Reyna pensou que alguns minutos sozinha em seu lugar favorito seriam suficientes para colocar seus pensamentos em ordem. Porém, ao sentar-se em um tapete de flores lilás, ela só conseguia pensar em Jason Grace. Pensou em quantos fins de tarde passaram ali mesmo, juntos. Mesmo que sempre tivesse muito trabalho a fazer, ela nunca resistia ao sorriso torto e faiscantes olhos azuis quando Jason lhe pedia companhia em um momento de descanso. Viu-se encostada na árvore com a cabeça de Jason em seu colo. Ele tinha um sorriso gigantesco no olhar e ria de algo perdido no tempo. Essa e quaisquer outras lembranças estavam perdidas.

Mais uma vez teve de lutar para manter os olhos abertos, reprimindo lágrimas que faziam seus olhos arderem. Respirou fundo e olhou seu reflexo em um espelho d’água próximo, furiosa consigo mesmo. Pelos deuses, o que está havendo comigo? Sou uma filha da guerra, pretora de Roma e sobrevivente da Guerra dos Titãs. Por que estou me portanto como uma garotinha estúpida? Tenho uma reunião no Senado para conduzir e não vou deixar que Grace ou a menina de Vênus tirem isso de mim! Reyna respirou fundo mais uma vez e começou seu caminho para fora dos Jardins de Baco. E ela precisaria de toda sua força de vontade, já que a primeira coisa que encontrou ao deixar os Jardins foi um par de olhos azuis.

A pretora não conseguiu segurar o rolar de olhos e suspirou, frustrada.

—  Sério isso, Grace? Você não tem mais nada para fazer ao invés de ficar me seguindo?

— Hey, você devia ser minha guia, Ramírez. — E lá estava mais um estúpido e lindo sorriso torto. Reyna revirou os olhos mais uma vez.

— Eu não me ofereci para isso, Grace. Mas se quer mesmo me acompanhar até o Senado, faça o caminho de boca fechada.

Os olhos do garoto brilhavam em diversão e seu sorriso apenas alargou-se.

— Quem sabe um dia eu não consiga? Mas não hoje. Quero conversar com você, sobre qualquer coisa. Mesmo que já tenha perdido as contas de quantas ameaças recebi hoje, sejam verbais, por olhares ou uma espada em meu pescoço. Você virá conosco na missão, certo Rey?

A garota viu-se franzindo a testa, sem entender. Jason estava muito estranho. Falando coisas estranhas, agindo de maneira estranha. A cada momento ela ficava mais confusa. Decidiu ignorar a provocação sobre ameaças, já que o garoto merecia cada uma delas.

— Você sabe que nenhum romano deve atravessar o mar, Grace. É proibido. Além do mais, está claro que a profecia dos sete já começou e vocês acabaram de se reunir.

                — A profecia deveria juntar os sete melhores, não? Como é possível que seja verdade se você não estiver entre eles, Rey?

                Reyna sentiu suas bochechas queimarem com o elogio repentino. Jason parecia realmente querer que ela fosse, o que tornava tudo ainda mais estranho.

                — Não queira discutir com a profecia, Grace. Você e dois gregos tiveram uma missão inicial contra um gigante, assim como três romanos. E a filha de Minerva tem um papel importante a desempenhar. Mas eu irei lutar. E proteger o Acampamento Júpiter com minha vida se for preciso.

                Jason escutava cada uma de suas palavras atentamente, como se absorvesse sílaba por sílaba. O garoto aproximou-se dela mais uma vez, passando um braço em sua cintura e trazendo o corpo dela para perto do seu.

                — Só não é justo que você fique sozinha mais uma vez, Rey. Todo o peso do acampamento sobre seus ombros de novo. E quem vai aliviar sua carga? Quem vai proteger você?

                Desvencilhando-se dos braços do garoto, ela tentou não soar irritada ao responder. Era bom saber que ele realmente se preocupava com ela.

                — Eu não preciso de ninguém para me proteger, Jason. Vou ficar bem, eu sempre fico. E quanto ao acampamento, sabemos que Octavian vai olhar para o cargo de pretor de novo. Quem sabe dessa vez eu não o mate?! Agora vamos lá, herói. Temos uma reunião para comparecer e você tem um mundo para salvar.

                A reunião no Senado foi melhor do que ela poderia imaginar. Mesmo com Octavian fazendo de tudo para inflamar Senadores e Lares, acabou-se chegando ao que Reyna já sabia: a profecia dos sete havia começado. Percy, Hazel, Frank, Annabeth, Leo, Piper e Jason partiriam para Roma e Grécia. Ela teve uma conversa particular com namorada de Percy, que seguiria a Marca de Atena em busca de algo para selar a paz entre os acampamentos. Reyna queria acreditar que o sucesso a loira realmente pudesse criar laços entre gregos e romanos, já que a sobrevivência de todos teria uma forte ligação com o trabalho em conjunto.

                Quando o grupo fazia seu caminho de volta, onde os visitantes poderiam descansar antes da refeição, Leo Valdez disse que precisava buscar algo no barco e todo o grupo esperou. Reyna deveria ter imaginado que tudo estava correndo bem demais. O Argo II começou a abrir fogo contra monumentos e a Legião. Foram segundos apenas, mas ela não podia se mexer. A Legião andou em direção dos gregos que estavam atacando seu acampamento e o caos se instaurou. Enquanto Reyna saía de eu transe, escutou a voz de Octavian.

                — Legião, matem esses graecus imundos que ousam atacar nosso lar.

                A Legião respondeu em altas vozes e Reyna olhou ao seu redor. Percy estava posicionado em frente de Annabeth, para protege-la e Jason parecia confuso, o que fez com que a garota se sentisse um pouco melhor. Ele não parecia ter concordado em atacar o acampamento.

                Mas antes que algo pudesse ser feito, o Argo II começava a recolher os semideuses da profecia, incluindo Hazel e Frank. O último a entrar foi Jason, enquanto os romanos atiravam flechas utilmente no casco de bronze do navio. Reyna percebeu que Jason estava olhando para ela enquanto o navio desaparecia no horizonte, com os romanos inflamados de ódio ao seu lado. Jason Grace fora embora mais uma vez. E mais uma vez ela não pode se despedir. Sabendo de sua missão, a garota não podia deixar de pensar que talvez nunca mais o visse. Talvez ele nunca soubesse o quanto Reyna o amava. E pelos deuses, ela o amava demais.