Chances. escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 27
Capítulo 26 - A Palavra É Empatia.


Notas iniciais do capítulo

Apareci totalmente inspirada pela recomendação da maravilhosa Tris Costa. Muito obrigada por suas palavras, capítulo dedicado a você.

Espero que gostem.

Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721365/chapter/27

 

Ponto de vista: Carlie Biers.

 

 

Meu quarto naquela casa tinha um estilo rústico que se adequava perfeitamente a temática fazenda, havia muita madeira, grandes janelas, tapetes felpudos e era recheado com as memórias mais bonitas da minha infância, surpreendente naquela manhã quando entrei na mansão depois da discussão com meus pais e corri para meu quarto toquei cada móvel dali, querendo encontrar talvez a garota que eu era quando criança, ou a que eu deveria ser quando crescesse.

Enquanto fazia isso admito que muitos “e se” passaram-se por minha cabeça, era inevitável, pensei em como seria se minha infância tivesse acontecido na casa ao lado, tendo Edward como pai, e Esmee como avó, sendo uma Cullen. Eu não entendia essa sensação, mas, algo dentro de mim me dizia que não seria uma experiência exatamente horrível.

Me sentei na cama com colchão confortável e passei a fitar o quadro de frente para ela, era cheio de fotos minhas, com minha família, em momentos importantes e até do dia a dia.

Minha mãe surgiu na soleira da porta e por um momento pude a ver mais jovem fazendo essa mesma coisa para me consolar sobre eu não poder cavalgar a noite como levianamente eu queria quando era criança. A expressão de compreensão se fazia presente mesmo com o protesto evidente.

Em passos lentos ela veio até mim, se sentou ao meu lado na cama, e assim passou a observar o painel de imagens comigo. O silêncio foi nosso companheiro por um tempo.

— Tudo bem para mim se você amar ele. Eu amei. E eu escolhi te privar da presença dele, agora a escolha é toda sua, e você não será uma má pessoa se decidir dá-lo uma chance. Na verdade, se fizer isso, acho que uma parte de mim vai considerar que não errou em sua criação. — falou com seriedade e eu tentei engolir minhas lágrimas. Tenho feito isso com frequência agora. Edward também não parecia ser o assunto predileto dela.

—Ele te machucou. — é nisso que tento focar. Ela acaricia minha bochecha como se me consolasse sobre isso. Seu toque maternal me acalenta e ela suspira.

Isabella Biers é somente o melhor ser humano que já conheci.

—Sim. Mas, antes disso ele me amou. Eu sei que amou. Deixe ele te amar também. — devia soar altruísta. Mas, não soa.

Isabella Biers é realmente o melhor ser humano que já  conheci. Mas, ela não passa de um ser humano no fim, que também comete erros, e eu estava começando a tomar conhecimento deles.

—Eu acho que o problema de todos vocês é falta de empatia. — explico minha teoria e minha mãe se senta de frente para mim, esperando que eu defina isso melhor. Ela faz uma careta. Sei que quer me entender. — Nenhum de vocês se coloca no lugar do outro; Você, o papai, o Edward, a Esmee...Todos tem seus próprios pontos de vistas e não se dão ao trabalho de tentar entender a outra pessoa. — eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas, eu posso quase afirmar que sempre tentei sentir empatia por quem me rodeia, é o sentimento mais bonito que acho que possa existir depois do amor.

—Carlie eu não... — não deixo que ela termine, pois sei que ela vai tentar me convencer de que não é o que eu acho. Mas, é.

—Não quero um relatório detalhado do que aconteceu com você e Edward...Não agora, talvez um dia eu queira saber, mas, agora...Eu só tenho uma pergunta; Quando terminou com ele ou sei lá vice versa, ambos tinham certeza do que queriam? De que queriam um fim? — eu precisava saber disso.

              Bella suspira, eu posso ver em sua expressão sua mente trabalhando.

—Edward me acusou de ser uma pessoa que eu não era, me magoou, porque sua atitude me mostrou que na verdade era ele quem tinha problemas em demonstrar como era na realidade. — aquele é seu argumento. —Terminamos porque eu escolhi não me magoar mais. — quer soar forte por isso.

—Mas, se você o amava, por que não uma segunda chance? — não tem como entender isso.

—Porque ele não merecia. — aquela parece ser sua resposta habitual.

—Isso. Isso é sua falta de empatia. Como pode saber se ele não merecia? Tentou entendê-lo? Suas razões para ser um covarde como você diz? Mãe, o irmão dele morreu e todas as expectativas que tinham sob esse irmão se passaram para ele, Esmee esqueceu que tinha dois filhos e quis que Edward fosse perfeito para recompensar o fracasso de algo ruim ter acontecido antes. Mas, ele não é perfeito. Ele errou com você. Mas, vocês podiam ter tentado mais. — quase grito aquilo. — Você não acha que com um histórico desse seria difícil acreditar que alguém o ama sem “mas”, sem esperar nada em troca?  — indago aflita.

—Carlie, não fique do lado deles agora. — se revolta.

—Não estou do lado deles. Estou usando a empatia, para entender o Edward, e a Esmee, uma mãe que perdeu o filho cedo demais, aparentemente o primeiro fruto do amor dela com Carlisle. Eu sinto muito se isso me sensibiliza, talvez é a minha parte Swan de todo esse caos falando. Eu sinto empatia por você, por como enfrentou, fingiu, fez o que fez para me dar um futuro, sinto empatia por Jasper já que ele me criou como sua filha, a garota que nasceu de um amor que vocês não chegaram a ter antes. E eu amo meu pai mãe, em níveis altíssimos, e agradeço por me dar a escolha de amar Edward agora...Mas, isso não é um direito seu. — deixo meu ponto claro. — Era direito meu decidir como amar o Jasper, eu sei que sempre suspeitei de que ele não fosse meu pai biológico, mas, é mais real quando se sabe de verdade, eu acho que queria que você me dissesse minha história para eu decidir antes em que lugar colocaria o Jasper e em que lugar colocaria o Edward. Eu o amei tanto por toda minha vida, mas, agora tudo que consigo supor é que de alguma forma Edward merecia ao menos metade desse amor...Eu poderia ter lhe ensinado a não ter medo de ser amado, talvez ele tivesse sido feliz só para me servir de exemplo. Talvez não tivesse se casado com uma robô. — quando digo isso me levanto, totalmente exaltada.

—O que está tentando dizer? — minha mãe se levanta também, chorando, e grita.

—Eu não sei. — grito de volta. — Eu só...Você não é a vítima aqui, okay? — quero que ela entenda isso, Bella me olha chocada. — Eu não...Todos são vítimas aqui...Então, só pare de supor como me senti por todos esses anos amando Jasper e comece pensar como me sinto agora...Todo aquele papo de que fui destinada a ser filha dele, que você adora repetir, é mentira, não por eu não me sentir honrada em ser filha dele, mas, pelo simples fato de que você destinou isso...Quer falar sobre destino? Ótimo, vou te contar um pouco mais sobre isso...Eu nunca acreditei muito nele, mas, sabe quando descobrir que essa história é real? Foi em uma manhã que decidi ser uma bisbilhoteira e invadi a mansão dos Cullen, porque descobri que eles chegariam a cidade, conheci Edward quando estava tentando domar Leal, quando nossos olhares se encontraram foi como se soubéssemos a verdade, eu gostei dele automaticamente. Eu briguei avidamente com Esmee e eu gostei disso também. Eu e ela tínhamos algo parecido. Depois Edward me acompanhou em uma corrida de cavalos, ele parecia amar tudo aquilo tanto quanto eu, me encantei ainda mais por ele. E então nós tivemos nossa primeira conversa de verdade, ele me ouviu, de verdade, me achou uma louca, eu sei disso, mas, ele não me julgou por minhas péssimas ações, por ser quem eu era, ele me entendeu, se divertiu comigo. Ele me entendeu, porque ele não fez o que você sempre faz comigo, você não vê quem eu sou de verdade, quer criar uma versão dos fatos onde eu não tenho defeitos. Eu amo o Haras, amo Penélope e Leal e eu estou totalmente irritada com o que papai fez, mas, isso não irá me transformar em uma versão melhorada em segundos. Eu não sou perfeita, eu sei disso. Como eu sei. Então...Eu vou tentar, mas...vai ser do meu jeito. — lhe afirmo isso. — Estou exausta de fingirmos. — é minha declaração.

—Fingirmos o que? — questiona aquilo de maneira desesperada.

—Que somos perfeitos. Os Biers, a melhor família, o melhor legado. O que nos faz melhor do que os outros? Sinceridade? Tudo isso começou com uma mentira. Amor? Só amamos quem usa nosso sobrenome. Bondade? Chama de bondade retrucar o egoísmo com egoísmo? Olhe ao redor, eu não sou perfeita, estou longe disso, eu machuquei um cara que já estava totalmente quebrado naquela festa, e agora eu sinto como se...Eu não sei...Talvez eu me sinta uma pessoa horrível pelo que fiz a Edward e você deva se sentir um pouco mal também. — digo enxugando minhas lágrimas.

—Quando descobri sobre a gravidez não cogitei contá-lo em nenhum instante, se quer saber...Achei que estava te protegendo. — revela com um ar distante. — Talvez você tenha razão. Talvez eu não tenha contado porque queria na verdade me proteger, porque tinha medo de amar alguém como ele, que não sabia ser amado. Com Jasper, era muito fácil, eu não precisava fazer nada, ele só me amava a cada instante...Com Edward, era tão intenso que doía, a possibilidade de perdê-lo me doía demais e quando ele finalmente se foi, eu não...Não lutei, porque eu não sabia se ia aguentar. Mas, doeu, doeu por tanto tempo...Foi por isso que escrevi aquele livro, queria que meu amor por ele significasse mais do que uma aventura das férias, só que nunca admiti para mim mesma. Talvez fosse isso que fizesse o que tínhamos ser tão forte, sempre soubemos que acabaria, eu e ele não fomos feitos para um para sempre. — era seu argumento, sussurrado para mim de forma sofrida.

—Você e o papai foram feitos para um para sempre? — questiono querendo compreendê-la ao menos.

—Sua vez. Olhe ao redor. Olhe o que construímos. Acha que isso é passageiro? — pergunta calmamente.  — Eu sinceramente me orgulho da forma como vê toda essa situação, empatia é admirável, mas, como você disse é só o ato de se colocar no lugar do outro, você não estava lá de verdade, não se sentiu como eu me senti. — agora seu tom é mais sério.

—Eu teria lutado por ele. — é a minha resposta.

—Como tem tanta certeza que lutaria? — implora para uma justificativa.

—Porque eu vou lutar agora.

[...]

        Ponto de vista: Alec Cullen.

      Leiloei um relógio que estava comigo assim como Carlie fez com seu anel, e assim consegui alugar um carro que me levaria de Tacoma a Forks em tempo recorde. Estava amarrotado, exausto e cheio de culpa no caminho até lá, as lembranças da noite que tive com Carlie ainda vividas em minha mente, o jeito como nossos corpos se conectaram, o jeito como nos completamos. Tudo isso de uma forma tão tóxica.

                Aquilo foi um tipo de loucura. Das grandes para ser mais específicas.

           Porque a Carlie em si é uma loucura. Ela é inconstante. Em um segundo é a mocinha da história,  no outro a vilã mais perversa. É como se em questão de uma hora eu conhecesse cem versões dela, cada uma é mais atraente que a outra. Mas, eu não sei quem ela é de verdade. Talvez, nem ela saiba.

              Ela precisava de alguém que sempre estivesse disposto a aceitar as loucuras dela, mas, eu não sou essa pessoa, aceitei por um breve período de tempo, porque, senti que era disso que precisava antes de tomar a mais importante decisão. Eu precisava provar do que não queria, para conseguir o que sempre desejei; Calma.

                   Um pouco antes de realmente chegarmos a fazenda Cullen pedi que o motorista parasse e entreguei a ele seu dinheiro. Encostada em um carro caro, com seus óculos escuros mais elegantes minha irmã me esperava. Havia um sorrio traquina em seu rosto. Eu sabia o que viria pela frente.

                  Parei de frente para ela e a mesma soltou uma risada graciosa, antes de levantar os óculos na altura da cabeça e me fitar com diversão.

—A nova filhinha do Edward, é sério? Achei que quando finalmente decidisse trair a songa monga Bree seria com alguém menos...Previsível. — faz um de seus típicos comentários.

—Você trouxe o que eu pedi? — sou direto, a mesma revira os olhos, antes de me entregar a caixinha de veludo. Ela era minha saída para toda aquela droga. Sei que me enviaria em uma teia de mentiras, isso não era saudável, mas, algumas vezes você tem que entrar no jogo. — Não faça isso. — Jane diz, parecendo agora séria.

—O que você espera que eu faça então? — indago irritado. Comigo mesmo. Por errar, e por ter que continuar fazendo isso.

—Diga a verdade. E se livre da Bree. — grita aquilo no auge da sua frustração. — Eu sei que você só me vê como uma menina fútil, disposta a seguir os mal exemplos calada...Mas, eu sei de tudo, Alec. Eu sei o quão patética essa família é. E você também sabe, sabe como o casamento da mamãe com o Edward é nojento e nocivo para todo mundo, por favor, não faça como eles, não se case com alguém querendo justificar-se com algum objeto que você sabe que não vai cumprir. É ilusão. Quer fugir deles? Nós fugimos. Juntos. Eu te amo demais, eu faria qualquer coisa por você. — é a primeira vez já adulta que minha irmã demonstra que se importa comigo, como eu me importo com ela. Somos gêmeos, afinal. Existe uma parte dela em mim e uma parte de mim nela.

—Jane...Eu não... — não sabia o que fazer, o que dizer, o que é certo, o que é errado. É só complicado.

—Não a peça em casamento achando que tem uma dama de honra feliz por isso, se se casar com ela, Alec, pode começar sua vidinha de aparências fingindo que eu não existo. — decreta parecendo decidida a isso.

[...]

Quando adentro a mansão Cullen dou de cara com minha avó, é claro que ela estaria a espreita para quaisquer acontecimentos, é sempre ela quem controla tudo. Quem nos controla. Ela me recebe com um abraço, não me dou ao trabalho de identificar se é falso ou não, minha atenção está focada em meu pai que perto dos sofás me fita como se soubesse dos meus pecados e estivesse pronto para me penitenciar por eles.

—O que aconteceu, querido? Onde esteve? — Esmee indaga aquilo segurando meu rosto, agora seria ilusão acreditar que seu tom ao perguntar era de preocupação. Era só mais um interrogatório.

—Eu vou responder todas as suas perguntas, logo depois de conversar com a Bree. Ela deve ser a mais preocupada com meu sumiço. Onde ela está? — questiono após um suspiro.

—No quarto de vocês. — me avisa um tanto desconfiada.

                Mais um suspiro e estou pronto para ir até lá.

                    Bree está sentada na beira da cama quando a encontro, seus olhos castanhos escuros sempre tão doces me fitam quase em fúria, no entanto ela não se levanta, não corre até mim, não grita em busca de uma explicação. Ela apenas me olha. E isso recebe todo meu estranhamento. Esperava lágrimas agora. Qualquer coisa. Menos o seu silêncio.

—Estive esperando pela sua desculpa. Ansiosa para saber o quão convincente seria. Seus olhos azuis oceano sempre me encantaram, tinha certeza que os usaria para me enganar...Como se eu fosse uma tola qualquer. — conta sem me fitar agora, o tom dela é vazio, não a reconheço. —Diga-me Alexander, como justificaria seu sumiço? Como disfarçaria para mim o fato de que naquela festa você praticamente comia Carlie com os olhos antes de toda a confusão, e foi para cuidar da mocinha indefesa que você sumiu? — arregalo os olhos para sua observação.

—Bree...Eu... — quero reformular a explicação agora, me lembrando do decreto de Jane quero somente dizer algo que realmente justifique o fato de que nesse momento quero acabar tudo com ela. Qualquer relacionamento.

—Diga. — pede em um tom firme.

—Liguei para Jane direto do lugar onde eu estava, pedi que ela pegasse um anel que eu havia trazido para te pedir em casamento e guardava na biblioteca, ela me entregaria no caminho até aqui, eu diria que sumi pois tinha ido o buscar, e antes de te pedir precisava de um tempo para refletir sobre minha decisão. — admito toda aquela sujeira pois ela me envergonha. — Só que decidi não fazer, não posso fazer isso com você. Não posso fazer isso comigo. — declaro totalmente culpado.

—Bem...Eu posso. E eu vou. — quando diz aquilo agora me fitando de novo engulo a seco, não entendendo onde quer chegar. — Vamos usar sua maravilhosa desculpa e daremos a Esmee uma magnífica festa de noivado para organizar, ela vai adorar limpar a imagem dela depois do escândalo da Carlie. — Bree instrui se levantando.

—Bree, você não entendeu, eu não vou usar a desculpa, porque não vou me casar com você. — deixo isso mais claro.

—Sim. Você vai. — afirma convicta. — Nós sempre tivemos um relacionamento brilhante, combinamos e tudo mais, mas, o que sempre me manteve perto de você foi o fato de que tem grandes sobrenomes em sua certidão. Sempre fomos o casal perfeito, e eu sempre soube que esse namoro só acabaria quando um anel de diamante viesse para minha mão e nos casássemos. Você não vai estragar meu plano, querido. — a pessoa que escuto dizendo isso não é a Bree. Não pode ser. Eu a conhecia. Ela não é daquele jeito.

—Bree, nós não vamos nos casar. — repito, porque como Jane disse isso é uma má ideia, e eu só ficaria fadado ao mesmo destino do meu pai.

—Sim. Você vai. — repete também. —Porque se você não me der esse anel e me pedir em casamento todos vão saber daquele segredinho que sua irmã guarda. — arregalo os olhos para essas palavras. —Você não quer isso, quer? — se aproxima mim com um sorriso tenebroso.

                               Ninguém podia saber sobre aquilo.

Isso destruiria a Jane.

Edward odiaria saber desse segredo.

Vendo o temor nos meus olhos, Bree sorriu mais ainda.

—Noivos então? — não tem resposta minha.  — Espero que isso seja um sim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!