"Harry acordou na manhã seguinte, dentro de um saco de dormir no chão da sala de visitas. Viu uma lasca de céu entre as pesadas cortinas: era um azul frio e claro de tinta aguada, entre a noite e a alvorada, e tudo estava silencioso, exceto pela respiração lenta e profunda de Hermione e Rony. Harry olhou para as sombras escuras que eles projetavam no chão ao seu lado. Rony teve um acesso de galanteria e insistiu que Hermione dormisse sobre as almofadas do sofá, por isso a silhueta dela estava acima da dele. O braço da garota formava um arco até o chão, seus dedos a centímetros dos de Rony. Harry ficou imaginando se teriam adormecido de mãos dadas. [...]"

— Harry Potter e as relíquias da morte:

Cap 10 – A história de Monstro.

— Ron, pare de bobagens! — Hermione disse pegando seu saco de dormir.

Ela, Rony e Harry estavam arrumando as coisas para dormirem no Largo Grimmauld. Poderiam dormir em alguns dos quartos da casa, mas além da poeira que eles juntaram, Hermione pedira para que os três dormissem na sala, alegando que não queria ficar sozinha.

Agora, Rony estava insistindo que ela dormisse sobre as almofadas do sofá, e ela estava insistindo que seria uma injustiça, afinal, seria por causa dela que os três dormiriam na sala. Enquanto os dois discutiam, Harry parecia não se atentar a discussão.

— Não são bobagens. Harry também concorda, ele não vê problema nenhum em você dormir no sofá. Diga a ela, Harry! — Rony pediu e só então o garoto voltou à atenção para eles.

— Hermione, o Rony tem razão. — assim que ele disse o ruivo lançou um olhar que dizia “Eu avisei!” para Hermione — Se tivéssemos que decidir quem precisa de mais conforto sempre escolheríamos você, então pare de discutir.

— Por que eu seria a escolhida? — ela perguntou cruzando os braços.

— Porque você é uma garota! — Rony respondeu.

— Que machismo!

— Não, não é machismo. É cavalheirismo! Hermione, é serio, pode ficar tranquila. Realmente não tem problema. — Harry disse parecendo exausto com a confusão e entrou no seu saco de dormir.

— Tudo bem, Harry. Obrigada! — ela deu-se por vencida.

Rony não pode evitar de sentir uma pontada de ciúmes ao vê-la agradecendo somente a Harry, afinal, foi ele que insistiu para que ela dormisse no sofá. Ele a ajudou-a com seus cobertores e colocou seu saco de dormir ao lado do sofá para que ficassem próximos.

Harry foi o que dormiu primeiro e logo após Hermione adormeceu também. E Rony já pensava nas consequências que essa viagem o traria, pois agora ele sempre era o último a conseguir dormir e também estava com o sono mais leve.

Com o cair da noite ele acabou por adormecer também, mas logo acordou ao ouvir os gemidos de Hermione. Ela estava tendo um pesadelo e ele soube disso apenas a fitando. Então, sentou-se e passou a chacoalha-la bem devagar até que ela acordasse assustada.

— Hermione! Hermione! Você está bem?

— Estou... Eu estou bem, obrigada! — ela disse passando a mão por seus cabelos enquanto encarava o teto.

— Tem certeza?

— Tenho... Era só um pesadelo. — ela ofereceu a ele um sorriso fraco e ele a retribuiu.

— Tudo bem. Eu vou voltar a dormir então! Se precisar de algo, sabe que pode me chamar. — ele disse deitando-se novamente em seu saco de dormir.

— Você pode segurar a minha mão? Por favor, só ate eu dormir... — pediu angustiada lançando sua mão ao chão e logo o ruivo a agarrou.

— Claro que posso.

— Obrigada. — ela agradeceu mais uma vez ao sentir o garoto deslizar os dedos sob sua mão, acariciando-a.

— Quer me contar?

— Contar o quê?

— Seu pesadelo, ajuda sabia? Bem, pelo menos com o Harry funciona. Eu acho, né.

— É melhor não, desse jeito vamos acordá-lo.

— Tenho certeza que não. Harry está em estado de sono profundo!

— É, bem diferente de você.

— Por que diferente de mim?

— Porque seu estado de sono profundo significa roncos.

— Eu não ronco! — fez-se de ofendido.

— Ronca sim! E bem alto.

— Nem tão alto assim.

— Vou fingir que concordo. — ela disse rindo baixinho.

— Não quer contar?

— Nada além de comensais da morte. — ela disse após soltar um longo suspiro.

— Você está apavorada, não é?

— Não... É só que... Eu queria muito saber como foi que nos encontraram! Nos escondemos entre os trouxas, como eles podem ter nos encontrado?

— Eu não sei, definitivamente não sei.

— Eu também não, e é isso que me apavora! Como vamos sair por aí caçando Horcruxes se não estamos seguros em nenhum lugar?

— Hermione, acho que a essa altura você já devia saber que não estaríamos seguros em nenhum lugar.

— Eu sei, mas... Como nos rastrearam assim tão rápido? Não deveria ser tão fácil assim!

— É, nisso você tem razão. Mas agora não é hora de ficar pensando nisso, você precisa dormir e descansar.

— É um pouco difícil dormir com todos esses pensamentos, e quando durmo vem os pesadelos.

— Tente pensar em outra coisa.

— Tipo o quê?

— Pense em algo que te deixa feliz.

— Acho que não consigo.

— Como não?

— Você sabe que eu tenho dificuldades com isso, por exemplo com meu Patrono. — ela disse o lembrando da dificuldade que tinha em produzir tal feitiço.

— Não sei por que a dificuldade, normalmente até pensar nas refeições preparadas pela minha mãe me fazem feliz.

— Você pensa nisso quando produz seu Patrono? — ela perguntou incrédula.

— Não, claro que não. Costumo pensar em quando me tornei monitor, quando todos gritaram que eu era um rei, essas coisas... E você?

— Eu me lembro de quando você e Harry me salvaram do trasgo no primeiro ano.

— Jura? — ele perguntou surpreso por fazer parte da lembrança dela e feliz por ela estar compartilhando sua intimidade com ele.

— Juro. Foi à primeira vez em que me senti querida por outras pessoas, a primeira vez que senti que tinha amigos.

— Como assim?

— Eu cresci entre trouxas... Todas as garotas da minha idade me achavam esquisita e não queriam ficar comigo. Quando recebi minha carta de Hogwarts minha mãe disse que logo eu faria amigas, acho que ela tinha se enganado. Talvez se eu tivesse tentado fazer amizade com meninos tivesse dado mais certo, afinal vocês dois foram os primeiros amigos que eu tive.

— Ah, você também tinha o Neville.

— Eu sei, mas ainda assim é diferente. Você dois não são só meus amigos, são meus melhores. Mas logo chegou a Gina, ainda bem.

— Nem tão “ainda bem”, ela sempre rouba você da gente!

— Coisa de garotas.

— Ainda bem que não tinham outras garotas então. — ele disse e ela riu.

— Gina é minha melhor amiga.

— E você é a minha! — ele beijou as costas da mão dela e ela ficou completamente sem graça.

— Acho que vou seguir seu conselho e tentar dormir. — disse agradecendo pelo cômodo estar praticamente todo escuro.

— Tudo bem, fique tranquila que eu estou segurando sua mão.

— Obrigada. Boa noite, Ron.

— Boa noite, Mione.