Badlands escrita por Hails


Capítulo 1
I — Otelo.


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, SHUCKFACES! ♥
Essa é minha primeira fanfiction aqui e eu espero que vocês curtam essa nova ideia que eu trouxe ao mundo de Maze Runner. É um pouco diferente dos tipos de fanfics de tmr que eu já li, Badlands não segue o clichê “uma garota que não devia estar, mas está na Clareira”. Eu gosto de mudar um pouco e espero que vocês gostem de conhecer ideias novas também. Uma boa leitura e espero receber a aceitação de alguns de vocês.



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Otelo é o símbolo de um ciúme consumidor e desenfreado — aquele cujo abandona a razão e a sanidade, avançando para uma escala crítica de obsessão quanto à fidelidade do parceiro, onde acaba supondo mais do que vendo se concretizar. Ou, pelo menos, era assim que Mabelle pensava após ler pela segunda vez seguida na semana o mesmo livro.

Nesses últimos dias, a garota não tinha uma grande variedade de afazeres se levar em conta o progresso a respeito de seus implantes; estava prestes a incrementar o último dispositivo em seu corpo e não poderia fazer muita coisa além de aguardar.

Estava deitada na maca hospitalar, fitando o teto branco com lâmpadas tubulares, enquanto refletia sobre o livro que lera, meramente desejando que o anestesista chegasse e terminasse logo com isso. Foram cinco meses de preparo antes da primeira implantação e Mabel ainda se lembrava do quanto havia ficado assustada na primeira cirurgia. Não que algo tivesse mudado; mesmo estando na quinta cirurgia, ainda sentia um medo compulsivo, pois, inegavelmente, algo pode dar errado quando se coloca um dispositivo no cérebro.

Janson, o assistente diretor do CRUEL, disse à Mabel que não deveria ter absolutamente nada para temer: tinham cirurgiões do mais alto escalão que não deixariam nada de ruim acontecer durante o processo. E com o seu extremo nível de preocupação a respeito da cura, a garota decidiu acreditar no que deveria ser suas palavras de conforto.

E agora, estando diante da quinta e última cirurgia, Mabelle sentia uma descarga elétrica se apossar de seu corpo, fazendo-a suar frio. A enfermeira preparava os utensílios que seriam usados e cantarolava uma música esquisita, apenas deixando-a mais nervosa.

Após uma longa reflexão sobre Otelo, e sobre todas as más possíveis coisas que poderiam acontecer durante a cirurgia, Mabel avistou Janson – acompanhado por John, o cirurgião que carregava uma maleta preta abaixo do braço esquerdo – adentrando a sala, com um sorriso no rosto. Tentou entender como ele podia sorrir num momento como esse.

— Ei, Mabel, bom ver você — cumprimentou John.

Queria poder dizer o mesmo, ela pensou, meio amargurada.

— É bom te ver também — mentiu — Está com o dispositivo? Eu fiz alguns ajustes na estrutura, com o auxílio da Chanceler Paige, e estamos convictas de que dará certo dessa vez. Espero não precisar ter você abrindo minha cabeça outra vez. Sem ofensas.

— O dispositivo está comigo — Janson se pronunciou pela primeira vez — É bom que funcione. Não temos mais tempo para cirurgias e terapias especiais. Thomas já está na sede, aparentemente se entregou para a conclusão do esboço, a cura se aproxima.

Mabel congelou. Havia ouvido muito sobre Thomas pelos corredores do CRUEL, mas nunca havia visto de fato o garoto, pelo menos não que se lembrasse. Ele era inteligente e especial para o experimento e devido aos comentários que ouvira sobre o garoto, não estava surpresa em saber que ele seria o protótipo que os levaria para a cura, o que realmente a intrigava era o fato de estar a apenas alguns passos do fim.

— Então, onde está o anestesista? — perguntou, indo direto ao ponto.

— Bem aqui — disse John, já com as luvas esbranquiçadas nas mãos, analisando meticulosamente a seringa com o líquido transparente.

Mabel sentiu certa insegurança; John não era um anestesista com o teor da palavra, mas o que mais ela poderia fazer além de aceitar calada?

— Tá. Fico feliz que tenha aumentado seus conhecimentos medicinais — disse Mabel, sem nenhuma intenção de parecer sarcástica ou engraçada.

Janson, que sentado anotava algo em um arquivo de cor vermelha, fez um gesto com a cabeça para que John começasse logo com a cirurgia. Ele costumava ser muito impaciente em dias de estresse, especialmente agora sabendo sobre o grande progresso.

John se aproximou de Mabel e lhe deu um sorrisinho amigável.

— Relaxe — ele disse e a garota amoleceu o corpo na maca — Você sabe como funciona, certo? Ficará acordada durante toda a operação, ouvindo tudo, mas não sentindo nada. E, se for possível, não tenha um ataque de pânico como da última vez.

Mabelle se sentiu envergonhada com as palavras, mas, ao mesmo tempo, quis debater sobre o assunto; ele era um médico e deveria saber que não se controla um ataque de pânico, ele simplesmente acontece. Mas acabou ficando em silêncio.

Fechou os olhos, enquanto sentia uma picada no seu braço direito — de princípio, ardeu e formigou, porém em alguns minutos a ardência se transformou na ausência da tal, não apenas do braço, mas sim de todo o seu corpo. Não sentia a brisa gelada sobre sua pele ou o toque da enfermeira colocando os eletrodos em seu corpo, estava anestesiada.

Não gostava de se concentrar nos sons que John fazia com os equipamentos médicos enquanto literalmente abria sua cabeça, portanto, encaminhou seus pensamentos para qualquer outra coisa. O dispositivo.

Mabel esperava com todas suas forças que o dispositivo funcionasse. Confiava convictamente em suas habilidades, afinal, já havia construído muitos equipamentos para o CRUEL que foram muito bem usufruídos. O Lança-Granadas e o Dissipador estavam entre os mais aclamados – foram eles que a tornaram tão especial para o Conselho. Não que isso fosse algo para se alegrar, mas, pelo menos, por conta de sua extrema inteligência, eles não a descartavam ou a colocavam em outros experimentos com os demais Imunes. Pelo contrário, a mantinham ‘presa’ – Janson dizia que isso era bom para se concentrar –, trabalhando em projetos e servindo de cobaia para cirurgias. Mabelle não queria ser apenas um rato de laboratório, mas era frágil demais para levantar a voz e tentar sair encontrar um rumo diferente que esse. Por fim, era uma garotinha indefesa que cedia facilmente aos desejos sujos do CRUEL.

Preferia não saber como usariam os dispositivos que criava, como o Dissipador, que armazenava as memórias de seu usuário, porque sabia que isso lhe deixaria com uma grande culpa nas costas. Era melhor não saber. Há dispositivos que podem mudar rumos drasticamente. O dispositivo X, qual estava sendo implantado no seu cérebro nesse instante, era de longe o mais importante que criara em sua curta vida. De certa forma, ele poderia ser um impulsionador da cura, mas ao mesmo tempo ser uma sentença de morte para a pouca humanidade saudável que restou. Contudo, de acordo com o CRUEL, o risco era necessário.

É mesmo necessário?. Mabel perguntava para si mesma todos os dias.

— Bisturi — ouviu John dizer ao longe, despertando seus pensamentos.

O som do objeto se fez presente na sala e Mabel desejou não ter ouvido nada — aquilo a deixou pouco assustada, não ao ponto de ter um ataque de pânico, mas devidamente assustada. Ela conhecia bem o processo. John abriria acesso até seu osso temporal, onde encontraria uma pequena fenda das cirurgias anteriores e incrementaria o dispositivo ali mesmo. Ainda assim, é mais difícil do que parece.

Sem conseguir pensar em muitas coisas, Mabelle – sem alternativas – concentrou-se nos sons que eram produzidos na sala. Janson continuava a folhear os arquivos, aparentemente escrevia algo vez ou outra. O clique-clique que fazia ao pressionar o botão da caneta irritou a garota, que desejou pedir para que parasse. John estava concentrado na operação, sendo que a todo o momento o ruído metálico do bisturi entrando em contato com a bandeja se mesclava com o clique-clique da caneta de Janson, até que os dois começaram a conversar.

— Então, Thomas está mesmo aqui? — perguntou John.

— É o que parece — respondeu Janson, sem muita emoção.

John se surpreendeu, assim como Mabel, que mesmo inerte, ouvia tudo.

— E como ele reagiu? Sabendo que o cérebro dele é o resultado final?

Mabel tentou parar de ouvir e mover os pensamentos para outra coisa, mas não conseguiu. Sentiu-se triste pelo garoto que morreria pela cura, mas era para um bem maior. Ou era o que deveria ser. Pelo menos, encontramos a cura, pensou.

— Você sabe que o cérebro dele não é realmente o resultado final — contradisse Janson — No entanto, de qualquer forma, ele se chocou um pouco, menos do que o esperado, eu diria. Está em uma das instalações médicas nesse momento. Dr. Christensen fará a cirurgia em alguns instantes, quando Thomas se julgar preparado.

Mabel tentou entender o que Janson quis dizer com “não é realmente o resultado final”, mas não conseguiu pensar em nada bom ou otimista para explicar a frase.

— Fizemos coisas terríveis nesse meio tempo — soltou John, de repente — Mas nunca perdemos o nosso verdadeiro foco: a cura. Estou feliz por conseguirmos.

— Não conseguimos. Não ainda — contestou Janson.

— Bem — novamente o som do bisturi entrando em contato com a bandeja de prata ecoou no ouvido de Mabel — Com o tecido cerebral de Thomas, o dispositivo de Mabel, que se obtiver sucesso, irá servir como uma ferramenta de disseminação, teremos o fim do esboço. E isso é o que estávamos aguardando.

Se.

Tudo estava tão interligado a um se; a uma suposição. E se Thomas morresse para entregar o seu cérebro e o dispositivo não funcionasse? A ideia perturbou Mabelle. Não queria que alguém morresse em vão por conta de suas falhas. Sua quinta falha.

— Com otimismo, talvez não tenha sido nada em vão. Seriam tantas vidas desperdiçadas — Janson pareceu lamentar, entretanto, não pareceu soar muito sincero.

Mais uma vez, o silêncio se fez presente.

Mabelle pensava e repensava sobre a conversa dos dois, mas continuava sem muitas expectativas sobre aquilo — não queria se iludir com muita esperança sobre seu dispositivo, mas precisava. Faça o que Otelo fez: confie em seus instintos. Sussurrou mentalmente, mesmo sabendo que Otelo não havia feito bem em confiar em seus instintos sobre Desdêmona. Mas ela não era Otelo, afinal das contas. Tudo terminaria bem.

Tinha que terminar. Mabel dependia disso.

Após alguns minutos, ouviu-se uma sirene tocar nos corredores da sede. Um som que Mabel nunca havia ouvido antes, muito semelhante a um alarme. Janson se levantou e entregou o dispositivo para John, pedindo para ele terminasse sozinho, e rápido.

Não sabendo o que poderia ser aquilo, Mabel apenas relaxou.

— Estamos quase lá — sussurrou John, em conforto, sabendo que a garota podia muito bem ouvi-lo. Era um pouco estranho estar ali, ouvindo tudo, mas não sentindo nada. Olhos fechados, apenas com a sensação de que seus pensamentos são um sonho.

Alguém caminhou em direção à maca, e mesmo sem ver, Mabel deduziu que fosse Corrie, a enfermeira. Ela colocou dois dedos no pulso de Mabel, medindo cuidadosamente os batimentos. Corrie suspirou, aparentemente aliviada.

— Está regular, por enquanto — anunciou — Vou ver o que está acontecendo — referiu-se ao alarme que até agora não parara de tocar. Por algum motivo desconhecido, Mabelle sentiu uma preocupação inundar seu coração; como se algo ruim fosse acontecer.

A mulher deixou o recinto e o baralho da porta batendo a assustou.

— Pronto — John disse para si mesmo, a preocupação em sua voz — O dispositivo já foi colocado. Irei fazer os pontos e depois cortar o efeito da anestesia. Espero que você esteja certa sobre as mudanças do dispositivo, Mabel. Tudo depende disso.

Eu espero também, Mabel respondeu-o em seus pensamentos.

Tão rápido quanto um reflexo, um estrondo ensurdecedor fez com que o chão balançasse e seus ouvidos doessem. John murmurou um palavrão, tentando compreender que droga estava acontecendo. Por um momento, o teto acima de suas cabeças parecia prestes a desmoronar — como se estivesse suportando um grande peso.

Mabel se assustou e – em vão – tentou se mover. Um novo alarme apitou forte e estridente, e esse era um que a garota conhecia bem: aviso de incêndio. Da mesma maneira que a informação súbita a fez tentar se mexer, a fez tentar falar. As palavras presas na garganta como se a voz abandonasse suas cordas vocais. Quis perguntar o que era aquilo, mas não fora capaz de fazê-lo, apenas escutava o caos acontecer.

— O que está acontecendo por aqui? — John questionou aos ares, se equilibrando com dificuldade na maca. Abruptamente, ele pôs o bisturi na bandeja, e caminhou em direção a porta, olhando de um lado para o outro, tentando detectar algum movimento.

Um guarda passou mancando pelo corredor, o rosto coberto por sangue, a aparência de quem havia acabado de sair do exército; cansado, sujo e marcado pela tristeza. Ele parou e encarou o cirurgião com um olhar fúnebre.

— Invadiram a sede, tudo vai desmoronar. Precisamos evacuar o local.

— Invadiram? Quem invadiu?

— O Braço Direito.

Na mesma velocidade que o homem apareceu, ele sumiu. John adentrou novamente a ala médica, sem muito tempo para pensar ou lamentar-se.

Mabel, que ouvira tudo atentamente, sofria internamente tentando se mover, tentando de alguma forma sair dali. Não queria morrer. Não agora. Desejou a todos os possíveis deuses que John não a abandonasse para ser esmagada pelos destroços.

— Os pontos serão meio desleixados, não temos muito tempo — ele disse, como se escutasse seus pensamentos sobre abandoná-la. Ele não faria isso. Sentiu-se brevemente aliviada, até que outra explosão fez o lugar balançar. Identificou o som de explosivos.

John estava tremendo — Mabelle soube ao ouvi-lo resmungar palavras chulas para a linha de sutura que insistia em não entrar pela agulha fina.

Ouvira pouco sobre o Braço Direito. Nada além de “ele quer acabar com o CRUEL”, mas não o descreveram como um insano capaz de explodir um lugar cheio de crianças e pessoas. Seres humanos, que, de certo modo, eram como ele. Mas não tinha tempo para se lamentar. Tentou se mexer novamente, talvez assim o efeito da anestesia passasse mais rápido. Estamos aqui há um bom tempo, analisou Mabel, Já deve estar passando o efeito.

Um silêncio pairou no ar e Mabel soube que algo estava errado.

— Não, não, não — disse John como uma sentença de morte — Droga! Acho que acertei um seio venoso. Uma veia cerebral. Ah, não! Está sangrando. Droga. Droga. Droga. Aguente firme. Não é tão grave, você aguenta. Um segundo. Droga.

Mabel não teve tempo para sofrer mentalmente, quando se deu por si, uma pequena pontada na cabeça a afligiu e ela soube que estava prestes a desmaiar. Ela abriu os olhos, vendo o teto sucumbir aos poucos, ameaçando desmoronar. A claridade lhe fez mal, mas não poderia fechar os olhos; se cedesse, desmaiaria. Com esforço, ela moveu um de seus dedos enquanto sentia a anestesia se esquivar lentamente de seu corpo.

Uma nova explosão oscilou pelo prédio, seguida por outra e mais outra.

Conforme o efeito da anestesia se esvaia, uma dor latejante se apossava de sua cabeça. Mesmo que relutante, não poderia aguentar por muito tempo. Sua insegurança lhe fez deixar isso para lá. Fez-lhe desistir de permanecer acordada. Estava prestes a desmaiar, e não pretendia reverter a situação. E assim o fez; amedrontada e vulnerável.

Permitiu que a escuridão lhe envolvesse por inteira.

 

 


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Notas finais do capítulo

Não dependo de favoritos ou comentários para postar, na realidade, posto meramente por minha própria satisfação, escrever é algo que eu amo e sempre irei amar. MAS, eu adoraria receber a opinião de vocês e saber se estarão comigo por aqui. Obrigada a quem leu. Até mais, shuckfaces! Tudo de bom para vocês ♥



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