Foi apenas quando Piper acompanhou Frank porta afora que Jason finalmente se deu conta do que havia feito. Dispensou sua namorada para ficar sozinho com Reyna e Piper iria matá-lo. Só que mais importante do que isso, ele precisaria pensar antes de agir. Do contrário acabaria magoando as duas meninas.

                Virou-se para Reyna, que parecia doida para sair dali e segurou-a com uma das mãos, o que fez com que seus olhares se cruzassem. O dela parecia confuso e distante, como se os pensamentos de Reyna estivessem desorganizados. Durante alguns segundos, Jason lutou com o desejo que sentia desde que desceu do Argo II, mas finalmente perdeu. Viu-se abraçando Reyna com força. E como era bom tê-la em seus braços.

                Abraçar Reyna tornava ainda mais real o fato de que estava em casa. O cheiro dela o acalmava e angustiava ao mesmo tempo. E não era o único, pois ouviu Reyna suspirar e logo em seguida tentar deixar seu abraço, coisa que Jason não permitiu enquanto sussurrava.

— É muito bom te ver, Rey.

— Fico feliz que você esteja vivo, Grace. Você fez falta. — A voz dela era menos do que um sussurro.

— Rey, eu sinto muito por tudo. Por desaparecer e te deixar sozinha. Me perdoe por ter perdido a memória, por não lembrar de nós e... — Jason sentia um enorme nó na garganta e só conseguiu abraçar Reyna ainda mais forte. Pensou que se desculpar faria com que se sentisse melhor, mas não era o que estava acontecendo.

— Eu sei que a culpa não foi sua, Jason. Juno roubou suas memórias porque precisava de você. E não houve exceções. — Reyna parou abruptamente e Jason sentiu que ela se segurava para não chorar, o que quebrou seu coração.

Reyna era sempre tão segura e confiante. Ela sempre passava a sensação de que aguentaria o peso do mundo. Mas a Reyna que estava em sua frente era diferente. Mais frágil. Quebrada por Juno. Quebrada por ele.

 — Talvez a culpa também seja minha. Tive medo de meus sentimentos durante muito tempo e não sei o quanto isso pode ter influenciado.

— Não importa de quem foi a culpa. — Reyna lhe interrompeu e se soltou dele, que encarou os olhos de obsidiana. — Você está vivo, está bem! E eu fico realmente feliz por isso. Mas você fez novos amigos, tem uma nova casa e uma namorada que não sou eu. Então preferia não ter que falar mais sobre isso.

Reyna falava tranquilamente, mas seu olhar era distante e denunciava seus sentimentos. Dizer aquilo estava sendo doloroso para ela, então Jason decidiu respeitar, por mais que precisasse conversar para decifrar seus sentimentos. Decidiu que sua análise seria a partir do que sentisse por estar perto dela e coisas do dia a dia. Tocou-a delicadamente pelo braço, indicando um dos sofás para que se sentassem.

— Vou respeitar o que você diz, Rey. Mas então me conte, como está sendo com o Acampamento? Confesso que eu esperava Octavian morto ou como pretor.

Como Jason esperava, isso tirou da garota um de seus belos, quentes e raros sorrisos. Até mesmo os olhos faiscaram em diversão.

— Nem me lembre disso, Grace. Durante meses tive que me segurar para não fazer com Octavian o que ele faz com os ursinhos. — Ela sorriu, mas depois sua expressão tornou-se mais séria. — Mas a situação estava ficando muito difícil. As ideias dele estavam ganhando força. E então Percy apareceu, carregando Juno. Foi até o Alasca em missão, recuperou a águia e ainda salvou-nos na Festa da Fortuna. Ele não gosta da parte administrativa, assim como você, mas é um líder nato, inspira lealdade.

Jason não gostou da maneira como Reyna falou de Percy Jackson. Afinal, ele demorou anos para se aproximar garota. Mesmo que o filho de Netuno fosse um recém chegado no Acampamento, era inegável que conquistou o respeito e admiração da Legião. E de Reyna, assim como a amizade dela.  Jason até ouviu Percy chama-la de Rey. Tudo isso fazia com que Jason se sentisse estranhamente na defensiva.

— Parece que Percy Jackson é bastante carismático. Os gregos o amam, os legionários o respeitam e admiram. E até você. Parece bem próxima dele. — Jason não conseguiu retirar o ressentimento de sua voz.

                Reyna franziu seu belo rosto enquanto analisava Jason. Olhou-o por alguns segundos antes de responder.

— Você também vai gostar dele, Grace. Apesar de saber como ser irritante, é uma ótima pessoa. Ajudou a todos nós quando mais precisávamos.

Jason estava extremamente desgostoso. Reyna não quis falar sobre eles, mesmo quando ainda tinham tanta coisa mal resolvida. E agora estava ali, rasgando elogios ao cara que estava no lugar dele. Seria possível que fosse para ela também? Talvez estivesse acontecendo algo e Jason tinha vontade de vomitar apenas com a ideia.

— Vocês tem algo, Rey? Ou você tem alguém?

— Como ousa me perguntar isso, Grace? — A garota falou calmamente, mas Jason percebeu que seus lábios haviam se tornado uma linha e seu olhar era frio.

— Eu não sei o que pensar, Rey. Você não quis deixar eu me explicar e agora está ai, falando maravilhas de Jackson. — Ele sabia que a garota estava furiosa, mas ficou feliz em desabafar parte de sua frustração. Só não esperava o que aconteceria em seguida.

Jason foi comprimido no sofá, com uma espada ameaçando sua garganta. A garota movia o objeto para frente, forçando o loiro a arquear seu pescoço.

— E o que você queria, Grace? Que eu corresse ao encontro de meu ex futuro namorado? Que o beijasse na frente da namorada dele e dissesse o quanto senti saudades?! Você não tem nada com minha vida! Eu TINHA alguém, Grace! Ele sumiu durante meses, mas nunca perdi a esperança de encontra-lo. E um dia ele volta, namorando uma filha de Vênus e ainda se acha no direito de me cobrar algo! Em nome da amizade que já tivemos, vou avisar só uma vez: fique longe de mim se não quiser ser morto.

Jason podia percebeu a dificuldade de Reyna em respirar e um leve tremor em sua mão da espada quando ela o deixou, virando as costas e saindo da sala. Ele sabia exatamente para onde ela estava indo: Jardim de Bacco, mais especificamente logo abaixo da buganvília lilás. Ainda assim, preferiu deixa-la organizar os pensamentos. Mesmo que sua conversa com Reyna tivesse sido horrível, Jason fez uma descoberta muito importante. Ele tinha ciúmes da garota e não suportava nem pensar que ela tivesse outra pessoa. A confusão seria grande, mas o garoto tinha de saber quais eram seus sentimentos pela bela e furiosa morena que quase o matou.