Lovey Dovey escrita por Batsu


Capítulo 1
Início de Abril.


Notas iniciais do capítulo

Eu vou me esforçar pra isso daqui não sair maior que o capítulo, juro, mas tenho mesmo muita coisa pra falar!
Gostaria de primeiramente, agradecer o apoio das meninas do grupo luna & zorobin no wpp. Eu faria você perder horas aqui citando o nome de cada uma, estamos atualmente com fodendo 17 membros e cada uma delas sabe que eu sou enrolada, que eu escrevo uma linha por dia e mesmo assim todas me deram um "ganbatte, vai ficar tudo daijobu" quando precisei. O plot dessa história, inclusive, surgiu em uma das conversas barra surtos com elas. ISSO DAQUI É PRA VOCÊS, PORRA.
Quem me conhece sabe que eu não tenho um bom histórico com longs, massss juro solenemente não repetir os mesmos erros com essa fic aqui. Ela é minha nova filha, não vou deixar morrer de fome e desidratada sem capítulos novos!
Por favor, leiam as notas finais e espero que gostem ♥



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O início de Abril é sempre lembrado pelo desabrochar das flores da estação e o clima agradável, no entanto, é também marcado pelo começo do ano letivo para os estudantes das escolas públicas e privadas do país. E de fato, pelas ruas movimentadas da cidade, exatamente às 7h46m da manhã, havia estudantes com seus mais variados uniformes pelas estações de ônibus, ou atravessando faixas de pedestre, e no fim de suas trajetórias acabariam todos em uma classe. Era o primeiro dia de aula do ano.

Nami bateu o portão ao sair na calçada, bufando pela bronca que levou da irmã mais velha instantes atrás. Tratou de arrumar a bolsa mal colocada nos ombros pela pressa, ao mesmo tempo em que sua mão livre tirava a franja ruiva dos olhos. Ela não estava mesmo atrasada, sua escola ficava a quinze ou vinte minutos caminhando de onde morava.

Em sua rua havia alguns ipês, que pela estação, encontravam-se inteiramente floridos. Mesmo que ventasse, as flores ainda desabrochando mantinham-se firmemente presas, provando não ser o ápice da primavera ainda.

Seu longo cabelo esvoaçado refletia o brilho da manhã, a brisa graciosa movia o tecido escuro de sua saia, fazendo com que as pregas sutilmente se abrissem. O blazer parecia a sufocar abotoado por completo, mas era somente a ideia que causava por adequar-se com perfeição ao seu busto. O laço carmesim completava o uniforme entrando também em contraste com as outras cores. Nami era uma aluna admirável não só por sua beleza atípica, contudo pelo seu porte.

Perto do colégio havia um terminal e até mesmo quando não marcava os minutos chegava junto do ônibus escolar. Quase sempre via Usopp descendo e o acompanhava dali, o que era cerca de três minutos até a escola. Hoje não o encontrou e seguiu sozinha.

Daquele ponto então, era possível avistar o prédio da maior escola da cidade, a Shinsekai High School. Não apenas pelo tamanho, Shinsekai também se destaca pelas notas e o ensino de excelência, o que a limita somente aos estudantes com um bom histórico. Nami era a melhor aluna de sua sala no ano passado, mas não que tivesse algum talento especial, ela se esforçava muito e ainda assim, nunca conseguiu reconhecimento da diretoria, existiam muitos alunos melhores que ela no colégio.

Talvez o que a fizesse popular entre os estudantes fosse seu cabelo. Era naturalizada japonesa, mas não nascera no país, havia sido adotada. Inclusive, tivera problemas ao fazer a matrícula na Shinsekai, realmente achavam que ela havia pintado o cabelo, e apesar de permitirem que os alunos personalizassem seus uniformes, maquiagens e acessórios no geral, cabelos tingidos seria mal visto pela vizinhança. No fim, no meio do ano letivo em que ela se matriculou acabaram liberando. A cidade era relativamente grande e ficava próxima de Tóquio, muitos estudantes transferidos com seus mais diversos estilos e etnias procuravam escolas em conta pela região, mesmo que fossem tão reservados, eles não poderiam simplesmente os recusar sendo uma instituição do governo.

A ruiva atravessou a rua frontal ao colégio com um sorriso desenhado nos lábios, estava mesmo animada para aquele dia. Chegou ao seu armário, o mesmo do ano anterior, recebendo olhares admirados de calouras. Elas cochichavam algo sobre ela possivelmente ser veterana para exalar tanta determinação já no primeiro dia de aula. Nami sorriu para elas, havia mesmo se esquecido que a partir de agora seria uma senpai.

Trocou os moccasins pelas sapatilhas padrão da escola, alisando a saia com as mãos uma última vez ao sair. Mas antes que pudesse dar o primeiro passo em direção ao corredor a fim de checar a listagem das salas, sentiu seu ombro recair com as mãos de alguém apoiando-se que a puxava para baixo.

— Nami! — Era seu melhor desastrado e covarde amigo, Usopp. — Eu perdi o ônibus! No primeiro dia! — Ele parecia sem fôlego.

— Percebi — respondeu indiferente. — Mas não se apoie em mim! — Ele a obedeceu de imediato, temia Nami até nos dias de seu melhor humor.

Usopp morava longe do colégio, tinha de andar bons minutos até o ponto mais próximo de sua casa e depois ainda fazia um percurso inteiro de ônibus para chegar. Apesar da enorme tabela de ocorrências por atraso, Shinsekai se orgulhava em tê-lo como aluno. Usopp venceu as nacionais de um torneio de matemática no ano anterior, ele era incrivelmente habilidoso com contas, desde que a ruiva o conhecera, nunca o viu errar um alvo. Era como uma calculadora de ângulos e probabilidades humana.

— Será que estamos na mesma sala de novo?

— Eu não vi a lista ainda. — Estremeceu.

Ainda que fosse de certa maneira popular entre os alunos, Nami não conhecia muitas pessoas que pudesse chamar de amigos. Ela tinha a Usopp e Robin. E Zoro, quando em ocasiões que eles não discutiam por qualquer coisa imbecil. Seria terrível para a ruiva não estar na sala em que seu companheiro também estivesse.

Seguiram o fluxo de alunos, deparando-se com um aglomerado em frente ao mural. A maioria deles eram calouros nervosos com a escola nova, os outros comemoravam estarem na mesma sala ou choravam pelo oposto. Nami pedia licença ao tentar passar entre os estudantes, seus lábios comprimidos evidenciavam sua insegurança.

Usopp chegou primeiro e ela demorou conseguir alcançá-lo, quando enfim o fez, antes de ter a chance de perguntar o que quer que fosse, ele pulou contra seu corpo, abraçando-a e comemorou estarem na mesma sala mais uma vez. Ela não podia estar mais feliz, embora não tenha devolvido o súbito abraço. O amontoado de alunos abriu um espaço em volta deles, encarando-os surpresos. Nami cutucou o amigo queixando-se para que a soltasse.

— Não faça mais isso — sussurrou alguns passos depois do grupo do mural.

— Eu não fiz nada de errado.

— Não, mas esse ano não somos mais calouros.

— O que tem a ver? — Ele revirou os olhos.

— Se alguém que é visto sempre tão próximo a mim ficar me abraçando, isso diminuirá as chances dos meninos mais novos se declararem! — A ruiva tirou o cabelo dos ombros, piscando convencida para ele.

— Eu perdi as contas de quantos corações você destruiu ano passado.

— Foram seis. Rejeitei seis garotos.

— Seis?! — Era incrível como ele ainda se surpreendia com a personalidade da amiga.

— O Sanji não conta, eu rejeito ele todos os dias. — Deu de ombros.

Ela não era assim tão disputada, na verdade, comparada a outras garotas seu número de rejeições era bem pequeno.

Atravessaram o primeiro prédio, alcançando o segundo por um não tão estreito corredor coberto, as classes de aula ficavam lá. Ainda tiveram de subir um lance de escadas, para enfim chegar aos segundanistas. Em todo o percurso viram faces conhecidas e colegas que compunham a turma do ano anterior, também outras novas. Usopp acenava de volta os cumprimentos que ganhava.

Havia placas acima das portas corrediças indicando as salas do segundo ano e por todos os cantos tinha alunos, o que era de se esperar de uma escola do porte de Shinsekai. Nami e Usopp iam rumo ao 2-C, o que obviamente significava que passariam pela turma A antes, a nova turma de Sanji. Não esperavam encontrá-lo ali, eles passaram bisbilhotando por acaso, curiosos sobre os alunos. Viram-no flertando com um grupo de meninas e a ruiva agradeceu mentalmente por não estarem na mesma sala este ano.

Sanji-kun era o príncipe encantado da escola, um cavalheiro que colocava as garotas antes dele mesmo e arrancava suspiros apaixonados por onde passava. Incrivelmente, era o único homem que frequentava as aulas de deveres domésticos, não apenas para cantar as meninas, mas sobretudo por gostar de cozinhar.

— Ele torceu o braço? — perguntou Usopp depois de tê-lo notado com apoio médico.

— Acho que sim — resmungou estalando a língua, ela não parecia surpresa. — Sanji-kun faz parte do time de futebol porque tem medo de ferir as mãos, mas as meninas fazem educação física na quadra ao lado. Não duvido que aquilo tenha sido consequência de correr no campo olhando para alguma saia curta. — Nami não suportava o lado galanteador do amigo, ao menos quando não precisava de nada e ele não fosse útil.

O sinal tocou pouco depois de tomarem seus lugares na classe.

Permanecer em um determinado tempo num novo espaço em que a mente não está habituada, e mapear o ambiente com intuito de ser capaz de lembrar-se dele quando não estiver mais lá, torna-se a principal função do cérebro. Até mesmo as partículas de poeira só visíveis com o feixe de luz solar vindo da cortina entreaberta se tornam bases para a memória temporária de um dia como aquele, tudo isso contribui involuntariamente para que o tempo passe sem ser percebido.

Com o queixo apoiado sobre as mãos, Nami se atentava à lucidez do dia, perdida quanto ao andamento da aula. Perguntava-se quem seria o novo professor de Geografia. Sentada na fileira da janela com vista ao pátio, vez ou outra ela podia sentir a clara cortina roçando em seu cabelo, a brisa vinha de fora e movia sutilmente o tecido. O ambiente externo lhe tentava uma espiadela, entretanto a ruiva bem sabia que admirá-lo através do vidro lhe ocasionaria em uma bronca. Inspirou fundo, entediada, esperava que este ano não fosse tão monótono como o anterior.

Usopp tirou-a de seus devaneios com um cutucão avisando que aquela aula havia terminado. Teriam dez minutos livres até o próximo período, ela sugeriu ir até os terceiranistas e ver como Robin estava, não tinha visto a amiga na entrada.

Os dois levantaram-se pedindo licença, saindo então para as salas do terceiro ano. Era incrivelmente comum vê-los pelas salas veteranas, encontravam Zoro e Robin sempre nos intervalos durante uma aula e outra.

— Como vamos descobrir em qual sala eles estão? — perguntou Usopp, nervoso só de imaginar ter de se apresentar para os novos veteranos a fim de saber dos amigos.

— Podemos espiar as salas. — Também sentia-se desconfortável com a ideia de encarar os estudantes mais velhos, mas seria melhor do que aparecer nas classes perguntando por eles.

Chegando logo ao corredor terceiranista, os alunos do lado de fora não lhe eram completos estranhos, conheciam uns de vista. Eles pareceram também reconhecer os dois e apontaram de bom grado a sala de Robin adivinhando o que faziam ali, era a classe D, aquilo lhes poupou tempo.

Entraram pela porta aberta, pedindo licença e desviando das rodas de alunos formadas pelo caminho. Nami ainda procurava pela amiga quando esbarrou em uma das carteiras, escutando em seguida uma queixa de dor. 

— Por favor, me perd.. — A ruiva parou a reverência ao perceber de quem se tratava. — Ah, é você.

Roronoa Zoro irritou-se com o olhar de desprezo e indiferença que ganhou da colega.

— Você bateu a ponta da mesa no meu estômago! — Uma veia saltou em sua têmpora. — Tem noção do quanto isso dói?!

— Dói mesmo — concordou ela.

— Então continue o pedido de desculpas! — bufou, ele perdia a paciência facilmente sempre que lidava com a ruiva.

— Nah — Ela balançou a mão dando um tapinha no ar despreocupado. —, eu tenho pouco tempo, quem sabe outro dia? — debochou.

— Robin! — Usopp acenou aliviado ao finalmente enxergá-la na classe, ela era a amiga em comum que mantinha Nami e Zoro ligados, apartava as brigas deles só de estar por perto.

A ruiva virou-se e pode também vê-la, ela estava no lado oposto da classe. Correu até a morena de braços erguidos, abraçando-a pelas costas quando a alcançou.

— Robin-chan! — Esfregou-se como um gatinho manhoso. — Que saudades! Como foram suas férias?

— Bom dia, Nami — respondeu em um daqueles sorrisos majestosos que somente ela sabia dar, retribuindo o carinho da melhor amiga desajeitada pela posição.

Nami enfim soltou-a e só então percebeu que ela havia cortado o cabelo. Ela sem pensar a questionou sobre o assunto.

Desde que se conheceram, lembrava-se de Robin com o cabelo comprido, ela não podia estar mais surpresa por agora tê-la encontrado com os fios pelo ombro e franja. Sempre tomou a amiga como exemplo, não somente quanto aos estudos, mas também no quesito beleza, afinal, Robin era admirável.

— E você deixou o seu crescer. — Robin acariciou o cabelo alheio, deixando que deslizasse por seus dedos abertos.

A ruiva, por outro lado, sempre tivera os fios curtos, pouco abaixo do queixo. Quando ela finalmente convenceu-se de não cortá-los entre um ano e outro para ficar como Robin, ela cortou. Estava um pouco decepcionada.

— Sim! — Bufou posicionando as mãos na cintura, como sempre fazia quando irritada. — Mas não mude o assunto, não posso te perdoar pelo o que fez!

Usopp assistia elas sorrindo, para ele não tinha nada como estar de volta e rever aqueles com quem mais se importava.

Ele se aproximou de Nami quando perdeu as anotações da aula de Geografia na primeira semana do ano anterior. Ela se dispôs a emprestá-lo as dela por um preço conveniente e então ele descobriu que a ruiva que sentava-se ao seu lado cobraria por todos os favores em diante, e seus preços nunca eram aceitáveis como alegava ser.

Zoro esbarrou-se nela em um intervalo e os dois partiriam para o chão caso não fosse por Robin lá para fazê-los se acertarem, chamou Nami para almoçar junto deles depois disso e ela levou Usopp. Em nenhuma das situações a ruiva saiu-se como simpática ou exalou gentileza, de fato ela era dona de uma personalidade conturbada e difícil de se lidar, entretanto, ela conseguiu bons amigos e um lugar para se encaixar na Shinsekai.

— A Robin ficou ainda mais bonita, não é mesmo? — Usopp comentou, mas não obteve resposta do amigo que agora deitava de cabeça baixa na mesa. — Oi, eu falei com você! — disse deixando um peteleco em sua orelha exposta.

Tch, não enche! — resmungou.

— O que você acha?

— É.

Usopp pode ver os olhos do Zoro passando por Robin uma última vez antes de escondê-los outra vez nos braços usados como apoio.

Depois de ter conferido sua melhor amiga e onde era sua sala, Nami sentia que poderia suportar outra aula chata. Ela checou o horário e grudou no pulso do amigo narigudo, correndo para fora com medo de qualquer chance de atraso no primeiro dia. Ela o soltou e virou-se de frente para zombar do como era lento ainda correndo de costas, mas alguém que também corria trombou-se com ela.

A velocidade que percorriam não permitiu que ela reconhecesse o culpado. Ela soube ser um menino pelo cabelo curto e escuro, mas todo o resto lhe pareceu um vulto. Todavia, uma cicatriz característica abaixo do olho lhe chamou a atenção.

Ela desequilibrou-se e Usopp a segurou pelo braço antes de cair, o garoto continuou como se nada houvesse acontecido.

Nami voltou batendo os pés para a sala de aula, julgando o menino com um caráter questionável, a cicatriz só lhe dizia o quão delinquente ele devia ser e era bastante provável que corria para matar aula. Ela odiava esse tipo de homem, talvez nunca se entendera com Zoro por ele chegar muito perto desse nível.

Ela então passou o resto dos períodos odiando o cara da cicatriz, sem nenhuma pista sobre quem poderia ser, desejava que pudesse vê-lo novamente para acertar as contas, afinal, ele quase a derrubou!

O sinal marcou o intervalo e o som de conversas e risos preencheram o ambiente antes silencioso. Os alunos guardavam o material e tiravam da bolsa seus bentos, alguns juntavam-se ao fluxo no corredor e dirigiam-se à cantina.

— Você não vai comer? — perguntou Usopp, ele juntava sua carteira a dela com seu bento em mãos.

— Eu trouxe dinheiro hoje. — Jogou a cabeça para trás na cadeira, claramente desmotivada, as últimas aulas tinham excedido o limite de tédio que ela era capaz de suportar.

— Não acredito! — Ele enchia a boca com arroz. — Você sempre faz sua comida porque é mais barato.

— Eu sei, mas — Revirou os olhos. — ontem foi o último episódio daquele dorama. — ela diminuiu o tom de voz, não queria que ninguém além do narigudo descobrisse que perdia seu tempo útil com aquele tipo de coisa. — Fiquei com preguiça de cozinhar depois, acabou meio tarde.

— Sua irmã não reclamou?

— Nojiko?! — Endireitou-se tomando uma salsicha do bento de Usopp sem antes pedir. — Você acha que ela perderia a oportunidade de reclamar de algo? — Riu exalando sarcasmo e levantou-se.

— Aquela era minha última salsicha... — choramingou ele. — Vai na cantina?

— Aham — Acenou sem olhá-lo. —, se Robin aparecer peça para ela esperar por mim.

Não havia nada que animasse mais a ruiva do que dinheiro fácil. Talvez as promoções relâmpago no mercado de seu bairro também tivessem o mesmo efeito, mas a questão era que dinheiro alterava o humor dela, então era de se imaginar como sentia-se sabendo que gastaria logo no primeiro dia do ano letivo. Ela trabalhara como atendente em um café nas férias e era o resto do salário que ela utilizaria para comprar seu almoço. Ela mentalmente ensaiava as palavras que usaria para convencer a tia da cantina a lhe dar um desconto de noventa e sete por cento no lanche.

Tirou o casaco do uniforme e o amarrou à cintura, o calor do sol do meio-dia tornava quase impossível olhar pelas janelas do corredor. Aquele brilho intenso era resultado de um dia limpo, não havia nuvens no céu que filtrassem os raios solares.

Passando pela turma A, sentiu-se coagida a ao menos cumprimentar Sanji. Ela parou diante da porta de correr, mas antes que ela pudesse puxá-la desistiu da ideia lembrando-se o quão dramático ele seria por não estarem mais na mesma sala. Nami aguardaria até a saída ou quando seu humor melhorasse para lidar com o loiro.

Sanji era incrível, seu pai era dono de um restaurante gourmet e ele não podia ser menos talentoso como filho dele. Ele foi o primeiro cara a se declarar para ela na Shinsekai e depois de tanto persegui-la, o grupo acomodou-se com a presença dele. Seu fraco por mulheres era o que lhe tirava a paciência. Seu cavalheirismo constante e sempre achar que ela precisava ser protegida ou ajudada, era como se não acreditasse que ela fosse capaz de fazer qualquer coisa sem ele.

Nami era autossuficiente, independente, vestígios do que aprendera com sua mãe, mulher que cuidou sozinha de duas meninas como suas próprias filhas. E nunca precisou de homem algum. Sanji só ia contra seus princípios, não que o odiasse ou algo do gênero.

Ela virou descendo as escadas, sustentando-se pelo corrimão e suando com o calor. Achou uma máquina de bebidas no corredor dos primeiranistas e ficou ali, questionando a hipótese de comprar um chá gelado como acompanhamento, mas seria mais um gasto e ela não estava disposta.

Deixando a máquina, ela seguiu alguns passos adiante, parando bruscamente para correr e voltar antes de umas alunas que também iam comprar bebidas. Ela decidira-se só depois de sair, estava muito calor para ignorar algo refrescante. E agora as meninas encaravam-na assustadas.

— Uh, bom dia...? — Sorriu amarelo, quase abraçando a máquina a fim de mostrar claramente que havia chego primeiro.

As garotas devolveram o mesmo sorriso forçado e deram meia-volta. A ruiva não se atentou ao que elas sussurraram, mas possivelmente chamaram-na de louca.

Nami escolheu um chá gelado, lamentando os ienes que teve de deixar na máquina.

Quando finalmente passou pelo pátio e alcançou a cantina, ela rastejava-se com o calor. O que mais a desanimava era lembrar que nem era verão ainda, então esperava-se que a temperatura só subisse.

Felizmente, a cantina encontrava-se vazia, ou quase, tinha um menino lá, mas agradeceu por não ter que lidar com filas. Jogando os braços por cima da bancada alta, notava-se sua preguiça e talvez falta de bons modos, ela ainda pensava sobre o que comprar.

— Só temos pão de melão — a tia informou como se previsse a ruiva.

Nami gostava de pão de melão, não se comparava ao seu bento, porém pelo menos não passaria fome nas últimas aulas. Ela assentiu como resposta.

— Eu quero todos — o menino a seu lado disse antes que ela pudesse pedir por um.

Ela endireitou-se e o encarou boquiaberta, preparando-se para discutir com aquele sabe-se-lá-quem egoísta.

Parando para repará-lo, o menino tinha o colarinho da camisa escolar desabotoado e as barras da calça estavam dobradas desajeitadamente, formando uma espécie de calça capri. A atendente lhe comunicou o preço e ele revirou os bolsos atrás de dinheiro, assim Nami enxergou também uma corrente pendurada ali.

Perdida em seus pensamentos e pré-conceitos, ela não ouviu quanto sairia os quatro pães de melão restantes e não percebeu que o garoto não tinha a quantia necessária. Ele virou-se para ela.

Nami viu uma cicatriz abaixo do olho esquerdo dele, descobrindo então que tratava-se do mesmo cara que quase a levara ao chão no final do primeiro período. Ela o encarou sem reações, mentalmente admirada, não o imaginava com feições tão... infantis. Ele tinha o cabelo escuro, bagunçado, do tipo que parece um silencioso convite a ser acariciado.

Assistiu-o se aproximar, ele coçou a nuca aparentemente sem graça e a ruiva esperou que o cara fosse lhe pedir desculpas por mais cedo. De imediato ela cruzou os braços sobre o busto convencida, achando que ele a reconhecera.

— Me empresta duzentos ienes?

Piscando confusa, ela custou acreditar que ele havia mesmo pedido aquilo para ela. Logo ela.

— O que você disse? — pendeu a cabeça ao lado, esticando os lábios em um sorriso falso.

— Preciso de duzentos ienes para conseguir pagar meu lanche. — Colocou as mãos no bolso balançando-se para frente e para trás. — Você parece bem legal. — Sorriu.

Nami inspirou, expirou, repetiu a si mesma que não iria surtar. Afinal, ele era apenas um menino, muito provavelmente primeiranista, foi um equívoco tudo o que pensou sobre ele mais cedo.

— Não — redarguiu no tom mais calmo que era capaz de falar.

— Heh? Por que não?! — Ele soou chateado. — Eu tô com fome!

— O que isso tem a ver comigo? — Ignorou o menino, voltando-se a tia que segurava os pães. — Eu quero dois. E eu tenho dinheiro. — Sorriu vitoriosa.

Escutou ele resmungar engraçado e trocando o dinheiro pelos pães, ela o deixou. Nami saiu orgulhosa dali, havia o ensinado como é o verdadeiro mundo dos adultos, onde sobrevive quem tem mais dinheiro. Até seu humor melhorou depois de ter lidado com aquele projeto de delinquente, a melhor cura para o rancor era devolver em igual. E ninguém ousava contestar suas impecáveis filosofias de vida.

A ruiva passava pelo pátio quando sentiu seu braço segurado, impedindo-a de andar. Ela virou e deparou-se outra vez com aquele cara irritante.

— O que você quer? — questionou nervosa.

— Se você me der um, eu deixo você com o outro. — Ela notou que ele comprara os dois pães restantes da cantina.

— Você é o quê? Uma criança por acaso?! — Puxou o braço das mãos dele, girando o torso para encará-lo frente a frente. — Eu comprei, são meus! — Apontou a garrafa de chá em uma ameaça.

— Mas eu tô com muita fome!

— Problema é seu!

Ela mal o tinha conhecido e ele já alcançara o primeiro lugar em seu ranking pessoal de pessoas que a irritavam. Era incrível como aquele menino era inconveniente e não tinha a mínima noção do que dizia.

— Qual é seu nome? — perguntou ele, seu olhar não tinha um ponto fixo, era como se sua vida dependesse daquele terceiro pão de melão e ele procurasse outras alternativas de obtê-lo.

— Huh? — Ela ainda surpreendeu-se por ele não sequer lembrar-se dela. — Nami. — Cruzou os braços esperando o que mais ele teria para entretê-la.

— Nami? Que nome... engraçado — falou consigo mesmo. — Olha Nami, então que tal você me der esse pão e eu te pagar quando puder?

Ela de fato aguardava mais uma asneira dele, mas dentre tudo o que ele tinha proposto, nada lhe convinha mais que aquilo.

— Ótimo. — Ela sorriu, o menino era mesmo muito inocente para sugerir uma oferta daquelas. — Você pode me pagar quando puder. — Era notável a confusão dele com aquela súbita mudança de humor. — Com setenta e nove por cento de juros.

Nami foi até ele, amassou o pão de melão ao seu peito quase o desiquilibrando com o empurrão. Ele recebeu sorridente, ainda não imaginava a armadilha em que havia sido pego e a assistiu sair.

— Quem é você? — A ruiva virou-se de costas para manter contato visual, continuou em passos lentos.

— Luffy! — gritou envolvendo a boca com a mão livre, desnecessário, não estavam assim tão longe. — Monkey D. Luffy!

— E o meu nome que é engraçado? — resmungou em ironia.

— O quê?! Eu não ouvi!

Ela girou sobre os calcanhares tornando a frente, acenou mesmo sem vê-lo, ele ainda a assistia.

Nami desbloqueou um novo nível de estresse nunca antes alcançado com todo aquele bate-boca. Por algum motivo ela não sentiu vontade de trazer à tona o ocorrido de mais cedo, Luffy não lhe pareceu ter feito aquilo de propósito, ela o julgara muito mal. Certamente havia uma razão para ele parecer um delinquente, a qual ela não se importava em saber agora, mas no fim ele não deixava de ser uma criança recém chegada ao colegial. Isso a impediu de explodir.

Quando ela finalmente voltou a sua classe, Usopp a recebeu eufórico. Havia passado metade do intervalo e seu chá gelado nem estava mais gelado.

— O que houve? — Cercou-a com os braços apoiados na mesa, quase como se exigisse respostas. — Você demorou tanto e só comprou isso? — Robin também a olhava curiosa.

— Um idiota pegou meu lanche.

— Ele te roubou?!

— Não — disse abrindo a embalagem sem muito se importar. —, ele comprou de mim.

Usopp e Zoro se entreolharam, quase comunicando-se no silêncio e por pura empatia, desejavam que quem quer que fosse aquele menino sobrevivesse aos próximos meses debaixo de uma dívida com ela.


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Notas finais do capítulo

Vocês devem ter notado que minha ideia é tipo escrever um shoujo. Eu li muitos títulos durante a escrita desse capítulo, pesquisei sobre a educação japonesa, escolaridade, etc e etc, então esperem clichês fofos e um romance lento.
Caso tenham encontrado erros, me informem para que possam ser consertados o quanto antes! Sugestões e críticas são muito bem-vindas, na verdade eu quero mesmo é que vocês falem comigo, preciso sentir que não tô postando a história pro vento...
Até o próximo capítulo, xoxo bats ♥



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