Meiko

Os quinze minutos de descanso haviam passado. Era hora de regressar aos nossos postos e dar o máximo para os derrotar. Pelo que tinha percebido, aqueles tipos eram do Quinto Setor, e eu não ia deixar que controlassem a Raimon. O jogo ainda não tinha acabado, mesmo a perder, ias conseguir dar a volta de alguma maneira.

—Capitão!- gritei ao vê-lo ser afastado bruscamente ao tentar deter o capitão adversário, caindo no chão.

—O que se passa? Vocês já não podem mais?

O capitão levantou-se logo e voltou a tentar tirar-lhe a bola uma vez mais... Sem sucesso. Aquele idiota conseguiu safar-se antes de rematar com toda a força até à nossa baliza, derrubando os centro-campistas e os defesas, até mesmo o goleiro. O jogo continuou e o resultado era sempre o mesmo. Todos eram acertados violentamente com a bola, deitados ao chão como se não fossem nada, acabando por nos fazer mais dois golos. Não sabia o que sentir ao ver aquilo. Era um misto de raiva com inutilidade por me limitar a observar. Mas o que podia fazer se eu nem conseguia tirar-lhes a bola? O único que ainda se mantinha de pé, para além de mim e do Tenma, era o capitão que estava frente a frente com o outro, ainda que extremamente ofegante, cansado e machucado.

—É impossível que nos possam vencer. É o fim do vosso clube de futebol.

—Não é o fim! Ninguém ficará com o clube de futebol da Raimon, ouviste bem? Jamais!- não o permitiria. Não sabia bem como, não ia deixar.

—Está bem. Então vou tirar-vos!- irritado, começou a avançar contra todos os jogadores da Raimon para os magoar propositadamente, poupando-nos aos três- Já entenderam? Este é realmente o patético nível da vossa admirada Raimon.

—Isso não... Isso não é verdade!

—Já basta!- as palavras de um dos jogadores foi o suficiente para que o Tenma não terminasse a frase, tomando toda a nossa atenção, vendo-o agarrar um dos braços magoados- Sem duvida que estão dispostos a lesionar-nos para ficarem com o clube de futebol. Lamento muito, mas eu...- Fiquei chocada com aquela decisão!

—Mizumori, espera! Onde vais?

—Eu rendo-me.

—Como assim redes-te? Não percebes que é exatamente isso que eles querem?!- não fez caso e continuou a andar.

—Não, Mizumori! Volta. Mizumori!- nem mesmo ouviu o seu capitão- Se continuarmos assim todos... Se irão embora.

—Como que todos se irão embora?- estava tão chocado quando o Tenma. Eles não eram jogadores?

De repente, ouviu-se o som da bola a bater no chão e quando olhamos, vimos que o idiota de roxo tinha rematado a bola para os pés do Tenma.

—Querem-na?- estava outra vez com aquele sorriso siníco- Vamos lá. Os dois.- Encaramo-nos e ambos assentimos. Íamos partir para o ataque sem hesitar.

O Tenma avançou com a bola até ao capitão adversário antes de chegar um dos nossos adversários e lhe tentar tirar a bola, a qual, com um toque de calcanhar, passou para mim, deixando-me avançar. Sabia que o Tenma era bom nos dribles e eu era rápida o suficiente para me livrar deles se viessem para cima de mim. Para passarmos pelos nossos adversários, começamos a fazer passes curtos um para o outro, sempre a curta distancia para evitar que nos tirassem a bola, e sempre que tinham retira-la ao pensar que a iríamos passar, acabávamos por ficar com ela até chegar o próximo oponente. E mal cheguei à baliza, sem a bola, dei a volta antes do Tenma me passar a bola e fazer o mesmo. Enquanto avançava, um dos jogadores da Raimon pediu a bola, mas ignorei-o e continuei a avançar, não por falta de educação ou algo parecido, mas porque a nossa estratégia implicava isso... Se os queríamos proteger a todos, tínhamos que evitar que eles tocassem na bola. Um dos defesas pediu-me a bola e logo começou a ser seguido por dois adversários. Lamentava imenso, mas passei para o Tenma ao vê-lo a meu lado. Tínhamos que ficar o menor tempo possível com bola. Enquanto isso todos pareciam confusos com o que estávamos a fazer. Mas nós só queríamos proteger toda a equipa.

Porém, de repente, fomos parados no meio campo, rodeados por todos os jogadores adversários. Devia ter-me afastado mais para que ele me pudesse passar a bola.

—Agora já não podem escapar.- Como é que ele podia ter tanta certeza? Ainda nada estava perdido.

—Matsukaze Tenma e Goenji Meiko.- Olhamos para trás vendo o capitão daqueles idiotas entrar no meio do circo- As vossas caras põem-me doente.- Ri-me.

—O sentimento é mutuo, imagino que o saibas.

—O futebol é uma parvoíce inútil!

De repente, bastou com gritasse fortemente para um espesso vulto negro começar a aparecer atrás dele, ganhando força à medida que crescia. Fiquei estática. O que era aquela coisa?

—Uma... Kenshin.

—Uma quê?- o capitão parecia estar a par do que se tratava aquilo.

Nesse instante, aquele vulto negro foi dando lugar a uma figura de tronco e membro, uma espécie de guerreiro com armadura, espada e escudo prateados, com um longa capa vermelha e um elmo de onde saiam dois grandes chifres da cor da armadura. Aquela coisa tinha saído de trás dele... Parecia estar agarrada a ele por uma espécie de vulto negro que ainda lhe saia do corpo. Jamais tinha visto tal coisa.

—Esta é a minha kenshin; Kensei Lancelot.

—O que é isto?

—Então o uso da kenshin é real.

—Não é apenas uma lenda.- Os jogadores da Raimon pareciam tão confusos quanto eu. Pareciam saber do que se tratava a tal kenshin mas demonstravam-se igualmente espantados. Não conseguia desviar os olhos daquela coisa.

—Isso é... incrível.- Não concordava. Aquela era sarilhos para o nosso lado.

—Não se surpreendam por tão pouca coisa.

Sem nos dar tempo para fazer algo, avançou sobre nós a toda a velocidade para deixar aquela coisa gigante atacar-nos com aquela espadas. Mas o que raio era aquilo?! Parecia uma espécie de fantasma mas mostrava-se tão sólido ao atacar-nos. Por pouco tempo, consegui reparar que na verdade aquilo era apenas aquele idiota já com a bola a acertar-nos repetidamente com ela a uma enorme velocidade, a tal kenshin apenas lhe dava uma força ainda maior... Mais do que ele já tinha.

Eu e o Tenma acabamos por cair no chão, cada um para seu lado. Vi o Tenma estatelado no chão a tentar erguer-se antes de voltar a cair sem força nos braços. Chamei por ele mas não me respondeu continuando a tentar. Talvez quisesse guardar as forças para se pôr de pé.

—Preocupa-te contigo.- Sem me dar tempo para perceber, veio novamente contra mim ao ver-me de pé, atirando-me mais uma vez ao chão. Felizmente o impato não fora grande coisa ao cair, ou podia não levantar-me mais com a dor que sentiria nas costas.

—Treinador.- Ouvi o Tenma chama-lo. Ergui a cabeça e vi que ele ainda se esforçava para levantar- Estou bem, a sério. Por favor, deixe-me continuar a jogar.- Ri-me. Não ia deixar que a vontade dele fosse maior que a minha. Girei sobre mim mesma e comecei a levantar-me, vendo o Tenma de pé. Mas receava não aguentar mais... O corpo todo já tremia de dor.

—É uma loucura! Vai destroçar-vos.- Alcancei o Tenma e coloquei uma mão sobre o seu ombro. Honestamente não sabia se era uma maneira de lhe mostrar que estava com ele, se para me segurar e evitar cair.

—Nós vamos continuar a lutar até ao fim.- A minha perna esquerda cedeu por um instante, mas fui logo amparada pelo meu companheiro- Se continuamos a esforçar-nos até ao fim... Se continuarmos... No fim vamos encontrar uma solução.

O Tenma assentiu e sorriu-me ajudando-me a pôr direita para avançarmos. Não íamos deixar que aquele imbecil ficasse com o clube de futebol. Porém, ao voltarmo-nos para trás, ele já estava pronto para rematar, e fê-lo sem hesitar um único segundo, chutando a bola com a força na nossa direção. E eu, sem pensar duas vezes, empurrei o Tenma para o lado, fazendo-o cair ao chão, o que não me deu tempo de desviar da bola levando com ela na barriga e caindo para trás com as dores que sentia.

—Isto é uma loucura.- Era a voz do capitão que escutava por trás de mim, ajudando-me a sentar- Para com isto.

—Nem pensar. Vou continuar.- Olhei para ele antes de me encostar ao seu peito, sentindo uma dor no local onde acabara de ser acertada, antes de pôr logo direita- Quero continuar a jogar futebol com todos vocês.

—Meiko... Estás a ir longe de mais.

—Faço-o porque quero jogar com todos, porque não quero que o clube de futebol seja fechado. Quero jogar aqui, na Raimon, onde sempre desejei. Não por causa dos meus pais, não ser portadora do nome Goenji, mas por mim mesma, porque eu quero jogar futebol aqui.- Afastei-me um pouco dele de modo a poder voltar-me- Por favor... Capitão...- não ia parar até eles desistirem daquela ideia.

"Nunca te rendas, filha."

Não... Não me ia render. Não ia deixar que ele se rendesse. Estiquei o meu braço até ele e agarrei-lhe o símbolo da Raimon. Ele era o capitão, tinha de proteger o clube.

—Capitão... Nunca te rendas.- Ouvi-o murmurar o meu nome e nada mais- Por favor, capitão...- sem dizer uma palavra, agarrou na minha mão para que largasse o uniforme antes de se levantar. Ergui a cabeça e ao olhar para ele, fiquei espantada ao vê-lo chorar- Capitão...

—Mas eu...- de seguida, levantou a cabeça mostrando uma imensa determinação no olhar enquanto as lágrimas não paravam de cair- Porquê? Porquê?! Porque não posso proteger os meus companheiros? Mas que tipo de capitão sou?- agarrou na faixa de capitão e nesse mesmo instante, as lágrimas pararam de escorrer pelo seu rosto.

Uma pequena brisa começou a soprar.

—Capitão...

Começou a gritar repentinamente. O mesmo vulto que vira à momentos atrás apareceu em torno dele, começando a aumentar e a mexer-se para ganhar forma. E assim que se começou a dispersar aquela nuvem negra, apareceu algo parecido com uma espécie de maestro de orquestra, com dois braços; uma das que estava enluvada e erguida agarrava uma batuta, enquanto uma das outras duas, despidas e baixas, tinha uma batuta verde, e às frente deles um pequeno arco dourado.

Com a ajuda do Tenma, levantei-me e afastamo-nos da frente, deixando as duas kenshin frente a frente. Estava abismada... Ele também conseguia fazer aquilo?!