Entre o Céu e o Inferno escrita por Lu Rosa


Capítulo 17
Hayley




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Era noite de lua cheia. A única noite em que Hayley conseguia ver a filha. “Maldito Klaus! ”, pensou. Ela moveu-se silenciosamente pela mata até chegar no local combinado.

Como sempre, havia peças de roupas dela estendidas sobre um arame. Hayley as pegou e vestiu rapidamente, tal era a sua ansiedade em ver sua menina. “Maldito Klaus!”, pensou novamente.

Ela chegou à cabana, mas antes que abrisse a porta, ouviu vozes. Estranhou, já que nos últimos meses Elijah vinha sempre sozinho.

“Acha que ela vai demorar? ” – perguntou uma voz feminina. Não era Rebekah, tampouco Freya.

“Não. Logo a lua está no seu ápice. ” – essa voz era de Elijah.

“Estou ansiosa por conhece-la. ” “Hein, Hope? Logo sua mamãe irá chegar. ” Ela ouviu o balbuciar de sua filhinha. Ela parecia gostar da dona da voz.

Um sentimento irracional de posse tomou conta de Hayley e ela abriu a porta subitamente. Elijah e a dona da voz viraram-se e Hope logo abriu um sorriso ao vê-la. A mulher misteriosa era alta, seus cabelos muito loiros presos em um rabo de cavalo e olhos muito azuis lhe davam uma aparência de menina. Mas o corpo era flexível e bem distribuído.

— Olha Hope. Sua mamãe. – ela deu um passo na sua direção e Hayley apressou-se em pegar o bebê.

— Oi, eu sou Genesis. – Genny estendeu a mão para ela, mas Hayley estava mais interessada em abraçar a filha.

Meio sem graça, Genny abaixou a mão.

— Ela é uma bebê linda. Estou vendo que puxou a mãe.

Hayley acenou com a cabeça e olhou para Elijah. A troca de olhares entre os dois fez Genny ter a súbita sensação que sobrava.

— Eu... eu vou esperar no carro. Foi um prazer conhece-la, Hayley.

— Sim... E obrigada.

Genny deu um sorriso e saiu da cabana.

— Quem é essa?

— Ela lhe disse. Genesis. Ela está em casa por um tempo.

— Outra vampira, Elijah? Eu soube o que aconteceu. Sinto muito.

— O que passou, passou. Como diz a Freya. Eu ainda sinto muito raiva do Niklaus por conta dela. O importante é a família.

— Eu era da família, lembra-se? – Hayley acusou.

— Niklaus age assim. Agressivamente. Sem medir as consequências. – Elijah foi até a janela. Genesis estava encostada no carro, olhando a lua. O cabelo refletia a luz tornando-se quase branco, destacando-se na escuridão. Ele desejou que ela voltasse para a cabana. Estava muito vulnerável ali fora.

— E pelo seu tom de voz, devo pensar que você já o perdoou.

— Nunca! Niklaus já fizera coisas ruins comigo. Mas privar a Hope da presença da mãe? Foi cruel e desnecessário.

Hayley apertou Hope contra o rosto, sentindo o cheiro da bebê. E para esconder o sorriso diante das palavras de Elijah. Ele ainda se preocupava com ela.

— E essa nova vampira? Ela pode se controlar?

— Genesis não é uma vampira.

— Não?! E quem é ela? Uma bruxa?

— Um anjo.

Alguma coisa na voz de Elijah fez com que Hayley o olhasse com mais atenção.

— Num sentido figurativo?

— Não. Ela é metade anjo. É uma longa história. Aproveite seus momentos com a Hope. – ele abriu a porta,

— A Hope gosta dela. Deu para perceber.

— Genesis tem jeito com crianças. Freya é quem diz.

Elijah saiu da cabana e foi até onde Genny estava.

— Não é bom ficar tão longe da cabana.

— As luzes impedem de ver as estrelas. Olhe só. É tão bonito...

Elijah ergueu a cabeça e viu as estrelas e a grande lua cheia. Sim, era bonito. Mas, e daí? ele pensou.

Genny pareceu ler os pensamentos dele, por que falou sem parar de olhar o céu.

— Mas com mil anos, você já deve ter visto vários céus como esse. Chega a ser tedioso, não?

— É. Bem... Ha muito tempo que eu não paro para ver as estrelas.

— Eu sempre subia até o telhado do Instituto e ficava as vendo por horas. E sempre agradecia pela oportunidade.

Elijah a olhou com curiosidade.

 - Você acredita em um Deus que fez todas essas coisas?

— Claro. Shadowhunters não são muito religiosos, mas pense comigo. As estrelas, milhares pelo Universo, as galáxias e seus sistemas perfeitamente colocados, isso não nasceu ao acaso, não é?

— Estudiosos através dos anos discordariam de você.

— Sim, mas nenhum deles tem a resposta sobre nosso papel no mundo. Tá. Evoluímos dos primatas selvagens, mas e antes? E o antes do antes? Simplesmente puf? Não, Elijah. Meu pensamento pode ser romântico, mas uma inteligência superior deu início a tudo isso. Nada é por acaso.

A atenção deles foi atraída para a entrada da cabana.

— Acho que a mãe da Hope procura por você.

— Sim. – ele começou a andar em direção a cabana. - Você não vem?

Ela abriu a porta do carro.

— Acho que vou ficar no carro. Minha presença não é necessária lá.

Elijah percebeu que Genny havia ficado melindrada com o comportamento de Hayley. E estava se defendendo a altura. Ela não era tão dócil quanto ele pensava.

Algum tempo depois, Genny ouviu umas pancadas no vidro do carro. Tirou os fones de ouvido e viu a mãe de Hope, Hayley. Ela se afastou e Genny saiu do carro.

— É a Hope?

— Não... é que... bem. Eu não fui muito simpática com você. Eu sou meio arredia com estranhos, sabe.

— Instinto de lobo... sei como é. No Instituto, convivíamos com os licantropes. E nem todos confiavam em nós.

— Sim, sei. Você gosta da Hope e é o suficiente. Além da palavra do Elijah de que eu podia confiar em você.

— E a palavra dele é absoluta para você, não é?

— Ele me ajudou muito quando eu estava grávida da Hope. Na verdade, ele foi o único. Já que o Klaus... bem é o Klaus.

— Eu também já fui vítima da desconfiança dele. Mas agora... parece que estamos em termos mais... aceitáveis.

— Não confie nele, Genesis. Se ele achar que você está no caminho dele, ele vai matar você.

Genny ficou por um momento em silencio pensando nas palavras de Hayley.

— Hayley, você ama sua filha, não é?

— É claro! Faria qualquer coisa por ela.

— Mataria, trairia, mentiria?

— Sim. Por que pergunta?

— E no que você é diferente do Klaus? Por que ele ama a filha também. E por mais que algumas atitudes dele sejam condenáveis, nada é mais importante para ele do que a família.

— Mas eu era da família. Pelo menos era o que ele sempre dizia.

— Sim. Mas Elijah e Rebekah também eram. E ele agiu diferente do que agiu com você? Não. Dizem que a melhor defesa é o ataque. E Klaus leva isso às últimas consequências, Hayley.

— Então devo perdoá-lo pela minha condição atual?

— Não espero que agora, pois seu coração está cheio de mágoa, mas um dia, você verá que tudo é válido, quando se trata de família.

— Você fala igual ao Elijah.

Genny sorriu.

— Meus pais me esconderam de todos. Me esconderam até de mim mesma. Erraram, mas agora vejo por que eles fizeram isso. Porque proteger a família é mais importante. Mas, às vezes, erramos no processo. Por isso concordo com o modo do Elijah pensar.

Hayley a olhou atentamente antes de falar o que estava pensando.

— Ou você recita o discurso dele por estar apaixonada?

Só uma mulher apaixonada reconheceria os sinais em outra. Genny pensou na resposta que daria.

— E quem não está, não é Hayley? – devolveu com um sorriso cúmplice.

A outra deu de ombros, como se estivesse sem resposta e voltou para a cabana.

Genny voltou para o carro, colocou os fones de ouvido e curtiu a música com a consciência tranquila.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo...
Seu corpo ardia. Não o calor das outras vezes. Esse doía como se ela estivesse em chamas. E a medida que ele aumentava, Genny sentia uma raiva insana de tudo e todos. Era como se aquele lobo fosse a síntese de todo o seu sofrimento e acabar com ele fosse o seu alívio. Não simplesmente mata-lo. Ela tinha que destruí-lo. E pensar nisso lhe dava um prazer imenso.