Julie se sentaram cada um em uma cama diferente; Will se admirou com a maciez do colchão.

— Por que o Trevor quis nos proporcionar tanto conforto? — indagou ele aos amigos.

— Ouvi dizer que quanto mais “importantes” são os prisioneiros, isto é, na concepção dele, maior é o “conforto” e “qualidade” da cela em que eles são presos — disse Dylan, e fez uma pausa para beber um gole d’água. — Até onde eu sei, esta é a melhor cela que ele tem.

— Maldito maluco psicopata — xingou Julie, bufando. Ela levantou as pernas, girou o corpo e deitou-se na cama, entrelaçando os dedos sobre a barriga e olhando para o teto. — Não sei por que ele quer que fiquemos confortáveis sendo que ele vai nos matar depois.

— Ei, ei, quem falou em matar? — protestou Will, fitando a amiga.

— Will — disse Dylan serenamente —, todos os prisioneiros nesta prisão estão condenados à morte. Isso inclui nós.

Will sentiu uma pontada no coração. Iriam morrer? Depois de tudo pelo que passaram, simplesmente seriam executados?

Mas ele não teve muito tempo para lamentar: ao longe, ele escutou o ruído da porta de ferro se abrindo. Dylan e Julie também pareciam ter escutado, porque rapidamente se levantaram da cama. Os três se aproximaram da grade, agarrando as barras metálicas, e, ao longe, viram a figura de um homem alto, vestindo roupas negras, seus cabelos longos esvoaçando para trás conforme ele andava.

Trevor caminhou até a cela dos três amigos, zombando dos prisioneiros pelos quais passava. Mantinha as mãos atrás do corpo, e exibiu um sorriso assustadoramente acolhedor ao avistar Will, Julie e Dylan agarrados à cela para vê-lo.

— Ora, que vontade é essa de me ver? — disse Trevor alegremente, balançando o corpo ao encarar os três. — Então, confortáveis? Gostaram da cela?

— Olha, tenho que dizer que foi muito legal da sua parte colocar a gente aqui — comentou Dylan, olhando em volta, enquanto os outros dois o lançavam olhares de desaprovação. — É bem confortável. É até fresco.

— Sim! — exclamou Trevor, estalando os dedos. — Se você olhar ali — disse, apontando para um ponto no teto da cela —, verá que tem um ar condicionado. Pensei em tudo para deixar vocês no maior conforto possível!

— Quando é que você vai parar de bancar o santinho e falar quando nós vamos morrer? — disse, rispidamente e repentinamente, Julie.

O sorriso no rosto de Trevor desapareceu e foi substituído por um olhar desapontado. Ele perscrutou a garota da cabeça aos pés, contraiu os lábios e ergueu uma sobrancelha.

— Se vocês querem tanto assim morrer... — disse ele, levando a mão à cintura. Ele então puxou sua arma de brinquedo, engatilhou-a, apontou-a à testa de Julie...

— ESPERE! — berrou Will. Trevor voltou seu olhar para ele, riu e baixou a arma.

— Ora, que desespero é esse? — indagou, rindo, e guardou a arma na cintura. — Eu estava brincando, gente. Não vou matar vocês... agora.

Os três se retesaram, curiosos, respirando rapidamente; Julie ainda se recuperava do choque: por um momento, jurou que morreria, porque sabia que os dardos daquela arma de brinquedo tinham ponta de borracha tóxica.

— Mas se querem tanto saber — continuou Trevor —, estive pensando há um tempo e decidi dar a vocês uma chance. — Ele levantou o indicador da mão direita, coberta por uma luva de couro preta. — Se vocês concordarem em se tornarem soldados meus, prometo que não vou matá-los. Vocês são valiosos demais para serem desperdiçados, entendem?

— Nunca — protestou Will.

— De jeito nenhum! — exclamou Julie com repulsa.

— Talvez... — murmurou Dylan, olhando para o chão.

— Como é?

— Nada. Nunca, eu quis dizer.

Trevor arregalou os olhos, surpreso, e juntou as mãos, entrelaçando os dedos, como sempre fazia.

— Eu acabei de oferecer a vocês a vida e vocês recusaram? Pensem bem, pessoal: terão conforto, comida, serão bem tratados, bem pagos...

— Não vou trair todos os meus amigos da Resistência — disse Will de forma definitiva. — Prefiro morrer.

Um sorriso se formou no rosto de Trevor.

— Bom, se é este o caso — disse ele —, a execução de vocês está agendada para daqui a três dias. Até lá, vocês poderão fazer o que quiserem nessa cela aí. Tem bastante comida na geladeira e um micro-ondas também, caso queiram esquentar alguma coisa. Se quiserem algo, é só ligar do interfone. — Trevor correu os olhos pelos três uma última vez. — Até logo, então.

Enquanto ele foi se retirando, os três o acompanharam com os olhos. Quando o som da porta se fechando foi ouvido, eles foram cada um para as suas camas.

— Ele só está nos dando tanto conforto assim para que a gente mude de ideia em relação a ele — disse Julie, enraivecida. Ela tirou os tênis e as meias e deitou-se na cama, pondo as mãos atrás da nuca. — Quer que a gente pense que ele é bonzinho.

— Não sei vocês — começou Dylan —, mas eu até que aceitaria a proposta dele.

— Você trairia todas as pessoas que confiam em você só para não morrer? — repreendeu-o Will, deitando-se na cama também.

Dylan deu de ombros.

— Sou muito oportunista. Perdão.

Ele se deitou, encarando o teto. Então, subitamente, começou a rir. Will e Julie o encararam com as sobrancelhas erguidas enquanto ele rolava na cama, às gargalhadas.

— Pirou de vez — disse a garota, colocando parte dos cabelos atrás da orelha.

— Os soldados dele são muito idiotas! — exclamou Dylan, gradualmente parando de rir. Então, ele enfiou a mão no bolso e tirou de lá algo que fez o queixo de Will e Julie caírem.

Um celular.

— Como assim? — exclamou Will. — Como assim?

— Agora a gente só precisa chamar o Gabriel e tudo estará bem — disse Dylan, ainda tendo espasmos de riso. — O cara é um gênio. Com certeza vai conseguir libertar a gente.

Julie cruzou as pernas sobre a cama, com as mãos sobre os pés, claramente interessada.

— Me lembre de nunca mais duvidar de você — disse, enquanto os três caíam no riso.

 


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Notas finais do capítulo

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