Tudo É Cinza escrita por Fanatic


Capítulo 4
Nós Vamos Ficar Bem


Notas iniciais do capítulo

Chegamos na reta final, boa leitura!



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O tempo estava esfriando de verdade, Adam já estava começando a usar um casaco de verdade. Ele sempre foi uma pessoa sensível com o frio. Também ventava bastante, o vento arrastava as folhas secas pelo chão e bagunçava seu cabelo.

Adam estava esperando o ônibus que ia até o hospital, pois estava indo com George até lá, para fazer uma visita à sua mãe. Era um pouco estranho pensar nisso, mas ele precisava sair um pouco e esquecer o que Johnathan fez.

Nenhum dos dois falou muita coisa, apenas entraram no ônibus e foram até lá.

~’~’~’~’~’~’

— Há quanto tempo você não a vê? — Adam perguntou, seguindo George pelo corredor.

— Só tem dois dias. Por quê? — Respondeu seriamente, franzindo a testa.

— Apenas uma pergunta. — Explicou, revirando os olhos.

George abriu uma porta e entrou. Adam ficou parado, perguntando-se se seria estranho entrar numa sala hospitalar sem ter intimidade alguma com o paciente. Resolveu ficar na porta, pois para ele seria o correto a se fazer.

— Vai ficar aí? — George perguntou, abrindo a porta.

— Desculpa. — Entrou e imediatamente olhou para a mãe dele.

— Não tem problema, não fique pedindo desculpas à toa.

— Ok, foi mal. — Andou até a cama onde a mãe de George estava e a olhou.

— Olá. — Ela disse, um pouco baixo.

— Mãe, esse é o Adam. — George falou, segurando a mão dela.

— Seu namorado? Pensei que você me disse que nunca iria namorar. — Sorriu, demostrando estar surpresa. Ela parecia um pouco fraca, dava para perceber apenas olhando.

— Não, ele é só um amigo. — George riu, mas seus olhos começaram a ficar vermelhos.

— Oi, senhora. — Adam cumprimentou-a da porta, não tinha se aproximado pois sentia que isso era um pouco intimo demais para ele. — Vou descer e esperar você lá em baixo. Lembrei que preciso ligar para alguém e vai demorar. — Adam mentiu, colocando a mão na porta.

— Certo, te vejo lá. — George concordou.

— Até mais. — Joanne sorriu, olhando-o abrir a porta e sair.

Depois de descer para o térreo, Adam colocou a mão no rosto e suspirou, pensando que isso foi bem estranho. Também pensava que a mãe dele realmente não estava muito bem mesmo.

— Quarto 312, por favor, aqui está a identificação. — Um desconhecido estava pedindo informação na recepção.

— O quarto 312 já está com visitas, peço que...

— Eu sou filho dela, provavelmente é o meu irmão que está lá. — Ele interrompeu a recepcionista, que o olhou de cima para baixo.

— Terceiro andar, virando à direita. Use o elevador dali. — A moça apontou para o elevador ao lado de Adam, sorrindo para o desconhecido.

Ao passar por seu lado, Adam pôde perceber que ele tinha um rosto semelhante ao de George, mas era mais novo. Tinha trinta anos no máximo.

Adam resolveu ficar na recepção, pois os irmãos iriam querer colocar o papo em dia. Seria muito estranho se ele resolvesse ficar lá.

Todo mundo estava tão calado, provavelmente não era um bom dia para muitos, o ambiente sereno e bem iluminado parecia melancólico.

A cada vez que a porta do elevador abria, Adam esperava que George e seu irmão aparecessem com alguma boa notícia. Toda vez que a porta abria, ele olhava. Algumas pessoas saíam do elevador, mas nunca era qualquer um deles. A porta abriu mais uma vez, George saiu de dentro com o seu irmão acompanhando-o. Havia um sorriso em seu rosto, daqueles que só aparecem quando a saudade morre.

— Oi. — Adam cumprimentou ambos, apesar de não saber se seria apropriado cumprimentar George.

— Adam, esse é meu irmão, Theodore. — Falou, com um braço em volta do ombro dele.

— Olá, Adam. — Disse amigavelmente.

— Oi, Theo. Como foi a viagem até aqui? — Questionou, tentando criar alguma conversa.

— Não prestei muita atenção, minha cabeça estava em outro lugar. Sabe como é. — Contou, com um semblante um pouco caído. Diferente de George, Theodore parecia um pouco mais reservado.

— Ah, me desculpe. — Adam olhou para baixo, perguntando-se por que quis saber como foi a viagem de uma pessoa preocupada com a possível perda de uma mãe.

— Não tem problemas. Bem, estou indo para casa. Vou dormir no quarto de hóspedes por uns dias. — Theodore avisou e foi até a porta do hospital.

— Adam, você tem que trabalhar, não é? — George perguntou, acompanhando o irmão.

— Não. Hoje é meu dia de folga.

— Se quiser, pode vir com a gente.

— Aceito. — Concordou, sorrindo.

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— Como é que as coisas estão indo lá? — George perguntou ao seu irmão, entrando em casa e indo até a geladeira para preparar alguma coisa para comer.

— Normal, Jen e eu estamos ótimos. — Respondeu vagamente e sentou numa cadeira da mesa de jantar. — E você?

— Estou bem. O trabalho está calmo, não tenho do que reclamar. Só sinto falta do meu gato. — Contou, colocando os alimentos no balcão, começando a preparar uma refeição e ficando em silêncio por um momento. — Às vezes me sinto bastante distante de você e de nossa mãe, mas não tenho coragem de chegar e dizer `desculpa por não ter falado com você por todo esse tempo‘.

— Entendo, mas agora você tem a chance de voltar a ter mais contato com nossa família.

— Bem, me desculpe por não ter falado contigo todo esse tempo. Eu me sinto mal por não ter visitado nossa mãe antes.

— Você é meu irmão mais velho. Não dá pra ficar irritado com você. — Theo brincou, tentando deixar o ambiente mais leve. — Aliás, você tem sua vida. É normal que vocês não se vejam tanto. Acho que essa situação atual está te deixando sentimental demais. Vai ficar tudo bem.

— Espero que sim. — Falou mais calmamente agora. Todos ficaram em silêncio por um momento.

Adam estava encostado na parede e pensando no que fazer. Provavelmente iria ficar de fora dessa conversa. Tirou o celular do bolso e começou a navegar aleatoriamente no Facebook.

— O que você acha de me fazer uma visita daqui a uns meses? — Theodore perguntou, soando um pouco diferente do costume.

— Como assim? Nas minhas férias? — Questionou, preocupado com o tempo disponível para isso.

— É que eu queria que você visse sua futura sobrinha mais de perto. — Theodore falou, animado, e olhou para George com um sorriso no rosto.

— Sério? Nossa, que bom! — George riu, feliz com a notícia. — Com certeza vou encaixar isso na minha agenda. Vem aqui para eu te abraçar, por favor. — Pediu, lavando as mãos e o olhando.

— E como está a gravidez? — Adam perguntou, colocando o celular no bolso e indo até a mesa para participar da conversa enquanto os dois se abraçaram.

— Está indo bem, quinto mês já.

— Que bom que o bebê está bem.

— Sim.

— Enfim, vamos comer? — George perguntou, colocando os pratos na mesa.

~’~’~’~’~’~’

Alguns dias se passaram. Adam estava novamente no trabalho. Não houve nada de interessante durante esse tempo e ele até estava gostando disso, pois não havia muito o que pensar. Ele apenas vivia.

O céu estava nublado e o tempo estava ainda mais frio, não era a estação preferida dele. Não havia muitas pessoas na rua, o que era o esperado. Já havia acabado o seu horário de trabalho, mas ele continuou no edifício, simplesmente olhando a rua.

— Oi, Adam. — Harry falou, parando ao seu lado.

— Você também não quer sair, né. Não deve ter muita coisa lá fora e não quero voltar para casa para ficar sozinho lá. — Adam contou, parecendo um pouco distante.

— Porque você não sai com a gente de novo? Nós vamos ajudar na caridade nesse fim de semana. — Harrison convidou-o.

— Não posso, é que... — Adam lembrou de Johnathan e pensou que ele provavelmente estaria lá. — Estarei ocupado.

— Se você não quiser, é só falar. Eu entendo. — Harry sorriu com o canto da boca.

— Não é isso. É que eu não vou muito com a cara de John. — Falou vagamente, olhando para o teto e em seguida para ele.

— Qual é, ele não é uma pessoa má.

— Ele me beijou e não me disse que tinha namorada. — Falou seriamente.

— Mas ele nunca me disse que também gostava de... Ele traiu a namorada? — Harry parecia incrédulo, tentando digerir tudo o que ouviu.

— Eu conheço ele desde meus dezessete anos e ele nunca me disse que gostava de homens.

— Ele traiu a namorada comigo.

— Eu não vou conseguir falar com ela, acho melhor resolver com ele.

— Eu não vou conseguir falar com nenhum dos dois, eu só não quero vê-lo. — Disse Adam, voltando a olhar para a rua através da janela e ficando em silêncio por um tempo. — Acho melhor ir para casa, já já vai anoitecer.

— Sim, até amanhã. Obrigado por me contar isso, eu acho. Até mais. — Harry deu as costas e foi embora, um pouco desconcertado.

Adam saiu do prédio e enfrentou um vento gélido que cruzou a rua. Ao chegar em casa, foi logo preparando um banho quente para se aquecer um pouco. Odiava a sensação de frio, mas tinha um relacionamento ainda pior com o calor. Pelo jeito, nevaria em breve.

Entrou na água, sem roupa, e lá ficou por um tempo, simplesmente olhando para o nada e tentando não pensar em Johnathan. Ou então na forma que sua vida parecia não mudar. Talvez devesse fazer algo a respeito dessa rotina, sair de casa com uns amigos parecia não adiantar. Ou talvez isso fosse coisa da sua mente, tudo parecia tão monótono neste momento.

Isso tudo pedia uma maratona de filmes com Sam, era uma das coisas que mais o alegrava. Ainda na banheira, ligou para ela e a convidou. Depois de alguns minutos de bate-papo, desligou o celular e percebeu que já tinha passado tempo demais no banheiro.

Prendeu o fôlego e mergulhou a cabeça dentro da água.

~’~’~’~’~’~’

— Tá bom, o que é que vamos ver hoje? — Sam perguntou, sentada no sofá, com uma tigela cheia de pipoca ao seu lado.

— Terror? — Adam sugeriu, navegando na Netflix.

— Pode ser. — Ela falou, dando de ombros.

— Você gosta de terror, porque está indiferente?

— É porque eu não sei o que quero assistir. Socorrinho. — Falou, rindo um pouco.

Adam iniciou o filme e os dois ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas comentando coisas e criticando as ações estúpidas dos personagens.

— Sam, porque eu só conheço homem bosta? — Adam perguntou subitamente.

— O quê? — Questionou, um pouco surpresa.

— É que primeiro o carinha do Tinder que era chato pra caramba e depois John. O cara supostamente hétero que deu um corno na namorada comigo. — Falou, suspirando de indignação.

— Não vejo nada demais nisso, você tá fazendo uma tempestade no copo d’água. — Disse, calmamente. — E o que você pensa de George? — Perguntou-o, parecendo não se importar muito com isso.

— Ele é legal. — Sorriu com o canto da boca e olhou para baixo.

— Sabia! Você gosta dele, você está apaixonado por George. — Samanta falou com uma certa animação na voz, rindo.

— Eu não estou apaixonado por... George. — Adam negou, envergonhado. Endireitou a postura no sofá e encolheu os braços.

— Ah, tá. Bom saber. — Murmurou com um tom sarcástico.

— Eu não estou! — Exclamou, jogando uma almofada nela.

— Adam, eu nem disse nada. — Riu e jogou de volta. — Você obviamente sente alguma coisa por ele, pare de esconder.

— Você disse agora!

— Claro, você já me bateu. — Ela o olhou, franzindo o cenho. Ambos ficaram em silêncio por um momento.

— E se eu estiver me apaixonando por ele? Droga, eu não posso. — Fechou os olhos e suspirou, inclinando a cabeça para trás.

— Estamos revivendo os dramas de adolescência, isso aí! — Exclamou sarcasticamente sem muita empolgação. — Sabe do que você precisa? Amanhã de noite, eu, você e um bar. Ok?

— Acho que sim. — Confirmou com ânimo. — Aliás, o que pode dar errado?

— Então é um encontro.

— Volta o filme, por favor. Não tô entendendo mais nada. — Adam fez uma expressão de confusão.

— Socorro, quem é essa personagem? — Samanta começou a rir e pegou o controle para voltar a exibição.

~’~’~’~’~’~’

Adam foi trabalhar. O dia estava agradável, considerando que era inverno. Harry não veio falar com ele, o que era um pouco estranho já que a última vez que eles se falaram foi um pouco turbulenta. Talvez fosse melhor dizer um oi para amenizar o clima ruim.

Aproximou-se dele e abriu a boca para falar, mas alguma coisa parecia impedi-lo. Suas mãos começaram a soar e ele afastou-se de Harry. Sua mente começou a culpá-lo, mesmo sabendo que não era o errado da história talvez ele apenas estivesse ocupado e não pudesse falar, mas a mente de Adam ficou criando problemas em cima disso. Era um hábito ruim que ele sempre teve.

Ao anoitecer, ele se voltou para casa e tentou se arrumar. Pegou diversas peças de roupa e nada o fazia pensar apropriadamente apresentável, algo sempre parecia errado. Tirou a camisa e ficou olhando o espelho, talvez o problema não fosse a roupa.

— Adam, vamos embora. — Samanta gritou, batendo na porta. Ele foi até lá, apressado, e abriu a porta. — Olha esse abdômen!

— Qual é, não a pessoa mais atlética desse mundo. — Adam revirou os olhos e deu espaço para ela passar.

— Mas continua bonito. — Ela deu de ombros e entrou, sentando no sofá.

— Não minta para mim.

~’~’~’~’~’~’

— Adam, vai dar tudo certo. — Samanta segurou sua mão ao entrar no bar. Ao dar de cara com as pessoas, Adam ficou um pouco receoso. A música que tocava era calma, isso aliviava um pouco a situação.

— Sam, onde estamos? — Adam perguntou, ficando ainda mais nervoso.

— É só uma boate, calma. — Falou, parando no meio do lugar e o olhando. — Vai querer o quê?

— Ir para casa. — Expressou-se, visivelmente chateado. — Sam, isso não é lugar para mim.

— Se as coisas ficarem desconfortáveis, nós vamos embora rapidinho, ok?

— Certo. Eu quero uma cerveja, apenas.

— Ok, voltarei num instante. — Ela avisou, deixando-o sozinho e indo até o bar

Adam ficou pensativo, apenas olhando as pessoas ao seu redor. A maioria parecia ter a sua idade, havia alguns mais novos e outros mais velhos, mas boa parte deveria ter menos de trinta anos. Prestando mais atenção no ambiente, percebeu que era bastante convidativo. O chão de madeira escura dava um ar diferente ao ambiente. Talvez fosse bom falar com alguém, mas ele não sabia como se apresentar muito bem.

— Aqui está. Hora de praticar suas habilidades sociais! — Disse Samanta com ânimo, colocando um copo na mão de Adam.

— Eu sabia que você me chamou para cá porque cansou de me ver sozinho. — Adam revirou os olhos e deu um gole em sua bebida.

— Eu quero ver você se divertindo com algum outro cara, você tem que relaxar e aprender a socializar direito ou então morrerá virgem e sozinho.

— Eu não sou virgem. — Falou, franzindo o cenho e virando o rosto para o outro lado.

— Quanto tempo sem transar? — Samanta perguntou de forma objetiva.

— Por que você quer saber? Credo! Aposto que deve ser uma dessas pervertidas que me imagina transar com um outro cara. — Deu um grande gole em seu copo, deixando-o vazio.

— Oh, George, mais rápido! — Ela falou baixinho, imitando um suposto gemido.

— Meu. Deus. Pare com isso! — Adam falou, rindo de vergonha. Os dois começaram a rir, até que um desconhecido colocou a mão no ombro de Adam.

— Oi, nunca te vi por aqui. — Sorriu e o cumprimentou com um aperto de mão.

— Acho que vou voltar para o bar. — Samanta avisou, desaparecendo na multidão antes que Adam pudesse fazer algo.

— Olá. — Falou, tentando sorrir, mas estava ficando envergonhado demais para isso. — Nunca vim aqui, minha amiga me arrastou até aqui porque, segundo ela, estou muito tempo sem... — Parou de falar, percebendo que estava indo longe demais.

— Entendo. — Respondeu calmamente.

— Entende? Não é uma coisa que você devia entender... — Disse, um pouco envergonhado.

— Como assim? — Ele perguntou, confuso.

— Você é bonito, qual é o seu nome? — Adam mudou de assunto rapidamente, mas o estrago poderia já estar feito.

— Stuart, e o seu? — Perguntou, aproximando-se um pouco dele.

— Adam. Bem, Stuart, tudo bem com você?

— Estou ótimo. — Sorriu. De repente, começou a tocar uma música mais animada. — Quer dançar? — Perguntou, próximo ao seu ouvido.

— Adoraria. — Ele respondeu, indo até o centro do salão e fazendo contato visual com Samanta, sentada no bar, conversando com os outros gays e bebendo. Apesar de parecer tranquilo, Adam estava bastante inseguro por dentro. — Socorro. — Sussurrou numa forma que Sam entendesse seus lábios.

— Se vira. — Ela respondeu, dando de ombros e voltando a conversar.

— Eu adoro essa música. — Stuart contou, fazendo Adam focar nele novamente.

— Eu não conhecia até agora.

— Ah, uma pena. É uma ótima banda.

— Você dança bem! — Adam falou, olhando-o de cima para baixo.

— Você não está nada mal. — Respondeu, sorrindo.

Passaram-se alguns segundos de silêncio, eles apenas se olhavam. Stuart aproximou-se ainda mais de Adam e o beijou. Os olhos de Adam vacilaram, buscando entender o que se passou. A única coisa que ele pensou na hora foi responder o beijo, mas com o passar do tempo começou a pensar que alguém finalmente o achou atraente. Seu cérebro estava ficando confuso. Depois de alguns segundos, Stuart deu um passo para trás.

— Você beija bem. — Falou, rindo um pouco baixo.

Adam olhou em seus olhos e sorriu maliciosamente, agora era sua vez de beijá-lo. Colocou suas mãos em sua cintura e o beijou, dessa vez mais calmo, mais sincronizado. Apesar de ainda pensar em George, isso não era mais um impedimento. Sentia que finalmente estava livre das próprias amarras.

~’~’~’~’~’~’

Adam acordou em seu quarto, lembrando da noite passada. Tudo pareceu tão bom e ele acordou bastante satisfeito. Pela posição solar, já passou das nove da manhã. Sentiu-se agradecido por ser um dia de sábado, assim não precisava sair apressado para trabalhar.

— Bom dia. — Stuart o cumprimentou, encostado na varanda, fumando.

— Você pode se vestir, caso queira. — Falou, espreguiçando-se e sorrindo, olhando para o teto.

— Sem round dois? — Ele riu, indo até a cama e colocando a calça.

— Preciso saber o que aconteceu com minha amiga e estou morrendo de fome. Aceita comer alguma coisa? — Adam perguntou, levantando-se e indo vestir-se.

— Com certeza. — Respondeu, sorrindo. — Espero que você cozinhe tão bem quanto transa. — Falou alto, deixando Adam um pouco envergonhado.

— Vamos ver. — Respondeu, percebendo que já estava totalmente à vontade perto dele.

Depois de comer, Adam despediu-se de Stuart e ele deixou seu número gravado em sua agenda. Chegou brevemente antes de Stuart ir embora, porém não ligou.

~’~’~’~’~’~’

Várias horas se passaram. George ligou para Adam, chamando-o para passear um pouco pela praia. Ele aceitou, mas ficou pensativo pois o tempo não estava ajudando muito. Antes de ir até o local, resolveu passar na casa de Sam primeiro e checar se ela estava bem.

— Me desculpa por ter me separado assim de você. — Falou abraçando-a.

— Tudo bem, os caras eram bem gentis. Tinha até alguns héteros lá. — Contou, sorrindo maliciosamente com o canto da boca.

— Então está tudo bem. Só passei aqui para isso, estou indo até a praia.

— Ah, posso ir com você? — Perguntou, animada.

— Melhor não, George vai estar lá. — Falou com um semblante constrangido.

— Desapega dele, isso não vai dar certo!

— Ele é só meu amigo! — Retrucou, abraçando-a novamente para despedir-se.

— Boa sorte no seu encontro. — Falou, fechando a porta e o deixando sozinho na rua.

— Não é um encontro. — Disse para si mesmo e foi até a praia, ainda se sentindo envergonhado pela suposição de Sam, mas no fundo perguntava a si mesmo como é que iria acabar essa aventura com George.

Estava entardecendo, o céu começou a ficar alaranjado, deixando o ambiente ainda mais atrativo. Adam foi até a ponta da calçada e se encostou no muro, vendo a água do oceano e sentindo o vento frio que vinha de lá. Sentia-se agradecido por estar agasalhado e não precisar descer até lá, apenas caminhar na orla.

— Está um pouco frio, não é? — George iniciou uma conversa repentinamente, chegando por detrás dele e apoiando os braços no muro, ao seu lado.

— Pode-se dizer que sim. — Respondeu, um pouco distante. O pôr do sol arrebatava seus pensamentos e tudo o que ele queria era poder reviver o momento outras vezes, mas sempre estava ocupado demais para vê-lo mais vezes.

— Bem, como vai no trabalho e tudo mais? — Perguntou, olhando para o horizonte.

— Tudo está normal. Nada demais. E com você?

— Espero que tudo esteja bem. Meu tempo aqui já está acabando, aliás. — George contou, um pouco preocupado.

— E sua mãe? Você tem que cuidar dela, não é?

— Sim, mas assim que ela se estabilizar, voltarei para casa. Não posso largar meu trabalho.

— Entendo, pelo menos você voltará para fazer umas visitas. Tenho certeza. — Adam sorriu, tentando ser positivo.

— Ah, pode apostar. — George respondeu, animando-se. — O que acha que devemos fazer agora?

— Qualquer coisa. Mas antes eu preciso tirar uma foto dessa vista. — Falou, tirando o celular do bolso e fotografando o sol encostando na água do oceano.

— De fato é uma ótima paisagem.

— Acho que é a última vez no ano que estou vendo um pôr do sol desses. Daqui a pouco começa o inverno e tudo vai ficar nublado, horrível. — Ao tentar colocar o celular no bolso, acabou se distraindo e o derrubando. O aparelho bateu no chão e caiu na água. — Não, não, não! — Gritou, colocando a mão na cabeça. George ficou boquiaberto, sem saber como reagir.

— Me sinto um pouco culpado por isso. — Disse, constrangido com o acidente.

— Ah, cara. Minha agenda, meus contatos... meus contatos! Eu não liguei para ele, eu já esqueci o número dele. — Adam estava extremamente irritado, cada palavra que saia de sua boca parecia ainda mais intensa.

— Isso me parece familiar.

— Ah, sim. Devo ser honesto, na verdade eu fiquei com medo de te ligar e resolvi mentir. — Falou, acalmando-se um pouco, mas sem o olhar. George não se ofendeu com isso, mas o entendeu.

O celular de George começou a tocar repentinamente, mas o vento e as ondas que se quebravam na grande barreira tornavam a ligação desconfortável.

— Vou atender isso e já volto. — Avisou, colocando a mão no bolso e indo até o outro lado da rua, entrando em uma loja.

Adam ficou com os braços apoiados no muro, olhando para o local na água onde seu celular caiu. Sentiu-se extremamente frustrado com tudo isso, perdeu dinheiro, tempo e talvez boas histórias. Sua mente estava a pleno vapor, pensando em como reverter isso, mas nada vinha à tona. Tudo parecia um grande borrão de raiva e frustração.

— Que merda!

Depois de alguns minutos, percebeu que George não tinha retornado. Perguntou-se o que tinha acontecido, já que não é normal uma ligação durar tanto tempo. Atravessou a rua e foi até a loja onde ele estava. Apenas o atendente estava lá, parado, atrás do caixa, olhando para Adam.

— Boa tarde, um cara entrou aqui nesse instante. Sabe me dizer onde ele está? — Perguntou, preocupado.

— Ele foi até o banheiro, tem certeza que quer ir até lá? — Questionou, um pouco apreensivo, mas Adam já estava andando até o banheiro.

— Obrigado. — Agradeceu, abrindo a porta do banheiro e entrando. George estava se olhando no espelho, chorando. As lágrimas caiam de seu rosto, porém ele não fazia som algum. — O que aconteceu?

— O que você acha? — Perguntou calmamente, olhando direto em seus olhos.

— Ah, não... — Adam olhou para o chão, procurando algo em sua mente para confortá-lo, porém não havia nada. Sentia-se tão impotente nessa hora, tudo o que fez foi abrir a boca e a fechar em seguida.

— Eu não sei o que fazer agora. — George falou, colocou a mão no rosto e enxugando as lágrimas.

Adam fez silêncio por um momento e o abraçou, porém ele não retribuiu. O fato de estarem num banheiro não parecia mais estranho, tudo ficou tão pesado para ambos que não se importaram com mais nada.

— Eu não posso dizer que vai ficar tudo bem, porque eu não sei. — Adam falou, olhando nos olhos de George.

— Eu vou ficar bem. É só... pelo menos ela não está mais sofrendo, não é? — Sorriu, mas seu semblante estava extremamente triste. Talvez fosse seu cérebro tentando aliviar a dor interna.

— Sim. — Ele concordou, percebendo que ainda estava abraçando-o. Ao tentar soltá-lo, George retribuiu o abraço.

— Ela quer ser enterrada aqui, na cidade. Mas eu não poderei vê-la, porque tenho que ir embora.

— É mesmo, você tem que ir embora.

— Você foi uma ótima surpresa nesse lugar, eu pensei que as coisas iam ser chatas. — George parou de abraçá-lo e lavou o rosto na pia.

Adam continuou parado, olhando-o e percebendo que realmente estava apaixonado por ele. Talvez fosse o sentimento mais egoísta que já teve, porque a mãe dele acabou de morrer e ele estava pensando nele desse jeito.

— Vamos lá, eu te deixarei na sua casa. — George falou, enxugando as mãos e saindo do banheiro. Adam acompanhou e percebeu que o gerente o olhava estranho.


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