As viagens de Júlia - Completo apenas no Wattpad escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 2
O chevy dos sonhos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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        Ainda com uma senhora dor de cabeça começo a ver tudo girar. Será que o efeito máquina de lavar roupa não vai passar nunca? Ajeito os óculos, afofo a grama verdinha e úmida e sorrio, satisfeita com o que vejo ao redor.

Levanto com muita cautela do gramado da casa de Bella Swan, imaginando o que verei do outro lado da porta. Se o carro dela está aqui, é porque já deve ter voltado da escola, e eu nem lembro direito qual foi a página que parei, quando minha cama começou a tremer sem parar.

Ando apoiando a cabeça nas mãos, que nem barata tonta.

Será que eles vão me entender ou legendas vão aparecer enquanto eles falam? Tomara que não, pois o livro estava em português.

Subo os degraus, apoiando no corrimão enquanto tomo coragem para bater algumas vezes na porta.

Ninguém atende.

— Pois não – alguém fala, bem no momento em que viro as costas para ir embora.

Dou meia volta e fico perplexa.

Ufa...ela fala português!

— Is-Is-Isa...- gaguejo, sem parar.

Quase dou um tapa na minha cabeça para ver se falo algo com mais clareza, só que ela ri. Isabella Swan está rindo para mim ou de mim. Tanta faz agora.

— Bella – ela me corrige, puxando uma mecha do cabelo escuro para trás.

— Claro, Bella – digo, tentando ao máximo parecer normal. – Acho que vai chover – comento, desviando os olhos para o céu cinzento.

Quando ela dizia que por aqui era tudo cinzento, achava que era exagero e motivos para reclamar e reclamar. Mas, não é que ela tinha razão?

Agora eu vejo isso muito bem.

— Você é nova aqui? – ela pergunta, enfiando as mãos nos bolsos traseiros do jeans surrado.

Pelo amor de Deus, que menina magrinha e pálida. Um solzinho ia fazer bem pra ela, assim como um pratão de feijão.

 Sorrio disfarçadamente.

— Eu...eu acabei de chegar – minto na cara dura. – Vou estudar em Forks.

Ela suspira, examinando meu olhar perdido para dentro de sua casa.

Ah, qual é! Estou curiosa para ver lá dentro, sentar no sofá, subir as escadas e conhecer o tão famoso quarto dela. Será que encontrarei Charlie?

— Vai gostar de lá – ela fala, apreensiva.

— É, acho que vou sim – concordo, esticando ao máximo o meu tempo na varanda para ver se recebo ao menos um convitezinho para beber uma água, me aquecer – pois começa a esfriar e estou vestindo apenas uma blusinha de alça.

Apoio uma das mãos na cintura, franzo o cenho e desisto.

— Vou indo nessa. Meus pais devem estar esperando por mim – aviso, ainda me prendendo àquela esperança.

— A gente se vê – ela disse, já com a mão na maçaneta.

Bella dá as costas e entra em casa. Sem saber o que fazer, nem para onde ir desço as escadas e ando pelo gramado, onde fui teletransportada há pouco.

Sento no chão e observo o céu acinzentado, esperando algum sinal divino do céu. Eu quero muito voltar para casa, porque além de esperar uma recepção mais calorosa e não acontecer, é estranho estar num lugar estranho. Me sinto sozinha.

Nada está acontecendo da maneira como imaginei, enquanto lia ‘Crepúsculo’. Achava que seríamos as melhores amigas do mundo, pois tínhamos gostos em comum. Na verdade, era apenas um: Edward Cullen.

Já nem lembro mais em qual página parei, quando o livro acendeu, um terremoto aconteceu e fui jogada sem dó, nem piedade nesse mundo verde e sem graça.

— Também não me acostumei – Bella comenta, sentando-se ao meu lado.

Quase morro do coração, mas finjo que está bem e que uma das minhas personagens favoritas não está a dois palmos de distância, puxando assunto e ainda oferecendo refrigerante.

— Obrigada.

Ficamos mudas por minutos, vendo o céu escurecer em tons de cinza.

— Está gostando de Forks? – me atrevo a perguntar.

Ela franze o cenho.

— Como sabe que sou nova aqui?

Como vou explicar pra ela que eu vim do mundo real e que ela é uma fantasia? Bella não sabe que é um personagem, de um livro inventando pela maravilhosa Stephenie.

— Eu...eu...- gaguejo, mais uma vez.

Júlia, você tem que tomar coragem para falar as coisas. Tem que parar de ficar que nem uma doida, que fala coisas sem pensar e depois não sabe como ajeitar as besteiras que põe pra fora!

Leitores, mais uma vez eu peço a ajuda de vocês. Mas, respondam rápido, está bem?

Alternativa a) – falo a verdade;

Alternativa b) – saio correndo

Alternativa c) – choro e me finjo de maluca.

Droga, droga, droga! Vocês querem mais é que eu me ferre e seja jogada na fogueira.

— Eu sei tudo sobre a sua vida, Bella – confesso, apoiando a cabeça nos braços cruzados, observando um grupo de formigas passear em linha reta.

É possível que nem tenha sido ouvida, então continuo agachada daquele mesmo jeito. Como se estivesse de castigo, no cantinho da disciplina.

Ela levanta e começo a ver seus tênis encardidos pisarem na grama, andando rapidamente de um lado pro outro.

— Como você sabe tudo sobre mim? Quem é você? – pergunta, incrédula e com a voz esganiçada.

Decido enfrentar a situação que eu mesma criei, achando que sinceridade é mais importante que tudo. Se estou presa nesse mundo, como mentir até que chegue ao final do livro? Não dá, né!

— Preciso que você me prometa que não vai surtar – peço, tomando fôlego e levantando a cabeça para falar o que não pretendia.

Isabella assente e senta ao meu lado novamente.

— Você é uma personagem de um livro – começo, incerta da sua reação. - Sei onde morava antes, o que faz da vida, as amizades, seus pais...tudo! – revelo devagarzinho, examinando com cuidado seu rosto. Acredito que tirar o esparadrapo de uma vez só doa demais, então tenho que ser cuidadosa.

De início, ela fica branca. Normal, como sempre foi. Mas, depois vai ficando cada vez mais pálida e fico desesperada.

Gente, acho que ela vai desmaiar!!

— Eu não posso ser um personagem – afirma irritada, apontando para si. - Tenho sentimentos, carne e osso! Sou eu quem tomo as minhas decisões.

— Sei disso. Também sei que gosta do Edward Cullen.

Ela me olha espantada, com olhos de peixe-boi.

— Não, não gosto dele – discorda, desviando o olhar.

— Sabe quantas vezes já li essa história? 11!

— Você só pode estar brincando – murmura, incrédula demais pro meu gosto. Filha, vou ter que empurrar tua ficha?

Reviro os olhos, sem que ela possa ver.

— Bella, confie em mim. Não estou, não. Se eu lembrasse em qual página parei, antes de ser sugada...

— Sugada? – interrompe ela. – Como assim?

Respiro fundo, organizando as ideias para contar tim tim por tim tim.

— Vamos do começo. Eu sei quem você é, porém você não sabe quem sou eu. Muito prazer, meu nome é Júlia – falo, esticando minha mão para completar a apresentação. Ela a aperta e eu continuo: - Tenho dezesseis anos e moro no Brasil. Conhece?

— Conheço – responde, confusa.

— Vim de lá. Estudo numa escola pública, estou no ensino médio e, no meu tempo livre, leio. Muitos e muitos livros. Incontáveis vezes!

— Mas...mas...- ela gagueja.

— Ainda não terminei – falo depressa, antes que ela tire conclusões precipitadas. – Sei a história de vocês de cor e salteado. Até sei as falas! – declaro, embasbacada. - Porém, para me situar, preciso saber o que fez ontem. Então, falarei exatamente o que fez hoje e você mesma poderá comprovar a minha história. Anda! – a incentivei, vendo a confusão perder força.

Pigarreia.

— Ontem foi meu primeiro dia de aula, aqui em Forks – ela testa, ainda descrente.

— Nem precisa continuar – peço. - Ontem você conheceu o Edward Cullen – falei o nome dele com mais simpatia do que o normal – e hoje ele sumiu – relembrei com tristeza. Esse era um dos capítulos mais tristes, para mim. – Você esperou por ele, no refeitório, vasculhou o lugar à sua procura e nada. Nadinha.

— Ainda não consigo acreditar – declara, negando com a cabeça.

— Ai, Bella!

— Já pensou se alguém dissesse que você é um personagem? Acreditaria na hora? – perguntou, dando um longo gole no refrigerante.

Reflito um pouco.

— Não, não acreditaria na mesma hora - admito. - Porém, com fatos sim.

— Me dê uma noite para pensar. Amanhã a gente continua a conversar, senão Charlie vai aparecer e querer saber quem é você – explica ela, levantando-se. – Acredite em mim, se já foi difícil comigo, imagine com um policial.

Sorrio, entendendo facilmente seu ponto de vista. Chefe Swan era incrédulo demais.

— Fechado – concordo, levantando também. – Só tem um problema: onde vou passar a noite?

— Se não tiver problema para você, pode dormir no meu carro. Depois que voltei do Thriftway, não tirei as chaves do bolso. Toma – ela esticou a mão, com a chave que sonhei em ter.

— Ah, então você ainda não o viu de novo. Confie em mim: ele irá aparecer assim que começar a nevar.

Pisquei, pegando a chave.

— Boa noite, Bella. Amanhã a gente se vê – prometi, antes de caminhar feliz até seu chevy.


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Notas finais do capítulo



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