11 de outubro de 2001

Embora o Caldeirão Furado fosse conhecido entre os bruxos como um local sujo e mal frequentado, ele tinha os seus fãs. A começar por Hannah Abbott, uma bela e loira bruxa de pouco mais de vinte anos que aprendeu a não se importar com os julgamentos da sociedade desde nova. Talvez por isso Neville Longbottom tenha estranhado ver a ex-colega de classe sentada sozinha num canto bebendo vários copos de uísque de fogo. Ele já reparava na menina ainda nos tempos de colégio, enquanto frequentavam as reuniões da Armada de Dumbledore, mas nada além disso. Ia se sentar do outro lado, fora do alcance de visão dela, quando Hannah o viu e acenou para ele.

— Neville Longbottom, você por aqui?

— Como vai, Abbott?

— Ainda me chama assim?

— Desculpe, Hannah. É o hábito.

— Não tem importância, sente-se! Quer um uísque de fogo? – Neville ia recusando, quando ela disse – Não é educado recusar o convite de uma bela dama...

— Eu vou aceitar sim.

Neville se sentou e não bebeu só um, mas catorze copos de uísque de fogo. Embriagado, ele foi se soltando e falando tudo o que veio à mente. Desabafou sobre as dificuldades encontradas em seu cargo de auror, sobre a sombra dos pais, a saudade dos tempos de escola e a sua preferência pela Herbologia. Hannah ouvia tudo aos risos, afinal já estava ainda mais bêbada do que ele.

— Ai, Neville... Você não tem jeito mesmo, né? Ser auror é um sonho, por que alguém desistiria disso?

— Herbologia é a minha maior paixão, antes da Armada eu achava que era o único talento que eu tinha... Meu trabalho não é ruim, eu só queria algo mais tranquilo...

— Entendo! Mas uma vida parada demais cansa... Digo isso por experiência própria. Desde que me formei ainda não decidi o que fazer da vida!

— Vou te contar uma coisa... Algo que nunca disse a ninguém – Neville encostou e cochichou no ouvido de Hannah, em tom de segredo – Eu pedi pro chapéu me colocar na Lufa-Lufa!

Hannah levou as mãos à boca, impressionada.

— Caramba, Neville, nunca imaginei isso! Mas também, você curte Herbologia, então...

— O chapéu me mandou pra Grifinória, mas eu adoraria ter sido seu colega de casa!

Os dois sorriram e beberam mais uma dose. Hannah prestou mais atenção em seu acompanhante. Antes, o achava um bobão, um inútil, até suspeitou que ele fosse um aborto. Mas começou a admirá-lo cada vez mais ao vê-lo enfrentar os irmãos Carrow quando Voldemort assumiu o poder e Snape dirigiu Hogwarts. Além disso, Neville estava ainda mais alto, mais bonito, tinha emagrecido, seus cabelos escureceram e estavam mais curtos e seus dentes não eram mais tão tortos. Era um belo homem.

— Sabe de uma coisa, Neville? Eu também queria ter tido mais momentos com você, mesmo quando você era aquele garoto atrapalhado eu simpatizava contigo!

— Mesmo? Mas você sempre estava com o McMillan, eu nunca...

— Fomos namoradinhos na época do colégio, mas já foi. Já passou e agora foi cada um pra um lado. A última vez que eu soube dele, ele tava na Tanzânia, acho...

Neville abriu ainda mais o sorriso. Tom, o dono da estalagem, também sorria vendo aquela cena. Estava certo que ele iria beijá-la, por isso se afastou.

— Quer saber – continuou ela – Se você não quer mais ser auror, vai fundo! Eu te apoio!

— Obrigado. Eu vou seguir o seu conselho, prometo. Mas se você me prometer escolher logo um rumo pra sua vida, mulher!

Hannah caiu na gargalhada. Neville admirava o jeito que ela ria, inclinando a cabeça para trás e balançando seus cabelos loiros.

— Pode deixar! Até já sei o que fazer! – Hannah se levantou da cadeira e disse – Eu vou comprar isso aqui!

— O Caldeirão Furado?

— Isso mesmo! Eu vou comprar essa bagaça! Cadê o Tom? Tom? – Hannah gritou até Tom aparecer. Não era a primeira pessoa bêbada que fazia uma oferta pelo bar, por isso Tom fingiu ter fechado o negócio.

— Uuuuuhhhh!!! – Hannah abriu os braços segurando o copo vazio na mão – Traga mais uma garrafa de uísque, Tom, que hoje é por minha conta!!!

Hannah ia voltando para o seu lugar, quando tropeçou nas próprias pernas e só não caiu porque Neville a segurou. Os dois ficaram uns minutos se olhando, em silêncio. Tom pensou “Agora vai” e se afastou novamente. Mas teve tempo de ver Neville obedecer um impulso e beijar Hannah nos lábios.

Neville acordou num quarto, sem camisa, já no dia seguinte. Esfregou os olhos e tentou se lembrar do dia anterior. As imagens de Hannah invadiam sua mente como flashes, como se fosse um sonho bom que ele teve muito tempo atrás. Levantou-se e foi até o banheiro. Mas parou no criado-mudo, ao ver um bilhete com uma letra cursiva e um pouco tremida que ele logo reconheceu:

“Obrigada pela melhor noite da minha vida. Vamos realizar nossos sonhos juntos? Hannah”.