Badlands escrita por Hails


Capítulo 2
II — Êfemero.


Notas iniciais do capítulo

Olá, shuckfaces! ♥
Capítulo rápido para vocês, terminei agora mesmo e já estou postando, portanto, ainda não foi revisado, então desconsiderem os erros, assim que revisar, atualizo. Obrigada aos que deixaram os reviews e a todos que leram. Sério. Muito obrigada. Mesmo não sendo muitos, me faz GRANDEMENTE feliz. Agora, vamos para o capítulo.



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A tempestade aparentava crescer em um nível inquietante ao lado de fora dos vitrais azulados, embora nenhum sinal de chuva envolvesse o céu negro e cintilante. Os raios que iluminavam o ambiente vinham e sumiam de forma efêmera e pouco preocupada.

Estava abrigada em uma igreja uma garotinha e sua mãe, ambas assustadas demais com a tempestade e com os monstros que gritavam lá fora para conversarem uma com a outra. Não havia nada que pudesse fazer além de escutar os ruídos mórbidos pairando no ar, enquanto aguardava pela morte, pois tal era a única coisa certa naquele momento.

Um temor afligia o coração daquela pobre mãe; temia que sua filha fosse vulnerável como ela, que fosse tão incapaz de proteger a si mesma. Não desejava que os fantasmas que a assombravam fossem como uma maldição passada de mãe para filha. Queria que sua garotinha fosse destemida e corajosa; não frágil e vulnerável como ela.

E, por essa razão, fez o que era preciso — ou o que julgava ser.

Não foi necessário menos de meia-hora para que eles chegassem com suas armas avançadas e trajes esbranquiçados, prontos para levarem sua filha, uma Imune, para longe de seus braços. Era o melhor a se fazer, afinal ela morreria em breve por conta da infecção, ou pior, e sua criança ficaria sozinha no mundo. Estando no CRUEL ela teria uma chance de se destacar com sua inteligência e engenhosidade, seria tratada dignamente; fora isso que prometeram a ela. Para aquela mãe desesperada, o CRUEL era bom.

O choro da garota se tornou o principal elemento daquela cena. Ela, com apenas seus cinco anos de idade, não queria deixar a mãe, não queria partir para longe dela. Vendo-a espernear e se debater no chão, a mulher percebeu o quão fraca sua filha estava se tornando; como ela parecia uma menininha dependente e debilitada enquanto os guardas a arrastavam para longe. Sua pequena Mabelle estava sendo levada aos prantos para longe de seus braços, e isso partiu o seu coração em mil pedaços.

Um véu melancólico embrulhava lentamente o cenário e aos poucos ele desaparecia em conjunto com a escuridão. Era como se uma memória preciosa e há muito tempo esquecida, fosse trazida de volta a mente de Mabel, que apenas permitia que as lágrimas escorressem enquanto assistia sem mover um músculo ou cogitar abrir os olhos.

Não sabia o porquê, mas uma dor fulminante se alastrava de dentro para fora de seu corpo. A lateral da cabeça doía e seus ouvidos eram capazes de ouvir múrmuros vindos ao longe, juntamente com sons fortes semelhantes a algo explodindo. Enquanto seu corpo parecia ter sido anestesiado há poucos minutos; ele formigava como se o efeito houvesse sido recentemente cortado. A voz que parecia estar vindo de um lugar longínquo começou a se aproximar mais de seu ouvido e se tornar perfeitamente inteligível.

— Eu juro que não vou hesitar em te deixar para ser esmagada se não levantar daí agora mesmo — a voz rouca e pouco rude gritou e Mabel se arrepiou, sentindo-se intrigada e ao mesmo tempo assustada. Mas que diabos estão acontecendo ali?

Sem pensar duas vezes, abriu os olhos, vislumbrando a imagem de um garoto. Deveria ter uns dezessete anos, rosto com traços asiáticos e marcas singulares, além de estar totalmente sujo e suado. Sua blusa esverdeada estava ensopada de suor e sangue, que entrava em perfeito contraste com os diversos ferimentos em seus bíceps expostos. Ele parece ter acabado de matar alguém, pensou ela, a preocupação em seu olhar.

— Finalmente! — exclamou o asiático — Levanta logo, garota!

Mabel estava tão entretida com o garoto em sua frente que sequer havia tido tempo para perceber o que ocorria ao seu redor; o lugar estava desmoronando. O teto acima de sua cabeça estava demolido, os destroços espalhados ao chão. Perguntou-se como havia parado ali. Não conseguia se lembrar. Forçou a memória duas e três vezes, mas nenhuma lembrança vinha em sua mente — não se lembrava de nada de sua vida após ser levada de sua mãe. Como isso pode ser possível?, perguntava a si mesma, Não entendo.

Encarou o garoto em sua frente e, com a voz falhando, questionou-lhe:

— Quem é você e por que não me lembro de nada?

Ele a olhou com descrença, parecia estar ao ponto de puxá-la pelo pescoço a qualquer instante, contudo, Mabel não se importou. Queria saber o que estava acontecendo e o porquê de estar acontecendo. Sentia um vazio crescer dentro de si.

— Acha que é tempo para perguntas? — perguntou o garoto — Que mértila. Blocos de pedra e concreto estão quase caindo em cima das nossas cabeças, e é com quem eu sou que você se importa? Levante logo. Ou pode ficar aí, caso prefira virar carne moída.

Mabel se sentiu estúpida por ter se esquecido do que acontecia a sua volta. Com o garoto lhe encarando feio, ela se levantou em um sobressalto, esperando que ele a guiasse para fora desse caos. Não sabia se podia confiar em sua índole, mas de certa forma ele estava tão à beira da morte quanto ela. Mas, ainda assim, não conseguia acreditar que, seja quem ele for, simplesmente fez uma boa ação pela bondade que existe seu coração.

O asiático a guiou pelos corredores que pareciam estar prestes a sucumbir apenas com um passo em falso. Mas sem dúvidas isso não era tão preocupante quanto os cadáveres espalhados pelo chão. Alguns aparentemente mortos com ferimentos de tiro e outros esmagados por blocos de concretos. Era uma cena horrível, Mabel podia sentir o seu estômago revirar e revirar diversas vezes. Quem seria capaz de fazer algo assim?

Após minutos correndo e desviando de estruturas que ameaçavam esmagá-los, chegaram a um corredor estreito e com curvas. Vozes vinham de longe, vozes de garotos. Por que só têm adolescentes aqui? Pensou Mabel. Estava sendo difícil assimilar tudo que acontecia, mas ela deixou de lado, por alguns instantes, o medo compulsivo que sempre esteve dentro de seu coração, permitindo-se ser guiada pelo garoto asiático.

— Estão todos mortos — gritou uma voz próxima — Vamos sair daqui!

Com a mesma rapidez que sumiu, o medo compulsivo retornou. Adolescentes que matam pessoas não são as pessoas mais confiáveis do mundo, de acordo com os pensamentos da garota. Mabelle deu tudo de si para não enlouquecer ali mesmo, enquanto o garoto que a salvara parecia aliviado em ouvir aquelas palavras – instantaneamente, deduziu que possivelmente fossem amigos. Ou cúmplices de um crime.

— Onde está Minho? — perguntou a mesma voz de antes.

— Bem aqui — o asiático ao seu lado gritou, virando a última curva e adentrando um novo corredor, onde estavam os seus amigos. Mabel não se impressionou.

Eram todos adolescentes com praticamente a mesma faixa de idade, todos sujos e suados, alguns com sangue pelas roupas e feridos. Havia algumas garotas também, uma morena, que estava ao lado do garoto que chamara por o tal Minho — cujo era o asiático que salvara Mabel —, uma loira, e o restante tinham cabelos morenos como a primeira.

Quando finalmente caiu em si e parou de analisar cada pessoa que estava ali, Mabel notou que todos a encaravam fixamente, como se algo estivesse redondamente errado com ela, ou com eles, afinal, ela se sentia perfeitamente normal, apesar de tudo.

— Quem é essa, Minho? — perguntou um deles.

— Não faço ideia — respondeu o asiático, um sorrisinho no rosto.

O garoto, dono da voz que Mabel ouvira primeiro, perguntou surpreso:

— Como assim você não faz ideia?

— Não fazendo ideia, cabeção — disse Minho — Vamos dar o fora daqui. Esse lugar está prestes a cair e eu não quero estar aqui quando isso acontecer. Depois explico.

Todos ali pareciam concordar com Minho, inclusive Mabel, que não queria ficar por sequer mais um minuto naquele lugar. O cheiro de sangue e poeira estava começando a lhe fazer realmente mal. No fundo, esperava que tudo não passasse de um pesadelo.

— Vamos atravessar o Transportal — disse alguém.

Se tudo estava sendo incrivelmente esquisito para Mabel, agora tudo estava completamente errado em sua cabeça. Eles, esses adolescentes, estavam atravessando uma parede acinzentada como se ela fosse nada. Como se fosse um buraco mágico que te transportava para outro lugar. Um transportal. Não iria atravessar isso. De maneira alguma.

— Eu não vou atravessar isso — Mabel expôs o que estava se passando em sua cabeça e firmou os pés no chão recusando-se a se mover, sem se importar o quanto pareceria uma criança birrenta — Aonde isso vai dar? Não é seguro. É uma grande loucura!

Minho virou-se para ela, aquele mesmo olhar de descrença no rosto.

— Na verdade, lindinha, você vai sim — ele disse, puxando-a pelo braço em direção à parede cinzenta. A primeira coisa que Mabel sentira fora uma forte dor no braço, provavelmente deslocado por conta da estúpida força que Minho usara para puxá-la. E a segunda fora uma sensação prazerosa e indescritível, como se estivesse no paraíso.

Era um lugar verde, florido e repleto de vida; muito diferente do prédio aos pedaços que estava há segundos atrás. Mabel sentia como se tivesse saído de um pesadelo e entrado no mais doce sonho. Minho, ao seu lado, não parecia tão maravilhado com o lugar quanto ela estava. Na realidade, ele parecia muito perdido e até mesmo incerto. Algo invadiu seu peito naquele momento, e então ela soube que Minho não era alguém tão mau assim. Não poderia ser. Ao menos, era isso que sua intuição lhe dizia.

Um garoto de cabelos morenos atravessou o Transportal com lágrimas nos olhos, chamando atenção de Minho e Mabel. Ele parecia muito mais perdido que Minho; parecia ter acabado de sair de um liquidificador em potência máxima. O asiático o ombro do rapaz, na tentativa de chamar sua atenção.

— O que houve, Thomas? — ele perguntou e Mabel sentiu-se agradecida por saber pelo menos dois nomes por ali. Estava grandemente deslocada e desejava saber mais, mesmo sabendo que poderia não gostar das coisas que descobriria.

— Teresa. Ela está morta — respondeu Thomas.

Minho não disse nada, apenas abaixou o olhar para o chão. Por algum motivo, Mabel sentiu como se o garoto não se importasse com a morte da tal Teresa, como se não fosse algo significante para ele, mas que sentia muito pela perda que o amigo sofrera. Pela milésima vez no dia, quis entender alguma coisa, mas não conseguiu.

— Sinto muito.

— Tudo bem — Thomas disse, sem emoção.

Ele e o amigo se entreolharam. Como um flashback, tudo retornou a mente de ambos; as perdas, o sofrimento, as lutas e todos os últimos acontecimentos. Eles estavam finalmente livres de tudo, sentiam-se como se tudo estivesse acabado, como se um peso fosse tirado de suas costas. E era bom. Nunca se sentiram tão aliviados em meses.

— Tudo bem mesmo, com certeza, seu cara de mértila — disse Minho, sem nenhum sorriso no rosto, apenas uma expressão séria e um olhar que dizia que compreendia. Que ambos carregariam juntos a dor da perda.

Mabel estava observando tudo quando sentiu algo escorrer pela lateral de sua cabeça. Rapidamente, ela levou a mão ao local e examinou o líquido que descia de sua têmpora – sangue. Além disso, sentiu linhas espessas de sutura. Milhões de suposições passarão em sua cabeça, mas, de repente, de maneira súbita e agonizante, sentiu uma martelada na cabeça, que a fez cambalear. Apoiou-se em uma árvore.

— E ela? — perguntou Thomas, referindo-se a garota desconhecida.

Antes que pudesse raciocinar ou similar o que acontecia, Mabel teve seu corpo lançado ao chão. A dor havia lhe pego de surpresa, se estivesse certa, os pontos estavam se abrindo. Sentiu-se tonta, e ainda no chão, uma memória rápida foi enviada a sua mente.

Estava sentada em uma cadeira de metal, deveria ter uns seis ou sete anos, um homem com cara de rato lhe analisava de cima a baixo. Ela respirava com dificuldade, provavelmente estava tendo um ataque de pânico. O homem apenas a observava, um sorriso fraco iluminando seu rosto. “Eu disse que não deveria ter feito isso”, ele sussurrou irritado, “Agora está tendo outra crise idiota dessa. Você errou, Mabelle, agora terá que ser punida”. A pequena Mabel perguntou amargurada: “O que fiz de errado?”.

O homem rato a olhou com desprezo, como se a resposta fosse óbvia. “Você foi fraca! Esse é o seu erro; ser tão vulnerável. Agora estenda as mãos”. Sem relutar, a menina lhe ofereceu os punhos e ele os comprimiu em uma algema. “Duas semanas sem falar ou ver ninguém, até que aprenda a ser no mínimo menos patética”.

Tudo se fez preto e a lembrança sumiu; como se fosse apenas um freche efêmero de um pensamento, um fragmento. A última coisa que vira fora os rostos de Thomas e Minho lhe socorrendo no chão, e apagando logo em seguida, aprofundando-se na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Para quem boiou o capítulo inteiro: Após o John ter supostamente cortado uma veia cerebral da Mabel no último capítulo, ela desmaiou, e devido ao processo, acabou por perder suas memórias, lembrando-se apenas de sua vida antes de ir para o CRUEL. Ela acordou sem entender nada, Minho foi quem a impediu de ser esmagada, eles passaram pelo Transportal, ela desmaiou por conta dos pontos que abriram, e teve uma memória de com o Janson, ou como o Minho prefere: Homem-Rato. | Os acontecimentos que seguirão no capítulo 3, não seguirão nenhuma ordem de nenhum livro, pois, afinal, a Cura Mortal termina exatamente nesse ponto. Enfim, espero que tenham entendido e gostado. Um beijo e até a próxima! ♥